Mário trabalhou para algumas empresas nacionais reconhecidas como a Duvideo e a Grande Écran, no entanto rapidamente passou a freelancer. No final dos anos 2000 criou uma empresa em Portugal dedicada aos VFX, a Pato TV que no ano passado converteu em Pato Collective juntando vários artistas em regime de freelance, trabalhando internacionalmente. No momento trabalha em Portugal e desloca-se quando o trabalho exige à Irlanda. Da análise do seu Reel facilmente irão perceber que a sua área de eleição é a animação, mas como generalista acaba por trabalhar em todo o pipeline de produção.
Uma das coisas que me chamou a atenção no CV do Mário, é a forma como este começa, simplesmente dizendo "I love what i do". Isto é para mim uma marca distintiva no CV, que ainda por cima traz a vantagem de automaticamente impregnar o CV de motivação, e pro-actividade, que é algo que hoje mais do que nunca se procura numa pessoa.
Aqui ficam as perguntas que fiz ao Mario e as suas respostas.
1 - Como entraste no mundo do 3d? Encontraste aquilo que adoras fazer na vida, ou é um trabalho que tens de fazer?
:: Desde muito novo que soube que o meu caminho passaria por uma arte gráfica, talvez por influência do meu pai que era uma pessoa de muito talento artístico e também do meu irmão que sempre teve grande aptidão para o desenho, os dois bem mais talentosos que eu.
Devido a ter crescido na era das tecnologias, quando tudo estava a começar em Portugal, o ZX Spectrum, Timex, Atari St, Amiga, sempre me senti mais atraído pelas artes gráficas digitais.
Fiz de tudo um pouco até comprar um 486 e arranjar uma piratice de x disquetes chamada 3D Studio, ainda para DOS, isto ainda foi na altura do Windows 3.1 penso eu.
Foi paixão à primeira vista. Mas na altura o mercado era nulo, não havia cursos, ninguém sabia o que era o 3D e sem Internet estava sozinho no mundo!
Adoro o que faço.
2 - Qual foi o teu primeiro software? De todos os que utilizaste, e mesmo já não utilizando, qual o que te trás melhores memórias?
:: Como disse anteriormente o primeiro software que usei foi o 3D Studio versão DOS.
Daí fui seguindo todas as versões até ao 3D Studio Max 2.5 penso eu. Nessa altura soube que tinha saído o Maya e resolvi experimentar e descobri numa realidade nova, entrei noutra dimensão, finalmente tinha um software que me deixava criar sem os limites da altura, rapidamente percebi que estava no caminho certo, o Maya era outra filosofia, esse é o software que me trás melhores recordações, trabalhei com ele durante vários anos, oito ou nove. De momento uso o Softimage, há pelo menos três anos, a evolução fez com que se tornasse o melhor software do mercado na minha opinião, o mais equilibrado de todos.
3 - És generalista de 3d, por razões de mercado, pessoais ou outra?
:: O mercado obriga a isso, de qualquer maneira gosto muito de participar em todas as fases de produção e isso tem-me trazido bastantes frutos.
4 - Se pudesses ser Especialista, em que te especializarias?
:: Em animação, sempre foi o que mais gostei de fazer e penso que é o meu ponto forte.
5 - A Publicidade está muito presente no teu trabalho, sentes que em Portugal este meio é o único que compreende os benefícios do 3d, ou são os únicos que têm meios para o pagar?
:: Sim, são os únicos que têm meios. Mesmo assim não pagam o que devem pagar quando devem pagar, "esmifram" os orçamentos o mais possível e ainda por cima ficam meses sem pagar a quem realmente fez o trabalho e por vezes repensou todo o conceito.
6 - É assim tão caro usar 3d? Mais do que efeitos visuais tradicionais? As pessoas não requisitam por ser caro, ou por desconhecerem?
:: Sim é caro, não sei valores dos efeitos tradicionais, mas o trabalho em 3D e Pós-Produção requer técnicas específicas que requerem vários anos de experiência e isso vale muito, é um trabalho muito técnico e muito exigente que só alguns sabem, tem de ser bem pago, precisa de ser bem pago!
É isso que muita gente não quer perceber e pior ainda são os profissionais que "dão um tiro no pé" desvalorizando o seu próprio trabalho fazendo preços ridiculamente baixos para conseguir o projeto, e não pensam que isso os vai prejudicar no futuro. Não me refiro só aos freelancers que muitas vezes não têm escolha, de um lado as produtoras e pós-produtoras que literalmente arruínam o mercado, lobbies onde mostram orçamentos uns aos outros e regateiam para ver que faz mais baixo, outras que entraram no mercado há pouco tempo, gestões inexperientes que trabalham para o estilo, cheias de talento mas que não sabem o que valem, literalmente comidos pelas agências que ganham o bolo todo.
Por outro lado clientes que não cumprem com a sua palavra, simplesmente não pagam, ou demoram meses a pagar. Desrespeito e falta de integridade.
Tudo isto atrasa o mercado, orçamentos baixos levam a pouco investimento por parte dos estúdios, logo ordenados miseráveis e baixa qualidade por falta de empenho de empregados mal pagos e desmotivados que quando podem "bazam" para fora. Quem ganha com isto?
Poucos, talvez por vezes os clientes, as agências e por vezes algumas produtoras que vão passear para o Brasil e Polónia para fazer os projectos a sério que deviam de ser feitos cá. É uma bola de neve. É mais uma situação que espelha o estado do nosso país.
7 - Tens trabalhado para Telefilmes, Telenovelas e Publicidade, qual dos três é o teu meio preferido e porquê? Existe alguma área em que gostasses de trabalhar e ainda não tivesses tido oportunidade?
:: Sim já trabalhei em várias áreas e não tenho preferência, interessa-me que o projecto seja interessante, para mim é o que conta, nem sempre acontece.
8 - Qual o trabalho mais complicado que tiveste de fazer em termos técnicos? Podes dar alguns detalhes?
:: Trabalhei durante o ano passado numa longa metragem americana onde tive de criar vários enxames de traças para algumas das cenas. Foi bastante complexo ter de simular vários milhares de instâncias. Tive de criar um sistema de partículas que facilitasse a minha vida sempre que o realizador pedia alterações, não foi fácil mas foi um desafio e eu gosto de desafios. Usei Softimage/ICE.
9 - Como é que funciona o mercado nacional do 3d, recebes encomendas maioritariamente por que via: amigos, pessoas com quem já trabalhaste anteriormente, contactam a empresa directamente, ou outra?
:: Já me contactaram de todas a formas, funciona como qualquer outro mercado, mas em mau.
10 - O que aconselhas a uma pessoa que queira entrar no mercado nacional de criação de 3d? Mandar CVs? Criar porfólios? ou o quê?
:: Primeiro conselho que dou é de não entrar no mercado nacional mas sim no mercado global. O nosso mercado é minúsculo e funciona mal como já referi.
A criação de Portfólio é primordial, uma página simples com bom trabalho, ao início terá de ser com trabalho pessoal obviamente. Apresentem só o melhor que têm, mesmo que o melhor seja só um projecto, não mostrem projectos feitos a partir tutorials, não tem qualquer lógica, é preferível mostrarem algo da vossa autoria que fizeram com o que aprenderam no tutorial. O portfólio online é de certo a porta de entrada para o mercado.
11 - E em termos de abordagem, aconselhas à especialização ou ao generalismo?
:: Aconselho a saberem fazer de tudo um pouco mas com um ponto forte em algo específico. A especialização por vezes significa limitação, é uma questão de escolha e posicionamento.
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