Os 5 Nomeados ao Oscar de Melhor Curta Animada
Fiquei surpreendido com a nomeação da curta, The Simpsons: The Longest Daycare (2012) de David Silverman, mas depois de a ver admito que não é apenas mais um episódio da série, é uma curta bastante interessante e que recai sobre um dos personagens menos trabalhados da série, Maggie Simpson, a bebé. A curta aborda a entrada de Maggie para o infantário a partir dos olhos da bebé, e é simplesmente hilariante. A arte por sua vez é muito mais detalhada do que aquilo que estamos acostumados a ver nos episódios.
The Simpsons: The Longest Daycare (2012) de David Silverman
A última curta do lote é Fresh Guacamole (2012) o último trabalho de PES (Adam Pesapane) que conseguiu cerca de 3.5 milhões de visualizações em quatro dias, contando neste momento com quase 7.5 milhões no YouTube. Para quem não conhece o trabalho de PES os seus filmes são normalmente pequenas animações de um a dois minutos em stop-motion de surpreendentes deslocações da realidade. Aconselho vivamente que vejam para além da nomeação, que coloco aqui abaixo, Roof Sex (2002), Game Over (2006) ou Western Spaghetti (2008). Fresh Guacamole é uma espécie de segundo episódio de Western Spaghetti. Podemos dizer que PES encontrou no stop-motion de comida inventiva um nicho a explorar. Aliás julgo que a Academia com esta nomeação não quis apenas reconhecer este filme, mas o trabalho que PES tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos.
Fresh Guacamole (2012) de PES
Por fim, olhando para as cinco nomeações é inevitável pensar que a curta dos Simpsons poderia ter dado facilmente lugar a outra nomeação, tendo em conta os restantes filmes. Aliás eu não teria a menor dúvida em substituir The Simpsons: The Longest Daycare por The Eagleman Stag (2011), um filme que já aqui analisei e que aconselho se ainda não viram. Mas consigo perceber a Academia que seguiu um padrão muito claro nas suas escolhas, nenhum dos cinco filmes nomeados tem diálogo, narração ou texto. Aqui The Eagleman Stag perde porque tem um narrador presente durante quase toda a animação. Julgo que a ideia da Academia será estimular a produção de técnicas de animação que sejam capazes de comunicar apenas visualmente, sem qualquer necessidade de verbalização. Parece-me um pouco forte, e até talvez obsessivo, embora reconheça na arte das ideias visuais a essência da animação, a animação é feita de arte visual e sonora. O diálogo não deve ser visto como um elemento estranho, embora também não deva servir de muleta para contar o que o animador é incapaz de contar em imagem.
Quanto ao vencedor não existe qualquer dúvida sobre quem irá ganhar, Paperman tem todos os trunfos. Não tem diálogo, inova na tecnologia, apresenta uma narrativa típica de Hollywood. É um filme que facilmente agrada a criadores, académicos e chega com muita força às massas. Gostava de ver Adam and Dog ganhar pela arte visual, apesar da história me decepcionar pela falta de rigor científico. Por outro lado a sua animação dificilmente consegue competir com a excelência do filme da Disney, falta-lhe produção o que é normal tendo em conta o modo como foi produzido. Aliás este é o mesmo problema de que sofre Head Over Heels tem uma narrativa soberba, mas a animação, apesar de muito boa, está longe do nível de Paperman. Num certo sentido a animação em Adam and Dog e Head Over Heels é até mais autêntica, mais pura, são os primeiros esboços dos seus criadores, enquanto Paperman denota as várias camadas de trabalho de produção subsequentes a cada esboço. Quanto a Fresh Guacamole parece-me que a nomeação é já em si o prémio que a Academia tinha em mente.
Vale a pena rever Paperman no YouTube em HD, nomeadamente ver as camadas de desenho à mão sobrepostas ao volume do 3d. Muito interessante por exemplo confrontar o puro 2d feito à mão de Adam and Dog com o 2d de Paperman e ver como as diferenças sobressaem ainda mais. Temos aqui não apenas uma tecnologia nova, mas uma nova técnica de animação.
Paperman (2012) de John Kahrs