julho 13, 2011

uma nova imagem EDP

No dia do lançamento da nova identidade da EDP e após ter colocado o novo logo da EDP no meu mural do Facebook iniciou-se uma discussão acesa à volta do logo e do seu criador. Entretanto o assunto passou, mas ontem voltei a tocar no assunto postando no mural um pequeno vídeo das reuniões criativas em redor da criação da nova imagem, e a discussão reacendeu-se com alguns intervenientes novos e com algumas novas ideias. Daí que eu tenha iniciado uma reposta em maior detalhe à discussão mas como não é possível fazer uso de imagem/vídeo nas caixas de comentário, acabei por resolver transformar esse comentário num artigo para o blog, servindo assim também de resumo e registo da discussão no Facebook.


Então dessas discussões o se pode resumir é que existem três abordagens enunciadas e defendidas por várias pessoas que avaliam negativamente o novo logo da EDP:

a) O não recurso a uma empresa portuguesa
b) O rebranding acontecer em muito pouco tempo
c) A estética pouco apurada

Percebo as três perspetivas, não dou razão a nenhuma delas, e é nesse sentido que faço este texto para tentar explicar em maior detalhe porque razão acolho muito bem a nova identidade da EDP.

A)
Apesar de poder perceber o mal-estar da comunidade portuguesa de design, é preciso que tenham noção que quando se centram sobre esse ponto, estão a assumir um posicionamento ético muito reprovável, apenas qualificável como discriminatório. Vivemos num mundo global, não aqui no nosso quintalzinho. Os produtos sejam eles quais forem, devem ser reprovados em termos qualitativos, nunca em termos de origem, raça, credo, nacionalidade, etc.
Mas este ponto ainda tem outra análise. É que o facto de ser feito por Portugueses, não garantiria absolutamente nenhum valor extra, e mais grave ainda, teria-se corrido o risco de ver o trabalho ser atribuído a uma empresa não pela sua qualidade, mas pelo amiguismo e clientelismo.
Dou um exemplo muito simples para que se perceba o território em que nos movemos. Hoje em dia quando abre uma vaga para professor, investigador ou Reitor de uma Universidade Portuguesa o concurso é obrigatoriamente internacional. Ou seja, não pode de modo algum ser sobreposta a nacionalidade da pessoa à qualidade do seu trabalho. E isto é para mim muito saudável. Por outro lado temos algumas forças dentro de nós que continuam a lutar contra isto, em que se denota exatamente o mesmo sentimento que vi nas discussões sobre o criador da nova imagem da EDP. Mas "o gajo é estrangeiro e vem para aqui armado em salvador, nós somos tão capazes, não precisamos cá desse pessoal", queiramos ou não, cheira a "Orgulhosamente Sós".

B)
Começando pelo facto de que as necessidades de rebranding no séc. XXI serem totalmente diferentes das necessidades no séc. XX. As transformações operadas em muitas das marcas nacionais, nomeadamente com a sua internacionalização, ou ainda a entrada em sectores anteriormente não contemplados, justificam o forte rebranding a que temos assistido em Portugal.


Como se não bastassem estas lógicas que tocam o âmago da atual EDP, temos ainda que a anterior imagem da EDP estava em Tribunal desde 2005 por plágio de imagem! Quem olhe à primeira vista para os dois logos, até pode ficar com aquela sensação de que o logo da EDP é profissionalmente melhor do que o do "O Feliz". Mas atenção porque em parte está apenas a ser iludido por um make-up estético. Quando analisados na sua essência, os logos são praticamente iguais.


O logo do O Feliz não caiu do céu, pode ser facilmente visto a quem passeia por Braga ou quem se cruza com os carros da sua emprea, está registado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial com o número 11.842. No entanto houve espaço para serem colocados a circular rumores de que a marca bracarense teria recebido indemnizações para prescindir dos seus direitos de imagem. E como factor ainda mais relevante, o design da imagem tem todo um conceito subjacente concebido por Paulo Cabral, melhor ou pior conseguido tecnicamente, está lá,
"O logo foi criado há mais de 10 anos pelo designer gráfico que trabalhava com a empresa "O Feliz" e registado, sublinhando criativamente a associação da cor vermelha ao carácter do aço (tratando-se de uma metalomecânica), assim como a rigidez do quadrado perfeito que enquadra o sorriso conotado ao nome da empresa." Por Ana Feliz.

Mas tudo isto a própria EDP assume, percebe e explica. Mais ainda porque vai ao ponto de explicar o que está subjacente à coincidência, que é para mim o mais relevante no meio deste processo todo,
"Todas as marcas têm um ciclo de vida e consideramos que o anterior logo, o “smile”, já não representa a nova realidade da EDP e do mercado. O processo de internacionalização da companhia veio ainda reforçar o carácter não distintivo do “smile”, símbolo relativamente vulgar em diversos produtos e geografias, o que aliás trouxe também problemas de registo de marca e custos acrescidos. Paralelamente, a EDP foi confrontada com um processo interposto por uma empresa cuja logomarca era em tudo idêntica à da EDP e que já existia quando a EDP criou a sua, em 2004Paulo Campos Costa, director de marca e comunicação EDP

C)
A última abordagem que tem sido feita diz respeito à componente estética do novo logo. Ora falamos de Design e não de Arte. Assim a primeira coisa que é preciso avaliar numa nova imagem é a sua Funcionalidade, e só depois a sua Estética. E agora indo direto ao que me interessa, em termos de funcionalidade, não conheço mais nenhuma identidade Portuguesa com estas capacidades.



