setembro 02, 2012

Viagem pela Rússia

Silent Souls (2010) de Aleksei Fedorchenko evoca uma etnia milenar desaparecida, os Merja, que foi entretanto transformada pelos Eslavos, chegando à Rússia moderna apenas sob a forma de alguns costumes e tradições nas zonas de Rostov, Jaroslavl, a norte de Moscovo.


Mesmo não sabendo que o primeiro trabalho de Fedorchenko se tratava de um falso documentário, First on the Moon (2005), é difícil não nos questionarmos sobre a veracidade do que nos é apresentado em Silent Souls. Não os costumes e as tradições apresentadas, mas a hipótese de eles prevalecerem numa sociedade moderna, com o controlo e a legislação que nos rege. Seria possível transportar um corpo num carro comum embrulhado numa manta ao longo de vários quilómetros sem ninguém querer saber, e mesmo a polícia achar normal?


Mas isto é apenas a superfície da realidade que serve de ponto de partida à narrativa mágico-realista de Fedorchenko. O que o filme nos traz vai muito para além desses detalhes, e joga-se no mundo do espiritual, expondo a nu o modo como os Merja conceptualizam a vida, sob um olhar muito distinto dos grandes padrões religiosos da Europa ocidental. Aqui tudo é "água", e a nossa vida é apenas uma passagem no grande rio.


Se na história se evocam temas profundos adocicados pela magia de diferentes visões do mundo, na estética temos magia cinematográfica. Desde o ritmo calmo e sereno mas sem delongas à fotografia absolutamente magistral criada por Mikhail Krichman, tudo contribui para a criação de uma aura de transcendência da vida. Krichman recebeu a Osella de ouro em Veneza para esta fotografia, mas nada que surpreenda depois de ter assinado as magistrais fotografias dos três filmes de Andrey Zvyagintsev.


Silent Souls mexe connosco e questiona-nos, não dá, nem pretende dar respostas, é melancólico sem ser propriamente dramático, é uma viagem através de lugares frios e distantes, com costumes distintos mas que falam ao nosso interior. É um poema audiovisual.

A minha viagem ao Alaska

Legend of a Suicide de David Vann é uma obra poderosa de ficção assente em pormenores da vida do autor que lhe permitiram levar o romance a um nível de qualidade literária raramente vistos. O facto de se passar no Alaska e abordar a solidão humana em conjunto com o suicídio de um pai, ajuda a construir o cenário para uma viagem perfeita, mas é na escrita, e na narrativa que está o detalhe do trabalho de Vann.


O livro contém uma espécie de cinco contos que falam sobre o mesmo mas com diferentes abordagens, seja no tempo, no espaço, ou mesmo nos eventos. O livro consegue encantar-nos porque nos transporta para um universo próprio do autor, não é o Alaska, mas é o Alaska de Vann, é Roy e Jim, pai e filho. E a uma determinada altura somos levados ao engano, e o livro parece dar uma volta de 180º, e não queremos parar de ler, porque queremos saber, queremos perceber como é que a narrativa permitiu que aquilo acontecesse. Temos uma espécie de twist a meio do livro e ficamos há espera que outro twist aconteça no final, mas esse twist vai dar-se dentro de nós, quando começamos a encaixar todos os cinco contos, e a estrutura global narrativa começa a fazer sentido e somos capazes de dar sentido a tudo o que ali se passou.

Aleutian Islands, Alaska (Hawkfish)

O livro tem sido descrito como uma espécie de exorcismo para Vann, e bem parece, como que se pudesse através da arte literária não só libertar-se de um peso, mas ao mesmo tempo jogá-lo para o outro lado da rede. O próprio Vann define à posteriori o conto central como uma espécie de vingança sobre o seu pai, mas acredito mais que Vann se tenha deixado levar pela escrita, e que este tenha sido o seu grito literário. Um grito forte inaudível mas muito pesado emocionalmente.  Sem dúvida, que toda a arte tem o poder de nos desenterrar, de nos elevar, mas fazer o que Vann faz não está ao alcance de todos.

