O filme trabalha esta ideia de um modo bastante particular em termos de linguagem cinematográfica, quebrando com todas as convenções, géneros e estilos. Jorge Furtado começa sob uma lógica documental, fazendo uso de um tom pedagógico, que assume um posicionamento científico ao mesmo tempo que explora lógicas do absurdo.
Apesar dos absurdos a narração mantém-se sempre num tom documental, intocável emocionalmente, o que contribui para o aumento da perplexidade dos espectadores. Não se explora o choque na forma fílmica porque ele é simplesmente oferecido pela evidência dos conteúdos. O choque da crueza do conteúdo misturado com a intelectualidade do discurso contribui para o desenho da banalização com que limpamos muitos destes problemas das nossas mentes.
O filme procura desenvolver a apresentação das ideias através do relato da circulação do tomate desde a horta até serem comidos pelas crianças da Ilha das Flores. Pelo meio são discutidas questões como o que é o homem, o que é o dinheiro, o que é o lucro, tudo discutido e apresentado com ilustrações gráficas que nos levam a discussões mais amplas como o mercado livre e a globalização.
Jorge Furtado trabalha o discurso como uma farsa, uma farsa vivida por nós. Algo que de tão absurdo parece impossível, mas é real, tão real como a nossa indiferença. Talvez por isso tenha ganho o Urso de Prata para melhor curta em Berlim em 1990, entre vários outros prémios. A não-farsa termina com um verso da poetisa brasileira Cecília Meireles sobre a Liberdade.
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
Ilha das Flores (1989) de Jorge Furtado
Ilha das Flores tem um enorme potencial para uso em ambiente escolar. Nesse sentido deixo aqui uma ficha de trabalho proposta para a exploração das questões sociais fazendo uso do filme. Para além disso o filme pode ser encontrado no YouTube dobrado em Francês e com legendas do YouTube em Inglês que pode dar jeito para quem quiser usar em aulas de línguas.