fevereiro 18, 2017

O filme perdido de Godard

"Une femme coquette" (1955), de Jean Luc Godard, representa a primeira criação ficcional do autor. Foi filmada em Genebra, quando tinha 24 anos, com uma câmara 16mm emprestada, sem equipa além de si próprio, e uns dinheiros conseguidos com a venda da sua primeira obra, o documentário "Opération Béton" (1955) sobre a construção da barragem Grande Dixence Dam, Suiça. Julgado  perdido, chegou esta semana ao Youtube.



"Une femme coquette" é baseada no conto "Le Signe" (1886) de Guy de Maupassant, e apresenta como premissa, uma mulher que decide seguir e imitar os gestos de flirting e sedução de uma prostituta, acabando por seduzir um homem que depois a persegue. Sendo simples, não deixa de se tornar hilário, ainda que graças à misoginia de Maupassant, o que talvez explique a razão do filme ter estado tanto tempo inacessível.

É um claro primeiro experimento narrativo, com Godard a servir-se da narração em off para dar conta do que tem para dizer. Temos um conjunto de sequências unidas por uma música clássica que atravessa os 9 minutos, sem diálogo nem qualquer outro efeito sonoro. É um filme de muito baixo orçamento, e essencialmente um filme de aprendizagem. Não podemos dizer que seja a primeira obra de um génio, porque na verdade tais obras não existem, nem no cinema, nem em qualquer outra arte. Ninguém nasce artista, menos ainda génio. Aliás, sobre isto mesmo falava Andrew Saladino no video-ensaio "There Are No Film Prodigies" (2017).

É uma primeira obra que acaba funcionando bem, ainda que por graça narrativa de Maupassant, pelo trabalho psicológico em redor do hesitar pulsante da personagem principal, que aqui fica a cargo de Maria Lysandre. Como curiosidade final, Godard realiza um cameo, já na posse da sua imagem de marca, os óculos escuros.

"Une Femme Coquette" (1955) de Jean-Luc Godard, 
completo, com legendas em inglês

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