Shoshana Zuboff é um nome que surge amiúde sempre que se fala dos impactos problemáticos das atuais tecnologias de comunicação, nomeadamente as produzidas pelas 4 grandes tecnológicas — GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon). Tendo lido uma enorme quantidade de coisas boas sobre a autora, que vem com o pedigree da Ivy League, não fiquei depois muito impressionado com o modo como discute a técnica por detrás da tecnologia, parecendo ficar muitas vezes à porta da complexidade desta, focando-se mais nos quadros de impactos macro, muitas vezes desligados da efetiva capacidade das tecnologias. E assim, talvez não seja surpreedente não ter gostado particularmente do seu livro "The Age of Surveillance Capitalism" (2019).
Quando peguei no livro e vi 700 páginas fiquei um tanto expectante, mas à medida que fui avançando e cruzando com a leitura de resenhas de outros colegas, fui percebedo que para aquilo que Zuboff tinha para dizer bastava um livro de 100 páginas. Posto isto, temos argumentos a repetirem-se ad nauseaum, sem qualquer progresso de pensamento, digressões por mini-histórias pessoais, ataques a tecnologias e a apresentação de constantes cenários apocalípticos do tipo: “It is no longer enough to automate information flows about us, the goal now is to automate us.”
Os problemas das tecnológicas são reais, mas a forma de os resolver não é por via da criação de dramas apocalípticos que assustem a sociedade. Aliás, uma das resenhas mais relevantes sobre este livro foi escrita por Evgeny Morozov, num artigo, "Capitalism’s New Clothes" (2019), extensíssimo em jeito de crítica à extensão e repetição do livro. Morozov, é um dos mais reputados pensadores sobre os efeitos da tecnologia, e aponta como maior problema da argumentação de Zuboff o facto não reconhecer que a vigilância é apenas mais uma camada do mesmo modelo de capitalismo de sempre. Ou seja, para resolver o problema precisamos de fazer aquilo que muitos teóricos da economia do mercado livre abominam, regular. Ora quando lemos Zuboff, não vamos qualquer sugestão nesse sentido, mas antes uma sucessão de ataques ao modo de funcionamento das tecnológicas, focada apenas nos usos abusivos dos dados, assumindo que cabe às empresas tornarem-se responsáveis, esquecendo que em primeiro lugar estas empresas obedecem a stakeholders.
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