maio 04, 2012

Nicholas Carr, a internet e o nosso cérebro

O livro de Nicholas Carr, The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains (2010) não é um grande livro, mas é um livro sobre a nossa condição actual, que nos fala das preocupações produzidas pela cultura contemporânea, nomeadamente a produzida pelos tempos da internet. Como tal é um livro que faz parte de um pensamento em construção, e que no futuro ele próprio fará parte desta história. E é por isso que faz sentido deter-nos um pouco sobre o que nos diz Carr. Não sendo propriamente um ludita, está longe de se apresentar como um defensor das tecnologias web. É um livro anterior à publicação do artigo da Science do ano passado de que falei aqui, mas que se foca sobre a mesma problemática das supostas alterações cognitivas despoletadas pelos novos modos de aceder à informação via internet.


O maior erro deste livro passa por assumir as teorias da neuroplasticidade como algo muito mais activo do que aquilo que realmente é. É verdade que fomos descobrindo que o nosso cérebro não pára de se adaptar aos 16 ou 17 anos, que continua a fazê-lo pela vida fora. Mas também é verdade que se o faz é a um ritmo bastante lento, e não em toda a sua extensão. Por isso procurar basear toda uma teoria no facto de que os nossos cérebros se alteram apenas com o contacto com a web é esperar demasiado desta nossa capacidade. Era bom que assim fosse, pois muitos outros problemas e patologias teria aqui muitas soluções.

Assim e passada a primeira grande metade do livro a discutir a neuroplasticidade, existem porém coisas a reter porque não são meras especulações, são trabalhos que temos feito e sobre os quais temos dados. Nesse sentido concordo com algumas das questões lançadas sobre a dispersão e fragmentação de mensagem que o hipertexto veio introduzir no discurso do Livro. É algo que transcrevo para aqui, porque é importante em termos de percepção sobre a Interactividade.
"Back in the 1980s, when schools began investing heavily in computers, there was much enthusiasm about the apparent advantages of digital documents over paper ones. Many educators were convinced that introducing hyperlinks into text displayed on monitors would be a boon to learning. Hypertext would strengthen critical thinking, the argument went, by enabling students to switch easily between different viewpoints. Freed from the lockstep reading demanded by printed pages, readers would make all sorts of new intellectual connections between diverse works. The hyperlink would be a technology of liberation.

By the end of the decade, the enthusiasm was turning to skepticism. Research was painting a fuller, very different picture of the cognitive effects of hypertext. Navigating linked documents, it turned out, entails a lot of mental calisthenics—evaluating hyperlinks, deciding whether to click, adjusting to different formats—that are extraneous to the process of reading. Because it disrupts concentration, such activity weakens comprehension. A 1989 study showed that readers tended just to click around aimlessly when reading something that included hypertext links to other selected pieces of information. A 1990 experiment revealed that some “could not remember what they had and had not read.”
Aliás isto mesmo é o que ainda hoje muitos continuam a pedir à Escola, que esta avance no sentido do ensino online por vias interactivas, quando essa não pode nunca servir de via substitutiva, mas apenas complementar. Esta questão do hipertexto e do ensino online, liga-se muito intimamente ao assunto do multitasking. Porque nestes discursos do ensino tecnológico, começamos a ouvir falar das novas gerações, dos nativos digitais. Jovens que não só sabem mais do que os professores como possuem capacidade para fazer várias coisas em simultâneo. Mas a realidade é que um pequeno teste, como o que se pode ver no vídeo aqui abaixo, em que pedimos a um jovem em 2012, ou seja um suposto nativo digital, para conduzir e mandar um SMS ao mesmo tempo, e o desastre é total. Simplesmente verificamos, que o milagre da Neuroplasticidade nas novas gerações não aconteceu, e que o Multistasking humano não é mais do que um mito.


Este discurso mais negativo sobre o Hipertexto, Hipermedia e Multitasking faz sentido e temos estudos que o suportam. Aliás sabemos disto quando partimos para a construção de narrativas em ambientes interactivos. Que se cedermos à vontade total da interactividade, e criarmos um jogo totalmente hipermediado, perdemos o nosso jogador, em termos narrativos. Ou seja a história fragmenta-se e no final do jogo, o jogador já não se lembra de onde partiu a história, menos ainda por onde andou. Por isso mesmo nos jogos mais interactivos, continuamos a forçar a linearidade narrativa, porque essa é o garante da construção de compreensão da mensagem. Sobre isto escrevi bastante em Emoções Interactivas.