A narrativa é experimental mas está de acordo com o atual modo de escrita, algo influenciada pelos modelos narrativos cinematográficos de deslinearização do enredo (veja-se Memento ou Inception). Uma tentativa de fazer discorrer a narrativa num modo associativo de ideias e não meramente encadeado cronologicamente. Não é a toa que Vann chega a ser comparado a Virginia Woolf. Diria que estamos perante uma nova corrente na criação ficcional, uma espécie de neo-estruturalismo, em que se busca maravilhar o leitor não pelo que se diz, mas pela forma como se diz. A arte pela arte.


Algumas notas mais. 
a) Não leiam a sinopse do livro que está no sítio do autor pois fala tangencialmente do twist central.
b) A capa da Penguin é magistral, e em papel funciona ainda melhor porque o peixe vem imprimido em papel brilhante que contrasta fortemente com o amarelo da capa.
c) A obra original tem um inglês elaborado, nomeadamente os primeiros contos e os últimos. Para quem não esteja totalmente à vontade, aconselho a tradução portuguesa da Ahab.


5/5

setembro 01, 2012

o fim do nada

The Seventh Continent (1989) de Michael Haneke é forte, muito forte, e é estranho, ou nem por isso, como a obra que se me chama a coacção é Every day the Same Dream (2009) da Molleindustria. Apesar de serem média diferentes, a mensagem aproxima-se, claro que sem o poder emocional do cinema, mas aqui apenas e só por causa do realismo fotográfico, da ausência de comicidade, e do facto de não ser dado à experimentação nem ao nosso controlo. No filme é assim, e nada podemos mudar para ser diferente.
O filme toca num ponto fundamental da nossa existência, e por isso é impossível sairmos indiferentes da experiência. Alguns pensarão que é um exagero, mas sendo baseado num caso real, tudo ganha outro contorno. Poderíamos nós chegar àquele estado? Todos queremos acreditar que não, mas… Não existe ali crise que explique, e esse é o grande problema de todo o filme e que Haneke trabalha de forma brilhante, apresentando sem propor causas, nem explicações.
Em termos estéticos, tal como diz Haneke, numa entrevista de 2005, a Serge Toubiana, uma das coisas mais impressionantes no filme é o ritmo a que decorre. Como uma composição musical, somos levados pelo ritmo audiovisual, sentimo-nos a progredir na história até que percebemos para onde estamos a ir, e não queremos acreditar que estamos a ser levados para ali.

agosto 31, 2012

Jovens Criadores 2012 e Residência no Canada

Estão abertas as inscrições para o concurso Jovens Criadores 2012. Já na sua 15ª edição, esta é uma iniciativa conjunta do Instituto da Juventude e do Clube Português de Artes e Ideias, que se destina a dar a conhecer artistas em início de carreira, até os 30 anos, de nacionalidade portuguesa ou residentes no país. As inscrições decorrem até 14 de Setembro.


As áreas a concurso são: Artes Digitais, Artes Plásticas, Banda Desenhada, Dança, Design de Equipamento, Design Gráfico, Fotografia, Ilustração, Joalharia, Literatura, Moda, Música, Teatro e Vídeo. Os projectos seleccionados serão apresentados na Mostra Jovens Criadores 2012. Do corpo de artistas seleccionados é escolhida uma delegação que representará Portugal na próxima edição da Bienal de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo ou da Mostra de Jovens Criadores da CPLP.

Alguns dos artistas nacionais foram aqui descobertos, nomes como Alexandra Moura, André Murraças, André Sier, Cristina Filipe, Gonçalo M. Tavares, João Fazenda, João Garcia Miguel, João Pedro Vale, José Luís Peixoto, Rudolfo Quintas, Soraya Vasconcelos ou Tiago Guedes. Toda a informação sobre a iniciativa está em Clube Português de Artes e Ideias, podem aí descarregar o regulamento e a ficha de inscrição. Mais info pode ser conseguida através do telefone 963784030 ou e-mail: press@artesideias.com.


