O cinema de Hollywood por ser o único visto a uma escala global por milhões de pessoas pode ser visto simultaneamente como espelho e gerador de mitos contemporâneos do storytelling humano. Nesse sentido uma análise mais cuidada do que temos nestes filmes pode ajudar-nos a compreender de que é feita a nossa sociedade e como se comporta. Os modelos que seguimos e em que acreditamos são fruto primeiro da família que nos rodeia, que por sua vez são depois trabalhados em parte pela cultura da ficção que consumimos.
89% dos filmes do Top 100 mais vistos em 2011 apresentam personagens masculinos
Nesse sentido é ridículo que numa cultura que diz defender a igualdade entre sexos, os papéis principais, os protagonistas, os heróis, continuem a ser largamente majoritários dos homens. Evoluímos alguma coisa nos últimos 50 anos, mas ainda assim nos últimos anos, invariavelmente, o Top 10 de filmes mais vistos nos EUA e também no planeta apresentam um a dois filmes com mulheres a liderar. Ou seja, os homens ocupam os principais modelos do nosso imaginário proveniente do storytelling cinematográfico em 80 a 90% dos casos. Sei bem que vende mais um herói masculino, mas vende porque os mitos assim estão formatados. Veja-se o caso da Pixar com todo o sucesso que conseguiu nos últimos quase 20 anos, não teve um único filme que tenha sido um flop, ainda assim esperou por 2012 para arriscar lançar o seu primeiro filme com uma heroína (Brave, 2012). Tudo isto nos deve questionar sobre o que vemos e damos a ver, com uma simples pergunta: com que modelos queremos educar os nossos filhos?
Teste que permite identificar se existe viés de género num filme/livro/jogo...
O cinema não é só o Top 10, nem é só Hollywood. Nem o imaginário contém apenas só cinema. Mas isso não quer dizer que não nos devamos preocupar em construir uma boa selecção dos filmes, livros, e jogos que queremos que os nossos filhos leiam, vejam e joguem. Porque se existe algo sobre o qual não tenho dúvidas é sobre o papel extremamente importante que o storytelling tem sobre o crescimento das crianças. É daqui que retiram ideias para os seus sonhos, e é aqui que aprendem a confrontar os seus medos e as suas morais, construindo as bases da ética pessoal.
Why domestic violence victims don't leave, Leslie Morgan Steiner (TED 2013)
O cinema não é culpado da agressão sexual, mas o cinema e a demais arte criadora de imaginários e sonhos pode ajudar a mudar os mitos, e aos poucos esse mitos poderão transforma-se em novas acções. Por isso precisamos de mais heroínas como a Chihiro, a Rapunzel, e a Merida.
How Movies Teach Manhood, Colin Stokes (TED 2013)
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