No mês de Julho devo ter batido o recorde de consumo de lixo cinematográfico com oito filmes a caírem na categoria Insuficiente ou a evitar. De resto fiquei muito impressionado com Agora e adorei a Alice de Tim Burton talvez mais porque não tinha expectativas para o filme e este conseguiu claramente surpreender-me face a tudo o que já conhecia do universo de Lewis Carroll. Digo isto também porque na mesma corrente estética fiquei um pouco desiludido com o trabalho do companheiro de outros filmes de Burton, Henry Selick, em Coraline.
xxxx Alice in Wonderland, 2010, USA, Tim Burton
xxxx Agora, 2009, Spain, Alejandro Amenábar
xxx Green Zone, 2010, USA, Paul Greengrass
xxx Tetro, 2009, USA, Francis Ford Coppola
xxx A Serious Man, 2009, USA, Joel Coen
xxx The Lovely Bones, 2009, USA, Peter Jackson
xxx Incendiary, 2008, UK, Sharon Maguire
xxx Marathon Man, 1976, USA, John Schlesinger
xxx Breakfast at Tiffany's, 1961, USA, Blake Edwards
xxx War and Peace, 1956, Italy/USA, King Vidor
xx Night at the Museum 2, 2009, USA, Shawn Levy
xx X-Men Origins: Wolverine, 2009, USA, Gavin Hood
xx Land of the Lost, 2009, USA, Brad Silberling
xx Coraline, 2009, USA, Henry Selick
xx What Just Happened, 2008, USA, Barry Levinson
xx The Life Before Her Eyes, 2007, USA, Vadim Perelman
xx I'm Not There, 2007, USA, Todd Haynes
xx Stay Tuned, 1992, USA, Peter Hyams
x All the Boys Love Mandy Lane, 2006, USA, Jonathan Levine
x The Pink Panther 2, 2009, USA, Harald Zwart
x Brüno, 2009, USA, Larry Charles
x 4 Copas, 2008, Portugal, Manuel Mozos
x Sahara, 2005, USA, Breck Eisner
x In the Name of the King: A Dungeon Siege Tale, 2007, Germany, Uwe Boll
x American Pie Presents: The Book of Love, 2009, USA, John Putch
x Smoother, 2008, USA, Vince Di Meglio
[Nota, Título, Ano, País, Realizador]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]
agosto 03, 2010
agosto 01, 2010
Essências e suportes (DVD, Bluray e Kindle)
Está o livro, em papel, ameaçado? Uma discussão realizada no Facebook leva a conversa numa espiral de argumentos pró e contra. E assim ao passo que os argumentos do contra se preocupam em justificar a continuidade do suporte, os do pró já só se ralam com saber qual será a tecnologia vencedora na corrida para o El Dorado digital.
O que aqui discutimos é o "Livro" (por arrasto as revistas e jornais) enquanto Narrativa e não o estatuto do Papel. Essa seria toda uma outra discussão relacionada com questões de “preservação de memória” e que remontam a milénios de registos de conhecimento sendo a sua mais antiga expressão conhecida as figuras de Altamira e Lascaux.
Mas e “o livro, em papel, tem os dias contados.”?
Os Vinyls, cerca de 300, estão metidos num armário na casa dos meus pais, talvez a última vez que tenha colocado um a tocar no gira-discos tenha sido há mais de 15 anos. As cassetes VHS que foram a minha maior relíquia, o meu tesouro de conhecimento, com tantas obras raras conseguidas com tanta má qualidade. Tinha filmes do Dreyer, Welles, Eisenstein, Lang, Jarmusch entre muitos outros que pouco mais se via que sombras derivado de serem cópias em 4 ou 5ª geração, algumas inter-sistema, de Beta ou V2000, mas guardava-as religiosamente dada a sua raridade. E para quê? Entretanto todas estas obras se tornaram facilmente acessíveis, todas estas raridades tenho-as hoje em DVD e muitas delas em cópias restauradíssimas a partir das melhores películas ainda existentes, casos como Nosferatu (1922) ou Metropolis (1927) podem hoje ser vistas com melhor qualidade plástica do que provavelmente foram vistos na sua estreia.
E assim há cerca de 5 anos depositei as mais de 500 cassetes num aterro público, tenho pena de não as ter fotografado, mas para quê, mais uma recordação materialista? Em 2000 quando iniciei a minha colecção de DVDs com vista à substituição do arquivo VHS, dei-me conta que todos os CDs que tinha nas prateleiras eram inúteis, porque não tinha naquela altura nenhum leitor de cd no quarto em que morava, e assim a música que ouvia era via PC. E o que começou a acontecer foi a preferência por escolher música a partir da enorme base de dados mp3 presente no disco duro e não ir às prateleiras escolher o CD.
Assim peguei naquelas discografias de AC/DC, Metallica, Zeca Afonso, Mike Oldfield, nas centenas de Bandas Sonoras e muita coisa que já nem me lembro e vendi praticamente tudo no Miau.pt, o acabado de criar Ebay português. Dos cerca de 400 CDs, restam uns 30 que considerei guardar (ex.Tindersticks, Tom Waits) que estão numa caixa dentro do armário do quarto.
Com o dinheiro que fiz na venda comecei a aquisição religiosa de DVDs, das suas edições super-especiais, importadas dos EUA, Austrália, UK, Hong-Kong. Entre 2000 e 2006 comprei mais de 500 dvds. Comprei centenas de DVDs a 30, 40 e 50 euros cada edição, por serem Criterion ou edição especial de 2, 3 e 4 discos, com caixa “digipack”, “tin can” ou outra.
Ao mesmo tempo em que iniciava a aquisição desenfreada de DVDs começava paralelamente a colecção ainda mais desenfreada de filmes em formato DivX através de download, trocas, cópias, compressões. Cheguei a ter uma grande gaveta com mais de 1300 DivX em pequenos envelopes de papel e ordenados por ordem alfabética. Depois com o aparecimento dos gravadores DVD, comecei a colocar entre 3 a 6 filmes por disco, e nessa fase consegui mais uns 150 dvds, ou seja mais uns 500 a 600 filmes. Tudo isto entre 2000 e 2007.
Mas por volta de 2006 a presença cada vez mais maciça de material fílmico online, a facilidade de acesso aos mesmos, começou a colocar em causa a razão de uma colecção tão extensa de DVDs e DivX que me ocupava muito espaço e que pouco uso tinha na generalidade. Isto porque o objectivo da posse do registo era poder ter sempre acesso às obras sempre que precisasse de realizar um qualquer trabalho e para isso serviu muitas vezes. Contudo a rede foi-se revelando cada vez mais eficaz no acesso às obras e hoje é capaz de dar resposta a grande parte das nossas demandas. De resto cada vez menos fui tendo tempo para ver obras mais do que uma vez, como fazia nos anos 80 e 90.
Comprei muitos dvds que nunca cheguei a ver naquele formato, comprei apenas para ter na prateleira, Once Upon a Time in America (1984), Raging Bull (1980), Scarface (1983), The Last Emperor (1987), Schindler’s List (1993) entre outros, não por não gostar dos filmes mas por já os ter visto mais de 4 ou 5 vezes, alguns mais do que isso até, no Cinema, na TV, em VHS. Apocalypse Now (1979) é o filme que mais vezes vi (acima das 20).
Assim hoje já não colecciono Divx, tenho apenas uma pequena parte guardada em 2 ou 3 caixas de CDs da Ikea, o resto joguei no lixo, falta de qualidade da cópia ou do filme. Porque nisto das colecções, quando se começa, arrecada-se muito lixo em favor do número.
Dos DVDs que passaram os últimos dois anos em caixas, "vivem" agora uma parte no escritório e outra parte permanece ainda nessas caixas. Deixei de os adquirir, o factor já acima enunciado de fácil acesso a todo o cinema, e o consumo desenfreado que acabou por trazer ao cimo o facto de que grande parte daquelas edições especialíssimas não passavam de adereços de marketing.
É claro que em face deste estado de coisas o aparecimento do Blu-ray acaba por surgir apenas como mais um brinquedo. Ainda que se possa sentir a diferença num ecrã de 40’ a verdade é que o impacto está longe de ser suficiente para justificar a re-aquisição. Não que por vezes não sinta a tentação, em casos como Matrix (1999) ou Lord of the Rings (2001) majestosos objectos visuais que têm a ganhar com esta nova possibilidade.
Como poderão ver depois de todo este historial, o que aprendi foi que o conteúdo vai mudando de suporte, mas permanecendo igual a si próprio, o suporte não é mais do que um elemento puramente materialista sem qualquer valor ou efeito estético sobre a obra. O texto, a música ou filme são artefactos intangíveis e como tal possuem um discurso próprio que é independente do suporte. Nos dias de hoje ver um filme numa sala de cinema vazia, como tantas vezes fiz nas sessões do meio da tarde, ou ver esse mesmo filme em casa com condições Home Cinema, faz pouca ou nenhuma diferença. Assim como ouvir um disco, em Vinyl, CD ou MP3. Por isso ler um romance em papel, no Kindle ou no iPad tem as suas particularidades mas não deixam de suscitar os mesmos mundos, de desencadear os mesmos pensamentos associativos, as mesmas emoções. O que aqui falamos é meramente de suporte, e esse está longe de sequer ser parte do media porque o seu impacto sobre a obra é diminuto. O media é o texto, assim como no cinema é a imagem ou na rádio é o som e esses sim condicionam os discursos. Aliás a leitura vertical da web não é algo novo, já o fazíamos antes do livro com os papiros.
Por tudo isto a desmaterialização é o fenómeno mais interessante operado pelas tecnologias de informação, pela digitalização do mundo. A desmaterialização nada destrói daquilo que é a essência do romance, do filme ou da música. A desmaterialização abre apenas novas possibilidades aos media, ao criar a possibilidade de convergência como no exemplo do Vook dado pelo @Sergio.
Ou ainda os exemplos mais interessantes que passam pela alteração radical do discurso com a inserção da interactividade e controlo do leitor sobre as obras.
Quanto à tecnologia vencedora, não sei, duvido que seja uma única. Digitalmente o formato PDF é reconhecido, mas em termos de harware são muitas as opções. O Kindle foi inteiramente concebido para ser o mais semelhante ao livro possível em termos perceptivos. Por outro lado o iPad permite conteúdos multimédia além do texto. Muitos mais aparecerão, cada um com as suas vantagens e desvantagens. Como sempre devemos comprar o que precisamos no momento e não aquilo que vamos precisar daqui a um ano.
Indo um pouco mais longe na desmaterialização, e entrando em algo mais polémico.
1 - O que dizer da pintura?