Para além desta iniciativa o Clube Português de Artes e Ideias tem aberto um concurso para uma bolsa de residência na área da criação literária em Montreal em 2013. Os autores deverã já ter publicado trabalho anteriormente e a data limite é 1 de Outubro 2012. Mais info aqui.

agosto 20, 2012

RIP: Tony Scott (1944-2012)

Tony Scott morreu hoje com 68 anos, e ao que tudo indica foi suicídio, saltou da ponte Vincent Thomas em LA. Estou chocado, e só isto me fez interromper a pausa neste blog.


Vi todos os seus filmes, apesar de nunca me ter assumido um seu fã, mais porque adorava o trabalho do seu irmão, e por comparação, nunca consegui colocar o Tony Scott ao nível de Ridley Soctt. Apesar de operarem temáticas bastante distintas no início, uma simples comparação por exemplo entre Someone to Watch Over Me (1987) de Ridley e Revenge (1990) de Tony, dois filmes que se podem comparar no género, dá para ver de imediato o que eu sentia falta em Tony. Ridley sempre foi fabuloso em termos expressivos visuais, a sua formação de base em Pintura permitia-lhe brincar com a luz de uma forma inigualável, os brilhos, a saturação da cor, a sombra sobre o que não interessava e a forte iluminação sobre o que era importante. Tony por outro lado assumia um carácter muito mais naturalista na luz, menos expressivo, fazendo-se valer da acção criada no ecrã, em vez da estética visual.

Top Gun (1986)

Em termos metafóricos podemos dizer que era menos intelectual que Ridley, mas completamente hiperactivo. Um dos elementos centrais de Tony Scott tem sido e com forte acentuação nos seus últimos filmes a corrida contra o tempo. Com isso criava um verdadeiro frenesim visual e sonoro, experiências cinematográficas inesquecíveis. Em certa medida podemos ver o Tony Scott como um mentor de Michael Bay.

Enemy of the State (1998)

Por outro lado era um realizador adorado pelo público e também por uma grande parte da crítica, aliás só isso explica que tenha conseguido realizar 16 filmes de grande orçamento, com grandes estrelas de hollywood. É uma produção impressionante criada ao longo de quase 30 anos, dá um filme de grande produção a cada 2 anos.
  • Unstoppable (2010)
  • The Taking of Pelham 1 2 3 (2009)
  • Deja Vu (2006)
  • Domino (2005)
  • Man on Fire (2004)
  • Spy Game (2001)
  • Enemy of the State (1998)
  • The Fan (1996)
  • Crimson Tide (1995)
  • True Romance (1993)
  • The Last Boy Scout (1991)
  • Days of Thunder (1990)
  • Revenge (1990)
  • Beverly Hills Cop II (1987)
  • Top Gun (1986)
  • The Hunger (1983)

True Romance (1993)

Praticamente todos os seus filmes foram sucessos de bilheteira. Por outro lado alguns dos seus filmes transformaram-se em filmes de culto: The Hunger com David Bowie e Catherine Deneuve e True Romance com guião de Quentin Tarantino. Eu apesar de não ser um fã acérrimo, gostei de quase todos os seus filmes, talvez o menos conseguido tenha sido Revenge. De todos gostei do Top Gun quando saiu, podemos quase comparar Top Gun a uma canção pop dos anos 1980, sendo hoje um filme indissociável dessa década. Contudo os seus melhores trabalhos além das duas obras de culto, são para mim Enemy of the State e claro Man on Fire. Gostei bastante também de The Fan com De Niro, de Deja Vu com Denzel Washington e The Taking of Pelham 123 com Travolta, embora estes dois últimos estejam já demasiado carregados de uma estética visual que difere da sua marca, fruto da atual excessiva "maquilhagem" em pós-produção de Hollywood.

