Eduardo Sá discute a violência e os videojogos numa entrevista dada ao programa de televisão Falar Global, e surpreende. Consegue apresentar um discurso refrescante sobre a temática, que vale a pena ouvir com atenção. São dez minutos, mas valem todos os segundos, nomeadamente para todos os que trabalham na área dos videojogos, jornalistas, criadores, académicos mas também para todos os pais.
Eduardo Sá é doutorado em Psicologia clínica pela Universidade de Coimbra e professor no Instituto Superior de Psicologia Aplicada em Lisboa. Além disso é um psicólogo nacional bastante reconhecido no campo da psicologia infantil. Publicou livros como A vida não se aprende nos livros, Más maneiras de sermos bons pais, Psicologia do feto e do bebé, ou Esboço para uma nova psicanálise. Os seus discursos são por vezes recebidos com alguma reticência, porque é alguém que acredita profundamente na competência do Brincar para nos ajudar a construir aquilo que somos. Nesse sentido é muito normal ver Eduardo Sá defender o brincar em vez da realização dos trabalhos de casa como faz aqui.
O Brincar é assumido pela sociedade atual com algo desinteressante e por vezes mesmo irrelevante, pela simples razão de que é natural e espontâneo, mas mais ainda porque aos olhos do senso comum, é uma atividade sem qualquer resultado palpável. Nesse sentido enquanto sociedade criámos demasiadas regras para cortar com essa espontaneidade, e assim conduzir as pessoas a serem, aparentemente, mais produtivas. Aliás isto pode ser visto em artigos como o dos Jogos Estúpidos escrito pela revista Sábado no ano passado. Jogar Angry Birds é visto pelos especialistas do senso comum, como um mero vício sem sentido, porque "nada" se ganha enquanto se joga.
Não valendo a pena perder muito tempo com discursos fundamentalistas sobre o que devemos ou não devemos fazer, aproveito para transcrever algumas das frases que são ditas na entrevista e que acho que valem os 10 minutos que dura a entrevista. Para verem a entrevista precisam de ir ao site do Falar Global.
"A agressividade é um equipamento de base da natureza humana e portanto faz bem à saúde… "
"Quanto menos brincarmos com a agressividade mais violentos nos tornamos."
"O que eu gostava que os pais definitivamente percebessem, é que não há maneira de um jogo ou vários jogos transformarem uma criança saudável num adolescente violento."
"Nós já vimos o super-homen a voar, mas não vamos saltar de uma janela para começar a voar. Subestimamos demasiado as crianças"
"É bom que percebam que isto [violência] vem mais de dentro deles para o jogo, do que do jogo para eles... O fator que faz a diferença, é individual."
"Eu tornava os jogos obrigatórios. Brincar é um património da humanidade."
"Nesta ânsia de escolarizar de uma forma quase absurda, nós não estamos a potenciar aquilo que nós construímos. Para os pais é bom que fique claro, é obrigatório brincar todos os dias. Brincar não é uma atividade de fim-de-semana."
janeiro 14, 2013
Toy Story em imagem real
Foi lançado na rede um remake completo de Toy Story (1995) em imagem real criado através dos bonecos de merchandising, fios de pesca, arames, stop-motion, chroma-keying, e muita, muita dedicação. O filme foi criado por Jonason Pauley de 21 anos e Jesse Perrotta de 19, ambos do Arizona, EUA. O remake é quase perfeito, plano a plano, durante 1h20m, impressionante.
Live Action Toy Story (2013) demorou dois anos a criar, o que só por si demonstra todo o empenho depositado por estes dois rapazes. Existe quem fale em obsessão ou fanatismo. Eu vejo para além disso, e encontro aqui algo excepcionalmente bom. Ao fazerem isto, estes dois rapazes criaram algo que é uma obra deles, ainda que sendo um remake completo do filme, está carregado do seu empenho e motivação pessoal. Mas além disso, o trabalho que tiveram durante dois anos está longe de ter sido em vão. Para o fazer tiveram de aprender muito, mas mesmo muito sobre a linguagem cinematográfica, sobre animação, sobre visualização de ideias, sobre a criação de cenários, etc. etc. e o mais interessante é que o fizeram sem se terem dado conta disso. Através de um simples projecto tiveram a oportunidade de aprender mais do que se tivessem apenas escolhido fazer uma cadeira semestral teórico-prática de cinema.
