É a temporada menos conseguida, nomeadamente porque 2 episódios não possuem qualquer relação com o conceito Black Mirror (4º "Mazey Day" e 5º "Demon 79"), enquanto outros 2 ( 2º "Loch Henry" e 3º "Beyond the Sea") usam o conceito apenas como veículo para se focar noutros problemas, restando um episódio, 1º "Joan Is Awful", que se mantém totalmente fiel ao conceito. Pode pensar-se quem já tudo foi dito nas temporadas anteriores e por isso a série teve de seguir em frente, algo que não faz sentido porque o tema é simplesmente infinito. Quando muito, podemos dizer que Charlie Brooker se cansou do tema, preferiu voar para outras paragens, mas devia ter assumido isso mesmo e criado uma nova série.
Muito rapidamente, o conceito por detrás de Black Mirror assenta no uso de especulação científica centrada nos efeitos das tecnologias de comunicação, em particular dos média. A própria designação da série, dá conta dos ecrã negros a partir dos quais acedemos à realidade mediada. Sobre isto, Brooker trabalha cada episódio com base no suspense que cria a partir de pequenas alterações do dia-a-dia que servem para depois apresentar a ideia central a partir de uma reviravolta na história, seguindo de forma decalcada o modelo narrativo criado por Rod Serling com The Twilight Zone.
Black Mirror em 1º grau
"Joan Is Awful", segue as linhas mestras do conceito Black Mirror, e apresenta-nos um mundo em que a IA e os dados pessoais se misturam para dar corpo à criação de conteúdos personalizados e assim garantir a verdadeira experiência única a cada espectador de um serviço de stream. O episódio dá conta dos problemas que decorrem da exposição da vida pessoal, do modo como as empresas esperam poder vir a rentabilizar esses conteúdos, mas também do potencial evolutivo dos próprios personagens a partir do momento em que ganham consciência de si.
Black Mirror em 2º grau, horror-crime em 1º grau
"Loch Henry" apresenta-nos uma história aparentemente verídica de um conjunto de crimes ocorridos numa remota aldeia da Escócia. A relação com os média acontece porque um jovem casal de estudantes de cinema decide dar vida audiovisual aos crimes, para o que tem de realizar uma investigação junto da comunidade. O twist final, apesar de horror policial, pode convocar uma ideia black mirror, se visto pelo lado da pressão que os média colocam sobre nós a ponto de nos dispormos a revelar o mais sórdido sobre nós e a nossa família.
"Beyond the Sea" começa como um verdadeiro trabalho Black Mirror, com 2 astronautas em missão que podem colocar os corpos em descanso para se conectar com andróides na Terra onde mantém uma vida normal com as suas famílias. O conceito é fabuloso, mas depois não é aprofundado, seguindo por um caminho totalmente paralelo do horror das relações masculinas.
Black Mirror ausente, mera fantasia juvenil
"Mazey Day" e "Demon 79" não valem sequer o esforço de discussão, porque se limitam a introduzir variáveis de fantasia fugindo a qualquer raciocínio lógico Black Mirror.
Sem comentários:
Enviar um comentário