Man on Fire (2004)

Tony Scott foi responsável por dar lugar a uma geração inteira de actores negros de Hollywood, começando com Eddie Murphy em Beverly Hills Cop II, passando por Damon Wayans em The Last Boy Scout, Will Smith em Enemy of the State e trabalhando umas impressionantes 5 vezes com Denzel Washington em Crimson Tide, Man on Fire, Deja VuThe Taking of Pelham 1 2 3, Unstoppable.

Tony Scott marcou e marcará a história de Hollywood por muitos anos.

agosto 05, 2012

preenchendo o vazio

Fog and Thunder (2012) é mais um jogo, flash free-to-play, de aventura gráfica em que deambulamos por entre espaços em busca de objectos, elementos e pontos de saída, o chamado dungeon crawler. À partida nada de especial, nada de novo, contudo é um jogo muito interessante pelas mecânicas criadas e que nos permitem percorrer os espaços, assim como pela sua estética.

“You are on a quest to find something to fill the dark void inside”*

Começando pela estética que é brilhante, os espaços são desenhados com base em matrizes de simples quadrados com variantes de cores bem seleccionadas na complementaridade e adjacência. Mas o toque que faz todo o ambiente brilhar é o facto destes simples quadrados conterem todos um ligeiro movimento que acaba por construir uma ideia de espaço feito com post-its. Os espaços do labirinto parecem assim pairar sobre um universo imaginário. Em certa medida e seguindo o objectivo do jogo delineado pelo autor [*] o espaço flutuante sugere a fragilidade dos nossos seres, dos nossos sonhos, e o jogo é apenas uma forma de preencher os vazios dessas nossas fragilidades.


No campo das mecânicas é uma delícia ver um pequeno personagem tão delicado, não armado, obrigado a fazer uso da combinação de acções para conseguir atingir os seus objectivos. Para podermos passar através das várias bombas que nos observam e nos perseguem e das caveiras que nos atingem com raios, temos apenas três objectos sobre os quais podemos agir: o sonar, a luz e o chão. No caso do sonar limita-se a afastar temporariamente as bombas, o apagar da luz permite-nos navegar em modo stealth com a dificuldade de não conseguirmos ver tudo o que procuramos, e finalmente o chão permite-nos criar um quadrado seguro onde nos podemos refugiar. Para poder evoluir no jogo será preciso dominar e usar as três possibilidades de forma conjunta.


Julgo que o jogo está bem conseguido em termos de graus de dificuldade, embora sugerisse a criação de diferentes perfis de dificuldade, para poder cativar mais facilmente as pessoas a entrar no jogo. Podem jogar no site do criador ou no Kongregate.


[Via Jay is Games e Edge Online]

agosto 04, 2012

Filmes de Julho 2012

Grande mês de cinema que foi o mês de Julho, há muito que não tinha tantas boas surpresas assim seguidas, assim como há muito que não dava uma nota máxima. Aliás fui ver e a última vez foi em Janeiro com Incendies. The Return é uma obra belíssima de Zvyagintsev que trabalha dimensões menos acessíveis do comportamento humano, de uma forma visualmente brilhante. Aliás vi também Elena do mesmo realizador, já depois da consagração, e gostei muito também, com uma fotografia tecnicamente superior, e a trabalhar as mesmas dimensões, embora aqui a história faça o filme perder em relação à sua primeira obra, porque arrisca-se pelos territórios do crime, enquanto em Return isso tinha ficado de fora do filme. Oslo, 31. august foi outro filme que me deixou profundamente emocionado, apesar de saber que a história não é original e que já tinha até sido explorada por Louis Malle, o filme não me largou durante uns bons dias, tal como Ratcatcher a primeira obra de Ramsay. Miss Bala foi também um trabalho fresco a surgir do México com uma excelencia cinematográfica muito grande, mas nunca deixando de lado as emocionalidades que trespassam todos aqueles personagens, e que jogam com os nossos sentires minuto a minuto. E já agora, Arrietty, não é realizado por Miyazaki, mas sente-se o seu estúdio na magia da história, no brilho da cor, e na beleza da animação, um filme para sonhar. Submarine trabalha todo um outro campo, uma mistura bem conseguida entre o independente americano e o cinema inglês geram todo um universo particular, carregado de sentimentos adolescentes imbricados no meio de algum humor negro.