Vejamos então em termos técnicos como é feito, e depois qual a funcionalidade do trabalho técnico desenvolvido. Com recurso a elementos gráficos simplicíssimos, mas que combinados criam uma imagem complexa e muito coerente, temos:

1 - Uso de formas geométricas simples variáveis.
2 - Uso de um único tom de vermelho constante,
3 - Uso de três níveis gerais de saturação do tom, de modo constante em todas as variações.
4 - A constante variação da saturação do vermelho, justificada pela sobreposição e transparência das formas geométricas.
5 - A constância do lettering e da sua força como bloco uno, sempre centrado e sobre as formas.



Agora vejamos em que se traduz funcionalmente este trabalho,

1-  Uma identidade que não está fechada na forma, mas que pode gerar múltiplas formas, continuando a ser reconhecida. Pode ser associada a todos os segmentos existentes na EDP agora, e pode ser adaptado para todos os segmentos que venham a ser criados, sempre com identidade própria, mas sempre muito coerente com o discurso da imagem central.

2-  Uma imagem que consegue passar por visualizações verdadeiramente Abstractas, ou Icónicas, ou Simbólicas e até mesmo Diagramáticas e manter o reconhecimento da imagem central. Ou seja é possível criar uma imagem abstrata para segmentos menos facilmente traduzíveis em conceito visual, ou criar uma imagem figurativa que é automaticamente associada ao segmento em questão (exemplo das Renováveis)


Posta toda esta análise a única imagem que me vem à cabeça, e que em termos de inteligência funcional possa ombrear com esta é a do MIT Media Lab. Embora aí se tenha ido ainda mais longe ao criar um algoritmo para conceber formas de modo generativo. Ainda assim o algoritmo não é depois utilizado para colar as imagens aleatoriamente sobre cada departamento do Media Lab, o que no fundo acaba por vir dar ao que temos com este logo da EDP.

Quanto ao criador desta nova imagem, como repararam, não apareceu ao longo de todo o texto, porque simplesmente não é necessário chamar para aqui quem fez, basta que nós nos concentremos sobre os objetos e não sobre quem os faz. Mas e porque seria ridículo falar de tudo isto e não dar nome a quem é devido, o trabalho foi criado por Stefan Sagmeister. De notar que não é o seu primeiro trabalho para Portugal, a identidade da Casa da Música é também sua.


E no final quero agradecer a todos os que se dispuseram a discutir o assunto no meu mural do Facebook, sem os quais este texto não existiria: Artur Leão, Nicolau Pais, Cristina Sylla, Diogo Valente, Cristina Carvalho, Catarina Lelis, Leonel Morgado, Ana Melo, Luis Gama, David Mota, Heduino Rodrigues, Nuno Franco, Jorge Lima, Luís Ricardo.

julho 10, 2011

Like / +1

Passo a escrever alguma linhas no seguimento da reflexão que lancei no Facebook há uns dias a propósito da comparação entre o Facebook e o Google+. Não é meu interesse avaliar aqui as plataformas em toda a extensão técnica, mas antes e só, lançar um olhar mais demorado sobre uma das principais estratégias de interacção social destas plataformas.


A estratégia de que falo está relacionada com aquilo que já antes denominei por substituto da linguagem não verbal nas redes sociais. Ou seja numa relação entre dois comunicantes a interacção processa-se no nível verbal, aquilo que é dito, e no nível não-verbal, como é dito. A melhor forma para avaliar o que é transmitido não-verbalmente é mudando o canal de transmissão. Em vez de ter um ser humano a emitir uma mensagem, usar exatamente as mesmas palavras mas apenas registadas em texto. E todos os que estão a ler isto já o perceberam, aquando da leitura de alguns e-mails mais dramáticos ou conflituosos, no fundo com grande carga emocional, que a dificuldade em interpretar corretamente o que está a ser dito aumenta.
Ora para colmatar esta problemática, e dado o aumento brutal da comunicação via texto, desenvolvemos um substrato icónico que acompanha muita da comunicação online, os chamados Emoticons. Estes não passam de uma panóplia de pequenos gráficos que simbolizam de forma convencionada formas não-verbais de linguagem, alegre, triste, zangado, etc.
Enquadrada a não-verbalidade, podemos dizer que as estratégias "Like" e "+1" representam o pináculo da interação não-verbal das redes sociais. Ou seja, claro que podemos usar os emoticons quando escrevemos. Mas tal como entre humanos, e particularmente em grupo, usamos muito mais vezes códigos não verbais para demonstrar concordância ou discordância, do que a verbalização de ideias. Expressar uma concordância ou discordância pode resumir-se a um rápido sim e não, dizer mais do que isto, implica uma muito maior reflexão sobre o que nos é dito, e consequentemente uma estruturação dessa reflexão em verbalização. Diria em termos médios, que por cada dez cliques no Like/+1, teremos uma interação escrita. Não tenho qualquer dado para suportar estes números, e cada um reage e convive com o grupo e a rede social de formas muito distintas, ainda assim arisco este ratio com base no que venho analisando.
Para além da importância não-verbal resta dizer algo que deveria ter dito logo no início, é que só existe interação na comunicação se ambos emitirem alguma informação. Aliás tendo em conta a dificuldade, tempo e trabalho que requerem a emissão de informação verbal, podemos dizer que a ideia do Facebook com o Like foi verdadeiramente revolucionária. Isto porque conseguiu gerar interação onde dantes esta não existia. Repare-se na diferença de quantidade de interação nas caixas de comentário dos blogs, e agora nos Likes no Facebook. Ou seja o Facebook criou uma maneira quase tão fácil de interagir como quando num grupo sorrimos para a pessoa que está a falar.


