Mais uma belíssima capa da RA
Creio que a minha leitura sofreu por três razões pessoais, que espero um dia ultrapassar: o meu desgosto com o romantismo; a minha fraca inclinação para a poesia; e o meu limitado interesse por novelas curtas. Começando pelo último, os textos curtos fazem-me sempre sentir que tudo passa demasiado a correr, sem espaço/tempo para um verdadeiro desabrochar dos personagens. Já a poesia perco-a na forma, por se dedicar mais à sintaxe que à semântica, é um pouco como se a literatura almejasse a ser música, sendo artes dotadas de tão distintas valências. Por fim o romantismo, já muitas vezes me queixei do mesmo, julgo que não adianta apontar os seus problemas, não foi por mero caso que a corrente desapareceu no tempo.
Por outro lado, agora refletindo e comparando com outras obras de contornos épicos, não que este seja um épico declarado mas pode ser encarado como tal pelo que disse acima, considero que fui provavelmente exigente demais. Aqui atribuirei as culpas ao brilhantismo de Pushkin. O modo como escreve é assombrosamente acessível, dotado de um ritmo de tranquilidade que faz tudo parecer tão fácil, quase como se estivesse ali no papel por zelo natural. Pushkin consegue fazer-nos esquecer que estamos a ler em verso, consegue fazer-nos esquecer que continua a obedecer aos parâmetros do romantismo, os quais ele obsessivamente persegue na forma do seu grande ídolo, Byron. Em certa medida, e depois de passar os olhos por algumas peças escritas por Pushkin, fico com a ideia que esta sua abordagem de simplificação, de facilitar o acesso, dar a ver e não esconder, no fundo uma certa fuga ao romantismo, se deve a uma sua outra obsessão, Shakespeare.
Uma obra para reler.
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