março 03, 2012

Jogos criados por estudantes

Escrevi esta semana para a Eurogamer a propósito do painel de desenvolvimento de jogos decorrido na XIX Semana da Informática no IST em Lisboa, no qual participei como moderador. O painel tratou o tema de Então queres desenvolver jogos?, para saber mais aconselho a leitura do artigo, no qual foi incluído a reportagem realizada pelo Jorge Soares e Aníbal Gonçalves.


Aqui no blog quero aproveitar para deixar mais algumas informações e links sobre os jogos criados por estudantes que entretanto conseguiram ser comercializados ou se evidenciaram online. Deixo informação sobre os criadores e cursos que estão a fazer. Alguns dos jogos podem ser jogados online grátis.

Narbacular Drop (2005) criado por oito alunos da DigiPen (EUA). Os alunos seriam depois contratados pela Valve para criar o famoso jogo Portal (2007). Podem fazer download e jogar aqui.



And Yet it Moves (2008) foi criado por quatro alunos - Christoph Binder, Felix Bohatsch, Jan Hackl e Peter Vorlaufer -  de Design da Universidade Tecnológica de Viena (Austria). Ganhou o Student Showcase no Independent Games Festival 2007 e depois foi lançado como jogo comercial.



Fingle (2011) criado por Adriaan de Jongh e Bojan Endrovski da Escola das Artes de Utrecht (Holanda). Chegou agora ao mercado iPad e teve uma recepção fantástica. Está seleccionado para os Nuovo Awards do IGF 2012.



The Bridge (2011) criado por Ty Taylor enquanto estudante no mestrado de Ciências da Computação na Case Western Reserve University (EUA) e Mario Castaneda enquanto estudante da licenciatura em Arte também na Case. The Bridge ganhou vários prémios: o Seattle Independent Game Competition; o Achievement in Gameplay e o Achievement in Art Direction ambos no 2012 Indie Game Challenge; e ainda uma menção honrosa no Dream.Build.Play. Esteve nomeado no Indie CADE, e está nomeado na categoria de Estudante no IGF deste ano



Tink (2011) criado por Dominik Abé e Johannes Roth da Mediadesign Highschool of Applied Sciences (Munique, Alemanha). Tink ganhou o prémio "Best Project 2012" na Game Connection Europe.



The Floor is Jelly (2011) criado por Ian Snyder, estudante no Kansas City Art Institute (EUA). O jogo foi desenvolvido em Actionscript 3.0.



The Snowfield (2011) criado por uma equipa de alunos do MIT GAMBIT Game Lab (Singapura). O jogo foi criado em Unity, e pode ser jogado aqui.

The Snowfield (2011)

WAY (2012) de alunos do mestrado em Entertainment Technology da Carnegie Mellon University (EUA). Way ganhou o Developer's Choice no Indie CADE e está nomeado em duas categorias no IGF2012, o Nuovo Awards e o Student Showcase. A versão Alpha pode ser jogada aqui.

WAY (2012) 

One and One Story (2011) criado por Mattia Traverso enquanto andava ainda no liceu, e Gabriele Bonis. Está nomeado nos IGF 2012. Uma excelente entrevista com Mattia Traverso pode ser lida no Indie Games. O jogo pode ser jogado no Kongregate.

One and One Story (2011) 

Dust (2011) foi criado por uma equipa de alunos do Art Institute of Phoenix (EUA). Está nomeado nos Student Showcase do IGF 2012. O jogo foi criado em Unity e está disponível para download ou jogar online.

Dust (2011)

março 01, 2012

Filmes de Fevereiro 2012

Os filmes vistos no decorrer destes mês foram na sua maioria bastante bons. Adorei principalmente o novo dos Dardenne, assim como L'Illusionniste. Foi muito bom reviver memórias dos Doors em When You're Strange, e muito interessante descobrir um bocado mais sobre as descobertas e validações das teorias de Einstein.

