A história do livro é relevante, não só por tratar dos efeitos de famílias disfuncionais sobre menores, mas em particular porque a autora é especialista na jurisdição de família e menores. Contudo a estrutura criada para dar conta dessa mensagem perde-se no meio de um excesso de camadas simbólicas que acabam por ocultar aquilo que se pretende dizer.
A autora não se limitou a criar uma estrutura em que os 21 dias se movem ao revés, do final para o princípio. Acrescentou-lhe ainda todo um museu, o Rijksmuseum de Amsterdão, a partir do qual utiliza um conjunto de telas, desde "A Ronda da Noite" de Reembrandt a "Retrato de uma Jovem Mulher, com 'Puck' o Cão" de Thérèse Schwartze, a partir das quais vai realizando leituras e colocando em ação alguns dos seus elementos. E por fim, comete o pecado original português, do embelezamento do discurso com constantes figuras de estilo que contribuem para ofuscar ainda mais todo o significado do texto.
"A Ronda da Noite" (1642) de Reembrandt no Rijksmuseum
Faltou aconselhamento ou reflexão sobre os impactos desta estrutura. Os autores são livres, mas os autores não podem deixar de se colocar no lugar dos leitores, e tentar compreender como é que eles vão reconstruir a mensagem das suas obras. A liberdade artística não é total, o trabalho de um artista é um trabalho de comunicação, por mais que alguns artistas teimem em dizer que não criam para um público. Naturalmente espera-se que os artistas quebrem as regras, inventem, surpreendam, mas espera-se que o façam juntamente com todo um trabalho de ir ao encontro do seu público.
"Retrato de uma Jovem Mulher, com 'Puck' o Cão" (1879-1885) de Thérèse Schwartze