Com um pai diplomata e incapaz de suportar a ideia de um filho artista, acaba por se fechar sob o seu autismo. A incapacidade de compreensão dos relacionamentos e das expressões faciais levam-no a desenhar desesperadamente caras e mais caras. Termina Arquitectura, mas nunca acredita nela, até que o seu desejo intrínseco da pintura toma conta dele por fim.
"O desenho e a pintura salvaram-me de uma grande solidão existencial e comprendi que a partilha era uma etapa importante. Quando recebemos um dom, devemos partilhá-lo se não ele não serve para nada… Eu tento dar aos outros esta representação do homem em toda a sua dimensão do amor, para ajudar a transcender o drama humano" [1]A sua última série e que aqui mostro neste artigo tem o nome de Les Mouvements de L’Âme (Os Movimentos da Alma). A arte de Van Mullen vive desta obsessão pela cara, e vive muito de um expressionismo extremo que distorce a expressão, aquecida pela luz, germinando no espectador inquietações sobre o desconhecido. Mas não um desconhecido qualquer, porque este por norma afasta-nos, mas aqui o seu lado quente atrai-nos com imensa força. Daí que sintamos a momentos que não se trata de uma cara de carne e osso, mas de uma cara de uma alma.
É impossível não ligar o trabalho de Van Mullen ao visual de Goya e aos universos de William Blake. Os "movimentos da alma" estão patentes em faces incompletas e dinâmicas que chamam pelo espectador e o atiram em direcção às suas próprias "portas da percepção". A viagem através dessas portas não se faz pelo simples estranhamento, mas somos como que levados através de um caminho adocicado e com uma ligeira brisa de vento quente que brota dos amarelos torrados de um comum fim de tarde mediterrânica.
[1] JOHAN VAN MULLEM, Explore les portes de l’âme, Gérard Gamand in AZART Magazine 10ans, Bimestriel n°50 Mai-Juin 2011
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