agosto 16, 2009

a ganância

A Pérola de Steinbeck é um livro de 1947 e tem sido leitura obrigatória em Inglês avançado nos liceus portugueses nas últimas décadas. Como era de Ciências nunca tive este livro como obrigatório, mas desde que me lembro que o livro existe lá por casa. Li-o ontem à noite, farto de procurar que ler, depois de várias tentativas como Lord of The Rings The Fellowship of the Ring de Tolkien, Visto do Céu de Alice Sebold, As Ondas de Virginia Wolf, ou mesmo Luna Park de Bret Easton Ellis, nada me arrancava a emoção. Steinbeck agarrou-me ao fim de 4 ou 5 páginas. A forma como pega num conto popular (Mexicano) e dá corpo aos personagens, os enche de profundidade e cria em nós profundos laivos de empatia, é magistral.

A história de A Pérola não é nada de novo, como se disse é baseada num conto popular, é algo que também se pode repescar da Bíblia, nos dias de hoje poderíamos mesmo trocar a Pérola pelo Euromilhões. Fala-nos sobre a ganância, um dos pecados mortais eleito por Dante na sua Divina Comédia. A ganância que tudo quer e que tudo perde. Se bem que o personagem principal Kino apresente planos algo contraditórios mas evoluídos, quer que o seu filho estude e quer uma espingarda. Se a espingarda está em consonância com a crítica da ganância, do pecado, do mal; já que o seu filho seja alguém instruído e possa sair da miséria a que os pais foram votados por falta de acesso à educação parece-me completamente fora da fotografia. Mas depois temos o Padre, o Médico, os compradores de pérolas, os mendigos, e os "amigos" que reforçam fortemente o tema e lhe dão vida ao longo de todo o livro.

A história evolui e toca-nos, gera em nós um forte ligação com a família de Kino, a sua mulher Joana e o seu filho Coyotito ao mesmo tempo que nos vai gerando dúvidas e afastando de todos os restantes personagens daquele universo. É uma história sobre a tragédia, que mesmo na alegria da sorte deixa pairar o medo sobre o futuro daqueles trágico-personagens. O isolamento em mar ou terra, o desenho das atmosferas da noite, da configuração das barracas e o seu acesso à "cidade" tudo está engendrado para intensificar o mal estar que o efeito da ganância tem sobre a espécie humana.

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