Isto relaciona-se com várias coisas, nomeadamente com o modo como construímos as nossas memórias. Estas requerem altos níveis de atenção focada, por forma a dar tempo à criação de novas ligações, ou novas sinapses. Estas ligações só se conseguem com concentração mental, repetição e forte envolvimento. Isto é o que fazemos num livro, mantemos a atenção focada apenas naquela página, e naquele fio narrativo. O problema do objecto hipermedia ou internet é que este ao permitir saltitar entre assuntos, ou linhas narrativas, retira a focagem, logo diminui atenção, por sua vez diminui a solidificação de novas memórias. Carr vai pegar nisto para explicar que a web está a danificar as nossas capacidades de concentração, a diminuir as nossas memórias, e logo a diminuir as nossas capacidades cognitivas de aprendizagem e de crescimento enquanto seres.

How to focus... , de Leo Babauta

Ora isto não faz muito sentido, porque ninguém disse, quer dizer exceptuando os arautos do novo mundo tecnológico, que o multimedia, que a interactividade, ou que a internet, estava cá para substituir os livros, o cinema, o teatro ou qualquer outra forma de expressão e construção do Eu ou do Nós. Os Media Interactivos possuem muitas valências de relevo, nomeadamente a sua componente de interactividade que lhes permite gerar situações de pura simulação e experienciação e que com isso conseguem gerar aprendizagens mais eficientes e duradouras que um livro. Aliás basta ver o exemplo da diminuição drástica de acidentes de aviação após os pilotos terem deixado de aprender a pilotar ouvindo os pilotos mais experientes, e terem passado a treinar em simuladores, como nos relata Lehrer.


Mas este tipo de aprendizagem por acção, ou simulação de acção, não se aplica a tudo aquilo que nós somos enquanto espécie. Existe todo um mundo de acções externas as quais acredito que a internet e nomeadamente os artefactos interactivos desenhados para o efeito conseguem ultrapassar facilmente o livro na transmissão e construção de novas memórias. Mas depois existe todo um reino de inacções, de construção interna do ser, do indivíduo que não se consegue construir por aqui. Interactividade, significa acima de tudo acção e reacção que por sua vez está na antítese da empatia e da contemplação. Características essenciais na construção emocional, social e cultural do indivíduo.

Quanto às questões levantadas por Carr sobre a sua experiência pessoal de se sentir cada vez mais incapaz de concentrar, e de ter que se deslocar para as montanhas para conseguir escrever este livro. Nada de novo, isso já acontecia antes com diferença entre o ambiente citadino e rural. O problema da nossa concentração no dia a dia não é a internet, mas a quantidade de coisas em que nos envolvemos, e sobre as quais temos de aprender a dizer que não.

À la recherche du temps perdu (1913-1927), de Marcel Proust

E isto aplica-se também à questão do Deep Reading que Carr diz que está a desaparecer da sociedade, e que de algum modo o próprio Clay Shirky vem dizendo em alguns dos seus textos, argumentando que nos dias de hoje já ninguém quer saber de ler Guerra e Paz ou Em Busca do Tempo Perdido. Mas isto nada tem que ver com a internet basta pegar em qualquer jornal, revista ou livro que relate experiências escolares dos anos 1980 ou 1990 pré-internet para vermos como os alunos já fugiam da leitura. Livros grandes ou pequenos, a leitura sempre foi vista como a impossibilidade do acto de brincar livre, pela sua necessidade de absoluta concentração. Por isso mesmo a escola, continua a ser um lugar de esforço, de obrigatoriedades, em que não podemos fazer apenas aquilo que queremos. Sem esforço, não se consegue o deep reading, sem o deep reading, não se consegue a construção de conhecimento interno capaz de nos fazer evoluir enquanto indivíduos.

animação da cor no 9/11

Will (2012) é uma magnífica animação de final de curso de Eusong Lee realizada na CalArts. Para muitos americanos será quase impossível na largar uma lágrima ao ver o filme já que este agarra um tema marcante da sua história recente o 9/11.


O filme consegue com brilhantismo desenhar toda uma narrativa minimal, suportada por um design de som atmosférico e uma tocante banda sonora. Mas é na forma visual, no traço e muito na cor, que o filme nos impacta, nos enche os olhos e aquece a vontade de lacrimejar.



