outubro 17, 2010

ser criativo, ou ser educado / formatado


Para quem está interessado em perceber em maior profundidade o que é um Sistema Educativo Público ou de Massas. Para quem se interroga porque é que os seus filhos não reagem como "esperado" na escola mesmo quando trabalham e por vezes até são medicados. Para quem acredita que o mundo mudou e não vai parar de mudar. Os elementos (entrevistas, comunicações, animações, artigos, filmes) que vos trago neste texto debatem a base do sistema educativo, o seu aparecimento, objectivos e o modo como isso afectou a sociedade.

Numa entrevista dada aquando da passagem por Portugal Alvin Toffler e a sua mulher expõem por completo o mito da Escola. Por sua vez Sir Ken Robinson partindo desta exposição feita por Toffler explica os problemas graves do sistema e o modo como isso nos afecta. Finalmente um artigo de Peter Gumbel apresenta-nos o caso concreto da França que levou este sistema até ao limite e no qual os problemas são hoje mais do que muitos. Para fechar este texto sugiro a visualização de Entre les Murs (2008), um filme poderoso sobre o que se passa socialmente dentro de uma sala de aulas.

Este vídeo mostra apenas 10 minutos de uma palestra de 55 minutos dada por Ken Robinson em 2008 na Royal Society of Arts aquando recebeu a RSA Benjamin Franklin Medal de 2008. Por outro lado Ken Robinson já tinha sido revolucionário quando em 2006 apresentou a sua primeira TED Talk na qual "afirma que as escolas matam a criatividade". Depois veio a sua segunda Ted Talk em Fevereiro deste ano, "Façamos a revolução da aprendizagem!"

Num artigo publicado este mês na Time, é analisado o estado do sistema educativo Francês, um sistema muito próximo do Português. Destaco algumas das partes mais importantes deste artigo


Andreas Schleicher, head of the OECD's educational division, says France still uses "19th century industrial methods" in the classroom, by which he means teachers are reduced to factory-line workers who must carry out orders rather than be trusted to use their intelligence and training.

In international comparative tests of 15-year-olds, France's overall scores are at best mediocre and have been dropping abruptly in the past decade.

...according to the Organization of Economic Cooperation and Development (OECD), requiring students to repeat a year is a rarity in Asia, Scandinavia and Eastern Europe, and it's no longer all that widespread in the U.S. or Britain. Numerous studies from around the world demonstrate that grade repetition doesn't usually help students perform better and often has the opposite effect, demoralizing and stigmatizing them as failures.

What's sorely missing is any sense of fun. Unlike in the U.S., school in France provides almost no nonacademic activities to compensate for brainy classroom work. Sports, music and art are afterthoughts, with little or no time devoted to them in the national curriculum; if you want to play soccer or the violin, the thinking goes, you can do that on your own time. But without sports teams or school orchestras, there's little that binds adolescents to their schools.

The director of a middle school near Nîmes, Robert tried to bring about a cultural revolution there, including refusing to force students to repeat grades. It backfired: he set off a full-blown teacher revolt and was quickly shifted to another establishment.
Entretanto para quem ainda não tiver visto, aconselha-se vivamente Entre les Murs (2008) de Laurent Cantet, Palma de Ouro em Cannes 2008 e que mostra o dia-a-dia de uma turma de um liceu francês. Veja-se o filme com o espírito aberto e atente-se nas questões daqueles rapazes e raparigas. Mais que tudo perceba-se o impacto da estandardização procurada sobre os seres humanos e a fundamentação para esse propósito.

5 comentários:

  1. Adoro o Ken Robinson, mas é preciso estar atento um vício de raciocínio no que dizes (que é diferente do que ele diz): os países no topo das escalas PISA e c.ª também usam o mesmo sistema!
    A questão prática (não a motivacional) é que estamos onde estamos porque os últimos 300 anos de educação nos deram desenvolvimento científico e tecnológico que proporcionam um nível de conforto superior ao que existiu em toda a história humana. Será que corremos o risco de "despejar o copo", ou seja, em vez de introduzir a criatividade, a imaginação, a motivação, temos um problema: como evitar o risco de nos focarmos só nelas, de desprezarmos a intelectualidade que nos deu o conforto, mas que custou séculos a conquistar? A actual subsistência humana não resiste a uma ausência de técnicos agrícolas, biólogos, engenheiros, matemáticos... tudo especialidades que exigem esforço a adquirir, que é um grande risco achar que "com motivação os adolescentes tanto quererão ser matemáticos como designers!". Precisamos de uma revolução nisto sim, mas acho um grande perigo achar que as revoluções são simples.

