A história de A Pérola não é nada de novo, como se disse é baseada num conto popular, é algo que também se pode repescar da Bíblia, nos dias de hoje poderíamos mesmo trocar a Pérola pelo Euromilhões. Fala-nos sobre a ganância, um dos pecados mortais eleito por Dante na sua Divina Comédia. A ganância que tudo quer e que tudo perde. Se bem que o personagem principal Kino apresente planos algo contraditórios mas evoluídos, quer que o seu filho estude e quer uma espingarda. Se a espingarda está em consonância com a crítica da ganância, do pecado, do mal; já que o seu filho seja alguém instruído e possa sair da miséria a que os pais foram votados por falta de acesso à educação parece-me completamente fora da fotografia. Mas depois temos o Padre, o Médico, os compradores de pérolas, os mendigos, e os "amigos" que reforçam fortemente o tema e lhe dão vida ao longo de todo o livro.
A história evolui e toca-nos, gera em nós um forte ligação com a família de Kino, a sua mulher Joana e o seu filho Coyotito ao mesmo tempo que nos vai gerando dúvidas e afastando de todos os restantes personagens daquele universo. É uma história sobre a tragédia, que mesmo na alegria da sorte deixa pairar o medo sobre o futuro daqueles trágico-personagens. O isolamento em mar ou terra, o desenho das atmosferas da noite, da configuração das barracas e o seu acesso à "cidade" tudo está engendrado para intensificar o mal estar que o efeito da ganância tem sobre a espécie humana.
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