junho 15, 2011

The Tiny Bang Story (2011)


"The Tiny Bang Story" é um jogo indie criado pela Colibri Games, um estúdio russo composto por duas pessoas, Dmitry Sannikov (programador) e Eduard Arutyunyan (artista). The Tiny Bang Story é o seu primeiro jogo de aventura para PC/Mac e que está a caminho do iPad.


Posso dizer que o jogo emana delicadeza, apresenta um ar de perfeição, de quem foi muito acarinhado até chegar ao público. Os puzzles e os objetos escondidos são apresentados sob um mundo desenhado à mão, acompanhado por uma subtil e calma música de fundo construindo toda uma atmosfera de grande beleza. Tudo o que tocamos e reage, movimenta-se de um modo suave, delicado e belo recompensando o nosso investimento, momento a momento.


O jogo e os seus puzzles retém facilmente a nossa atenção, e o facto de não existir limite de tempo, cria uma sensação de liberdade exploratória muito na onda de Myst (1993). Passear pelo jogo é uma verdadeira delícia.


Existe um outro jogo recente que foi capaz de criar este mesmo conjunto de sensações, e é interessante que a dupla o refira como a sua principal fonte de inspiração. Falo de Machinarium (2010) um outro jogo indie, também belíssimo, de aventura point-and-click criado pela Amanita Design da República Checa. Para além de Machinarium os Colibri Games referem ainda no campo visual uma forte influência da pintura clássica de paisagem Holandesa.

View of Haarlem with Bleaching Grounds (1665) de  Jacob van Ruisdael

A jogar, recomendado vivamente, embora se termine rapidamente e nos faça sentir aquele vazio próprio do brinquedo que nos foi retirado.

junho 13, 2011

genialidade criativa no genérico da OFFF 2011

O genérico criado pela PostPanic para a OFFF 2011 define na perfeição aquilo que eu poderia chamar de "poder da genialidade criativa". É a força bruta da estética que não dá um segundo de sossego à nossa sensibilidade. Que nos estimula, nos massaja, nos obriga a sentir. Em uma palavra, inglesa porque não temos tradução, é simplesmente "mindblowing".


Um trabalho escrito por Mischa Rozema e Si Scott que reflete a sua visão distopica do mundo. Realizado por Mischa Rozema na cidade de Praga, o filme guia o espetador através de um cenário sobre o qual vamos vendo os nomes dos artistas, que estiveram presentes este ano na OFFF, totalmente embebidos no mundo.
“We knew we wanted to make something that would unsettle and menace the audience. It was always going to be dark but also highly aesthetic. This project has filled our spare hours for the past 6 months and it is incredibly satisfying to work on something that we were given complete creative freedom on – that’s a rare luxury these days.” Mischa Rozema

Aqui fica,



junho 12, 2011

Cursos Superiores de Videojogos em 2011

A propósito do texto que escrevi esta semana para a Eurogamer resolvi fazer uma ronda sobre as atuais ofertas do superior na área dos videojogos e foi com agrado que descobri algumas novidades. O ensino de videojogos em Portugal é cada vez mais uma aposta das instituições de ensino superior. Os dados são claros, em 2010 criámos quase um quarto de toda a produção gerada nos últimos 25 anos. Desse modo percebe-se o aumento da procura por este tipo de formação.


Assim a novidade é a existência de mais uma formação de 1º ciclo que abriu agora na Universidade Lusófona, Licenciatura em Aplicações Multimédia e Videojogos, pelas mãos da colega Patrícia Gouveia editora do blog Mouseland e autora do livro "Artes e Jogos Digitais, Estética e Design da Experiência Lúdica".
Esta é a 4ª licenciatura em Portugal de videojogos, mas a primeira por uma Universidade, uma vez que até agora apenas os politécnicos pareciam ter descoberto esta lacuna: IPCA (Barcelos), IPB (Bragança) e IPP (Portalegre).


Ao nível do 2º ciclo a oferta é mais escassa e a única de momento, inteiramente pensada com base no discurso dos jogos digitais, é o Mestrado em Media Interativos da Universidade do Minho que vai também iniciar este ano a sua primeira edição. Como diretor desta oferta devo lembrar a quem estiver interessado que as inscrições para a 1ª fase terminam já esta terça-feira, dia 14 de Junho.

Toda esta informação está compilada e vai sendo atualizada na página dedicada ao Ensino de Videojogos da Sociedade Portuguesa de Ciências dos Videojogos.

Livro: "O Clube de Cinema"

“Um pai, um filho, três filmes por semana”

É um livro poderoso e comovente, com um target definido por pais de filhos pré-adolescentes e adolescentes. Todos o deviam ler. São coisas que não nos ensinam na escola, são coisas que verdadeiramente não podem ser ensinadas.


Como educar um filho com 15 anos? O que fazer quando este claramente não se encaixa e não gosta da escola? Como comunicamos com essa pessoa? O que lhe podemos dizer? Como chegamos até ele? O livro de David Gilmour é autobiográfico e por isso está muito longe de poder funcionar como um manual de respostas. É antes uma memória, e o título original faz-lhe jus “The Film Club: A Memoir”. Como tal aparece-nos como um relato de vida, um relato sobre a cumplicidade criada durante três anos entre um pai, crítico de cinema, e um filho de 15 anos.