A visualização de uma tela num museu é diferente da sua visualização num ecrã? A primeira vez que vi a La Gioconda no Louvre, há alguns anos atrás senti deslumbre e tremuras por todo o corpo, mas na segunda vez, agora recentemente, esse sentimento não ocorreu. Talvez porque o sentimento de que estamos a falar não fosse potenciado pelo quadro mas por todo o seu contexto cultural. Assim sendo justificar-se-à a deslocação das pessoas por milhares de kilometros para verem algo que podem ver à distancia de um clique em altíssima resolução proporcionado pelo próprio Louvre? Todo este frenesim em volta da pintura não será antes criado e mantido por uma elite que se socorre do fenómeno para poder servir-se do mesmo como investimento seguro? Claramente que existem muitas obras que podem apenas ser apreciadas na totalidade in loco, obras demasiado grandes ou que fazem uso de técnicas de relevo. E por isso mesmo esta lógica não se aplicaria à Escultura ou Arquitectura.
2 - E do desporto ao vivo?
Neste último mundial o Nelson Mandela deslocou-se ao estádio para saudar os presentes na final da copa. Fiquei boquiaberto quando li que ele tinha no entanto regressado a casa para ver o jogo na TV antes de este se ter iniciado. Na altura pensei, claro, a experiência do jogo é mais clara, pode ver-se maior detalhe e podem ver-se repetições. Claro que neste caso Mandela tem uma idade algo avançada para as emoções que se vivem num estádio. Mas então se viu o jogo em casa, é porque estas não provém do jogo mas do público. Ou seja o fenómeno social é a base da experiência futebolistica, ora para quem a dispense, ver o jogo num ecrã ou num estádio será algo bastante aproximado.
O que aqui discutimos é o "Livro" (por arrasto as revistas e jornais) enquanto Narrativa e não o estatuto do Papel. Essa seria toda uma outra discussão relacionada com questões de “preservação de memória” e que remontam a milénios de registos de conhecimento sendo a sua mais antiga expressão conhecida as figuras de Altamira e Lascaux.
Mas e “o livro, em papel, tem os dias contados.”?
“nada irá substituir o folhear de um bom livro, o seu cheiro, as suas letras impressas...” @CristelaPois, mas tenho olhado para as prateleiras que preenchem a quase totalidade do meu escritório com livros e penso, dentro de pouco tempo acontecerá a tudo isto o que já aconteceu com os meus Vinyl, com as minhas VHS, com os meus CDs e está a acontecer com os DVDs.
Montagem de imagens a partir de WIHW
Os Vinyls, cerca de 300, estão metidos num armário na casa dos meus pais, talvez a última vez que tenha colocado um a tocar no gira-discos tenha sido há mais de 15 anos. As cassetes VHS que foram a minha maior relíquia, o meu tesouro de conhecimento, com tantas obras raras conseguidas com tanta má qualidade. Tinha filmes do Dreyer, Welles, Eisenstein, Lang, Jarmusch entre muitos outros que pouco mais se via que sombras derivado de serem cópias em 4 ou 5ª geração, algumas inter-sistema, de Beta ou V2000, mas guardava-as religiosamente dada a sua raridade. E para quê? Entretanto todas estas obras se tornaram facilmente acessíveis, todas estas raridades tenho-as hoje em DVD e muitas delas em cópias restauradíssimas a partir das melhores películas ainda existentes, casos como Nosferatu (1922) ou Metropolis (1927) podem hoje ser vistas com melhor qualidade plástica do que provavelmente foram vistos na sua estreia.
Metropolis (1927). À esquerda imagens do DVD Eureka de 1998, à direita a versão restaurada de 2003 [1]
E assim há cerca de 5 anos depositei as mais de 500 cassetes num aterro público, tenho pena de não as ter fotografado, mas para quê, mais uma recordação materialista? Em 2000 quando iniciei a minha colecção de DVDs com vista à substituição do arquivo VHS, dei-me conta que todos os CDs que tinha nas prateleiras eram inúteis, porque não tinha naquela altura nenhum leitor de cd no quarto em que morava, e assim a música que ouvia era via PC. E o que começou a acontecer foi a preferência por escolher música a partir da enorme base de dados mp3 presente no disco duro e não ir às prateleiras escolher o CD.
Assim peguei naquelas discografias de AC/DC, Metallica, Zeca Afonso, Mike Oldfield, nas centenas de Bandas Sonoras e muita coisa que já nem me lembro e vendi praticamente tudo no Miau.pt, o acabado de criar Ebay português. Dos cerca de 400 CDs, restam uns 30 que considerei guardar (ex.Tindersticks, Tom Waits) que estão numa caixa dentro do armário do quarto.
Com o dinheiro que fiz na venda comecei a aquisição religiosa de DVDs, das suas edições super-especiais, importadas dos EUA, Austrália, UK, Hong-Kong. Entre 2000 e 2006 comprei mais de 500 dvds. Comprei centenas de DVDs a 30, 40 e 50 euros cada edição, por serem Criterion ou edição especial de 2, 3 e 4 discos, com caixa “digipack”, “tin can” ou outra.
Ao mesmo tempo em que iniciava a aquisição desenfreada de DVDs começava paralelamente a colecção ainda mais desenfreada de filmes em formato DivX através de download, trocas, cópias, compressões. Cheguei a ter uma grande gaveta com mais de 1300 DivX em pequenos envelopes de papel e ordenados por ordem alfabética. Depois com o aparecimento dos gravadores DVD, comecei a colocar entre 3 a 6 filmes por disco, e nessa fase consegui mais uns 150 dvds, ou seja mais uns 500 a 600 filmes. Tudo isto entre 2000 e 2007.
