A “Oresteia” é uma peça relevante enquanto extensão do universo de Tróia, já que dá conta dos eventos que se sucedem à chegada a casa do vitorioso Agamémnon, o rei grego que partiu para vingar a honra do irmão Menelau. Tendo a guerra durado 10 anos, no regresso tinha à sua espera a esposa e o seu povo, mas tinha também uma provação. Agamémnon regressa na posse de Cassandra, uma das filhas do rei de Tróia, Príamo. Mas aquando da sua partida, seguindo as profecias, aceitou sacrificar a sua filha Ifigénia, algo que a sua esposa, Clitemnestra, nunca lhe perdoou.
A primeira parte da peça, que dá pelo nome de Agamémnon, termina com o desenlace da provação. A segunda parte, Coéforas, traz para a cena os seus filhos, Electra e Orestes, que querem vingar o pai. Na parte final, a Euménides, dá-se o fechamento a elevar a racionalidade acima da emoção, depois de vingança atrás de vingança, Atena é chamada a tomar partido, mas decide pela criação de um tribunal, com direito a litigação e um júri popular.
O valor da peça é indiscutível, mas não sendo a primeira tragédia, da Grécia antiga, que leio, não posso dizer que tenha sido um prazer de ler. Ésquilo, ao contrário de Sófocles e Eurípides, parece-me ficar muito mais refém da representação. Ou seja, estas peças apesar de chegarem até nós escritas, são guiões de representação teatral. Enquanto tal, não contém em todas as dimensões do mundo-história imaginada pelos criadores. O texto de Ésquilo parece servir mais de estrutura e pauta, deixando toda a carga emocional, e corretamente, para os atores. É aos atores que cabe a dramatização, o texto per se não tem poder para sair da narração.
Julgo, também, que outro factor que pode contribuir aqui para o minorar do prazer da leitura tem que ver com a simplicidade da ação e enredo. Ésquilo apresenta uma linha de ação de cada vez, nunca se desviando dos personagens em cena, nem do que os move, fazendo parecer tudo muito estático, e por isso até menos credível. Ainda assim, acredito que o texto quando levado a cena, pela força da representação em modo trágico, possa criar todo um impacto distinto.
A peça final, ou desenlace do todo é o mais relevante e impressiona ler, porque nos dá a perceber como há 2500 anos, o berço da nossa civilização, tinha já uma concepção tão avançada de justiça e democracia, nomeadamente como forma de controlo do instinto humano.
Sem comentários:
Enviar um comentário