A comunicação entre o adulto e o adolescente acontece pela via do cinema. O pai vai permitir que o seu filho deixe de estudar aos 15 anos, no final do 9º ano, com uma condição apenas: que este veja consigo três filmes por semana.


Ler este livro pode bem funcionar com um sopro de energia na vida de muitos que se interrogam sobre o futuro dos seus filhos. Que sofrem com a incompreensão natural de ver crescer alguém a quem amam mais do que a própria vida. Mas também de muitos que se interrogam sobre o que estamos cá a fazer. Será que perder um ano na caminhada de estudante é assim tão mau? E se forem três?


Para podermos apreciar completamente o livro, ter conhecimento dos filmes que vão sendo descritos intensificará a experiência. Não os ter visto pode ter um lado bom, levar-nos a fazer uma pausa para ir ao vídeo-clube buscar o filme. Que mais se pode desejar de um romance? Um livro que nos ensina tanto sobre arte, e sobre a arte da vida.


O Clube de Cinema é um hino à vida, mas é também um hino à forma de arte do cinema, e uma autêntica demonstração das capacidades desta arte como media. Se dúvidas houvesse entre saber se o cinema é uma arte ou um media, aqui fica, sem margem para dúvidas, que é ambos, e que o é de corpo inteiro.


PS: Opto deliberadamente por não identificar os filmes nas imagens deste texto para que possam partir à descoberta. Todos são mencionados no livro.

junho 11, 2011

Bird, uma pequena pérola visual

Bird (2011) é um trabalho de estudante que de tão ambicioso resultou em algo que poderia perfeitamente ter sido feito por qualquer grande estúdio. É o projeto de dissertação de Mestrado em Efeitos Visuais de Jon Balcome para o Savannah College of Art and Design. Conceptualizado, realizado e com grande parte dos efeitos visuais criados por si, conseguiu ainda liderar uma equipa de 40 colegas e técnicos.


Com apenas 4 mil dólares mas fazendo uso dos recursos da Universidade, não apenas as 40 pessoas, mas todo o material audiovisual e informático assim como as licenças para os pacotes de software: Autodesk Maya 2011 (Mental Ray), Nuke 6.1, After Effects, Photoshop, PFTrack, ZBrush, BodyPaint 3D conseguiu produzir uma pequena pérola audiovisual.


A qualidade visual do filme não será alheia à formação prévia de Balcome que é licenciado em Design Gráfico pela University of South Carolina. Podemos dizer que o filme é uma força de coerência gráfica fazendo um uso magistral da cor, textura, e iluminação. Balcome refere como referência fundamental para a criação conceptual, Jean-Pierre Jeunet, criador de Delicatessen (1991) e de Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (2001).

"His [Jean-Pierre Jeunet] use of color pallets and camera angles are very rarely rivaled in other films. In the beginning I planned on following his color palettes which are extremely warm, but as the production forward I decided to alter that slightly in certain scenes to make things much cooler."

No fundo esta sua alteração correspondia ao seu desejo de introduzir o Stemapunk como nos diz a seguir,

"I also wanted to implement a bit of the sub-genre, “Steampunk” into the art direction. I have always been fascinated with its intertwining of technology and alternate history. It gives the look and feel of a Victoria clothing style mixed with beyond-its-time technology. It really fit my color pallet perfectly, and storyline for that matter as well."

Em termos de movimento das placas na cabeça nota-se uma clara sincronia entre estas e a linguagem corporal dos actores, e a isso também não será alheio o trabalho de investigação levado a cabo por Balcome

"I did a lot of studying on human anatomy while designing the head extensions so I would better understand how the human muscular system worked. This helped a lot when deciding what part of the body I could replace. I knew all along that I wanted to do something with the head or face because of the dramatic effect it would have on the viewer. I also knew that there would be certain limitations to what I could achieve in the time frame I had because of the complications of matching the movement of muscles in certain areas. By researching the way the body moved I learned, most importantly, what not to attempt. This is why I ultimately chose to use the back of the head. The back of the skull (visually speaking) has the least muscular dependency of any part of the body. There are basically no major muscles that I would have to deal with flexing or relaxing and I could still achieve the look and feel I wanted"

Aqui fica o filme,




e agora a desconstrução dos efeitos visuais



Muito mais informação pode ser encontrada no site da obra.