Deste modo, julgo que fica compreendida a importância que o Like e o +1 possuem para as redes sociais, o modo como estes assumem um posicionamento central na estratégia de comunicação e influenciam o discorrer e a manutenção dos laços sociais. Posto isto interessa então perceber como se diferenciam as estratégias do Facebook e do Google+ neste campo específico, e saber se existem vantagens, problemas, ou mais valias de um lado, ou do outro.

O Facebook usa dois elementos em conjunto para dizer uma mesma coisa, o texto "Like", traduzido no icon "Thumb Up" (polegar para cima). O Google+ usa apenas o “+1”. A apresentação do somatório de cliques em Like e em +1 é apresentado por ambos. Vejamos em quadro comparativo.


Na separação temos então que o Facebook usa não só o Like, como faz uso de um segundo ícone, “Thumbs Up”, que coloca junto do somatório de cliques. O Google+ fica-se pelo +1, depois apresenta então o somatório mas de forma isolada. O Google+ tem a vantagem de ter um símbolo universal que não precisa de ser traduzido, para além disso simplifica tudo, com apenas um símbolo. Apesar de tudo isso ambas as plataformas usam a mesma lógica que permite a interação entre as pessoas através de um simples clique, apresentando ambas os nomes de quem clica, e por consequência obrigam a que essa interação só possa acontecer em terreno positivo. Nenhuma destas redes permite as reações negativas, o que é normal, uma vez que a reação negativa não aumenta as relações, antes pelo contrário destrói-as, que é oposto da razão de existir da rede.

Diria que até aqui a abordagem do Google+ sendo mais sintética, mais universal, é mais clara em termos comunicativos e mais inteligente. O problema aparece no item final de comparação, que está no modo como a interação é valorada no clique pelos intervenientes. Aqui eu considero que a separação é muito grande. Porque dizer “Gosto disto” mais “Thumb Up” ou dizer “dou +1 a isto” provoca reações nos intervenientes, sejam emissores, receptores ou assistência, muito diferentes.

Os seres humanos em termos persuasivos, e de relacionamento social, reagem muito melhor às emoções do que à abstração por números. Fazer "like" tem toda uma componente humana que o "+1", impessoaliza e matematiza. Já não bastava o numérico, “1”, ainda foi adicionado um símbolo “+” que torna o meu clique numa expressão matemática de incrementação! Esta abstração desprende-se das relações, o seu objetivo é o lógico e não afectivo, e isto põe em causa a essência da conexão, que não se mede pelo número mas pela forma da relação.
Para se poder perceber o alcance das palavras nada melhor do que ramificá-las pelos sinónimos que nos podem passar pela cabeça de modo natural quando clicamos em cada uma destas palavras ícones ou expressões:
gosto: Adoro, Desejo, Amo, Estimo, Aprecio, Agrada-me, etc
thumb up: Força, Bravo, Ânimo, Aprovado, etc
+1: Mais, Também, Idem, Adiciona, Incrementa, etc

Tenho de agradecer a todos os intervenientes na discussão: o Luis Santos, Leonel Morgado, Roger Tavares, Cristina Carvalho, Fernando Cassola, Elsa Maltez, Artur Leão, Sergio Denicoli, Hugo Paredes, Diana Falcão, Paulo Simões, João Paulo, Thiago Falcão, Mario Ventura, Abel Dantas, Margarida Gomes e a todos os que não tiveram tempo para se expressar textualmente mas clicaram no Like! Deixei para último o Luís Sequeira, apenas para agradecer mais veemente a sua energética reacção à minha no Facebook, e ao texto no seu blog que acabou por me fazer decidir escrever também este. Inicialmente ainda pensei rebater os seus pontos, mas fica para uma próxima vez!

julho 04, 2011

Arte Interativa Mostra MTAD4

Centro de Computação Gráfica, Universidade do Minho

É com enorme satisfação que trago aqui alguns dos resultados da mostra MTAD 4 que decorreu entre 30 de Junho e 2 de Julho 2011 na Escola de Arquitectura da Universidade do Minho e no CCG. Esta mostra constituí-se por trabalhos de alunos do Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho, e este ano tivemos os trabalhos dos alunos da 4ª edição.

Os alunos foram incansáveis na preparação das suas obras, autónomos e expeditos a procurar respostas para as necessidades das suas instalações. Deixo algumas imagens que demonstram o processo prévio, e mostram a quantidade de trabalho envolvido na preparação e construção daquilo que depois pudemos experienciar durante a Mostra. Agradecemos desde já a todos os que se deslocaram à mostra e fizeram deste tempo um tempo construtivo para os alunos e para todos nós.


As obras em exposição eram - SAY Sense Around You; CYM Clean Your Mind; Cripta; Regeneração Digital; Os Outros; BIOMUSIC; Thanatos; KOI; Palavr-o-tónico. Para quem não teve oportunidade de se deslocar à Mostra, o colega João Martinho produziu um excelente vídeo documental (6m) que apresenta as obras e dá uma pequena noção sobre o que esteve em exposição este ano.


MTAD4 - Works 2011

Mais vídeos de trabalhos realizados no âmbito do MTAD e do engageLab podem ser vistos na nossa nova página, VIDEO CAST, incluindo um vídeo da MOSTRA2.

julho 02, 2011

Under Siege (2011)

Foram anos de espera, não me lembro da data em concreto em que soube pela primeira vez da existência do projeto Under Siege (2011) mas sem dúvida que todo este tempo só serviu para o amadurecer e deixar respirar enquanto artefacto. Este compasso de tempo, é normal em grandes produções, e Under Siege demonstra que também é uma dessas grandes produções porque não só é o primeiro jogo português para a PS3, como é o jogo mais caro da história dos videojogos nacionais. Um milhão e 400 mil euros representa um volume de investimento superior à grande maioria das produções cinematográficas nacionais.


Sobre as minhas expectativas, em primeiro lugar digo-vos que não gosto particularmente do género RTS, as muitas regrinhas, as estratégias e principalmente o ritmo da jogabilidade não me cativam. Desse modo a minha atitude para com Under Siege, partiu de um nível misto, se por um lado esperava e desejava que fosse um grande jogo, por tudo o que disse no primeiro parágrafo, por outro lado tinha a questão de ser um RTS que me deixava bastante apreensivo.


Assim tenho que dizer que o meu primeiro contacto com o jogo foi uma surpresa total. Apesar de ter visto antes muitas imagens, comics, vários vídeos de cinemáticos mas também de gameplay, de ter visto o jogo a ser jogado pelo pessoal da Seed Studios, nada me preparou para o espanto que senti ao interagir com Under Siege pela primeira vez. De repente parecia que tinha passado a gostar de RTS.


Under Siege é um jogo de nível médio, em termos de valores de produção e de preço de aquisição, mas por vários momentos tive a sensação que estava a jogar um jogo triple A, um blockbuster de 20 ou 30 milhões de dólares. A qualidade da Arte Visual, da Arte Musical, da Arte Escrita dos Diálogos e Narrativa superam qualquer dos jogos de nível médio que joguei até agora. Apresentam níveis de profissionalismo elevadíssimos que normalmente só encontramos nos jogos de grande produção.


Visualmente sentimos uma alegria enorme cada vez que entramos numa nova área do jogo, cada vez que vemos um novo personagem, ou mesmo cada vez que vemos uma nova interface de informação. Musicalmente somos brindados com ritmos épicos, que nos transportam para dentro daquele mundo e criam toda uma atmosfera digna de Tolkien. Mas o mais interessante acaba por aparecer nos diálogos em texto, porque confesso que sinto alguma estranheza em estar a jogar e a ler o jogo em Português, estranheza porque se sente claramente que aquilo não é uma tradução, aquilo são diálogos genuinamente portugueses. O jogo em geral apresenta todo um universo de influências inter-textuais internacionais, mas no que toca ao texto, percebe-se claramente que tivemos ali a mão de portugueses a trabalhar, portugueses que estão habituados a fazer do melhor na arte dos comics nacionais.


Em termos de interatividade e jogabilidade, temos um jogo muito fluido, equilibrado, e que dá tempo ao jogador para que ele se enquadre e aprenda o que é preciso fazer para desfrutar do jogo. Apesar da jogabilidade típica RTS com acesso ao mundo em 45º, podemos controlar a câmara como se de um jogo de ação e aventura se tratasse. Os objetivos estão perfeitamente sintonizados na narrativa que é apresentada por cutscenes simples mas envolventes.

Under Siege™ Official PSN Store Trailer

Resta-me dar os parabéns à Seed Studios, por este magnífico trabalho, que possui um enorme valor para toda a comunidade criativa de videojogos nacionais, e desejar que em breve possamos ter um novo capítulo.


Links Virtual Illusion
Under Siege ganha Premio Zon 2010, Janeiro 28, 2011
Intro Cinematica pela Axis Animation, Novembro 18, 2010
Jogo português para PS3, Março 08, 2009

Filmes de Junho 2011

Foi um mês muito feminindo com Séraphine e Flower of the Desert no topo das minhas memórias cinematográficas dos últimos dias. Dois filmes biográficos, muito fortes que nos obrigam à reflexão sobre a condição humana. Para além disso também ficou marcado pela figura de Jeff Bridges que nos tempos recentes elevou o seu estatuto de actor de muito bom para clássico e intemporal.

xxxx Desert Flower 2009 Sherry Horman USA

xxxx Séraphine 2008 Martin Provost France

xxxx The Treasure of the Sierra Madre 1948 John Huston USA

xxxx George Washington 2000 David Gordon Green USA

xxxx True Grit 2010 Coen Brothers USA

xxxx Crazy Heart 2009 Scott Cooper USA


xxx Birdwatchers 2008 Marco Bechis Italy/Brazil

xxx Fast Food Nation 2006 Richard Linklater USA

xxx Mother 2009 Joon-ho Bong South-Korea

xxx The Invisible 2007 David S. Goyer USA


xx My One and Only 2009 Richard Loncraine USA
xx Ondine 2009 Neil Jordan Ireland
xx The Maiden Heist 2009 Peter Hewitt USA
xx Irresistible 2006 Ann Turner USA
xx The Siege 1998 Edward Zwick USA


[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima] 

junho 30, 2011

Mostra MTAD 4


Estão todos convidados para a Mostra MTAD 4 que se começa hoje e estará patente até ao dia 2 de Julho 2011, constituída por trabalhos de alunos da 4ª edição do Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho. Esta mostra decorre na Escola de Arquitectura e no Centro de Computação Gráfica da Universidade do Minho, campus de Azurém, Guimarães.

São 9 instalações digitais interativas que estão à disposição dos visitantes para serem experienciadas - SAY Sense Around You; CYM Clean Your Mind; Cripta; Regeneração Digital; Os Outros; BIOMUSIC; Thanatos; KOI; e Palavr-o-tónico.

Na Sexta-feira da parte da tarde e Sábado de manhã os autores estarão presentes para falarem sobre os trabalhos.

junho 28, 2011

Ideias de Crato para a Educação

Tinha decidido não publicar este texto, mas depois das medidas hoje anunciadas pelo novo governo sinto que o devo fazer, dado que algumas das componentes do caminho hoje apresentado representam, para mim, um retrocesso no avanço da escola portuguesa.