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  2. Leonel
    Concordo contigo, e quando defendo aqui este princípios tenho o cuidado de frisar mais do que uma vez que estamos a falar de um sistema de Massas. A análise destes discursos tem de estar contextualizada se não corre-se o risco de verter o copo de água como dizes.

    Estandardizar a humanidade, o erro está aí. O erro não é existir a Escola ou a Universidade.

    Ainda ontem em casa da minha sogra pegava numa revista dessas cor de rosa em que uma mãe perguntava numa carta para aqueles consultórios "o meu filho farta-se de estudar e trabalhar mas tem imensas dificuldades em tirar boas notas, o que podemos fazer?"
    A resposta era hilariante, "o seu filho deve descansar, deve ter um horário de estudo, deve levar a mochila apenas com o essencial para a escola, etc..."

    Mas a verdade nua e crua é que não podemos ser todos IGUAIS.

    Se eu tenho maior facilidade em realizar trabalho intelectual e em fazer investigação, há outros que têm maior facilidade em Jogar à Bola, outros que têm maior facilidade de Desenhar, de Esculpir, de Pintar, de Filmar, de Tocar, de Compor, de Cozinhar, de Dançar, de Coser, etc. etc. etc.

    E para chegar ao teu ponto, nada disto invalida que vamos continuar a precisar de escolas, universidades, aprendizagem demorada, ao longo da vida e difícil. Sem isso, como muito bem dizes, nunca teríamos sequer conseguido chegar ao ponto de nos podermos questionar sobre a validade do sistema. Somos o que somos hoje, porque levámos o nosso pensamento e as capacidades cognitivas aonde nunca antes tinham sido levadas.

    Claramente que aprender Matemática não é o mesmo que aprender Música, Filosofia ou Gastronomia. Mas a diferença não está numa hipotética maior dificuldade do assunto, mas antes na facilidade que o sujeito tem em entrosar mentalmente o assunto.

    Todos nós temos consciência disto, o difícil é criar um sistema suficientemente aberto capaz de proporcionar o essencial as base de suporte, ou seja a ferramenta da Literacia e ao mesmo tempo ser capaz de ajudar as pessoas a encontrarem-se, a encontrarem a sua mais valia, e por conseguinte caminhar com ele, investir com ele nesse caminho.

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  3. Este tem sido um tema recorrente em conversas tanto com amigos docentes, como amigos que estudam e se foram perdendo nos meandros do sistema de ensino, em parte por serem insatisfeitos e serem 'demasiado' curiosos.
    Existe um conto do Isaac Asimov chamado 'A Profissão', que desmonta a actual filosofia de ensino e reafirma o valor da criatividade.
    Teve um efeito profundo na minha vida pesssoal e auto-estima, fazendo-me perceber que o meu percurso académico irregular não tinha sido tão trágico quanto isso e que as competências e conhecimentos que adquiri entretanto e o valor que dou á formação mista também eram valorizados e reconhecidos por outros como 'normais'.
    O conto faz parte da compilação 'Nove Amanhãs', livro que tenho emprestado sempre que surge esta conversa.
    Pode lê-lo online aqui:
    http://www.abelard.org/asimov.php

    Cumprimentos,
    Frederico Lopo

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  4. @Frederico
    Obrigado pela dica, já gravei o texto, e assim que conseguir vou ler, fiquei com curiosidade. Além de que gosto do Asimov :)
    abraço

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  5. Something I put together a while back on this theme as part of a wider research project into embodiment and learning spaces:

    http://www.youtube.com/watch?v=_wF-qDCvePA

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