Filmes de Maio 2011

Mais um mês que passou com muito pouco tempo para ver cinema, ainda assim alguns filmes provocantes como L'Âge des Ténèbres de Arcand e Tropa de Elite 2.

xxxx Tropa de Elite 2 2010 José Padilha Brasil Drama

xxxx Secret Origin: The Story of DC Comics 2010 Mac Carter USA Documentary

xxxx L'âge des Ténèbres 2007 Denys Arcand Canada Drama

xxxx The Wind That Shakes the Barley 2006 Ken Loach Ireland drama

xxx The Town 2010 Ben Affleck USA Thriller

xxx Le Refuge 2009 François Ozon France Drama

xx Orphan 2009 Jaume Collet-Serra USA Horror

xx R.T.T. 2009 Frédéric Berthe France Comedy

xx Whatever Works 2009 Woody Allen USA Comedy

x Ce soir, je dors chez toi 2007 Olivier Baroux France Comedy



[Nota, Título, Ano, País, Realizador]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

Arte dos videojogos emoldurada na E3 2011


Criado em 2004, Into the Pixel, é um evento que pretende elevar a arte gráfica produzida pelos artistas da indústria dos videojogos ao nível das galerias de arte. Todos os anos um jury (2011) internacional de curadores de museu, galeristas, professores, artistas e veteranos das artes interativas são chamados a pronunciarem-se sobre arte submetida por artistas de videojogos de todo o mundo.
O Into the Pixel foi criado pela Entertainment Software Association (ESA), a Academy of Interactive Arts & Sciences (AIAS) e a Prints and Drawings Council of the Los Angeles County Museum of Art (LACMA).

Paper World de Say Oh e Damian Kim  para o jogo "Paper World" da Namco Bandai Games em exibição na E3 2011.

Das centenas de submissões foram escolhidas apenas 17 obras que entretanto estiveram em exibição esta semana na E3 2011 em impressões de grande formato e vão agora percorrer os EUA. Julgo que em outros anos tivemos melhores seleções, ainda assim é uma seleção muito boa e que para ser apreciada precisa de ser vista em grandes dimensões. As imagens no site do evento não lhe fazem jus de todo. Quero destacar também que, e ao contrário da imagem que se tem dos jogos casuais, mais ligados ao lado formal do gameplay e menos à arte visual ou narrativa, na lista de 17 jogos estão três de jogos da Big Fish Games. A Big Fish para além de servir de plataforma de distribuição à corrente de jogos casuais e independentes produz ainda alguns jogos. 
Dos 17 escolhi aquelas que mais me impressionaram este ano. São três obras, uma magnífica cena de noite comercial ilustrada por Ben Lo para BioShock Infinite, um palco de sonhos e pesadelos de criança criado por Brian Thompson e Hamzah Osman para Drawn: Dark Flight, e finalmente um magnífico trabalho de caraterização de Matt Rhodes para Dragon Age 2.


Market Fire, Columbia (Shop Sweeper) de Ben Lo, para o jogo "BioShock Infinite" da Irrational Games


 The Dragon Play de Brian Thompson e Hamzah Osman para "Drawn: Dark Flight" da Big Fish Games


 Flemmeth de Matt Rhodes para o jogo "Dragon Age 2" da BioWare

junho 03, 2011

Baz Luhrmann, o esteta

Kees van Dijkhuizen é o autor da [cinema series], a tradicional montagem de fim de ano com inúmeros excertos dos filmes que saíram ao longo do ano em questão. Dijkhuizen decidiu agora iniciar uma nova série dedicada aos seus realizadores preferidos, denominada [thefilmsof] que trabalha autores como Sofia Coppola ou David Fincher.
Escolhi a montagem de Baz Luhrmann, por este ser um esteta, "pessoa que aprecia e pratica o belo como valor essencial". Deixo abaixo algumas das imagens representativas dessa qualidade e de seguida a montagem de van Dijkhuizen.













maio 31, 2011

Jogo criado por criança de 5 anos

É uma história fantástica. Um pai dedicado decidiu levar a sua filha, de 5 anos apenas, ao TOJam, um festival de criação de videojogos, de 3 dias, em Toronto. O resultado foi um jogo quase inteiramente criado por uma miúda de 5 anos.

Cassie Creighton e Ryan Henson Creighton

Sissy’s Magical Ponycorn Adventure é um jogo em Flash, com ilustração, tipografia, vozes e alguma música (harmónica) de Cassie Creighton, que conseguiu ainda desenhar um dos puzzles do jogo.


A aventura teve os seus problemas porque a própria organização estava um pouco relutante em ter uma criança de cinco anos a circular por ali a incomodar quem estivesse a trabalhar. Por outro lado poderia cansar-se rapidamente do evento e querer vir embora. Mas segundo o pai, para Cassie, estar na TOJam foi como se estivesse no dia de Natal. Depois de horas lá dentro a desenhar e a criar, ainda teve de ser o pai a obrigá-la a ir para a cama no final do primeiro dia.


Esta é uma história muito interessante porque demonstra o quão criativos e ativos nascemos, e o quão podemos aproveitar de tudo isto se tivermos as pessoas certas ao nosso lado. E isso fica bem espelhado nos escritos do pai quando diz,
In all of this, our goal as parents is to give our kids the kind of childhood we would KILL to have had. I can’t imagine how different my life would have been if i had made a real working video game with my father at age 5.
Entretanto o feito teve tanto sucesso que os organizadores do festival decidiram colocar um link direto para o jogo na entrada da página do próprio festival com a seguinte menção "Finding Ponycorns". 

Podem jogar agora.