maio 20, 2011

Jogos Indie no Nordic Game Awards 2011


O número de eventos e festivais dedicados aos jogos indie não tem parado de aumentar, no passado contávamos quase apenas com o Independent Game Festival, que tem sido organizado como parte integrante da GDC. Por outro lado a Spike TV que organiza os Spike VGA inclui agora uma secção dedicada aos jogos Indie. No campo dos Mobile, temos desde 2004 os IMGA. Na arena do flash, vai na terceira edição o Flash Game Summit organizado pela MochiMedia.


Ora como não podia deixar de ser isto tinha de ter reflexos sobre a indústria global dos jogos. Não só impactos económicos mas também na importância dos eventos. Assim apesar de ter surgido em 2005 o IndieCade assumiu no ano passado uma enorme importância na indústria dos videojogos. É que este ao contrário do IGF não é apenas um evento paralelo a um evento de grandes produções, mas é antes um evento internacional inteiramente e apenas dedicado aos jogos indie.


Deste modo e tendo em conta a enorme importância do Norte europeu neste mercado concreto do Indie, é natural que um evento como o Nordic Game apareça este ano com resultados claramente pro-indie. No seu 5º ano, decorrida a cerimónia em Malmo, Suécia agora em Maio, e que contou com mais de 1000 participantes, as 5 categorias foram todas arrebatadas por jogos indie, aqui ficam:

Nordic Indie Sensation Award


Vikings on Trampolines, D-Pad Studios, Noruega


Best Nordic Handheld Game


Danish Axe in Face, Blue Carrot Design, Dinamarca


Best Nordic Children’s Game


Ilomilo, Southend, Suécia


Best Artistic Achievement


Minecraft, Mojang, Suécia


Best Nordic Game


Limbo, Playdead, Dinamarca

Limbo, um jogo indie, arrecada assim o prémio principal numa categoria em que estava também em competição direta blockbusters como Alan Wake da Remedy e Battlefield: Bad Company 2 da EA-DICE.

maio 15, 2011

Videojogos no Smithsonian American Art Museum

The Art of Video Games é uma exposição que estará em exibição no Smithsonian American Art Museum entre 16 de Março, 2012 até 30 Setembro 2012. A exibição tem por objetivo traçar a evolução decorrida nos últimos 40 anos da arte dos videojogos, e será focada sobre os aspetos dos efeitos visuais, o uso criativo das novas tecnologias, e ainda sobre os artistas e designers mais importantes do campo.

Smithsonian American Art Museum (Washington DC, EUA)

É muito oportuna esta exibição uma vez que acontecerá depois do governo americano ter declarado nos EUA que os videojogos passariam a ser apoiados por fundos governamentais como uma arte de pleno direito. São passos que atribuem uma cada vez maior importância ao campo de trabalho e de estudos, e que colocam um ponto final em algumas das discussões existentes sobre o valor dos videojogos.
A exibição irá contar com imagens e vídeos de 80 videojogos, e para além destes, 5 videojogos - Super Mario Brothers, The Secret of Monkey Island, Myst, and World of Warcraft - estarão disponíveis para que os visitantes possam jogar e sentir a interatividade. Haverá ainda zonas de projeção de entrevistas com game designers, exposição de consolas históricas e posters com screenshots dos jogos.
Foi muito interessante o modo como foi feita a curadoria dos jogos, porque teve a participação do público online. Inicialmente Chris Melissinos em conjunto com um grupo de consultores que incluiu pessoas como Jesse Schell, Tim Schafer, Jane Pinckard, Steve Meretzky, entre outros fizeram uma pré-seleção de 240 jogos tendo por base não só os aspectos históricos mas também o modo escolhido para apresentar os jogos em termos de categorias no museu. A votação decorreu entre Fevereiro e Abril deste ano, foram obtidos 3,7 milhões de votos, dados por 119 000 pessoas em 175 países. E a lista foi agora revelada. Fiz uma pequena passagem pela lista dos videojogos exibir, e escolhi os meus 10 mais.

Space Invaders, 1980, Rick Maurer (Taito)


Pac-Man, 1981, Toru Iwatani (Namco)


Earthworm Jim, 1994, Doug TenNaple (Interplay Entertainment Corp.)


