agosto 25, 2009

Proust era um Neurocientista

Proust era um Neurocientista é um livro abrangente e fascinante, o primeiro de Jonah Lehrer, acima de tudo pela forma como trata a arte e a ciência. Lehrer é assombroso na demonstração do background que possui dos dois lados, e na forma como os consegue entrosar, tocando muitas das áreas de interesse da neurociência actual. Lehrer tem apenas 25 anos o que torna ainda mais impressionante o seu background.

O melhor do livro - os oito artistas dissecados: Walt Whitman, George Eliot, August Escoffier, Marcel Proust, Paul Cézanne, Igor Stravinski, Gertrude Stein e Virginia Woolf. Os temas por detrás dos artistas: corpo/alma, emoção, memória, visão, audição, narrativa biológica, plasticidade do cérebro e consciência. Tópicos como o paladar e gosto são refrescantes e abrem-nos os horizontes para além das normais questões da memória ou emoção. A desconstrução da formação da consciência como um processo "emergente" é o ponto alto do livro.

O pior, a falta de uma projecção além de cada autor, ou seja, temos oito capítulos, oito tópicos e depois fica a faltar o seu entrelaçamento. Porque é que Lehrer não relacionou Proust com Cézanne e por sua vez com Eliot. Este é o livro que me faz pensar em teses que precisam de mais trabalho de aprofundamento da sua temática e objectivos. Aliás fez-me lembrar o tempo em que preparava o meu tópico de doutoramento e pretendia trabalhar um assunto que reunisse Moby, Michael Gondry e Chris Cunningham entre outros. É claro que Lehrer tem como pano de fundo a Neurociência, mas era bom ter ido mais além, era bom ter construído um argumento que fosse depois socorrido pelos autores referenciados. Aliás percebe-se nos agradecimentos que o livro surgiu de um artigo seu sobre Proust, mas julgo que neste caso o livro deveria ter-se chamado antes Virginia Woolf era uma Neurocientista, porque é ela que está no centro da discussão do processo do nosso Eu e porque é ela que vai sendo citada ao longo de quase todo o livro.

De qualquer modo, o livro recomenda-se vivamente, é uma leitura muita fluída, constantemente cativante dada a quantidade de dados explanados e desconstruídos por Lehrer sobre estes fascinantes personagens. De certo modo a frase abaixo resume o objectivo central deste livro que pretende ser uma ponte entre Arte e Ciência:
"A física é útil para descrever os quarks e a galáxia, a neurociência é útil para descrever o cérebro e a arte é útil para descrever a nossa experiência concreta."


UPDATE 28 Agosto 2011
Análise do segundo livro de Jonah Lehrer How we Decide (2009)

1 comentário: