Ao longo de 1h15 somos transportados para um ambiente novo, criado através da luz, som, performance e claro narrativa. O que Anderson tem acima de tudo é uma capacidade encantatória. Tudo está feito para gerar em nós expectativa, criar o suspense, do que é que virá a seguir e qual a possível relação com aquilo que foi antes. Perceber as ligações, entrar adentro das metáforas e deliciar-nos com o espetáculo.
Adorei a primeira parte do espectáculo, julgo que é mais bem conseguida, ritmicamente e em termos de construção da ideia central daquilo que ela nos quer levar a questionar com Dirtday. A discussão em volta da ciência, evolução e religião é deliciosa. A segunda parte é um pouco alongada, algo redundante até. Apesar de gostar da ideia de entrarmos adentro do sonho, acaba por ser menos organizada, menos rica em metáforas e logo menos criadora de sentido. Contudo os efeitos realizados ao nível da voz são muitíssimos interessantes e cativantes. E no seu todo vale como experiência completa.
Apesar de cliché a discussão política sobre os EUA, chamou-me atenção particularmente o facto de Anderson apontar os políticos como contadores de histórias. E é interessante como ela nesta entrevista aqui abaixo sobre este espectáculo se dá conta, sobre o quanto ela é parecida com todo esse mundo da encenação, e criação de expectativas. Porque no fundo, é aquilo que somos todos, contadores de histórias, o que varia são as nossas audiências.
Não poderia estar mais de acordo com a análise feita.
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