"The Mauritanian" (2021) de Kevin Macdonald, conta-nos a história de Mohamedou Ould Slahi que foi torturado e detido sem qualquer acusação em Guantánamo durante 14 anos. A história segue o livro "Guantánamo Diary" (2015) escrito pelo próprio Mohamedou Ould Slahi, e conta com a excelente performance de Tahar Rahim e ainda Jodie Foster.
O filme é uma chapada brutal na administração americana e na sua atitude sobranceira de polícia da democracia no mundo que constantemente demanda o "olha para o que eu digo e não para o que eu faço". Considerando o que foi feito, não só para com os prisioneiros, mas para com os próprios cidadãos americanos que tentaram por cobro à situação, podemos ver muitas semelhanças com aquilo que a Rússia está a fazer neste momento. Como se a guerra fosse sinónimo de carta branca, e as convenções que se assinam servissem apenas quando nos dão jeito.
O trabalho de Kevin Macdonald é sério, contido em termos emocionais. Existe um claro esforço no tratamento do caso para garantir a sua exposição que mesmo quando recorre a algumas sequências mais fortes e a cinematografia e montagem agressivas, nunca se deixa toldar por uma ideia de revanchismo ou acusação gratuita às autoridades, chegando mesmo a servir-se do anti-climax para passar as ideias da forma mais depurada possível.
No final, as imagens do verdadeiro Mohamedou Ould Slahi ajudam a compreender melhor quem ele é, e as particularidades da sua personalidade que tão bem Tahar Rahim emula no filme.