Super Mario 64, 1996, Shigeru Miyamoto (Nintendo)


Tomb Raider, 1996, Toby Guard, (Core Design)


 
The Legend of Zelda: Ocarina of Time, 1998, Shigeru Miyamoto (Nintendo)


Fable, 2004, Peter Molyneux (Lionhead Studios)


Shadow of the Colossus, 2005, Fumito Ueda, (Team Ico)


Uncharted 2: Among Thieves, 2009, Amy Hennig, (Naughty Dog)


Heavy Rain, 2010, David Cage, (Quantic Dream) 

Pós-produção: Compondo mundos

Para quem ficou a pensar do meu post anterior qual seria o meu interesse naquelas imagens de promoção ao filme The Birds (1963) do Hitchcock, aqui ficam os slides das aulas que estive a lecionar na Universidade de Maribor, Eslovénia entre os dias 11 e 13 de Maio.



São aulas dirigidas a alunos de primeiro ciclo que estudam Introdução à Animação 3d, como tal o meu objetivo era apresentar-lhes formas de fazerem uso dos seus modelos e animação na composição de projetos audiovisuais. Ou seja dar-lhes uma abordagem geral sobre vários dos aspetos mais importantes a ter em conta no momento de pós-produção.


Aliás estes slides são uma espécie de resumo das técnicas que lecionamos no primeiro ano do mestrado de Ciências da Comunicação: Audiovisual e Multimédia.

maio 11, 2011

o marketing em Hitchcock

Andava à procura de materiais sobre The Birds (1963) de Alfred Hitchcock para umas aulas sobre composição digital, que vou dar esta sexta na Universidade de Maribor na Eslovénia, e encontrei algo muito interessante sobre a promoção do cinema clássico de hollywood. Algo que deixámos de ver no campo do cinema, uma sessão fotográfica, em pose, da atriz principal e dos outros personagens principais da obra, os pássaros.
Não sei se isto aconteceria de forma regular para todos os filmes, se aconteceu aqui por se tratar de um blockbuster de Hitchcock, ou se foi apenas derivado da beleza de Tippi Hedren, mãe de Melanie Griffith. Por uma razão ou outra, vejam as fotos, porque valem a pena. Para ver mais fotos do filme, e de outros filmes de Hitchcock, aconselho uma visita à galeria da HitchcockWiki.














maio 08, 2011

WordWorld, o Mundo das Palavras

Com um target definido entre os 3 e os 7 anos, WordWorld é sem dúvida uma das melhores séries educacionais de sempre, em pé de igualdade com a Rua Sésamo.


WordWorld como o próprio nome indica é um mundo história em que todos os animais, e muitos dos objetos, são desenhados com base na tipografia do seu nome. Deste modo as crianças podem desde cedo associar os sons do nome, com as letras, e as palavras. Como a fase entre os 3 e os 7 é de pura aprendizagem da literacia, estes vão descobrindo à medida que o tempo passa, que cada um dos animais é feito através das letras do seu próprio nome, o que confere um grau enorme de descoberta narrativa inerente à própria animação. O conteúdo da série é ainda escrito de modo a que ao longo da mesma as crianças vão percebendo que som emite cada letra, e que a junção de várias letras forma palavras, que por sua vez são objetos do mundo que conhecem.
Deste modo o que temos não é apenas uma tentativa de paralelamente à animação e ao entretenimento fazer passar um conteúdo educacional, mas é a própria mensagem educacional que serve de instrumento à brincadeira e ao divertimento. A aprendizagem é feita ao longo do desenvolvimento da série de um modo perfeitamente natural, como se de repente o alfabeto deixasse de ser uma estrutura meramente abstrata criada pelas nossas mentes e pudesse ser algo real, palpável no sentido do mundo história.

Through its innovative approach of immersing viewers in a word-rich place, where things spell out the objects they represent, WordWorld aims to fascinate children with words and to inspire a love of words and reading.  Featuring loveable, silly characters called WordFriends who embark on adventures in a world of words, WordWorld encourages preschoolers to see words as their friends, too.  Providing constant opportunity for word play, WordWorld empowers children as early readers by making the important connections between letters, sounds, words and meaning that are necessary for reading. [PBS]

Teaser Dancing Dog

WordWorld é uma série produzida pela WTTW National Productions para o canal público americano, PBS, o mesmo que passa a Rua Sésamo nos EUA, e conta com financiamento do U.S. Department of Education como parte do programa de literacia americano Ready To Learn. Iniciada em 2007, foram produzidas três séries até ao momento com um total de 45 episodios. WordWorld recebeu entretanto três Emmy Awards nas categorias de Séries para Crianças e Escrita para Animação.