Mas por volta de 2006 a presença cada vez mais maciça de material fílmico online, a facilidade de acesso aos mesmos, começou a colocar em causa a razão de uma colecção tão extensa de DVDs e DivX que me ocupava muito espaço e que pouco uso tinha na generalidade. Isto porque o objectivo da posse do registo era poder ter sempre acesso às obras sempre que precisasse de realizar um qualquer trabalho e para isso serviu muitas vezes. Contudo a rede foi-se revelando cada vez mais eficaz no acesso às obras e hoje é capaz de dar resposta a grande parte das nossas demandas. De resto cada vez menos fui tendo tempo para ver obras mais do que uma vez, como fazia nos anos 80 e 90.
Comprei muitos dvds que nunca cheguei a ver naquele formato, comprei apenas para ter na prateleira, Once Upon a Time in America (1984), Raging Bull (1980), Scarface (1983), The Last Emperor (1987), Schindler’s List (1993) entre outros, não por não gostar dos filmes mas por já os ter visto mais de 4 ou 5 vezes, alguns mais do que isso até, no Cinema, na TV, em VHS. Apocalypse Now (1979) é o filme que mais vezes vi (acima das 20).
Assim hoje já não colecciono Divx, tenho apenas uma pequena parte guardada em 2 ou 3 caixas de CDs da Ikea, o resto joguei no lixo, falta de qualidade da cópia ou do filme. Porque nisto das colecções, quando se começa, arrecada-se muito lixo em favor do número.
Dos DVDs que passaram os últimos dois anos em caixas, "vivem" agora uma parte no escritório e outra parte permanece ainda nessas caixas. Deixei de os adquirir, o factor já acima enunciado de fácil acesso a todo o cinema, e o consumo desenfreado que acabou por trazer ao cimo o facto de que grande parte daquelas edições especialíssimas não passavam de adereços de marketing.
É claro que em face deste estado de coisas o aparecimento do Blu-ray acaba por surgir apenas como mais um brinquedo. Ainda que se possa sentir a diferença num ecrã de 40’ a verdade é que o impacto está longe de ser suficiente para justificar a re-aquisição. Não que por vezes não sinta a tentação, em casos como Matrix (1999) ou Lord of the Rings (2001) majestosos objectos visuais que têm a ganhar com esta nova possibilidade.
Como poderão ver depois de todo este historial, o que aprendi foi que o conteúdo vai mudando de suporte, mas permanecendo igual a si próprio, o suporte não é mais do que um elemento puramente materialista sem qualquer valor ou efeito estético sobre a obra. O texto, a música ou filme são artefactos intangíveis e como tal possuem um discurso próprio que é independente do suporte. Nos dias de hoje ver um filme numa sala de cinema vazia, como tantas vezes fiz nas sessões do meio da tarde, ou ver esse mesmo filme em casa com condições Home Cinema, faz pouca ou nenhuma diferença. Assim como ouvir um disco, em Vinyl, CD ou MP3. Por isso ler um romance em papel, no Kindle ou no iPad tem as suas particularidades mas não deixam de suscitar os mesmos mundos, de desencadear os mesmos pensamentos associativos, as mesmas emoções. O que aqui falamos é meramente de suporte, e esse está longe de sequer ser parte do media porque o seu impacto sobre a obra é diminuto. O media é o texto, assim como no cinema é a imagem ou na rádio é o som e esses sim condicionam os discursos. Aliás a leitura vertical da web não é algo novo, já o fazíamos antes do livro com os papiros.
Por tudo isto a desmaterialização é o fenómeno mais interessante operado pelas tecnologias de informação, pela digitalização do mundo. A desmaterialização nada destrói daquilo que é a essência do romance, do filme ou da música. A desmaterialização abre apenas novas possibilidades aos media, ao criar a possibilidade de convergência como no exemplo do Vook dado pelo @Sergio.
What is a Vook?
Ou ainda os exemplos mais interessantes que passam pela alteração radical do discurso com a inserção da interactividade e controlo do leitor sobre as obras.
Heavy Rain de David Cage (2009)
Quanto à tecnologia vencedora, não sei, duvido que seja uma única. Digitalmente o formato PDF é reconhecido, mas em termos de harware são muitas as opções. O Kindle foi inteiramente concebido para ser o mais semelhante ao livro possível em termos perceptivos. Por outro lado o iPad permite conteúdos multimédia além do texto. Muitos mais aparecerão, cada um com as suas vantagens e desvantagens. Como sempre devemos comprar o que precisamos no momento e não aquilo que vamos precisar daqui a um ano.
Indo um pouco mais longe na desmaterialização, e entrando em algo mais polémico.
1 - O que dizer da pintura?
