Zimbrado estava na BBC para promover o seu novo livro, “Man Disconnected: How technology has sabotaged what it means to be male” (2015), no qual fala de um problema real, as dificuldades dos jovens masculinos com a escola, nomeadamente uma escola cada vez mais controlada por professores mulheres, mas para o qual lança culpas indiscriminadamente sobre as tecnologias, nomeadamente sobre a pornografia online e os videojogos. Para Zimbrado os videojogos são responsáveis pelo isolamento social dos rapazes, levando à desintegração das suas capacidades para interagir socialmente.
O problema destas afirmações é que são mero “senso comum” como diz Andrew Przybylski, logo a abrir a sua intervenção. O que aqui vemos é o comum preconceito contra os videojogos, tal qual aconteceu no passado contra “a música rock, os livros de banda desenhada” etc. Przybylski apresenta vários estudos empíricos realizados pelo laboratório em que trabalha, o Oxford Internet Institute, que dão conta da ausência de qualquer causalidade entre os videojogos e a incapacidade de integração social, deitando assim por terra as teorias fabricadas por simples especulações. Przybylski responde directamente a Zimbrado dizendo-lhe
“What you’re highlighting are potential risks, so it might be the case that something has a negative a effect, but the causal evidence is not there, compared to something like poverty or mental healthcare access, real problems with young people… or things like self-injurious behaviour or anorexia, who are actually on the rise in this country... for something like video games the evidence base just isn’t there.”Esta pequena discussão, parecendo pouco relevante, e ocorrida muitas outras vezes em vários outros meios, é extremamente importante. Isto porque dá conta de abordagens que ainda hoje se querem fazer passar por correctas dentro do mundo da ciência. A especulação sobre causas prováveis é relevante, deve ser feita, porque é daí que surgem as nossas hipóteses, e até defendo que devem ser publicada em âmbito académico. Se especulo sobre a causa provável de uma determinada ocorrência, devo partilhá-la com os colegas, para que possamos todos trabalhar na confirmação ou eliminação da mesma, enquanto hipótese. Mas não devem ser trazidas a público desta forma, sem qualquer sustentação empírica, porque não servem mais do que gerar alarme, criar ideias erradas, e promover a manutenção do preconceito.
Ou seja, não me preocupa apenas que estejamos aqui perante o arcaico preconceito contras as práticas dos adolescentes, preocupa-me que ele seja trazido para o público por pessoas que têm o dever de apresentar discursos imparciais, isentos, e científicos. Mais ainda quando o discurso, mesmo depois de desmontado publicamente, continua a ser defendido, apenas para se poder promover um livro!
Andrew Przybylski & Phil Zimbardo debate video game effects, BBC, 8 Maio 2015
ACTUALIZAÇÃO 11 Maio 2015
Aquilo que entretanto referia sobre o senso comum e o alarmismo aqui está, espalhado pela imprensa internacional, como fica expresso em alguns títulos. Aos jornais não compete verificar os estudos, espera-se que quando académicos falam, nomeadamente reputados, o façam na base de evidências e não meras conjecturas. Ainda assim alguns destes jornais têm o cuidado de dizer que é apenas aquele investigador a dizê-lo, não assumindo as suas palavras como verdade absoluta.
The Guardian - Psychologist Philip Zimbardo: ‘Boys risk becoming addicted to porn, video games and Ritalin’ - 08.05.2015
The Telegraph - Men and boys are in crisis, and technology is to blame, 10.05.2015
RT - Porn and video game addicts risk 'masculinity crisis,' says Stanford professor, 10.05.2015
The Independent - Porn and video game addiction leading to 'masculinity crisis', says Stanford prison experiment psychologist, 11.05.2015
CNET - Porn and video games engender masculinity crisis in boys, says psychologist, 11.05.2015
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