junho 21, 2012

Pensar criando com as mãos

Muito bom este pequeno documentário Power of Making criado pelo museu britânico de arte e design Victoria & Albert. Quatro criadores são entrevistados enquanto criam e produzem, com as próprias mãos. Falam-nos dos seus processos de criação, de como chegam à originalidade, de como raciocinam e criam.


Um documentário que põe em evidência o facto do raciocínio abstracto não ser o único importante, nem único capaz de gerar bem-estar, ou se quiserem riqueza. Aliás esta deformação do pensamento da sociedade está bem patente no final do filme quando o criador de componentes anatómicas para implantes hospitalares diz o seguinte,
"I remember one time, when some kids came to the studio, and they informed us that they thought we were very poor, because we were working with our hands."
É isto que se ensina às crianças nas escolas clássicas, é isto que elas percepcionam quando o que está em causa em todo o processo de aprendizagem é apenas responder de forma correcta a meia dúzia de questões num exame escrito. O que elas não sabem, é que aquilo que estão a conceber como mundo, vai servir-lhes apenas se continuarem no mundo académico. No dia em que saírem da redoma de vidro protegida pelos muros das escolas, vão perceber o quão diferente é o mundo.


E é isto que é preciso que as pessoas compreendam. Que nem todos podem fazer o mesmo, porque simplesmente não são capazes. Uma designer de sapatos poderá ter dificuldade em interpretar os Lusíadas, assim como um matemático brilhante dificilmente conseguirá desenhar os componentes anatómicos necessários à reconstrução de corpos desfigurados todos os dias nas estradas nacionais.


Dizer que quem pensa abstractamente bem é mais importante do que quem constrói com as mãos, não é apenas um erro, é discriminatório e segregacionista.

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