A visualização de uma tela num museu é diferente da sua visualização num ecrã? A primeira vez que vi a La Gioconda no Louvre, há alguns anos atrás senti deslumbre e tremuras por todo o corpo, mas na segunda vez, agora recentemente, esse sentimento não ocorreu. Talvez porque o sentimento de que estamos a falar não fosse potenciado pelo quadro mas por todo o seu contexto cultural. Assim sendo justificar-se-à a deslocação das pessoas por milhares de kilometros para verem algo que podem ver à distancia de um clique em altíssima resolução proporcionado pelo próprio Louvre? Todo este frenesim em volta da pintura não será antes criado e mantido por uma elite que se socorre do fenómeno para poder servir-se do mesmo como investimento seguro? Claramente que existem muitas obras que podem apenas ser apreciadas na totalidade in loco, obras demasiado grandes ou que fazem uso de técnicas de relevo. E por isso mesmo esta lógica não se aplicaria à Escultura ou Arquitectura.
2 - E do desporto ao vivo?
Neste último mundial o Nelson Mandela deslocou-se ao estádio para saudar os presentes na final da copa. Fiquei boquiaberto quando li que ele tinha no entanto regressado a casa para ver o jogo na TV antes de este se ter iniciado. Na altura pensei, claro, a experiência do jogo é mais clara, pode ver-se maior detalhe e podem ver-se repetições. Claro que neste caso Mandela tem uma idade algo avançada para as emoções que se vivem num estádio. Mas então se viu o jogo em casa, é porque estas não provém do jogo mas do público. Ou seja o fenómeno social é a base da experiência futebolistica, ora para quem a dispense, ver o jogo num ecrã ou num estádio será algo bastante aproximado.
julho 30, 2010
Ciências da Comunicação: PROJECTO 2009/2010
Chegamos ao final de mais um ano lectivo da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e podemos olhar para trás e ver que o saldo é francamente positivo. Este ano na unidade curricular de Projecto em Audiovisual e Multimédia, a unidade onde culmina todo know-how teórico-prático apreendido, deu origem a três grandes produções. Claramente que não estamos a falar de grandes produções profissionais, porque não temos ainda o amadurecimento dos intervenientes (os alunos) nem recursos que permitam gerir todo um outro nível de discurso e representação e por isso a sua visualização deve ter estes factores em conta. São antes de tudo o mais projectos de estudante, que como tal reflectem uma fase necessária de aprendizagem e por isso possuem pontos bons e pontos menos bons.
O mais positivo e que me interessa realçar destes projectos é toda a motivação, determinação e vontade que estes alunos demonstraram para que mesmo sem as condições ideais pudessem chegar até aqui.
Para cada um dos projectos foi criado um blog de produção onde se pode ver muito material adicional sobre as produções: guiões, storyboards, material de marketing, making of's e claro os filmes. A seguir deixo os cartazes, trailers e links de cada um dos projectos: Escute uma Mulher que se Mata (2010), Epifania (2010), Cliché (2010).
Cliché (2010)
O mais positivo e que me interessa realçar destes projectos é toda a motivação, determinação e vontade que estes alunos demonstraram para que mesmo sem as condições ideais pudessem chegar até aqui.
Para cada um dos projectos foi criado um blog de produção onde se pode ver muito material adicional sobre as produções: guiões, storyboards, material de marketing, making of's e claro os filmes. A seguir deixo os cartazes, trailers e links de cada um dos projectos: Escute uma Mulher que se Mata (2010), Epifania (2010), Cliché (2010).
Facebook, Site Oficial, Filme Completo
Escute uma mulher que se mata é sobre os conflitos mais internos do ser humano e sobre as dores que não saram com o tempo.
Escute uma mulher que se mata é sobre os conflitos mais internos do ser humano e sobre as dores que não saram com o tempo.
Site Oficial, Filme Completo
Abre-se uma porta e vê-se um local escuro e silencioso. Duas pessoas, de quem só vemos as bocas e fundos desfocados.
Abre-se uma porta e vê-se um local escuro e silencioso. Duas pessoas, de quem só vemos as bocas e fundos desfocados.
Epifania (2010)
Facebook, Site Oficial, Filme Completo
Falcão: com uma ou com duas?
Johnny: Eu? Com duas, óbvio!
Falcão: Duas? Fraquinho!
Falcão: com uma ou com duas?
Johnny: Eu? Com duas, óbvio!
Falcão: Duas? Fraquinho!
Cliché (2010)
julho 29, 2010
Mestrados em Audiovisual e Arte Digital
Abriram no passado dia 26 Julho 2010 as candidaturas ao Mestrado em Ciências da Comunicação - Especialização em Audiovisual e Multimédia da Universidade do Minho. A este concurso poderão concorrer, até 7 de Setembro, todos os candidatos interessados que reúnam os requisitos constantes do Edital. As condições de acesso e o modo de proceder podem ser consultados no site.
Este mestrado está direccionado para o exercício de actividades de produção e criação em audiovisual e multimédia quer para ambientes tradicionais (televisão e cinema) quer para os novos media (online e móvel), trabalhando questões do interesse das seguintes profissões: produtor, editor, director de arte, designer de efeitos visuais. Para saber mais sobre o tipo de trabalhos realizados neste mestrado aconselho uma visita ao Canal YouTube DCC e deixo abaixo uma pequena animação realizada durante este último ano lectivo.
Já no próximo dia 3 de Agosto abrem as candidaturas para o Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho. As mesmas estarão abertas até dia 9 de Setembro e as condições de acesso podem ser encontradas no site.
Este mestrado está direccionado para o desenvolvimento de capacidades de conjugação de conhecimentos ao nível da: computação gráfica, sensores, narrativa, som e música digitais entre outras e da sua exploração conjunta com técnicas de expressão artística, para gerar novas experiências estéticas, nas áreas das indústrias do multimédia, educação, entretenimento e expressão cultural. Para saber mais sobre o tipo de trabalhos realizados neste mestrado aconselho uma visita ao blog MTADum. Deixo abaixo um vídeo que promove um trabalho de instalação artística realizado durante este último ano lectivo.