Nuno Crato, atual Ministro da Educação fez uma comunicação no Ciclo de Conferências do PSD, "Fórum Portugal de Verdade", decorrido em Aveiro a 16 de Abril 2011, sobre as suas ideias para o Ministério da Educação, e para a educação nacional. Essa conferência pode ser vista aqui abaixo.





Apesar de continuar a reconhecer que é um fantástico comunicador de ciência, fiquei muito desiludido ao ver este vídeo. Sinceramente nunca pensei que um investigador como ele pudesse ser tão político. O discurso é de tal modo embrulhado que parece credível, mesmo não o sendo, e os dados existem para o demonstrar. Aponto três problemas no discurso de Nuno Crato:


1 - Diz que durante os primeiros 9 anos de escolaridade não existem Exames.

Então mas isso não é que nos noticia o Público na sua edição de 13.06.2011 - "Escolas correm o risco de se tornarem centros de treino para testes". Também não é o que se noticiava no dia 20.06.2011 pela imprensa, dia de Exames Nacionais de 9º e 12º anos.
Mas no anuncio de hoje percebi porque Nuno Crato dizia que faltavam exames, porque agora, vamos passar a ter na Escola portuguesa uma autêntica cascata de exames: 4ºano, 6ºano, 9ºano e 12º ano. E ao que parece, com exceção do 4º ano, todos vão contar para a nota dos alunos. Fantástico.
Mas isto é apenas a ponta do icebergue, esta ideia de que tudo pode ser quantificado fazendo uns exames, é antiga e tem sido assim no último século, como forma de responder à massificação do ensino. Mas a função da escola não é talhar e medir pessoas, deve ser antes mostrar o que é o mundo, de que é feito, mais do que isso mostrar ao aluno quem ele é, do que é capaz, e como é capaz. Não podemos limitar a escola à formatação de cabeças.
A escola é o lugar por onde TODOS, sem exceção, passam. Alguém acredita que de tão diferentes que todos somos, possamos todos responder de forma igual? Ou seja, possamos todos contribuir para uma média expectável em termos estatísticos. Isto partindo das escolas públicas nacionais, porque utilizar escolas privadas não conta, simplesmente porque aí a amostra não é aleatória. Nenhum pai paga uma escola privada a um filho que não quer estudar, mesmo tendo posses, para isso anda no público. Ou seja a amostra do privado conta com um fator que tem um enorme peso na amostra, que é facto de os alunos gostarem da lógica de escola, que é facto de os alunos se reverem nela e por isso conseguirem tirar satisfação no seu dia-a-dia.
Os exames nacionais e internacionais são o maior aliado da estandardização, que é por sua vez responsável pela criação do senso comum que mata a criatividade humana (Robinson, 2009). A formatação de mentes foi muito boa em tempos de revolução industrial, em que precisávamos de pessoas responsáveis que dessem o seu melhor das 9h as 17h, que o fizessem pelo seu país e pelo coletivo. Mas em 2011 vivemos num planeta globalizado, que mudou radicalmente. Hoje não faz mais sentido continuar a "produzir" máquinas pensantes, pelo menos aqui na Europa e nos EUA, mas em breve em todo o planeta.
Hoje precisamos de ser capazes de ativar o fogo interno de cada um, de os levar a conseguir o melhor para si e para o mundo. E para isso terão de ser altamente criativos, e verdadeiramente inovadores. Terão de quebrar os "status quo" e derrubar dogmas do senso comum.   
Mas já agora como é estes senhores explicam que a Finlândia obtenha das notas mais elevadas nos resultados de PISA 2009 e quase não existam exames, nem os alunos chumbem? Em que os alunos passam o mínimo tempo possível fechados na escolas, e os trabalhos de casa são limitados?


2 - Que precisamos de criar um Instituto de Avaliação Independente (mais um, então mas não era preciso cortar nos institutos) para fazer exames de forma independente.

Então mas afinal para que pagamos à OCDE para que se realizem os testes de PISA no nosso país? Não é para fazer isso? Os alunos que se cuidem, porque exames é o que não vai faltar, para todos os gostos e feitios - internos, externos, nacionais, internacionais, de aferição, de avaliação, e do que mais houver. E depois a aprendizagem isso será menos relevante, os professores deverão começar a preocupar-se mas é em treinar os alunos para responder aos testes, testes, e mais testes.
Dou razão ao Nuno Crato, quando diz que o governo passado errou ao usar a suposta evolução da média de Matemática de 8 num ano, para 14 no ano seguinte, como fruto das suas ações. Mas o que dizer da OCDE, e de PISA. Aqui a realidade demonstra que Portugal tem vindo sempre a subir na tabela comparativa de resultados. Ainda temos muito que fazer, mas os resultados de 2009 desmontam claramente esta ideia absurda de que os alunos portugueses em 2010, não trabalham, não sabem ler, não sabem escrever, que a escola Portuguesa é um mundo de facilitismo em que nada se aprende.
A propósito e em contra-corrente com o posicionamento de Nuno Crato face à escola portuguesa, deixo aqui uma análise do Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, entrevistado por António José Teixeira. O jornalista nada mais faz do que apresentar o discurso vigente de que tudo está mal, de que nada se fez bem, um discurso no seu melhor em termos de pessimismo.

Atente-se no minuto 6:37:
AJT: "A estatística deixa muitas dúvidas, os números são torturados até dar o que interessa… houve progresso ou o progresso é ilusório? Para estarmos nesta situação se calhar o progresso não foi tão sustentado?"
AN: O nosso progresso é absolutamente real, acho que é indesmentível
AJT: Por exemplo?
AN: Por exemplo na área da Educação.
Minuto 9:00
AN: Por exemplo a questão dos resultados do PISA…. E aqui estamos a falar da qualidade, não da quantidade, dos resultados escolares. Colocam Portugal pela primeira vez na média dos países Europeus. Nunca isto aconteceu na história portuguesa… eu tive oportunidade de fazer um estudo, uma análise comparada desde que existem estatísticas, e em todas as estatísticas publicadas, Portugal esteve sempre no último ou no penúltimo lugar da Europa…. Isto é qualquer coisa que nos deve dar uma enorme satisfação. Há problemas? Há sempre problemas.