No seu blog descobri esboços do planeamento visual de coloração da curta que são per se uma delícia. Os colorscripts do ambiente e dos personagens são trabalhados ao pormenor, e isso sobressai de forma brutal ao longo de todo o filme. A caracterização das personagens também foi extremamente cuidada. E no final temos um trabalho de excelência de um nível elevadíssimo, e ao qual é impossível ficarmos indiferentes.



Todo o minimalismo da narrativa, que passa pela necessidade de dar conta de um evento tremendamente trágico e forte, em apenas 4 minutos, é conseguido através de uma metáfora simples, o yo-yo, que consegue realizar um trabalho duplo, reverter a história e atirar-nos para dentro do mundo daquela criança. Vejam.




[dica Short of the Week]

maio 01, 2012

Filmes de Abril 2012

Mês com poucos filmes, fruto da quantidade de demasiados coisas marcadas no mês que não podiam esperar. De qualquer forma alguns bons filmes como Into the Abyss e Margin Call, apesar de serem os dois bastante desoladores, serviram para me deixar a planar sobre ideias e questões por alguns dias.


xxxx Into the Abyss 2011 Werner Herzog USA/Germany [Análise]

xxxx Margin Call 2011 J.C. Chandor USA

xxxx The Descendants 2011 Alexander Payne USA

xxxx El hombre de al lado 2009 Mariano Cohn, Gastón Duprat Argentina


xxx The Awakening 2011 Nick Murphy UK

xxx Dr. Seuss' The Lorax 2011 Chris Renaud, Kyle Balda USA

xxx Restless 2011 Gus Van Sant USA

xxx Beautiful Boy 2010 Shawn Ku USA


xx War Horse 2011 Steven Spielberg USA

xx Captain America: The First Avenger 2011 Joe Johnston USA


x Cowboys & Aliens 2011 Jon Favreau USA

[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

"Into the Abyss", momentos da vida e da morte

Senti-me desolado depois de ver Into the Abyss (2011) de Werner Herzog, tudo aquilo que é questionado ao longo do filme cria em nós uma sensação estranha, um questionamento sobre os momentos da vida. No final dei por mim imensamente deprimido, não por uma tristeza contagiada explicitamente pelo filme, mas por tudo aquilo que este me fez questionar.


Este filme obriga-nos a parar para pensar, de repente somos colocados de frente para aquilo que a vida é, um fio frágil de decisões. O filme conduz-nos através dos nossos medos viscerais da relação com as decisões diárias, obriga-nos a questionar sobre decisões que tomámos no passado, e sobre aquilo que poderia ter acontecido se tivéssemos optado por outras soluções. A vida é curta, mas feita de momentos insignificantes que adquirem significâncias definitivas.


O filme não fala explicitamente sobre a vida, não questiona o que andamos cá a fazer. Simplesmente mostra dois sujeitos que mataram outros três, as suas famílias, e as pessoas da instituição responsável por efectuar a pena. Herzog procura alguma neutralidade dando voz a todos os intervenientes. Consegue de forma brilhante dar-nos a ver a perspectiva de todos os envolvidos na pena capital - o condenado, o carcereiro, e a família da vítima. Este trio abre explicações para o que acontece ali, e explica o que sente cada um.


As três perspectivas são apresentadas de uma forma bastante clara, ainda que de forma muito emocional. As entrevistas são realizadas pelo próprio Herzog num tom de voz de uma calma imensa, e com pezinhos de lã para evitar ferir susceptibilidades. Mas no final do filme não partimos como entrámos, apesar de que acredito que cada um sairá com as suas próprias convicções ainda mais reforçadas.

abril 30, 2012

"Arte e Ciência não se Misturam" !!!

Semir Zeki, professor da University College of London, trabalha no campo das neurociências desde os anos 1980 e é um dos pioneiros do campo de estudos de Neuroestética. No seu blog publicou recentemente vários textos sobre os medos da Neuroestética que depois foram coligidos num único texto, The Fear of Neuroesthetics, no site The Creativity Post. Neste texto revê vários ataques que têm sido perpetrados contra a disciplina, definindo-a como "lixo", ou como uma tentativa de "alisar toda a complexidade da cultura".

