"Monogamy" (2020) não é o tipo de livro que leria, mas algumas resenhas trouxeram-me até ele. Sue Miller tem mais de uma dezena de romances publicados, mas nunca tinha ouvido falar da mesma. É uma autora focada no romance de família, entre os romances de amor da seleção da Oprah e o romance mais psicológico. Assim que comecei a ouvir o audiobook fiquei colado, ainda mais assim que percebi que era a própria autora a narradora. Os seus 78 anos emprestam à voz um tom de experiência profundo, tornando a declamação imensamente emocional, particularmente tranquila, capaz de criar paisagens ficcionais totalmente credíveis para onde apenas desejamos evadir-nos.
O cerne de "Monogamy" é um casal que vive em Cambridge, casados há quase 30 anos, ambos em segundo casamento. Entretanto o marido Graham — dono de uma livraria — morre, e enquanto Annie — fotógrafa — realiza o seu luto, descobre que ele tinha tido um caso. O desenvolvimento do livro torna-se assim numa viagem psicológica com Annie, enquanto esta tenta dar sentido ao passado para se poder reerguer no presente. É aqui que entra a discussão da monogamia do que representou e pode ainda representar. Não há tragédia nem drama, mas questionamento e reflexão, o que poderia tornar a leitura mais aborrecida, mas tal nunca chega acontecer porque Miller sabe manter o interesse do leitor sempre desperto.
O livro ganha sentido adicional se pensarmos no mesmo da mesma forma como Graham pensava a ficção, numa recordação de Annie:
“Just, that we read fiction because it suggests that life has a shape, and we feel... consoled, I think he said, by that notion. Consoled to think that life isn’t just one damned thing after another. That it has sequence and consequence.” She smiled at Edith. “I think it was more or less the idea that fictional narrative made life seem to matter, that it pushed away the meaninglessness of death.”
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