Este mestrado está direccionado para o exercício de actividades de produção e criação em audiovisual e multimédia quer para ambientes tradicionais (televisão e cinema) quer para os novos media (online e móvel), trabalhando questões do interesse das seguintes profissões: produtor, editor, director de arte, designer de efeitos visuais. Para saber mais sobre o tipo de trabalhos realizados neste mestrado aconselho uma visita ao Canal YouTube DCC e deixo abaixo uma pequena animação realizada durante este último ano lectivo.
Já no próximo dia 3 de Agosto abrem as candidaturas para o Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho. As mesmas estarão abertas até dia 9 de Setembro e as condições de acesso podem ser encontradas no site.
Este mestrado está direccionado para o desenvolvimento de capacidades de conjugação de conhecimentos ao nível da: computação gráfica, sensores, narrativa, som e música digitais entre outras e da sua exploração conjunta com técnicas de expressão artística, para gerar novas experiências estéticas, nas áreas das indústrias do multimédia, educação, entretenimento e expressão cultural. Para saber mais sobre o tipo de trabalhos realizados neste mestrado aconselho uma visita ao blog MTADum. Deixo abaixo um vídeo que promove um trabalho de instalação artística realizado durante este último ano lectivo.
Versões, Media e Hiper-realidade
Registo aqui um ensaio audiovisual de Oliver Laric sobre as questões de reprodução, apropriação e cópia da representação. Versions (2010) toca sobre várias pontos fulcrais numa cultura suportada pela imagem, suportada pela exteriorização do pensamento sobre o próprio pensamento, aonde cada vez mais o real deixa de se mostrar.
"The theory that they were made using a pointing machine invented in the 18th century for making mechanic exact copies has been discredited."
O real é agora a nossa construção do mesmo, e é sobre ela, a representação, que nos baseamos, e é sobre ela que nos sedimentamos. A realidade deixou de nos chegar como estimulante, e precisamos antes de nos alimentar das suas construções e reconstruções. As convenções e as formatações dão lugar à realidade que por sua vez progridem e se transformam ao sabor dos ventos, enquanto a realidade vai ficando velha, porque imutável, porque fiel...
"There is more work in interpreting interpretations than in interpreting things... and more books about books than any other subject."
A quem interessar o assunto e pretenda ir mais fundo na interpretação, da interpretação da interpretação ficam duas referências seminais:
Simulacra and Simulation, (1985) de Jean Baudrillard, editado em Portugal pela Relógio d'Água
The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction, (1936) de Walter Benjamin, editado em Portugal como capítulo do livro "Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política", (p.93-114), pela Relógio d'Água
Sugestão vídeo enviada por João Martinho.
julho 24, 2010
Doutoramento em Interactividade e Audiovisual
Doutoramento na U. Minho com especialidades em
Media Interactivos e Comunicação Audiovisual
Media Interactivos e Comunicação Audiovisual
Abrem dia 26 Julho 2010 as candidaturas à segunda edição do curso de doutoramento em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, que tem como áreas de especialidade os Media Interactivos e a Comunicação Audiovisual
A este concurso poderão concorrer, até 7 de Setembro, todos os candidatos interessados que reúnam os requisitos constantes do Edital. No caso de as vagas não terem sido preenchidas, haverá uma nova fase que irá de 27 de Setembro a 1 de Outubro. As condições de acesso e o modo de proceder podem ser consultados AQUI.
Para mais informações: secposgrag@ics.uminho.pt | (+351) 253 604 696.
julho 22, 2010
Cinematografia por Fernando Martins
O meu post sobre a eleição das melhores cinematografias da década 1998-2008 gerou alguns comentários e discussões de e-mail muito interessantes a propósito do meu comentário sobre o segundo classificado da lista, Children of Men (2006), ver trailer abaixo.
Como tal e tendo pedido autorização ao autor, transcrevo aqui parte do que foi dito entre comentários e e-mail pelo Fernando Martins (aka VirtualFM) que me parece interessante e relevante para tudo o que venho colocando e discutindo neste blog.
Quero no entanto alertar para quem ainda não viu o filme e o pretenda ver que o texto que se segue contém spoilers (divulgação de factos centrais da narrativa) tanto em forma de texto como nos vídeos e imagens apresentadas.
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Cinematografia de Children of Men, Fernando Martins
"Cinematografia" não se refere apenas a lentes, cores, profundidade de campo e outras coisas que mais se confundem com "Fotografia", mas sendo de Cinema que se trata (e por isso se chamar "Cinematografia" e não "Fotografia") tem de ser ter em consideração, e muita, a movimentação de câmara e a forma como os acontecimentos se vão desenrolando na tela, criando emoções no espectador, sejam elas suspense, surpresa, medo ou alegria.
O "Children of Men" ficou-me gravado na memória precisamente devido a umas quantas cenas ÚNICAS, sendo a maior parte delas gravadas numa única sequência sem cortes. Há pelo menos 4 assim, e uma delas demora à volta de 7 minutos, que inclui entrar e sair de veículos e de edifícios, com tiros, explosões e muita acção a decorrer [ver cena completa no YouTube]. Segundo consta, para se filmar esta sequência foram necessários 14 dias de preparação e ensaios, e cada vez que se tentava re-filmar a cena demorava 5 horas de preparativos. Essa foi a que, na altura em que estava a ver o filme, me chamou mais a atenção porque se “sentia” que se estava a fazer parte da acção, como se fosse um documentário e seguíssemos os protagonista em todos os seus passos, sem cortes.