É pena que a versão portuguesa se tenha limitado a dobrar as vozes. Claro que adaptar todo o conteúdo teria custos demasiado elevados quase próximos da produção no original. Ainda assim julgo que se justificaria entrar num acordo apoiado pelos ministérios de educação para que a série pudesse ser dobrada e adaptada para o máximo de línguas possíveis. Seria sem dúvida uma enorme mais valia para a aprendizagem das crianças. Em Portugal como as crianças começam a ter contacto muito cedo com o Inglês, acaba por até nem funcionar muito mal. Contudo uma criança portuguesa está longe de tirar da experiência, aquilo que retira uma criança nativa em inglês.

Episódio completo dobrado em português, gravado do Canal Panda

maio 07, 2011

Documentário: "Indie Game"

Mais um documentário no campo dos videojogos, depois de sabermos do 8 Bit Generation, agora é a vez de Indie Game: The Movie. Um filme que está a ser produzido pelo realizador James Swirsky e pela jornalista Lisanne Pajot da BlinkWorks Media, Canada.


O "Indie Game: The Movie" pretende ser um documentário sobre os videojogos, os seus criadores, e a sua arte. Através da análise do trabalho dos criadores de jogos pretende-se compreender o medium e a teoria. O filme terá uma incidência sobre os aspectos humanos do processo criativo, e as ligações que se criam entre o criador e o jogo. No vídeo abaixo a funcionar como uma espécie de trailer podemos ver uma parte da entrevista do game designer Edmund McMillen e é genial ver como um videojogo pode servir de meio expressivo a um game designer.


Entretanto e até ao momento já foram realizadas entrevistas com Tommy Refenes e Edmund McMillen de "Super Meat Boy", Alec Holowka de "Infinite Ammo", Jon Blow de "Braid", Ron Carmel de "World of Goo", Derek Yu de "Spelunky", Phil Fish de "Fez", Jenova Chen de "Flower", Jason Rohrer de "Passage" entre outros. Em parte estes são os jogos que dei como exemplos a seguir para a indústria nacional na conferência de há um mês atrás, o que faz deste documentário um filme ainda mais importante e totalmente obrigatório.


O filme está a ser financiado através de uma mescla entre o sistema de crowd-funding e as pré-encomendas de DVDs. É de salientar que após apenas 48 horas de ter dado entrada no Kickstarter.com, já tinha conseguido recolher 23 000 dólares. Espera-se que o filme saia no Outono de 2011, vamos aguardar porque promete.


maio 06, 2011

a criatividade auto-motivada, parte 2

E assim depois de termos falado da criatividade auto-motivada no âmbito musical, fica aqui um breve texto sobre uma das equipas criativas que mais me surpreendeu nos últimos anos em Portugal. Diria que estamos perante um grupo que vai além do conseguido pelos Carne P'ra Canhão em 2008.


Tenho de começar por dizer que os Clones não são um grupo recém-criado. Se só me chegaram agora, foi porque chegou agora ao YouTube a sua segunda metragem, mas estão no activo desde 2009. O seu primeiro trabalho que possui já reconhecimento internacional em vários festivais, foi Papá Wrestling (2009). No ano passado lançaram então a sua segunda curta, BLARGHAAAHRGARG (2010).
Os Clones definem-se como "uma pequena produtora em Lisboa que se especializa em filmes independentes “low-budget” (ou, para ser mais específico, “no-budget”)".
Em termos estéticos diria que os Clones apresentam uma identidade perfeitamente definida, e que passa por dois aspetos essenciais: a qualidade narrativa audiovisal, e a qualidade dos efeitos especiais.





Papá Wrestling (2009)

Em termos narrativos o trabalho desta equipa foca-se sobre um campo que pouco ou nada se tem trabalhado em Portugal, que é o âmbito do gore cómico. Ou seja mesclando convenções cinematográficas do género cómico e do género de terror. Faz este cruzamento de um modo tecnicamente perfeito em termos de guião. Em momento algum deixamos de perceber em que tipo de registo estamos, e a ideia passa de forma muito fluída para o espetador. Ou seja, é pouco exigente até porque faz uso de convenções muito marcadas, mas por outro lado não deixa de ser muito eficiente.

