"A Promessa" (2021) apresenta dois enormes atributos: o envolvente contar de história e a subversão da forma. Para o primeiro, Galgut usa os métodos de criação de interesse que mantém os leitores suspensos à espera do que vai acontecer a seguir. Fá-lo bem, porque não conseguimos parar de ler. Mas é na forma que nos deslumbra, sendo a história que se conta importante, o modo como Galgut o faz é tudo menos tradicional, quebra todas as regras, desde o ponto de vista, com a voz do narrador a mudar entre personagens, e entre pessoas, dirigindo-se mesmo ao leitor. Não raras vezes temos de voltar atrás porque o personagem que relatava o assunto mudou, e agora a perspectiva é distinta, permitindo-nos perceber de outro modo o que aconteceu, está a acontecer. Pode causar alguma confusão, mas está tão bem cosido que ao fim de algumas dezenas de páginas já entrámos dentro do fluxo criado por Galgut.
Agora e sobre a história foi onde senti que perdi mais. Apesar de ter gostado do fecho, o modo como a oferta de Amor é recebida por Lukas, é poderoso e dá bem conta da recente tomada consciência do impacto da presença dos europeus em África. E seguindo essa ideia final, percebe-se que se a família de brancos morre, até ao último "ramo da árvore", é porque esse é o destino inevitável, não existe como reatar, como criar pontes, como voltar atrás no que foi mal feito. Não há aqui qualquer esperança, e isso deixou-me no final um pouco sem chão. Não sendo diferente de outras vozes sul-africanas como Coetzee. Difere sim pelo épico familiar mágico-satírico que nos leva ao longo da saga, aproximando-se de outras vozes, de outros continentes, como Rushdie ou Naipaul, embora terminando num beco sem saída...
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