The Call to Arms, 1879, Auguste Rodin

Não deixa de ser impressionante que em pleno século XXI ainda exista quem escreva textos como, Art and Science don’t Mix. Stuart Kelly não é cientista, mas é um crítico literário britânico que escreve para vários jornais como o The Guardian. Um comentário deixado no site como resposta a Kelly diz tudo, "I would be very interested in what Leonardo might have to say about the statement "Art and Science Don't Mix"".

Annunciation (1472) Leonardo Da Vinci

Dito isto se trago o texto de Semir Zeki não é apenas pela sua autoridade no campo, mas antes porque ele representa um grito de alerta contra um obscurantismo que regeu o pensamento durante milénios. Eu próprio tenho sentido alguns destes ataques no meu trabalho. Nomeadamente porque tenho sempre optado por basear o meu trabalho sobre a emoção estética nas neurociências e não nas humanidades, e isso cria atritos, desconfiança do valor daquilo que se possa construir em termos de conhecimento.

Belvedere, (1958), M.C. Escher

A verdade é que os investigadores das humanidades acreditam que de algum modo são os únicos que podem verdadeiramente estudar, compreender e interpretar a arte. Todo o seu discurso está contaminado por uma oposição feroz ao uso de qualquer metodologia científica que procure estudar a arte em seu lugar. Porque segundo estes o que está em causa na criação artística é de uma ordem de complexidade tão grande que se torna impossível explicar. Então mas se assim é, como é que se explica, como diz Zeki, que existam milhares de livros e artigos escritos sobre Hamlet, ou que o número de livros e artigos sobre o simples "acorde de tristão" exceda os 2000. Se os críticos e estudiosos encontraram tanto para dizer, é porque então existe algo para explicar.

El vol de la libèl·lula davant del sol, (1968), Joan Miró 

Mas uma das constatações mais interessantes do artigo, aparece quando Zeki procura dizer que nem todos os investigadores das humanidades são contra a entrada das neurociências nas artes, e acaba dizendo que isto é especialmente verdade para o artistas e compositores. "Esses parecem não sentir medo. Eles querem saber mais." E aqui reside um dos maiores problemas das humanidades, que se resume a investigadores que se dedicam a estudar arte, sem tentar fazer arte. É que o papel de criar, vai além do de interpretar.


A verdadeira problemática é que toda a tecnologia, desde as tintas utilizadas nas cavernas de Lascaux ao computador, foi criada por processos científicos. Toda a evolução operada surgiu de processos científicos trabalhados sobre os objectivos da arte. A ligação entre Arte e Ciência é verdadeiramente umbilical, e quem não vê isto, simplesmente não descobriu ainda o que é a Arte.

abril 29, 2012

"clues to a great story"

Excelente TED Talk de Andrew Stanton, escritor chave da Pixar, tem nos seus créditos, toda a série Toy Story (1995-2010), e ainda os filmes A Bug's Life (1998), Monsters, Inc. (2001), Finding Nemo (2003), e foi também escritor e realizador de Wall-E (2008), este ano realizou o seu primeiro filme de imagem real, John Carter (2012). Nesta talk Andrew Stanton começa por simplesmente dizer,
"We all love stories, we're born from them"

É isto que Stanton nos trás nesta talk, o amor pelas histórias, e por isso aqui fica nas suas palavras o que ele considera ser o trabalho do Storyteller,
"Storytelling without dialog, is the purest form of cinematic storytelling. It confirms that the audience wants to work for their meal. They just don't want to know they are doing that. That's your job as a storyteller, that you hide the fact that you're making them work for their meal. We're born problem solvers, we're compelled to deduce."

E é por isso que eu defino "arte do storytelling como a arte de gerir expectativas". Pode ser difícil para algumas pessoas ouvir esta minha definição, mas é fruto dos últimos quase 10 anos a trabalhar em narrativas interactivas que me levaram a procurar compreender o que está no âmago da narrativa que tanto nos atrai, e que me conduziram a esta síntese. Acredito que saber que a magia está na criação e manutenção de expectativas é a base para se poder criar a experiência que todos procuram.


É muito interessante ver aqui pela primeira vez esboços de uma das primeiras versões do personagem Woody em que esta era muito menos meigo e tonto, e era mais sabido e egoísta.


Algo que surgiu das imposições dos executivos da Disney sobre os criativos da Pixar, e que acabou por se salvar graças à determinação de Steve Jobs. Aliás a discussão em redor da caracterização de Woody está explicada de forma soberba no livro Steve Jobs (2011) de Walter Isaacson. Aonde fica demonstrado o problema de termos uma grande empresa de administradores que nada percebem da arte, percebem apenas de números, lucros, e accionistas.