3 - A ideia que os EUA também vêm querendo implementar, de avaliar os professores pelas notas conseguidas pelos alunos. Se o aluno entra no 10º ano com 15 a Português, e no final do ano (ou mesmo que seja dois anos) sai com 13, a responsabilidade é do Professor diz o Nuno Crato!
Para responder a isto vou apenas transcrever aquilo que escrevi a respeito desta ideia também professada num documentário sobre a escola americana, Waiting for Superman (2010), por Michelle Rhee, Directora das Escolas Públicas do Distrito de Columbia, EUA. Dizia eu,
"Ensinar é uma arte, e nem todos seremos artistas, mas um assunto que diz respeito a um conjunto tão vasto de variáveis, que vão desde: o professor, ao diretor de turma, à escola, ao aluno, ao pai, à mãe, ao conjunto de alunos e conjunto de pais, à câmara municipal, e até mesmo aos empregadores da zona de localização da escola - não pode ser de repente compactado, simplificado e personificado na pessoa única de um professor. Dizer-se coisas como as ditas abaixo, não é apenas atirar areia para os olhos, é prestar-se à destruição do que se tem.
"I believe that that mindset has to be completely flipped on its head [professores], and unless you can show that you're bringing positive results for kids, then you cannot have the privilege of teaching in our schools and teaching our children." Michelle Rhee, Directora das Escolas Públicas do Distrito de Columbia, EUA
Digo atirar areia, porque numa primeira análise parece correto o que Rhee diz sobre os professores, quando comparados com alguém que trabalha numa fábrica, seja operário, engenheiro ou gestor. O problema coloca-se quando se colocam as variáveis a trabalhar em cima da mesa, e verificamos que aquilo que é pedido a um professor, não é de forma alguma passível de ser colocado na mesma balança daquilo que é pedido a um engenheiro de software por exemplo. Isto porque o objeto de trabalho do professor, que é o aluno, não é um standard, não tem regras fixas. Eu não programo a mente de um aluno com o recurso a uma linguagem formatada, posso tentar mas o grau de sucesso que obterei se seguir essa via padronizada, sem ter em conta as especificidades do ser humano que se encontra na minha frente, corre um grave risco de ser muito baixo.
Perceber o que está em causa quando falamos de objetos de trabalho - um ser humano face a uma aplicação informática, ou uma máquina, ou um lote de terra - apesar de parecer evidente as diferenças, não é fácil compreende-las. Isto porque apesar das diferenças existentes temos direito a expectativas e quando compramos um computador novo ou um carro novo esperamos que ele funcione a 100%, que o computador não crash no dia seguinte ou que o carro não me deixe a pé na auto-estrada. Por isso é natural que um pai ou uma mãe quando coloca um filho numa escola tenha também as suas expectativas, e que essas passem por ver o seu filho tirar boas notas, e vê-lo progredir ao longo da escola. Isto quer dizer que à partida um professor deveria ser capaz de pegar num aluno e meter dentro da cabeça dele os conhecimentos necessários para ele chegar ao exame e tirar 20, os tais 100%. Mas todos sabem o quão diferente da realidade isto é, e quantas nuances existem no caminho de um aluno para ele atingir esses resultados." ver texto completo.
Isto que aqui ouvimos por Nuno Crato é o discurso anglo-sáxonico da educação industrializada em contra-corrente com o antigo discurso da escola francesa para as elites. Que é plausível aos nossos ouvidos, parece moderno, mas é evidente que que quem o professa ainda não se deu conta que já estamos noutro estágio para além dessas teorias anglo-sáxonicas. Aliás sobre este suposto modernismo vejam um vídeo de Alvin Totfler e da sua mulher aquando da sua visita a Portugal em 2008. E já agora o artigo de ontem, 27 Junho 2011, do James Gee para o The Huffington Post que fala deste modelo também.




Nem tudo o que o Nuno Crato aqui diz é mau, existem algumas coisas com as quais concordo bastante.

1 - Dar autonomia aos professores para definir o método
Sem dúvida, sem dúvida. O ME não deve, nem pode ser para aqui chamado. O professor precisa de encontrar o melhor método em face da turma que tem. Não pode estar preso por correntes ideológicas do melhor modo de o fazer.

2 - Aumentar os níveis de responsabilidade
Sem dúvida, dos alunos, dos pais, da escola e claro dos professores também. Com a autonomia vem a responsabilidade de prestar contas. Mas atenção que o prestar contas não pode ser feito com meras tabelas de avaliação ISO.
"In the U.S., they treat teachers like pizza delivery boys and then do efficiency studies on how well they deliver the pizza." Dan MacIsaac, Prof. Associado de Física, da State University of New York, após ter passado 2 meses na Finlândia a avaliar o sistema educativo.
3 - Aumentar o investimento do ensino profissional
Sem dúvida, uma das necessidades mais urgentes do nosso país. Não podemos continuar a pensar que as pessoas estão todas preparadas de igual modo para suportar a escola como ela é tradicionalmente. Nem todos se conseguem sentar horas a fio a ouvir e a ver, e por isso se queremos que estas pessoas possam fazer mais no seu e no futuro do país, temos de lhes dar outros modos de construir o seu e o nosso mundo.
Não é possível acreditar que todos os alunos sem excepção podem andar 12 anos para trás e para a frente, sem gostar do que fazem. Quando ainda por cima estas pessoas atingem nesta fase o auge da sua existencialidade, e de toda a sua dúvida. Não são adultos com filhos a quem dar de comer, que se dobram à vida para obter o pão a cada dia. São pessoas em crescimento e formação com muitos sonhos, que a qualquer momento preferem dar um pontapé, em algo que nada lhes diz. Numa idade em que por mais que se tente abrir conceptualmente a sua visão, o seu sistema cerebral não está ainda preparado para projetar um futuro a 20, 10, nem 5 anos, em que o imediato sai sempre vencedor. E se o imediato for ganhar umas coroas no McDonalds e poder fazer a sua vida, é isso que fará, saindo da escola com um 8 ou 9º incompleto que nada lhe trouxe em termos de competências para a vida.


