“Feral” continua a mostrar o melhor da arte de Daniel Sousa, nomeadamente no trabalho de ilustração e na sua transição para movimento na animação. Sousa continua a afirmar-se como pintor, além de animador, e isso é por demais evidente neste trabalho. Cada composição visual é um quadro, com todo um detalhe gráfico soberbo, uma riqueza visual que impregna de sentidos múltiplos o filme que vemos. Sousa trabalha sem qualquer suporte de storyboard, o que explica as razões estéticas, mas também técnicas, da sua fuga à linearidade narrativa. Baseia a evolução do movimento numa busca visual, quadro a quadro, algo que é feito de um modo particular, já que inicia todo o trabalho no Adobe Flash, depois imprime cada um dos quadros em papel, retraça-os a lápis, e volta a digitalizar (ver vídeo abaixo "Feral: process workflow"). Podemos dizer que Sousa criou o seu próprio método de desenvolvimento de animação, e isso contribui indelevelmente para o resultado final do carácter autoral.
Making of do processo de animação
Em termos narrativos Sousa prefere a visceralidade, envolvendo-nos e recompensando-nos a cada novo quadro, ainda que desta vez Sousa tenha seguido uma lógica mais linear para criar o seu universo, como nos diz em entrevista. Temos assim não apenas a criação de um universo espacial, mas o relato de um evento temporal concreto. Sousa transporta-nos para o seu mundo, mas concretiza as razões porque o faz. Sempre muito enredado pela mitologia, “Feral” trabalha sobre o mito do menino selvagem e a sua incapacidade para se adaptar às normas de um processo civilizacional desconhecido. O mito e a abordagem plástica elevam as possíveis leituras que se podem retirar do filme, e isso acaba por contribuir para o enorme interesse suscitado em redor da curta de apenas 12 minutos.
Trailer, filme completo no Vimeo VOD
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