julho 26, 2020

Do segundo volume de N.K. Jemisin

"O Portal dos Obeliscos" é o segundo livro da trilogia "Terra Fraturada" de N.K. Jemisin. Apesar de receber o segundo prémio Hugo consecutivo, o livro foi atacado por alguns fãs por sofrer do chamado síndrome do "segundo livro", ou "livro do meio", de que discordo. Apesar de poder considerar este livro ligeiramente inferior ao primeiro, continua a apresentar níveis de envolvimento, de construção de mundo e desenvolvimento de personagens de grande qualidade. Mais importante, a narrativa prossegue, de modo brilhante, cruzando fantasia e ficção-científica, com várias explicações de grande relevo a surgirem e a fazerem elevar toda a nossa compreensão do mundo-história iniciado no primeiro livro. Inevitavelmente sente-se que estamos em trânsito, que vimos de algum lado e temos um lugar aonde queremos chegar. Este segundo livro preenche o que faltava no primeiro, abre mais elementos do jogo, mas deixa ainda muito suspenso no ar que nos obriga a partir para a leitura do terceiro para poder chegar à compreensão do universo criado por Jemisin.
Continuamos a ter narração em 2ª pessoa o que continua a surpreender-me pela forma belíssima como funciona, e é já uma marca da série. Continuamos a ter personagens densos, intrincados totalmente humanos apesar da sua suposta não-humanidade. Aliás o gozo de ler uma série como estas está na forma como Jemisin cruza géneros, como ora estamos a ler conflitos, lutas, traições, clichés de um género, para a seguir entrarmos em descrições complexas sobre geologia e física, e na página seguinte estarmos dentro dos personagens em total indagação sobre a razão de continuar a ser. Neste livro senti que o modo como a história vai refinando a ciência e humano se aproxima de algum modo dos mundos trabalhado por Alex Garland, o que inevitavelmente me atrai ainda mais para dentro do mundo-história.

O ponto menos bom do livro, mas era-o já no primeiro, assenta no modo algo denso e caótico como muita exposição vai sendo feita que dificulta a completa compreensão, ou melhor, a compreensão fácil de tudo que está a acontecer. Claro que isso ajuda à produção de mistério, mas por vezes sentimos algum desespero tentando recordar que personagem é, ou em que conflito foi relevante, e ligar as informações para chegar ao que autora está a tentar passar. Como digo, acredito que podia ser melhor cozinhado, mas isso faria com que se perdesse alguma similitude com o próprio mundo, caótico, que está a ser descrito.

A diversidade e inclusão continua à flor da pele, muitas situações conflituais são facilmente identificáveis como analogias da nossa realidade o que torna o universo em si ainda mais atrativo e relevante. E agora resta-nos o terceiro livro, perceber de que são verdadeiramente capazes Essun e Nassun e qual a explicação para o surgimento dos Comedores de Pedra e da Orogenia.


Análise do primeiro volume.

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