Uma última nota, é para fazer das palavras de António Nóvoa (vídeo acima minuto 32:45) as minhas também. No estado em que o país está, acho que devemos agradecer a todos os que aceitaram encarar de frente esta tarefa de ser Ministro em 2011. E por isso as críticas que aponto são num sentido meramente construtivo, opinativo, mas no fundo o que desejo é que o Nuno Crato consiga fazer o melhor ao seu alcance.

junho 26, 2011

a Filosofia do espaço virtual

Aqui há uns tempos deixei aqui um texto a propósito do belo na matemática, hoje acedo pela outra extremidade, a da filosofia. Não propriamente para falar da questão do belo enquanto lógica, mas antes para falar do modo como organizamos conceptualmente a ideia do virtual, dos mundos virtuais e dos seus avatars.


Para o fazer vou apresentar um projeto interessantíssimo desenvolvido por Luís Petry "Labirinto Artístico-Filosófico 1260". Antes de entrar na obra devo dizer que Luís Petry é investigador e professor na área das Tecnologias da Inteligência e Design Digital na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Com formação em Filosofia Hermenêutica e doutorado em Comunicação e Semiótica, trabalha no Núcleo de Pesquisa em Hipermídia e Games da PUCSP. Agora podem perceber porquê uma apresentação da pessoa por detrás da obra, porque só alguém com este perfil poderia produzir um objeto digital para nos indagar tão profundamente, e questionar não só sobre a obra tratada, como sobre a nossa visão de todo um campo criativo. Além de toda a profundidade teórica subjacente à obra, Petry foi ele mesmo o criador do artefacto fazendo uso do Unity 3d.


Labirinto Artístico-Filosófico 1260 leva-nos por entre um mundo virtual, questionando-nos sobre a interação do pensamento e o seu mapeamento num espaço tridimensional interativo. Seguindo uma estrutura labiríntica vai-nos lançado sobre imagens, textos e geometrias que nos instigam a desvelar o sentido do pensar. A racional do projeto é apresentada com base em conceitos de lógica, que se cruzam com ideias do universo matemático. Aliás Petry tinha mesmo definido uma nova abordagem aos espaços tridimensionais no seu doutoramento, a Topofilosofia (2003) e que neste projeto ganha forma. Dizia ele em texto,
"Como manifestação, a hipermídia, tal como a arte, organiza um corpus que se integra na historicidade da formação propiciada pela tradição. Como interrogação, a hipermídia atravessa os abismos de incertezas que rondam o espírito humano, construindo um espaço de mútuo questionamento: de um lado colocando questões ao ser do homem e, de outro, enunciando-se como pertencente ao universo daquele como uma de suas manifestações. Trata-se aqui da estrutura de um jogo, no qual o sentido do jogar é ser jogado se dispõem no livre e aberto que propicia o habitar (entorno), enquanto linguagem viva (interatividade). E esta estutura de jogo, como já observamos anteriormente, se organiza numa estrutura de pensamento topológica, na qual a torção se constitui em sua chave hermenêutica. Por isso, penso que deve-se retomar a observação hermenêutica sobre o pensar heraclitiano: o “pensar sobre o pensar possui em si algo de torcido e velado, em que e pelo que o pensamento se curva e se retorce sobre si mesmo, desistindo de seu caminho reto”"

Entretanto descubro agora que a obra Labirinto Artístico-Filosófico 1260 e o Luis Petry estarão em Portugal na 16ª Bienal de Cerveira em 2011. Será uma excelente oportunidade para discutir pessoalmente estas abordagens, e ideias da relação entre as nossas projeções exteriores e o modo como nos definimos no mundo.

Seguindo nesta senda pela descoberta do virtual no real, um projeto machinima recentemente realizado em Second Life, chamou a minha atenção. A sua componente estética brilha e dá suporte à toda a discussão em redor do fundamento do Avatar. Um filme que nos leva por entre uma viagem virtual em SL até à real India. "A Journey into the Metaverse" ganhou o primeiro prémio no, MachinimUWA III, 3º concurso de machinima organizado pela University of Western Australia, um prémio no valor de L$ 100,000. Vale a pena os 10 minutos, distendam-se, viagem e absorvam. Depois disto uma viagem pelo Labirinto interativo de Petry ganha todo um novo potencial de criação de conhecimento em nós.


junho 25, 2011

a beleza do contraste limite


Lee Jeffries coloca nas suas imagens a essência, a alma das pessoas que fotografa. A delicadeza recriada numa só imagem é quase insuportável de tão bela que é. Impressiona como se podem conseguir contrastes tão puros, tão perfeitos, tão limite. Um preto e branco que esconde uma parte do mundo e deixa apenas expressar-se aquilo que é importante. Aqui podem ver algumas fotografias, clicar e ampliar, mas aconselho vivamente a visualização em fullscreen do slideshow preparado por ele no Flickr.
Lee Jeffries (Manchester, UK) é contabilista de profissão, a fotografia é o seu hobby, do qual se orgulha por assim não ter de prestar contas profissionalmente pelas fotografias que faz. Começou por fotografar desporto, mas um encontro acidental com uma rapariga a viver na rua acabou por mudar o seu foco de interesse, e o modo como vê o mundo. Numa entrevista dada à Impose diz-nos,
"I don't know if any book or movie represents my point of view but I'm certainly influenced by them. Being self-taught, my instruction in photography comes from paintings, watching movies and documentaries depicting the world around me, in particular the human condition, seeing what other people have done, opening my eyes; If one person looks at any of my images and feels compassion, enough to maybe offer a helping hand the next time the opportunity presents itself, then the image counts."














