"Ad Astra" (2019) e "Once Upon a Time in Hollywood" (2019)
Hollywood bem tenta dar ares de ter algo para dizer, mas não consegue deixar de ser Hollywood. "Ad Astra" é o caso mais recente e perfeito disto mesmo. Existe ali uma jornada conradiana? Podemos dizer que sim, mas isso nunca chegaria para satisfazer a gula dos seus produtores. Era preciso espetáculo, era preciso tensão, nem que tudo isso parecesse mero caramelo jogado na superfície. Porquê uma relação pai-filho numa situação que envolve toda a espécie humana, o seu passado e futuro, não se consegue mesmo sair do básico em Hollywood. Do mesmo modo, porquê a introdução da cena dos macacos assassinos ou dos piratas da lua? Para assanhar, contrastar e produzir tensão na plateia? Reparem como toda a estrutura e clichês narrativos se cola a tantos outros blockbusters, sendo um dos mais diretos "The Day After Tomorrow" (2004). O melhor que li entretanto sobre o filme foi mesmo o texto de Kermode no Guardian.
Já Tarantino nunca tentou dizer nada propriamente com grande alcance, por isso não esperava nada de muito particular do seu mais recente filme. Contudo, fazer um filme sobre Hollywood em que aquilo que nos dá a ver são as vidas banais de estrelas decadentes, colando sobre isso, à força, os subtextos das tragédias de Bruce Lee e Roman Polansky, não é apenas de mau gosto, é mesmo de falta de ideias, refletindo no fundo o legado Tarantino. Ser um grande escritor de diálogos não chega para contar grandes histórias, ou pelo menos para ter ideias ou chegar a premissas relevantes. E o pior é que até no campo da composição visual onde Tarantino se foi destacando existe pouco lugar para ideias originais (ver vídeo abaixo). No fundo, Tarantino é apenas um expoente do espetáculo que define a cultura de Hollywood. Aumentem a tensão, baralhem e voltem a dar mais do mesmo e o público sentir-se-á entretido.
"How Quentin Tarantino Steals From Other Movies" (2019)
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