novembro 09, 2012

narrativa, um modelo universal

O experimento aqui apresentado pelo neurocientista Paul Zak não é nada de novo para quem estuda narrativa a partir de uma abordagem cognitivista. Mas sinto-me obrigado a partilhar isto mesmo porque apesar de sabermos que assim é e eu fazer um esforço contínuo para pregar isto, noto uma resistência enorme por parte das pessoas ao conceito. Nomeadamente o pessoal mais ligado à arte e humanidades, que procura questionar sempre os modelos estruturados, principalmente quando estes são partilhados de forma muito universal.


O problema, ou melhor, a essência do storytelling, está no modo como se liga à biologia humana, o modo como actua sobre as nossas emoções, e é exactamente sobre as emoções que tenho vindo a desenvolver o meu trabalho, seguindo trabalhos de especialistas como Jerome Bruner, Dolf Zillmann, Ed Tan, Torben Grodal, António Damásio, Paul Ekman, Jaak Panskeep, Joseph LeDoux, Brian Boyd, Frans de Waal, Giacomo Rizzolatti entre outros.


Assim o storytelling nao é uma estrutura que criámos agora há uns 100 anos com o cinema, nem com a literatura, nem tão pouco com o teatro, é bem mais antigo que isso. É quase tão antigo como o aparecimento da linguagem, e nesse sentido sofreu muitas transformações ao longo de milénios de evolução da humanidade, atingindo o estado atual como o conhecemos. Em todos estes anos, o nosso cérebro co-evoluiu juntamente com a linguagem e com os processos de storytelling, transformando este processo na tecnologia mais elaborada na transmissão e apreensão de informação alguma vez criada pelo ser humano. É uma estrutura bem simples, mas é uma estrutura que activa de forma plena a base química do nosso cérebro, ativando as componentes base necessárias à compreensão e à retenção de informação.


Particularmente nas últimas décadas temos procurado pôr à prova este modelo, primeiro pela inovação estética com modelos minimalistas e anti-estrutura nas várias formas de expressão artística (Literatura, Cinema, etc). Segundo criando novas tecnologias capazes de ir além dos tradicionais meios de expressão como o hipertexto e os videojogos. Mas a realidade é que o modelo tradicional de storytelling que ainda hoje todo o ser humano comunga, e que foi tão bem analisado por Aristóteles na Poética, continua a ser o melhor modo de compreender o mundo que nos rodeia, porque é o modelo que melhor nos permite compreender o Outro, sentir com o Outro, e sentir pelo Outro, e assim enriquecer o poder da teia social, através de um mero processo de comunicação. Como diz Paul Zak, "That's what means to be a social creature. Stories connect us with the others."


Este filme Empathy, Neurochemistry, and the Dramatic Arc de Paul Zak faz parte de uma colecção de vários filmes e trabalhos desenvolvidos para um seminário sobre o Futuro do Storytelling que vale a pena visitar e ver.

Empathy, Neurochemistry, and the Dramatic Arc (2012) de Paul Zak


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