Mas houve outra sequência marcante: uma emboscada a um carro no meio da floresta. Essa sequência, que todos diziam ser impossível de realizar mas que Cuarón insistiu até que lhe arranjassem uma solução. Implicou uma estrutura especial que permitia meter a câmara dentro do carro e ao mesmo tempo roda-la para dentro e para fora (havia tão pouco espaço que os actores tinham de entrar e sair do personagem que representavam naquele curto espaço de tempo, pois quando não estavam a ser filmados tinham de se baixar para deixar passar a câmara).
A cena é espectacular (além de visceralmente violenta e ser um choque brutal, pois é uma surpresa completa) e filmada desta forma só lhe aumenta a espectacularidade, pois nunca se “sai” da acção [ver cena completa no YouTube]. Há quem considere esta cena como a coisa mais incrível e difícil que já viram em toda a história do Cinema. E se bem que não seja detentor da “sequência mais longa”, é certamente das mais complexas (muito mais que a famosa cena de “Atonement”, por exemplo), senão a mais complexa até agora!
Depois a cena do parto tem também mais de 3 minutos de duração e é uma cena mágica, não só pelo simbolismo e por ser o clímax do filme mas também por estar tão bem executada que no final me doíam os maxilares por ter ficado com a boca tão aberta durante tanto tempo! E se bem que algumas destas cenas tenham tido fortes doses de efeitos por computador, estes não se vêem, e só se sabe que o são porque é impossível ser de outra forma, mas nem se pensa neles enquanto se vê o filme. Por exemplo, a cena do nascimento é incrível porque pela primeira vez num filme vi um recém-nascido que não era um boneco de plástico/silicone (e normalmente nem se vê a cara) nem um bebé que nitidamente tinha pelo menos 3 meses! Nada escondido, num plano que nunca mais acaba, e se o milagre do nascimento já é por si fantástico, nunca tinha visto tal coisa nitidamente no cinema (a não ser que fosse um documentário científico ou médico) de forma tão real.
Toda a gente tinha ficado embasbacada e as teorias de como teria sido feito iam desde "o melhor animatronic jamais feito" até à possibilidade de terem filmado um nascimento a sério e depois terem coordenado os movimentos de câmara e feito a composição de forma a poder colocar o bebé real nas mãos do actor Clive Owen. Mas isto parecia tão difícil de concretizar que parecia impossível, e levantava mais questões do que as que resolvia. Quando finalmente surgiu o "making of" foi um choque para muitos, pois nunca se tinha suposto que se pudesse ter chegado àquela perfeição de iluminação/shading/tracking/composição de forma a fazer parecer o CGI tão real.
Por isso digo: sim, Children of Men merece sem dúvida um honroso segundo lugar nessa tabela, pois os momentos cinematográficos que proporciona são de uma complexidade inigualável, os quais proporcionam também eles sensações ímpares na história do Cinema.
Como tal e tendo pedido autorização ao autor, transcrevo aqui parte do que foi dito entre comentários e e-mail pelo Fernando Martins (aka VirtualFM) que me parece interessante e relevante para tudo o que venho colocando e discutindo neste blog.
Quero no entanto alertar para quem ainda não viu o filme e o pretenda ver que o texto que se segue contém spoilers (divulgação de factos centrais da narrativa) tanto em forma de texto como nos vídeos e imagens apresentadas.
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Cinematografia de Children of Men, Fernando Martins
"Cinematografia" não se refere apenas a lentes, cores, profundidade de campo e outras coisas que mais se confundem com "Fotografia", mas sendo de Cinema que se trata (e por isso se chamar "Cinematografia" e não "Fotografia") tem de ser ter em consideração, e muita, a movimentação de câmara e a forma como os acontecimentos se vão desenrolando na tela, criando emoções no espectador, sejam elas suspense, surpresa, medo ou alegria.
O "Children of Men" ficou-me gravado na memória precisamente devido a umas quantas cenas ÚNICAS, sendo a maior parte delas gravadas numa única sequência sem cortes. Há pelo menos 4 assim, e uma delas demora à volta de 7 minutos, que inclui entrar e sair de veículos e de edifícios, com tiros, explosões e muita acção a decorrer [ver cena completa no YouTube]. Segundo consta, para se filmar esta sequência foram necessários 14 dias de preparação e ensaios, e cada vez que se tentava re-filmar a cena demorava 5 horas de preparativos. Essa foi a que, na altura em que estava a ver o filme, me chamou mais a atenção porque se “sentia” que se estava a fazer parte da acção, como se fosse um documentário e seguíssemos os protagonista em todos os seus passos, sem cortes.
Mas houve outra sequência marcante: uma emboscada a um carro no meio da floresta. Essa sequência, que todos diziam ser impossível de realizar mas que Cuarón insistiu até que lhe arranjassem uma solução. Implicou uma estrutura especial que permitia meter a câmara dentro do carro e ao mesmo tempo roda-la para dentro e para fora (havia tão pouco espaço que os actores tinham de entrar e sair do personagem que representavam naquele curto espaço de tempo, pois quando não estavam a ser filmados tinham de se baixar para deixar passar a câmara).
