agosto 25, 2022

"Mar da Tranquilidade" (2022), Emily St. John Mandel

Gostei muito de "Station Eleven" (2014) por apresentar um olhar novo sobre as distopias, assente na calma e tranquilidade. Depois em "O Hotel de Vidro" (2020) Mandel, seguindo o mesmo tom, acaba por mudar para uma linha contemporânea e mais mundana, focando-se na crise económica de 2008, usando personagens que se socorrem do absurdo para gerar interrogações que ficam sem explicação. Neste terceiro livro, em que o título encaixa totalmente na sua forma de escrita, "Mar da Tranquilidade" (2022), já pouco parece existir de novo para nos oferecer. Temos um livro que sintetiza as distopias do primeiro, juntando-lhe as questões estranho-absurdas do segundo, alargando ambos os universos e unindo-os num só. É interessante, porque somos recompensados por ter lido os anteriores, mas ao mesmo tempo sentimos falta de mundo, sentimos que a autora esgotou aquilo que pesquisou sobre os temas e não consegue sair do ciclo em que se fechou.

Assim, os clichés tornam-se inevitáveis. Temos um "instituto do tempo" que anda a corrigir as supostas anomalias criadas pela máquina do tempo que já vimos em tantos outros lados, ainda recentemente na série "Loki" (2021) da Marvel. Temos falhas na matriz de simulação, que surgem exatamente quando a série cinematográfica "The Matrix Resurrections" (2021) resolve apresentar um novo filme. E depois temos os encontros coincindentais ao longo de séculos criados por uma estrutura narrativa matricial que serve descaradamente apenas para ligar múltiplos nós, dentro do livro e entre os três livros, seguindo "Cloud Atlas" (2004) de David Mitchell, concidentalmente passado ao cinema pelas criadoras de Matrix em 2012. 

Ao longo do livro somos presenteados com muitas tiradas sobre a condição humana, mas que tendo em conta a quantidade de tópicos convocados — desde a vida numa simulação computacional à vida no futuro, passando pela vida na atual pandemia, à vida com acesso a uma máquina do tempo, juntando-lhe ainda os desabafos da vida do escritor que escreve!— acabam não tendo espaço para ser dramatizados, não passando da condição de atrativos aforismos.

Mandel escreve bem, sabe contar bem as suas histórias e envolver-nos, mas vai precisar de aprofundar mais, dar muito mais sobre aquilo de que quer falar, sem isso fica como uma autora que se lê hoje para amanhã já não nos lembrarmos do que lemos.

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