xxxx Le Gamin au Vélo 2011 Dardenne Belgium

xxxx Tyranossaur 2011 Paddy Considine UK

xxxx L'illusionniste 2010 Sylvain Chomet France

xxxx Hævnen 2010 Susanne Bier Danmark

xxxx When You're Strange 2009 Tom DiCillo USA

xxxx Balibo 2009 Robert Connolly Australia

xxxx Einstein and Eddington 2008 Philip Martin UK

xxx Temple Grandin 2010 Mick Jackson USA
xxx Micmacs à tire-larigot 2009 Jean-Pierre Jeunet France
xxx À l'origine 2009 Xavier Giannoli France
xxx Phoebe in Wonderland 2008 Daniel Barnz USA
xxx A Place in the Sun 1951 George Stevens USA


xx The Muppets 2011 James Bobin USA
xx A Dangerous Method 2011 David Cronenberg Canada
xx World's Greatest Dad 2009 Bobcat Goldthwait USA

x Just Go with It 2011 Dennis Dugan USA
x No Strings Attached 2011 Ivan Reitman USA

[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]
 

Curtas de aventura e exploração

Foi publicada esta semana pela Hazardous Journeys Society uma trilogia de curtas que nos fala do espírito de Aventura, da Jornada, e da atitude do Explorador. Esta sociedade apesar de ter conotações com entidades religiosas americanas, parece querer apresentar-se nestes filmes como de espírito e mentalidade abertaa, não contaminando os filmes com fundamentalismos ou exageros. A intenção dos filmes parece-me estar talhada para a organização de Expedições, o que está de acordo com alguma informação que se pode encontrar no site de expedições anteriores por eles organizadas.


As três curtas apresentam duas coisas enormemente a favor em termos estéticos: as paisagens fabulosas, e a excelência da fotografia. Por outro lado a música serve na perfeição estes dois elementos e ajuda a transportar-nos para novos territórios, cria em nós o sentimento do explorador, o desejo de aventura, por partir e sentir todas as emoções a esta associadas. O pior aparece do lado dos actores e da sua direcção, assim como na componente narrativa que parece nunca querer assumir-se deixando o lugar de destaque à atmosfera criada. Como alguém dizia num comentário aos filmes, depois de ver estas curtas é impossível não pensar em pegar na nossa DSLR e partir a aventura para filmar.



Os filmes são apresentados sem uma ordem, contudo aconselho que sejam vistos da seguinte forma: Risk, Dominion, e Manhood.













fevereiro 28, 2012

The Chase (2012) de Tomás Vergara

Muito sinceramente não sei do que gosto mais se do filme, se do processo de criação do filme. A história por detrás da curta The Chase (2012) do chileno Tomás Vergara é uma autêntica fábula. Vale a pena ver o filme, e depois perder um pouco a tentar saber mais sobre quem é o autor, qual a sua formação, como construiu este projecto, e onde.


The Chase é uma curta de animação 3d de 13 minutos. Faz uso de uma narrativa clássica de perseguição, com o tema do "ladrão que rouba a ladrão, que rouba a ladrão". A modelação dos ambientes é excepcional, dos personagens é também bastante boa, tendo em conta que foi tudo construído pelo próprio Tomás. Já a animação está um pouquinho abaixo em termos qualitativos.


No campo visual, a iluminação peca pela falta de algum contraste, julgo que poderia ter aproveitado na pós-produção para contrastar e saturar um pouco mais, ainda que aceite que esta tenha sido a sua opção estética.


Aliás, até porque ele foge às correntes atuais de texturamento dos personagens 3d, apresentando-os numa base muito mais plástica, digo quase de bonecos de cera. Nesse sentido, e tendo em conta a luz e efeito de cera, por vezes fico com a ideia que o que se pretendia era simular esteticamente um visual de stop-motion. Eu diria que em termos artísticos o que está mais bem conseguido é mesmo a direcção e a edição, fazer um filme de animação de 13 minutos, é muito, mas mesmo muito complexo. É preciso todo um planeamento brutal, ainda para mais quando se tem uma direcção e edição desta qualidade que faz aumentar exponencialmente a complexidade da linguagem visual.

Os personagens são de Mauricio Galvez

Dito tudo isto, vale agora a pena procurar saber mais sobre o que está por detrás. Tomás Vergara é um chileno de 25 anos, auto-didacta em 3d e amante de cinema. Deixou o seu trabalho a tempo inteiro na Publicidade, para dedicar 6 meses completos a realizar este projecto, num ambiente de total isolamento.


Para criar The Chase utilizou o Maya, After Effects e Premiere e a base de dados de sons Soundsnap.com. Segundo nos conta no seu blog de produção, apesar de saber alguma coisa sobre a teoria de animação e rigging, acabou por apenas aprender verdadeiramente o que eram durante os seis meses de construção de The Chase. É verdade que a animação não é brilhante, ainda assim, para alguém que aprendeu sozinho e em tão pouco tempo é excepcional.


Tomás Vergara refere ainda no seu blog que se soubesse o que sabe hoje quando era pequeno, já teria feito um filme destes antes pois considera que não foi assim tão difícil como isso. Que é possível, e acessível a todos, desde que se faça um bom planeamento. O que eu concordo mas o mais importante é o que ele diz a seguir, "To make this thing happen it will take hard work, though." E para isso é preciso uma motivação intrínseca brutal, uma enorme de vontade fazer. Começar, avançar, enfrentar as dificuldades, e chegar ao final do planeamento, nunca recuar.


A última coisa interessante deste projecto é o local onde foi feito. Vergara vivia em Santiago do Chile, e mudou-se 780km para sul, para Puçon. Um local turístico que no Inverno pratica preços muito em conta para quem queira passar lá umas temporadas. Aí isolou-se numa pequena cabana de Verão, apesar do Inverno que corria lá fora, e trabalhou durante 6 meses a fio para criar The Chase. Isto é verdadeiramente o sonho de muitos criadores, remeter-se ao isolamento e dedicar-se de corpo e alma à sua obra, que no final assume simbolicamente quase o valor de um "filho".



Vergara colocou o filme online assim que o terminou, no dia 20 Fevereiro, no primeiro dia teve apenas 405 visualizações o que como ele refere foi um pouco triste, apesar de não perder a esperança. Então no final da primeira semana já contava com 250 mil. Este projecto impressiona por todo este conjunto de elementos, o filme terminado, a formação do autor, o lugar onde foi desenvolvido, e  a partilha totalmente gratuita com a comunidade online. Tudo junto parece quase um filme em si. Dito tudo isto, vejam o filme aqui abaixo, e visitem o Blog de Produção e a página de Facebook do filme.



fevereiro 25, 2012

Lume (2011), do analógico para o digital

Lume (2011) foi lançado em Maio do ano passado, mas chega agora ao iPad, e por isso mais material sobre o making of foi libertado [1] [2]. Lume foi criado pela independente State of Play, que não é mais do que uma pequena empresa constituída em 2008 por Luke Whittaker e Katherine Bidwell. Esta dupla não é propriamente uma estreante, já em 2010 tinha lançado o fantástico Headspin Storybook, que a Apple listou depois como App do ano 2010, e poucos meses antes de lançar Lume, lançaram o interessante free-flash-game A Short History of the World (2011). Entretanto e depois de nomeado nos Jay is Games 2011, está agora nomeado para os IGF 2012.


Em Lume jogamos a personagem de Lumi que tem de ir ajudar o seu Avô que ficou sem electricidade na sua casa. Mas se trago aqui o Lume, é porque este é conceptualmente um dos mais interessantes projectos dos videojogos de 2011. O jogo foi integralmente desenvolvido em papel e cartão reais. Não se trata aqui de utilizar texturas destes materiais, mas verdadeiramente criar os mundos jogáveis em materiais físicos. Olhando para o trailer o mais interessante de tudo isto, é começarmos a pensar que estamos na presença de um artefacto que faz uma ponte perfeita entre os mundos dos jogos analógicos e dos jogos digitais.



Para realizar esta ponte, estamos a falar da necessidade de ligar vários domínios artísticos para levar o jogo a bom porto. Foram assim precisas boas competências de desenho e construção em papel; animação em stop motion; captação cinematográfica dos cenários adaptáveis à interactividade do jogo; e finalmente o design de jogo assente sobre todas estas dimensões do artefacto.




Foram necessários apenas dois pacotes de software para juntar todos os aspectos artísticos e competências num só artefacto e são ambos da Adobe. Assim para a construção cinematográfica do mundo jogável foi utilizado o Adobe After Effects, para a construção do design interactivo no interior dos cenários de papel foi utilizado o Adobe Flash. Apesar de se começar a sentir em demasia o monopólio da Adobe em termos de software artístico, não posso deixar de congratular o seu uso, dado serem plataformas ainda assim acessíveis a praticamente todos. Por outro lado é muito bom ir sabendo que o Flash continua a servir na construção de alguns dos mais interessantes jogos indie da actualidade, inclusive daqueles que chegam ao iOS.




[1] Gamasutra - Road to the IGF: State of Play's Lume 
[2] Making Of Lume 
[3] Interview: Inside State Of Play's Charming Indie Title Lume

Tecnologias Criativas e Amadorismo

Trago um texto de Eric Paulos, You Amateur!, publicado na última Interactions, sobre o amadorismo que vem totalmente ao encontro do número da revista Comunicação e Sociedade que estou a editar com o Pedro Branco sobre Tecnologias Criativas. Para alguns que seguem este blog, acredito que possa parecer algo paradoxal depois do meu texto anterior em defesa da Universidade, mas posso dizer que não o é. A Universidade continua a ser o local de excelência para se poder abrir caminho, mas isso não deve ser a única condição para que possamos investigar e criar aquilo que gostamos, assim como também não deve impedir que cada um de nós continue a desenvolver-se enquanto criador.

We often forget that the word “amateur” comes from the Latin amator, meaning to love. In fact, the individual citizens who participated in the revolution in Egypt could be called “amateur Egyptians”—lovers of Egypt.
In its definitions of amateur the Oxford English Dictionary includes “one who loves or is fond of,” but unfortunately the more common usage of the term differs from this meaning. The OED also defines amateur as “one who cultivates something as a pastime, as distinguished from one who prosecutes it professionally; hence, sometimes used disparagingly, as dabbler, or superficial student or worker.”
It is this second definition, a rather condescending view of amateurs as inferior dabblers, that often prevails in our culture. However, that has not always been the case. For example, the world of today’s professional scientist, shaped by peer-review journals and the priorities of funding institutions, would feel foreign to many early scientists. In fact, historically, many of these early scientists were simply curious amateurs - lovers of science.
O que está aqui em questão, são duas grandes dimensões, o ensino em banda larga por um lado, e a especialização por outro. Os primeiros anos da Universidade têm cada vez mais como função primordial o desenvolvimento de competências cognitivas de largo espectro, de forma a permitir que as pessoas possam depois definir-se em termos de rumo. Aquilo que um curso superior tem por obrigação garantir a um aluno, em 3 anos, é abertura e agilidade mental e uma boa dose de incremento cultural. Espera-se que o aluno com estes atributos se consiga encontrar, e consiga escolher o seu Elemento.


Nesse sentido, o que está em causa nas novas Tecnologias Criativas é o encontrar do Elemento. E o elemento só se encontra, quando encontramos aquilo que Amamos Fazer. As tecnologias criativas, possuem algo de específico, a que eu chamo de "conhecimento embebido". Ou seja, posso não saber ler uma pauta musical, mas consigo criar música, posso não saber programar mas consigo criar um jogo, posso não saber esculpir, mas crio um modelo tridimensional. O que está em questão é dar asas à imaginação de cada um, permitir que cada um se liberte e se realize na construção de várias experiências, que encontre a paixão para o seu acto de amadorismo. O que espero, é que esse encontro possa produzir na pessoa, algum tipo de transformação, não apenas emocional, mas mesmo identitária e social.

Entretanto se isto vos disser algo, aproveitem para submeter um artigo para o um número dedicado às Tecnologias Criativas, faltam apenas três dias para o final do prazo.

fevereiro 24, 2012

For The Remainder (2011), a beleza do abstracto

Mais um filme da escola de animação Bezalel de Israel que nos deixa sem palavras, For The Remainder (2011) de Omer Ben David. O filme impressiona pela qualidade da animação, os subtis movimentos são muito fluídos e de grande coerência. Graficamente estamos na presença de um objecto abstracto, que se socorre de uma narrativa minimal. Em termos cromáticos é um filme que segue um dos mais interessantes filmes desta escola, Between Bears (2010).


Eu começo a pensar que esta escola israelita tem tido a capacidade de criar uma identidade própria visual. Os últimos filmes de que aqui fiz nota, Between Bears (2010), Beat (2011) e agora este For The Remainder (2011), todos nos convidam para universos mais ou menos abstractos, tolhidos por um forte minimalismo e embalados em tonalidades pastel.




fevereiro 23, 2012

Entrevista sobre a concepção de Nostalgiqa

Trabalhei no passado com algumas das pessoas que constituem a empresa HumanSpot, no campo da produção audiovisual e que agora nos traz a App Nostalgiqa para o iPhone. Desse modo conhecendo as pessoas por detrás de Nostalgiqa quis saber mais sobre as motivações da sua criação, e sobre o modo como tinha sido definido o conceito. As respostas às minhas perguntas ficam aqui abaixo.