Stanton conduz a talk como um verdadeiro storyteller, do evento mais recente para a sua infância, e no final, surpreende-nos com um momento de intimidade, e emocionalidade que nos toca e fica conosco. Como ele diz no final, contem histórias que capturem a verdade das vossas experiências.



Ver também
Visualização do design de storytelling

violência doméstica em videojogo, The Kite

The Kite é um simples jogo point-n-click, com um tema de fundo inquietante, a violência doméstica. The Kite foi criado pelo Anate Studio que é uma equipa indie constituída por Tanya Medvid na arte gráfica e Anatoliy Koval na programação. Para a implementação do jogo escolheram o engine Wintermute Engine Development Kit, gratuito e dedicado ao desenvolvimento de point-n-click.



O jogo vem da Ucrânia um país assolado por imensos problemas criados pela rápida destruição do sistema social após o desmembramento da URSS. Quase metade da população da Ucrânia já sofreu algum tipo de abuso doméstico, na sua maioria são as mulheres e as crianças quem mais sofre com este problema.


O jogo faz uso do tradicional sistema de procura de itens e consequente resolução de puzzles. O nível de dificuldade é médio, contribuindo para extender um pouco mais experiência do jogo que se situa entre os 20 a 30 minutos. O forte do jogo passa pela narrativa, e é esta que mantém a nossa motivação desperta. Queremos saber o que vai acontecer àquela mulher e àquele menino, e por isso não conseguimos parar de jogar.


Visualmente não é nenhuma obra de arte, apresenta vários problemas nomeadamente no campo do character design e sua animação. Contudo em termos de ambiente a arte é bastante eficiente, sendo capaz de gerar a atmosfera necessária ao tipo de narrativa em desenvolvimento. O point-n-click não é distrativo, tudo está bem pensado e interligado, o que torna toda a experiência mais interessante e permite a nossa entrada no universo narrativo.


The Kite trabalha elementos pouco comuns no mundo dos jogos, o melodrama, o trágico, e o dramático, e é isso que tanto me agrada neste. O jogo é gratuito.

abril 26, 2012

Bolsa de Investigação em Media Interactivos

Encontra-se aberto concurso para atribuição de uma Bolsa de Investigação no âmbito do projecto PTDC/CCI-COM/119030/2010, designado por EngageBook: tocar, ler e brincar, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no quadro da Iniciativa QREN, com financiamento UE/FEDER, através do COMPETE - Programa Operacional Factores de Competitividade (CECS-Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade – Universidade do Minho, Unidade 736).


Requisitos de admissão: Licenciatura em Tecnologias da Comunicação, Comunicação Multimédia, Media Interativos ou áreas afins, com média igual ou superior a 15 valores.

Objectivo: Realizar trabalho de investigação e desenvolvimento na área de livros digitais, nomeadamente no campo da prototipagem e testagem de modelos interativos e tangíveis.

Plano de trabalhos: O trabalho centra-se na componente de prototipagem, desenvolvimento e implementação de novos conceitos e modelos de design de livros digitais, interactivos e tangíveis através de plataformas de programação. O trabalho realiza-se sob a orientação científica dos doutores Nelson Zagalo e Pedro Branco.

Legislação e regulamentação aplicável: Lei Nº 40/2004, de 18 de Agosto (Estatuto do Bolseiro de Investigação Científica); Regulamento da Formação Avançada e Qualificação de Recursos Humanos 2010 (http://alfa.fct.mctes.pt/apoios/bolsas/estatutobolseiro).

Local de trabalho: O trabalho será desenvolvido no EngageLab, Campus de Azurém (Guimarães), Universidade do Minho, em regime de exclusividade.

Duração da bolsa: A bolsa terá a duração de 6 meses (eventualmente renovável até ao limite máximo de 28 meses), com início previsto em 1 de Junho de 2012.

Valor do subsídio de manutenção mensal: O montante da bolsa corresponde a €745,00, conforme tabela de valores das bolsas atribuídas diretamente pela FCT no País (http://alfa.fct.mctes.pt/apoios/bolsas/valores).

Processos e critérios de selecção: Familiarização com os processos de investigação em Media Interactivos e Interacção Homem-Computador (HCI), fluência de Inglês (escrito e falado), competências de informática com proficiência em AS3.0 ou C#. No processo de análise das candidaturas, o júri poderá recorrer a entrevistas individuais.