A cena é espectacular (além de visceralmente violenta e ser um choque brutal, pois é uma surpresa completa) e filmada desta forma só lhe aumenta a espectacularidade, pois nunca se “sai” da acção [ver cena completa no YouTube]. Há quem considere esta cena como a coisa mais incrível e difícil que já viram em toda a história do Cinema. E se bem que não seja detentor da “sequência mais longa”, é certamente das mais complexas (muito mais que a famosa cena de “Atonement”, por exemplo), senão a mais complexa até agora!
Depois a cena do parto tem também mais de 3 minutos de duração e é uma cena mágica, não só pelo simbolismo e por ser o clímax do filme mas também por estar tão bem executada que no final me doíam os maxilares por ter ficado com a boca tão aberta durante tanto tempo! E se bem que algumas destas cenas tenham tido fortes doses de efeitos por computador, estes não se vêem, e só se sabe que o são porque é impossível ser de outra forma, mas nem se pensa neles enquanto se vê o filme. Por exemplo, a cena do nascimento é incrível porque pela primeira vez num filme vi um recém-nascido que não era um boneco de plástico/silicone (e normalmente nem se vê a cara) nem um bebé que nitidamente tinha pelo menos 3 meses! Nada escondido, num plano que nunca mais acaba, e se o milagre do nascimento já é por si fantástico, nunca tinha visto tal coisa nitidamente no cinema (a não ser que fosse um documentário científico ou médico) de forma tão real.
Toda a gente tinha ficado embasbacada e as teorias de como teria sido feito iam desde "o melhor animatronic jamais feito" até à possibilidade de terem filmado um nascimento a sério e depois terem coordenado os movimentos de câmara e feito a composição de forma a poder colocar o bebé real nas mãos do actor Clive Owen. Mas isto parecia tão difícil de concretizar que parecia impossível, e levantava mais questões do que as que resolvia. Quando finalmente surgiu o "making of" foi um choque para muitos, pois nunca se tinha suposto que se pudesse ter chegado àquela perfeição de iluminação/shading/tracking/composição de forma a fazer parecer o CGI tão real.
Por isso digo: sim, Children of Men merece sem dúvida um honroso segundo lugar nessa tabela, pois os momentos cinematográficos que proporciona são de uma complexidade inigualável, os quais proporcionam também eles sensações ímpares na história do Cinema.
Making of geral de Children of Man (2006)
julho 19, 2010
mais uma noite de ballet
Espectáculo da Academia de Bailado Clássico, 16 de Julho de 2010
Foi há um ano que aqui deixei referência ao seu primeiro espectáculo na Academia de Bailado Clássico de Aveiro. Fica o registo de um ano de maturidade e aprendizagem de uma das mais belas e exigentes artes.
Fotografias de Filipa Silva
julho 18, 2010
Cinematografia 1998-2008
Amélie (2001), foi eleito pelos cinematógrafos convidados pela revista American Cinematographer, o filme mais bem fotografado da década de 1998-2008. A fotografia é de Bruno Delbonnel que disse à AC que,
Ficam aqui os restantes eleitos do Top 10. Tenho a dizer que concordo com praticamente todos à excepção do segundo classificado, Children of Men (2006). Existe um claro trabalho de homogeneização da cor com destaque para os castanhos e cinzas e esse trabalho é muito bem conseguido, contudo restam dúvidas quanto a um lugar tão proeminente numa década cheia de diversidade, ousadia e beleza fotográfica.
Children of Men (2006), Emmanuel Lubezki
Saving Private Ryan (1998), Janusz Kaminski
There Will Be Blood (2007), Robert Elswit
No Country for Old Men (2007), Roger Deakins
Fight Club (1999), Jeff Cronenweth
The Dark Knight (2008), Wally Pfister
Road to Perdition (2002), Conrad L. Hall
Cidade de Deus (2002), César Charlone
American Beauty (1999), Conrad L. Hall
[a partir de Sound+Vision]
“This is real honor for me, especially considering the other movies in this list... These are some of the finest cinematographers, and I’m not sure I deserve to be among them, but I am very happy to be. They are all explorers.”Bruno Delbonnel começa pelo cinema francês com o seu ponto alto em Amélie mas depois disso trabalhou desde o cinema do puro espectáculo de Harry Potter and the Half-Blood Prince (2009) ao cinema poético de Aleksandr Sokurov, Faust (em produção). Clique sobre as imagens para ver em maior resolução.
Ficam aqui os restantes eleitos do Top 10. Tenho a dizer que concordo com praticamente todos à excepção do segundo classificado, Children of Men (2006). Existe um claro trabalho de homogeneização da cor com destaque para os castanhos e cinzas e esse trabalho é muito bem conseguido, contudo restam dúvidas quanto a um lugar tão proeminente numa década cheia de diversidade, ousadia e beleza fotográfica.
Children of Men (2006), Emmanuel Lubezki
Saving Private Ryan (1998), Janusz Kaminski
There Will Be Blood (2007), Robert Elswit
No Country for Old Men (2007), Roger Deakins
Fight Club (1999), Jeff Cronenweth
The Dark Knight (2008), Wally Pfister
Road to Perdition (2002), Conrad L. Hall
Cidade de Deus (2002), César Charlone
American Beauty (1999), Conrad L. Hall
[a partir de Sound+Vision]
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