1 – Quem é a HumanSpot? Quantas pessoas trabalham aí, e que formações têm? 
A HumanSpot é uma startup incubada no Instituto Pedro Nunes em Coimbra. A equipa onde todos se desdobram e partilham funções é constituída por: Emanuel Silva - Creative, Musician - Eng. Materiais; João França - Coder - Eng. Informática; Paulo Ribeiro - Coder, Musician - Eng. Informática; Ruben Semedo - Designer - Arquitectura


2 – Que projectos anteriores fizeram? 
Com o objectivo de financiar projectos internos, como o Nostalgiqa, a empresa dedica-se essencialmente à consultoria e desenvolvimento de software à medida, bem como à criação de conteúdos multimedia. O primeiro projecto com visibilidade foi e é a participação na série de animação infantil Gombby, concebida e produzida em Portugal pela Big Storm Studios. A série passa actualmente na RTP 2 e no canal Panda. O processo de internacionalização iniciou-se há poucos meses com a entrada no mercado espanhol através do canal TVE Clan. A colaboração da HumanSpot passa pela composição musical, sonoplastia e pós-produção audio para a série, que conta já com 52 episódios e um CD/DVD musical.



3 - Porquê uma aplicação interativa, e porquê sobre a Nostalgia, de onde veio a inspiração? 
Como o próprio nome indica, embora a tecnologia marque presença em todos os processos da HumanSpot, temos a preocupação de ocultar essa componente, dando destaque à componente humana. É certo que muitas empresas de base tecnológica mostram um cuidado crescente com usabilidade e experiência do utilizador. A HumanSpot pretende aproximar-se ainda um pouco mais do que é humano através de um apelo directo à emoção, não pela interface ou forma de utilização, mas pela temática dos seus conteúdos e das suas aplicações.

Esta vontade nasceu da experiência de dois dos elementos da HumanSpot, cujo percurso de trabalho os colocou em contacto directo com realidades empresariais onde a sobrevalorização da tecnologia e do negócio se alia muitas vezes à desumanização. O nosso objectivo foi, por isso, criar um produto que pudesse continuar a evoluir, tal como um quadro pintado por diversos artistas ou um livro escrito por diversos autores. Pensamos num produto como um ser vivo, alguém que precisa de condições para nascer, para crescer e para se desenvolver de forma sã e equilibrada. Utilizando a mesma imagem, uma aplicação é o resultado da sua herança genética - concepção, design e código - e do ambiente em que se desenvolve - os objectivos e acções dos seus criadores e da sua comunidade de utilizadores - sendo que todas as partes são essenciais para uma vida longa e próspera.

Se a tecnologia corre a um ritmo alucinante, as emoções permanecem porque são intemporais. Podemos conversar com uma pessoa que, independentemente do país onde vive, da tecnologia que usa (ou não) e da sua idade, saberá sempre expressar aquilo de que gosta e não gosta, aquilo que a faz rir ou faz chorar. A ligação com essa pessoa será tanto mais forte quanto maior e mais aberta for a partilha mútua de experiências. Quando o presente de duas ou mais pessoas se cruza, criam-se memórias e quando essas memórias se cruzam, estabelecem-se ligações, sendo que as memórias passam a funcionar como um fio condutor entre as suas vidas e as gerações seguintes.

Aquilo que somos e a forma como agimos deve-se em grande parte a experiências passadas - pessoais e de outros - que não são mais do que memórias. Talvez por isso elas sejam universais e intrinsecamente humanas. O Nostalgiqa baseia-se nesta visão poética e ao mesmo tempo romântica do tempo que passa e que promove a transmissão de momentos, vivências e emoções comuns a qualquer ser humano.


4 - Tendo nós em português a particularidade da palavra Saudade, imortalizada pela Sodade da saudosa Cesaria Evora, porquê a enfase em Nostalgia? 
Como portugueses que somos, gostamos imenso da palavra “saudade” e ponderámos várias vezes a sua utilização. No entanto, o obstáculo que se apresentou foi a sua adaptação/tradução. Quando se pretende um alcance universal, torna-se difícil utilizar palavras específicas de uma cultura, neste caso a portuguesa, desconhecidas para uma boa parte do mundo. A palavra “saudade” insere-se neste conjunto de palavras para as quais não existe tradução directa noutras línguas. Como tal, “nostalgia” pareceu-nos a solução mais adequada. Nostalgiqa é a primeira aplicação da HumanSpot, sendo que outras se seguirão a médio prazo. Com o objectivo de manter uma certa coerência na nomenclatura aliada a facilidade na memorização, a escolha de um nome com base na palavra “nostalgia” também fazia mais sentido.