Its hell out here...
 “I try to make an effort to keep clean and tidy” she said. “I use the facilities that the Christian organizations offer us, but seeing you, how clean you are makes me realize just how damn hard this is”
“I come from a rich family. I can’t go back there….but its hell out here for a woman” she went on to exclaim.
She broke down as she described what hell meant. Of course you can probably guess what she told me. Nobody wants to hear it. I can’t bring myself to type it."

junho 24, 2011

Drive (2010) de Daniel Pink


Daniel Pink é uma espécie de estrela americana da literatura não ficcional que trabalha temas como as alterações introduzidas pelas tecnologias da informação nos comportamentos sociais, nomeadamente as novas abordagens e as novas motivações. É um autor que anda na mesma órbita de Malcolm Gladwell, Chris Anderson, ou Stephen Dubner.

O primeiro trabalho que li dele foi A Whole New Mind (2006), um livro muito interessante sobre as alterações introduzidas pela globalização nas necessidades dos novos empregos na Europa e EUA. Uma discussão muito atual que discute como necessidade básica da nossa sociedade atual a inovação e a criatividade. Entretanto Daniel Pink lançou em 2010 Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us um livro completamente focado sobre o modo como funcionamos em termos de estímulos, sobre a motivação no trabalho e alguns dos seus mitos.

Em Drive, Daniel Pink vai tocar alguns aspetos que já discuti a propósito de The Element (2009) de Ken Robinson, nomeadamente a questão de que quando as pessoas são levadas a trabalhar em algo que é fruto da sua própria escolha, elas produzem muito mais, do que quando lhes chega como um pedido externo. Neste sentido Pink vai discutir o que motiva as pessoas no mundo atual, nomeadamente a diferença entre o pagamento de serviços e a cumplicidade ou reconhecimento. Vou aproveitar para deixar aqui alguns dos exemplos trabalhados por Pink e que encerram em si o foco do livro.

Num dos estudos apresentados, sobre a motivação de crianças para desenhar, criaram-se três grupos,

1 - A quem se prometeu um certificado para que desenhassem.
2 - A quem não se prometeu, mas se deu um certificado por terem desenhado.
3 - Um grupo a quem não se prometeu nada, nem se deu nada.

O primeiro grupo, assim que se retirou a variável do certificado deixou de achar piada a desenhar, e aos poucos acabou por deixar de desenhar. Por outro lado os outros dois grupos, continuaram a desenhar. O que aconteceu foi que se transformou aquela atividade auto-motivada, numa atividade de trabalho. O pior impacto disto, foi que se destruiu a autonomia das crianças do primeiro grupo, porque passaram a ficar dependentes de alguém lhes dizer o que fazer e quando fazer. A motivação intrínseca, ou auto-motivada, foi exteriorizada, ou substituída por um estimulo externo. 
“Try to encourage a kid to learn math by paying her for each workbook page she completes—and she’ll almost certainly become more diligent in the short term and lose interest in math in the long term.”
Assim Pink diz-nos que no curto termo, podemos levar as pessoas a alterar os seus comportamentos. Mas no longo termo isto conduzirá à destruição da autonomia das pessoas, ou seja à destruição da motivação auto-motivada. O grande problema é que para produzirmos grandes obras, para trabalharmos sobre o nosso elemento, descobrimos aquilo que nos move, temos de possuir esta funcionalidade intacta, se esta for corrompida, podemos estar a comprometer o futuro destas crianças.


Segundo Pink as recompensas extrínsecas funcionam para o ser humano como objetivos a atingir, e estes são do pior que pode existir para um trabalho ético. Os objetivos atravessam-se na frente, e levam a que os atletas se dopem, que os alunos façam cábulas, que os economistas façam trafulha nas contas, que uma empresa em função de um deadline descure critérios de qualidade. Os objetivos são geradores de atalhos para atingir os fins. As coisas deixam de ser intrinsecamente motivadas, e passam a estar motivadas por algo externo, sendo então esse algo externo (objetivo) que é preciso atingir a todo o custo.

Deste modo Pink apresenta-nos as recompensas como viciantes em termos de psicologia humana. Dar um caramelo a um filho para levar o lixo, fará com este da próxima vez exija o mesmo caramelo para voltar a levar o lixo. A pessoa passa a assumir aquela tarefa como desprovida de valor, e que precisa de ser recompensada para ser realizada. Com o passar do tempo, e à semelhança de qualquer adição, será preciso pagar cada vez mais, dar mais recompensa para que a pessoa faça a mesma coisa.


Estas são algumas das essências discutidas no livro, fundamentadas com vários estudos. Para abrir o apetite fica uma palestra que Daniel Pink fez na RSA, dessa palestra foi criado um pequeno vídeo de ilustração das principais ideias. Este vídeo tornou-se entretanto no vídeo mais visto da coleção de vídeos ilustrados da RSA, com quase 6 milhões de visualizações.