Composição do Júri de Selecção:
- Professor Doutor Nelson Zagalo, presidente do júri;
- Professor Doutor Pedro Branco;
- Professora Doutora Eduarda Coquet.

Forma de publicitação/notificação dos resultados: Os resultados finais da avaliação serão publicitados, através de lista ordenada por nota final obtida, afixada em local visível e público do Instituto de Ciências Sociais, sendo os candidatos notificados através de e-mail.

Prazo de candidatura e forma de apresentação das candidaturas: O concurso encontra-se aberto no período de 15 de Maio a 28 de Maio de 2012.

As candidaturas devem ser formalizadas, obrigatoriamente, através do envio dos seguintes documentos: Curriculum Vitae (resumido, máximo 5 páginas), carta de motivação (máximo 1 página), cópia do Certificado de Habilitações e de outros certificados que o candidato entenda relevantes.

As candidaturas deverão ser enviadas por e-mail para o seguinte endereço: cecs@ics.uminho.pt

Universidade do Minho
Instituto de Ciências Sociais
Centro de Estudo de Comunicação e Sociedade
ao c/ Dr. Vítor de Sousa
Campus de Gualtar
4710-057 Braga

abril 25, 2012

Ted Tremper, e a consagração das Séries Web

A web é cada vez mais um canal de produção cultural audiovisual. Demorou a criar-se a ideia de série web, foram muitas as experiências falhadas, mas parece que ao chegar à segunda década de 2000 estamos a encontrar a forma de o fazer. Em 2009 foi criado o primeiro festival na área, os Streamy Awards e em 2010 o Vimeo Festival+Awards.


Alguns casos muito interessantes são o exemplo da série web N. de 2008 criada pela CBS e Marvel com argumento de Stephen King. Fazendo uso de trabalho de ilustração tipicamente Marvel, e com uma animação limitada ao movimento das ilustrações de modo a tornar mais barata a produção, com 25 episódios e uma duração de 2 minutos. Podem ver a série completa aqui.


A série web Off Book sobre novas correntes artísticas da PBS iniciada no ano passado, e que previa um total de 13 episódios, teve um tal sucesso que se justificou continuar a sua produção sempre em ambiente web. Tenho publicado aqui no blog todos os episódios, que saem normalmente de 15 em 15 dias, às quartas-feiras.


Mas se as séries web começaram a germinar seriamente e a criar conceitos novos, não foi graças ao investimento institucional, mas antes ao trabalho de freelancers. Em 2008 em Portugal foi criada a série web de animação Spam Cartoon de André Carrilho e João Paulo Cotrim, com desenhos de Cristina Sampaio , João Fazenda, e som de  José Condeixa. São muito pequenos episódios de 30 segundos que realizam criticas, à política nacional e internacional. Foram criados 62 episódios.


Claramente que existem muitas mais séries nacionais e internacionais, mas o que me levou a escrever este texto foi a descoberta de mais um autor de séries web, Ted Tremper. Realizador, escritor, e improvisador com formação em escrita e cinema pela School of the Art Institute of Chicago. A sua primeira série Break-ups: The Series foi um enorme sucesso no campo da improvisação, tendo ganho o 2010 Vimeo Global Film Festival Award para “Best Original Series”. Podem ver um dos três episóidos submetidos ao Vimeo "Katy & Ted".


No ano passado Ted Tremper partiu para um novo conceito, Shrink. Se o conceito de Break-ups era original, este não fica nada atrás. Um jovem doutor não consegue entrar para nenhum programa de residência, passo obrigatório para poder receber a licença de psiquiatria. Ele terá de cumprir este passo de terapia supervisionada, antes de poder começar a pagar o crédito realizado para as propinas no valor de  $586,000.


Por isso decide inovar, e cria um programa de terapias grátis na sua garagem, de modo a poder cumprir as 1750 horas necessárias. O trabalho resulta em excelência por muitas razões, uma das quais passam por continuar a apostar na improvisação de toda a representação. O tema não era possível num canal nacional, e a forma ainda menos. Temos assim mais um conceito original, e brilhantemente implementado por Ted Tremper. Fica o último episódio da série, publicado ontem.


Para quem sentir que este é o seu caminho, dê uma vista de olhos nos 30 Passos para Ser Freelance Videographer.