5 - Em que termos Nostalgiqa se diferencia de outras redes sociais como o Facebook, mas mais em particular do Flickr? Além do facto de terem uma temática em concreto, como é que vocês garantem uma mais valia experiencial às pessoas ? 
Existem várias diferenças entre o Nostalgiqa e as principais redes sociais a que nos habituámos, das quais destacamos:

● O Nostalgiqa valoriza tanto a componente privada como a componente social. Isto significa que os utilizadores podem manter as suas memórias privadas ou partilha-las com os restantes utilizadores. A própria aplicação foi construída para dar ao utilizador uma sensação de privacidade pouco comum em redes sociais, pelo que o acesso a conteúdos produzidos pelos outros utilizadores não é feito a partir da primeira página.

● O facto de existir uma temática clara permite-nos escapar com maior facilidade do principal problema das redes sociais: a perda de contexto, que se traduz em quantidades significativas de ruído. Se, por um lado, o Nostalgiqa não é uma aplicação onde os utilizadores criem conteúdos com a regularidade que vemos no Twitter, Facebook ou Flickr, por outro lado, os utilizadores têm um cuidado adicional com as memórias que capturam e partilham.

● São disponibilizadas várias ferramentas aos utilizadores para que eles se comportem como “curadores” do Nostalgiqa. Em vez de utilizarmos um botão “like” demasiado generalista e tantas vezes sobre-utilizado, criámos os botões “meaningful” e “nostalgic”, de forma a promover uma maior coerência e qualidade dos conteúdos. Além disso desenvolvemos o “Emotiqa”, uma ferramenta que permite aos utilizadores catalogarem memórias com emoções.

● Porque as memórias são geralmente constituídas por mais do que uma simples experiência que possa ser retratada por um texto ou fotografia, existe a possibilidade de agregar diversos fragmentos numa única memória. Isto permite aos utilizadores criarem histórias à volta das suas memórias.

● Pedindo às pessoas para introduzirem a data/época e o local em que as memórias foram vividas, ganhamos duas novas dimensões que enriquecem a aplicação: o espaço e o tempo.

Resumindo, a nossa preocupação é mais qualitativa do que quantitativa. Enquanto que as redes sociais têm como objectivo principal o crescimento em termos de utilizadores e conteúdos, o nosso foco recai sobre o contexto e a qualidade desses conteúdos dentro de um tema muito específico - neste caso memórias - com o objectivo de acrescentar algum valor humano que traga maior significado e impacto emocional para os nossos utilizadores.

fevereiro 21, 2012

Nativos Digitais #57: Videojogos

O programa Nativos Digitais é uma produção da produtora Farol de Ideias, que tem por objectivo contribuir para o esclarecimento da sociedade nos domínios da Educação para os Media. O programa é escrito por Sérgio Sousa Costa e Silvia Camarinha e conta com a consultadoria científica do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.


Nativos Digitais está no ar desde Outubro de 2010, e desde então já foram realizados mais de 50 programas dedicados à Educação para os Media. O programa 57, exibido a 14 de Fevereiro de 2012, com o título, As Vidas e os Bónus dos Videojogos, foi inteiramente dedicado aos Videojogos.


Tenho de dizer que face à enorme quantidade de material que fiz chegar à redacção do Nativos Digitais, e as entrevistas que estes realizaram, o guião ficou excelente. Aliás a verdade, é que tentar sintetizar tudo isto em apenas 15 minutos, era uma missão impossível, e por isso mesmo a redacção resolveu criar dois episódios dedicados à área. Assim este documentário que foi agora publicado, retrata apenas a primeira parte do trabalho desenvolvido pela Farol de Ideias. Em breve teremos mais um episódio dedicado à arte dos videojogos.

"O entretenimento já não é o único objetivo de um jogo. ONGs, agências de publicidade e até órgãos de comunicação social, aproveitam o poder comunicacional dos videojogos." 

Deixo um resumo em imagens do programa, e em baixo podem ver o programa de 15 minutos na íntegra. 











As Vidas e os Bónus dos Videojogos