Muitas são as questões que vou recebendo sobre as ofertas em Portugal e no estrangeiro sobre formação intensiva nas áreas de criação e produção de conteúdos digitais. Como tal e porque sinto alterações no cenário nacional, nos últimos dois anos não foram apenas as ofertas da Universidade que devido a Bolonha se multiplicaram e se aproximaram do mercado de trabalho, resolvi fazer uma breve análise e expô-la aqui.
A oferta de formação extra-curricular vem sofrendo um crescimento exponencial, tanto a nível do número de escolas como de cursos e áreas. Já não existe praticamente área dos media interactivos, design ou arte digital que fique de fora, desde escolas creditadas com uma década de serviço a escolas criadas este ano. Desde a aposta no software open source à aposta em acreditação pelas grandes marcas da área. Aquilo que em tempos parecia ser uma necessidade absoluta, sair do país, para quem pretendesse ou necessitasse de se especializar ou melhorar determinadas vertentes das suas valências é agora algo pouco determinante.
E o que dizer quando estas ofertas concorrem directamente com as ofertas tradicionais do sistema escolar, nomeadamente do Ensino Superior, com cursos de formação abrangente e com a duração de 12 meses. O que podemos dizer é que são muito bem-vindos e benéficos para todos. Para quem não foi para a Universidade, mas também para quem já foi estudante e quer agora especializar-se num determinado nicho do multimédia. E é aqui que se inicia a diferenciação, a especialização. A Universidade já não o era, mas o Paradigma de Bolonha veio incrementar ainda mais a necessidade de largura de banda nos conteúdos transmitidos aos alunos. As licenciaturas já não são versadas em criar especialistas, mas antes em criar competências polivalentes. É isto que o mercado exige e é isto que o futuro nos reserva. A especialização tout court já não chega, até porque o tipo de trabalho que se executa no ambiente industrial é cada vez mais multidisciplinar.
A Universidade não pretende, não só formar especialistas, assim como não pretende formar pessoas em ferramentas ou técnicas. O objectivo de uma formação universitária é bem mais ampla, mas acima de tudo profunda, nas mudanças de paradigma cognitivo que exige a quem se sujeita a ser aluno. Um licenciado ou mestre em determinado assunto recebe uma formação num leque variado de competências capaz de lhe permitir, acima de tudo, em face de qualquer problema, encontrar uma solução. Ou seja aprende a pensar, a reflectir, a conjugar as várias competências, a distingui-las e dar-lhes novas valências se assim a tarefa o exigir. Procurar informação, procurar competências laterais, paralelas e externas que o levem à resolução de modo eficaz do problema. No fundo o lema do ensino universitário continua a ser, o ensino de "aprender a aprender".
E é por isso que a base do docente universitário é a investigação, porque é aqui na sua capacidade para trabalhar tópicos do estado-da-arte e avançar esses mesmos tópicos que este vai buscar os conteúdos a leccionar assim como o espírito pela busca da inovação e avanço científico das soluções. Neste sentido é necessário por parte de quem procura formação Universitária, informar-se muito bem sobre as avaliações obtidas na Investigação, assim como o reconhecimento internacional que os docentes e a Instituição escolhida possuem.
Já os cursos intensivos de multimédia, não têm, nem devem ter esta perspectiva do ensino, por várias razões, sendo a principal a duração da formação, mas também o objectivo muito prático dos formandos que pretendem apenas dominar muito rapidamente uma qualquer ferramenta. O seu objectivo passa assim por formatar as competências do formando num sentido prático. Enquadrar o formando no seio das ferramentas em questão, e abrir-lhe o caminho para o domínio das mesmas através da simulação, exercitação e repetição com vista à criação de memória. Sendo o principal objectivo, alargar a memória de forma a permitir uma rápida operacionalização de métodos e técnicas para dar reposta a questões estandardizadas, específicas e práticas.
Segue a listagem de escolas de media digitais nacionais. A nível internacional em vez de listar escolas deixo a ligação para o index colectado pela SIGGRAPH.
www.alquimiadacor.ptPara ver as actuais formações do Ensino Superior na área, o ideal será procurar nas listas da DGES . No sítio da DGES é possível obter muita informação, nomeadamente a Avaliação das Instituições enquanto locais de acolhimento. Para informação sobre as suas capacidades de produzir Investigação, será necessário ver as avaliações realizadas pela FCT no seu sítio.
www.restart.pt
www.flag.pt
www.odd-school.com
www.workshops.com.pt
www.arqui300.com/academy
www.animotic.com
www.the-edge.com.pt
Finalmente para quem está a ler este texto e se questiona sobre o real valor do investimento em formação nestas áreas deixo-o com a grelha actual do impactos das actividades culturais na sociedade ocidental. Este diagrama foi desenhado pela equipa de Philipe Kern para um estudo encomendado pela Comissão Europeia "The Economy of Culture in Europe - A strategy for a creative Europe".