xxxxx The Return 2003 Andrey Zvyagintsev Russia [Análise]

xxxx Oslo, 31. august 2011 Joachim Trier Noruega

xxxx Miss Bala 2011 Gerardo Naranjo Mexico

xxxx Elena 2011 Andrey Zvyagintsev Russia

xxxx The Secret World of Arrietty 2010 Hiromasa Yonebayashi Japão

xxxx Submarine 2010 Richard Ayoade UK

xxxx Ratcatcher 1999 Lynne Ramsay UK

xxx Anonymous 2011 Roland Emmerich EUA
xxx Perfect Sense 2011 David Mackenzie UK
xxx Crank 2006 Mark Neveldine EUA
xxx Simpatico 1999 Matthew Warchus EUA
xxx The Longest Day 1962 Darryl F. Zanuck EUA

xx Transfer 2010 Damir Lukacevic Alemanha

x Dark Tide 2011 John Stockwell EUA

[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

agosto 03, 2012

Os 10 Melhores Filmes de Sempre

Ao fim de 50 anos Citizen Kane perdeu o primeiro lugar no The Top 50 Greatest Films of All Time, organizado década após década desde 1952 pela revista Sight & Sound do BFI. E o que é impressionante é que tal aconteceu em ambas as listas, a dos Críticos e a dos Realizadores. Nos críticos perdeu para Vertigo de Hitchcock, nos realizadores para Tokyo Story de Ozu.


Contudo acredito que o mais surpreende não é ter perdido o primeiro lugar, o mais surpreendente é ter-se mantido tanto tempo, década após década, isso é que impressiona, e julgo que também terá sido por isso que os votantes terão ganho vontade mudar. Não faz sentido, o cinema é uma arte tão rica, que é impossível de limitar a uma só obra. Aliás se perderem um pouco de tempo a olhar para as listas desde 1952 vão perceber porque é tão assombroso a permanência de Kane, porque todos os outros filmes mudam bastante, ao passo que Kane permanecia ali totalmente intocável ao poder do tempo.


Estive a ver ambos os Top 10 de cada lista em 2012, e como sempre, acabo por sentir uma maior inclinação para a lista dos realizadores. Desta forma resolvi criar a minha lista dos 10 Melhores filmes de sempre a partir das duas, adicionando alguns filmes. É ridículo que na lista dos críticos o filme mais recente seja 2001 de 1968, e mesmo na dos realizadores não vá além de 1979 com Apocalipse Now. Os críticos deste ano conseguiram juntar no seu top 10, três filmes mudos, é obra, mas denota também falta de à vontade para arriscar em obras menos consagradas.


É verdade que todos os filmes, sem qualquer excepção, destas duas listas devem ser de referência obrigatória, para qualquer pessoa que preze a arte. Se virem todos estes filmes antes de morrerem já se poderão sentir felizes em termos de conhecer o melhor que esta arte deu ao mundo. De qualquer forma deixo aqui o meu Top 10 de sempre, em 2012.


1. Tokyo Story (Ozu, 1953)

2. Metropolis (Lang, 1927)

3. 2001: A Space Odyssey (Kubrick, 1968)

4. Apocalypse Now (Coppola, 1979)

5. In the Mood for Love (Kar-Wai, 2000)

6. Breathless (Godard, 1960)

7. Citizen Kane (Welles, 1941)

8. 8 ½ (Fellini, 1963)

9. Persona (Bergman, 1966)

10. Rashomon (Akira, 1950)