Adolfo Bioy Casares foi um escritor argentino que conheceu o sucesso com
esta novela de fantástico. Nesta edição podemos ler um prólogo de alguém que
não nos surpreende tendo em conta a temática do livro, Jorge Luis Borges, por
sinal também Argentino. Pelo que percebi entretanto Bioy e Borges ainda escreveram vários contos e guiões para filmes juntos. Borges não é comedido no seu prólogo e fecha o texto
afirmando simplesmente,
“Discuti com o seu autor os pormenores do enredo e reli-o; não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole classificá-lo como perfeito.”
Concordo, mas é complicado explicar porquê. O livro é pequeno, cerca de 100 páginas, mas não é por isso que é difícil
falar dele, é que o conceito central da sua história é a chave de todo o conto.
Tentar discutir o livro, sem falar do núcleo da narrativa não faz o menor sentido.
Podemos contudo discutir que o seio da história trabalha sob o desígnio da
realidade e do valor da imagem enquanto representação. Além disso o narrador
fala através de um diário, como se estivesse a falar diretamente connosco, interrogando-se por vezes no mesmo sentido em que nos interroga a nós leitores. Um
exemplo fantástico desta construção narrativa, pode ser visto neste trecho,
“Contarei fielmente os factos que presenciei entre a tarde de ontem e a manhã de hoje, factos inverosímeis, que a realidade não terá podido produzir sem trabalho... Agora a verdadeira situação parece não ser a descrita nas páginas anteriores; a situação que vivo não é a que julgo viver.”
L'Année dernière à Marienbad (1961)
Noto ainda que a conceptualização intertextual que levou Thomas Beltzer a dizer que Alain Resnais se teria
baseado em Invenção de Morel para criar L'Année dernière à Marienbad (1961) me
parece imensamente acertada. Aliás essa ligação entre as duas obras levou-me
assim de repente a compreender Marienbad sob toda uma nova luz, permitindo que
o filme tivesse ganho dentro das minhas memórias novas camadas de leitura, mais
intensas e relevantes.
Sawyer lendo A Invenção de Morel em Lost, s04.e04
Uma outra obra recente em que Morel aparece é exatamente a série Lost. Sawyer aparece no quarto episódio da quarta temporada a ler uma edição americana do livro. E aqui é ainda mais forte a colagem do que em Marienbad. Aqui temos uma ilha, e acontecimentos e visitantes estranhos, tal como na ilha de Morel. Lost pode também ser visto de uma forma completamente nova depois de ler este pequeno livro.
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