Eduardo Sá discute a violência e os videojogos numa entrevista dada ao programa de televisão Falar Global, e surpreende. Consegue apresentar um discurso refrescante sobre a temática, que vale a pena ouvir com atenção. São dez minutos, mas valem todos os segundos, nomeadamente para todos os que trabalham na área dos videojogos, jornalistas, criadores, académicos mas também para todos os pais.
Eduardo Sá é doutorado em Psicologia clínica pela Universidade de Coimbra e professor no Instituto Superior de Psicologia Aplicada em Lisboa. Além disso é um psicólogo nacional bastante reconhecido no campo da psicologia infantil. Publicou livros como A vida não se aprende nos livros, Más maneiras de sermos bons pais, Psicologia do feto e do bebé, ou Esboço para uma nova psicanálise. Os seus discursos são por vezes recebidos com alguma reticência, porque é alguém que acredita profundamente na competência do Brincar para nos ajudar a construir aquilo que somos. Nesse sentido é muito normal ver Eduardo Sá defender o brincar em vez da realização dos trabalhos de casa como faz aqui.
O Brincar é assumido pela sociedade atual com algo desinteressante e por vezes mesmo irrelevante, pela simples razão de que é natural e espontâneo, mas mais ainda porque aos olhos do senso comum, é uma atividade sem qualquer resultado palpável. Nesse sentido enquanto sociedade criámos demasiadas regras para cortar com essa espontaneidade, e assim conduzir as pessoas a serem, aparentemente, mais produtivas. Aliás isto pode ser visto em artigos como o dos Jogos Estúpidos escrito pela revista Sábado no ano passado. Jogar Angry Birds é visto pelos especialistas do senso comum, como um mero vício sem sentido, porque "nada" se ganha enquanto se joga.
Não valendo a pena perder muito tempo com discursos fundamentalistas sobre o que devemos ou não devemos fazer, aproveito para transcrever algumas das frases que são ditas na entrevista e que acho que valem os 10 minutos que dura a entrevista. Para verem a entrevista precisam de ir ao site do Falar Global.
"A agressividade é um equipamento de base da natureza humana e portanto faz bem à saúde… "
"Quanto menos brincarmos com a agressividade mais violentos nos tornamos."
"O que eu gostava que os pais definitivamente percebessem, é que não há maneira de um jogo ou vários jogos transformarem uma criança saudável num adolescente violento."
"Nós já vimos o super-homen a voar, mas não vamos saltar de uma janela para começar a voar. Subestimamos demasiado as crianças"
"É bom que percebam que isto [violência] vem mais de dentro deles para o jogo, do que do jogo para eles... O fator que faz a diferença, é individual."
"Eu tornava os jogos obrigatórios. Brincar é um património da humanidade."
"Nesta ânsia de escolarizar de uma forma quase absurda, nós não estamos a potenciar aquilo que nós construímos. Para os pais é bom que fique claro, é obrigatório brincar todos os dias. Brincar não é uma atividade de fim-de-semana."
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