1 - Conhecimento ≠ Compreensão
2 - Que vemos o mundo através de um viés, uma formatação do nosso cérebro.
Concordo com ambas, mas podemos ir mais longe na explicação do que acontece aqui, e a partir deste exemplo tecer alguns comentários mais gerais nomeadamente sobre nós próprios e sobre processos Educação. Assim adicionaria aqui, dois pontos que o próprio Destin toca, mas não elabora:
3 - Que a neuroplasticidade do cérebro é realmente muito diferente entre um cérebro jovem e um adulto. Por mais que nos últimos anos nos queiram fazer crer que podemos facilmente desaprender e voltar a aprender (neste caso temos 8 meses vs. 2 semanas).
4 - Que as nossas acções físicas são fruto de algoritmos (processos) de interação entre mente e corpo, e não meramente ordenadas pela vontade um raciocínio mental (por isso ele diz que se deixar de “pensar” consegue mais facilmente conduzir).
"The Backwards Brain Bicycle", (2015), Smarter Every Day 133
Mas nada disto é novo, e era aqui que queria chegar. O que é muito bom, é a demonstração audiovisual e empírica destes quatro pontos, porque em teoria sabemos disto há muito tempo, embora muitas vezes parece que não nos lembramos, ou queremos acreditar que não é assim, como aliás se pode ver nas reacções das pessoas que vão guiar a bicicleta. Ou seja, o que temos presente neste exemplo é um caso de Conhecimento Tácito, que pode ser designado também de Implícito ou Experimental. É um tipo de conhecimento que só pode ser construído pela experiência, e no tempo. O caso clássico deste tipo de conhecimento é exactamente o de andar de bicicleta, mas pode ser aplicado a muitas outras acções humanas, tal como qualquer desporto ou qualquer arte.
Mas este não é o único tipo de conhecimento que podemos construir, existe um outro, normalmente dado em oposição ao tácito, e que chamamos de Conhecimento Declarativo, ou explícito. Este é aquele em que mais se fundamenta a escola tradicional. Ou seja, estamos a falar de todo o conhecimento que pode ser descrito, sendo suficiente a descrição para que o possamos apreender. Acontece com a Biologia, a Geografia, a História, etc.
Este tem sido um domínio que me tem interessado imenso nos últimos anos por causa do Design de Interação, e que à medida que fui investigando sobre os modos como agimos sobre a realidade, fui-me apercebendo da relevância da Experiência. Daí que tenha começado a defender o ensino técnico-profissional, uma vez que o ensino tradicional sem base de experiência é manifestamente insuficiente para formar pessoas.
Isto explica porque ensinar Arte nas nossas escolas é tão complicado, porque uma coisa é ensinar Teoria e Crítica de Arte, outra bem diferente é ensinar a criar arte, isso só pode acontecer com a experiência. E aqui incluo naturalmente o Português, que não é mais do que o ensino da arte da língua. Não faz muito sentido passar anos e anos a ensinar conceitos e regras de uma língua, quando a verdadeira aprendizagem da mesma, só se pode efetuar através da repetição de Leitura e Escrita, como ainda aqui dizia a propósito de Proust ou Afonso Cabral.
Aliás, o caso do Português acaba por não ser distinto do da Matemática, já que ambos requerem a experiência, mas por o fazerem num domínio somente mental, porque laboram sobre abstrações do real, julga-se erradamente que o que é importante é a aprendizagem da componente declarativa, quando esta na maior parte das vezes só perturba a aprendizagem, que só se consegue efetuar verdadeiramente pela repetição da experiência. Neste caso, conhecer não chega, é preciso chegar à compreensão.
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