Na sexta-feira participei na arguição (apenas como vogal) da tese de doutoramento do
Luís Pereira, na qual comentei questões relacionadas com os novos desafios que se afiguram às crianças do futuro em termos de tecnologias. E manifestei a minha preocupação com o facto de ser insuficiente para um
core em literacia digital apenas aprender a filtrar o mundo que nos chega por todas as frentes mediáticas. Será preciso também treinar as novas gerações do futuro na linguagem base da criação tecnológica, a programação, porque não chega saber ler, é preciso saber escrever. Mas não fiquei em paz comigo próprio, por tudo aquilo que isto me obrigou a pensar sobre o nosso futuro.
À noite quando chego a casa dou com um
post no Facebook da Neuza Pedro que questionava: "Qual o problema da inovação no ensino? É que velhos hábitos são muito difíceis de mudar!" E foi aqui que as minhas campainhas internas começaram a soar. A inovação parece ser a resposta a todos os nossos problemas, a mudança em nome da mudança.
You Are Alone, Slow Down... (1973). Obra de Jonathan Borofsky que responde às pressões sociais que ocorrem sobre todos nós diariamente.
Aliás foi um acumular de tudo o que tenho reflectido nas últimas semanas, nomeadamente desde a minha participação na mesa redonda "
Circunferências – Reflexões sobre o trabalho, cultura e tecnologias criativas do séc. XXI" em que a minha principal conclusão foi que a velocidade a que as Tecnologias de Informação evoluem é muito superior à velocidade a que as pessoas conseguem operar a Mudança. Claro que seremos mais eficazes naquilo que fazemos se formos mudando e adaptando-nos continuamente. Mas isto está a tornar-se insustentável e com enormes custos a nível individual e comunitário. Apesar de ser acérrimo defensor das tecnologias, não posso deixar de reconhecer os seus enormes custos sociais, nomeadamente no campo da aceleração intensa da vida.
O Movimento Slow subdivide-se por diferentes dimensões: Slow Food, Slow Money, Slow Cities, Slow Design, Slow Media, Slow Parenting, Slow Sex, Slow Fashion, Slow Gardening, Slow Art, Slow Travel, Slow Science
Chegado aqui recuperei um assunto que de tempos a tempos, me invade como emergência espontânea do pensar, o
Movimento Slow. Um movimento que procura alertar a sociedade para tudo isto que acabei de descrever aqui acima, e que se sintetiza por uma nova filosofia de vida, muito bem sintetizada por Guttorm Fløistad,
The only thing for certain is that everything changes. The rate of change increases. If you want to hang on you better speed up. That is the message of today. It could however be useful to remind everyone that our basic needs never change. The need to be seen and appreciated! It is the need to belong. The need for nearness and care, and for a little love! This is given only through slowness in human relations. In order to master changes, we have to recover slowness, reflection and togetherness. There we will find real renewal.
scenes from a life... de
Juli
Isto aplica-se a muito do que venho discutindo aqui no blog, nomeadamente as
questões ligadas à educação à distância e as suas enormes insuficiências no campo humano e social. Vimos sentido na pele a cada dia que passa o peso destas tecnologias de informação, que possuem um lado bom mas que é para mim apenas a pontinha do icebergue visível. Escondido da imediatez do nosso olhar estão todos os seus problemas. Tecnologias que nos acossam, e nos exigem cada vez mais inputs, que nos deixam sem tempo para respirar, quanto mais pensar. Desde as plataformas de suporte ao ensino presencial que precisam de estar sempre
up-to-date, a plataformas de ensino à distância que precisam de ter respostas sempre prontas, à parafernália de plataformas de avaliação de alunos, avaliação de disciplinas, avaliação de cursos, avaliação de docentes, avaliação de universidades, avaliação de projectos científicos, entre muitas outras, sem esquecer as de inputs de CVs, de publicações, de auto-avaliação...
Utopias do teletrabalho, ensino à distância, e do uso geral das máquinas
no sentido de nos libertar
Aliás há dois anos eu e o Pedro Branco chegámos a incluir como tema de projectos no
Mestrado em Tecnologias e Arte Digital a ideia de,
Tecnologias Slow. O objectivo passava por recorrer ao design e arte para construir novas tecnologias que no dia-a-dia ajudassem as pessoas a acalmar o ritmo, a aplacar as ansiedades. Lembro-me de termos discutido novos modelos de design de interfaces para tornar mais lento o acesso ao E-mail, entre outras coisas. Temos de voltar urgentemente a este tema.
Espero apenas que possamos todos tornar-nos cada vez mais conscientes de tudo isto, e possamos encontrar formas de contornar, este que é para mim um dos problemas do século XXI. Precisamos de pensar no uso das tecnologias em nosso proveito e parar o ciclo, em que cada vez mais são as tecnologias que nos usam a nós. Aliás acredito que o novo ciclo criativo, de personalização em vez da massificação, que o The Economist esta semana chama de
Terceira Revolução Industrial possa vir em socorro de todas estas ideias.