 

Em termos de efeitos visuais, fiquei espantadíssimo, quando vi Papá Wrestling. Nunca antes tinha visto desmembramentos num filme nacional tão bem conseguidos. E o que mais impressiona é que não se trata aqui de uma mera cosmética de montagem, mas é o próprio trabalho físico, os materiais escolhidos que funcionam na plenitude. Existem planos com durações enormes, em que eu só pensava, "vai perceber-se, vai-perceber-se", mas mesmo assim conseguiam segurar até ao final. É sem dúvida uma das coisas mais gratificantes, ver a excelência técnica desta equipa a funcionar. Uma equipa em que um dos elementos trabalha como freelancer na área do audiovisual, o outro está a fazer o curso de cinema na ESTC, e os restantes dois estudam guionismo em Londres.
Neste segundo trabalho, BLARGHAAARHGARG, o nível técnico subiu bastante em termos de cinematografia e também de direção de atores, contudo a sua primeira obra está melhor em termos de curva dramática. Julgo também que aqui arriscaram um pouco demais com os planos médios sobre o monstro. Ainda assim é um filme muito bem conseguido e que aconselho vivamente a ver.




BLARGHAAAHRGARG (2010)

a criatividade auto-motivada, parte 1

Hoje foi um dia em cheio para mim, descobri dois novos talentos nacionais, o Grupo Vocal da Escola Básica 2.3. da Maia (Açores) e a produtora Clones. Os primeiros a dar cartas no campo da música, os segundos no audiovisual. O que os liga?

Grupo Vocal da Escola Básica 2.3. da Maia (Açores)

Primeiro são ambos "produtos" nacionais, segundo são ambos "produtos" criativos, terceiro são fruto de trabalho auto-motivado e não-remunerado, quarto dão-se a conhecer através dos meios de distribuição que a internet lhes faculta a custo zero (MySpace, Facebook, e Blogs). Só isto, é para mim mais que motivo de regozijo e felicidade. Só tenho a dizer uma coisa, viva a motivação criativa, e viva quem num país, que apenas fala de troikas e finanças, ainda empurra, faz, constrói, e dá corpo aos sonhos.

ERA UMA VEZ UM CAVALO, Nirvana - Smell's Like Teen Spirit, pela E.B.2.3. da Maia
O Grupo Vocal da Escola Básica 2, 3 da Maia (São Miguel - Açores), iniciou-se em Setembro de 2010 com o intuito de aumentar a oferta de actividades musicais nesta mesma escola. Actualmente é constituído por 18 elementos com idades entre os 10 e 13 anos. A principal actividade neste ano lectivo foi a criação do espectáculo "Velvet Carochinha", onde as tradicionais músicas infantis receberam uma nova "roupagem" com base nos grande hits da música rock. AC/DC, Queen, Nirvana e Led Zeppelin, entre outros, conheceram as fantásticas personagens do imaginário infantil português, dando origem a um programa de recordações únicas.

MACHADINHA - Queen - Will Rock You, pela E.B.2.3. da Maia

Primeiro é preciso ter em atenção que se trata de um grupo musical constituído por crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos e em segundo lugar é um trabalho germinado numa Escola Pública Portuguesa, o que só de si é já uma vitória. Podia ter mais qualidade, pois podia, gravando num estúdio, com produção a sério. Mas o que aqui temos vai muito além do comum trabalho amador.

E sobre os Clones vejam o texto seguinte.

maio 02, 2011

Olha para as Estrelas, Portugal!

É um trabalho poderoso este que Matthew Brown fez sobre o nosso país. Claramente fazendo uso de uma banda sonora que por si só já nos transporta, Sarajevo de Max Richter, em clara consonância rítmica com a montagem e uma imagem tratada para servir a temática do passado e do nostálgico.



É no entanto brilhante todo o labor de edição visual e sonora, e ainda mais o espírito desprendido com que seleciona e corta. Brown escolhe muita coisa simbólica mas acaba por nos mostrar apenas rasgos, traços, restos dessas representações. Como se estivesse constantemente a fugir do chamamento da representação, do postal ilustrado que representa um lugar inequivocamente. Aqui tudo é Portugal (Lisboa na maior parte do tempo) mas também muitas vezes podia ser outro sítio. É uma viagem por dentro de uma cultura, de uma sociedade que conhecemos bem, mas que ao mesmo tempo nos parece distante, e estranha. É um olhar externo sobre nós, e é uma  análise do que somos, contada de forma audiovisual.

É um trabalho que demonstra uma enorme força criativa. Alguém que tem um claro talento para literalmente "brincar" com a imagem e o som, comunicar, expressar e produzir em nós sensações. Vejam do mesmo Matthew Brown, as curtas, Sincerely, Spain, (Março 2010) e Dear Japan. (Agosto, 2010).

Look Up at the Stars, Portugal! (2010) e Matty Brown