O filme foi lançado ontem no YouTube e já conta com mais de 1 Milhão de visualizações. Mas antes de o fazerem resolveram ir à Pixar mostrar o filme e receber uma espécie de aprovação do estúdio, para evitar que pudessem ser atacados em termos de direitos de autor.
Sobre o potencial criativo do merchandising, e especialmente o do Toy Story já aqui tinha falado anteriormente. Aproveito no entanto para deixar algumas imagens cá de casa, como homenagem à dedicação colocada na construção deste filme.
Live Action Toy Story (2013) demorou dois anos a criar, o que só por si demonstra todo o empenho depositado por estes dois rapazes. Existe quem fale em obsessão ou fanatismo. Eu vejo para além disso, e encontro aqui algo excepcionalmente bom. Ao fazerem isto, estes dois rapazes criaram algo que é uma obra deles, ainda que sendo um remake completo do filme, está carregado do seu empenho e motivação pessoal. Mas além disso, o trabalho que tiveram durante dois anos está longe de ter sido em vão. Para o fazer tiveram de aprender muito, mas mesmo muito sobre a linguagem cinematográfica, sobre animação, sobre visualização de ideias, sobre a criação de cenários, etc. etc. e o mais interessante é que o fizeram sem se terem dado conta disso. Através de um simples projecto tiveram a oportunidade de aprender mais do que se tivessem apenas escolhido fazer uma cadeira semestral teórico-prática de cinema.
Live Action Toy Story (2013) de Jonason Pauley e Jesse Perrotta
O filme foi lançado ontem no YouTube e já conta com mais de 1 Milhão de visualizações. Mas antes de o fazerem resolveram ir à Pixar mostrar o filme e receber uma espécie de aprovação do estúdio, para evitar que pudessem ser atacados em termos de direitos de autor.
Sobre o potencial criativo do merchandising, e especialmente o do Toy Story já aqui tinha falado anteriormente. Aproveito no entanto para deixar algumas imagens cá de casa, como homenagem à dedicação colocada na construção deste filme.
janeiro 13, 2013
CREATE: concurso da OUYA e Kill Screen
Os criadores e financiadores da OUYA juntaram-se à redacção do Kill Screen e criaram um concurso, CREATE, do tipo game jam, para o qual existem 45 mil dólares em premios. A entrega de protótipos começa amanhã, a 14 de Janeiro e segue até dia 23 Janeiro 2013.
Os concorrente precisam apenas de criar um protótipo jogável do jogo, e um vídeo no YouTube sobre o jogo. Todos os candidatos e vídeos serão apresentados, e a 11 de Janeiro serão apresentados os Finalistas. Os vencedores serão oficializados a 18 de Fevereiro 2013. Os prémios incluem 20 mil dólares para o primeiro lugar, mais 5 mil caso consiga lançar o jogo finalizado na OUYA, e ainda 5 mil para cada um dos vencedores de cada uma das cinco categorias: "Most Surprising; Four Bright Buttons and Two Joysticks; Most Immersive; Best Couch with Friends; Pop Your Eyes Out"
As escolas dos premiados serão reguladas segundo três parâmetros: 1) Subjetividade do júri abaixo: 2) O suporte da comunidade (i.e., YouTube likes, Tweets, Facebook likes); 3) O melhor uso do potencial da OUYA.
Felicia Day -- Creator, The Guild
Adam Saltsman -- Creator of Canabalt (itself conceived in a game jam!), Hundreds
Phil Fish -- Creator of Fez
Alexis Madrigal -- Columnist, Atlantic Monthly
Austin Wintory -- Grammy-nominated composer, Journey
Ed Fries -- Co-creator, Xbox; OUYA advisor
Joanne McNeil -- writer, former editor, Rhizome (The New Museum)
Zach Gage -- Interactive artist; Creator of SpellTower
Um aparte ao concurso. Discordo da apresentação do concurso, que tenta subverter a ideia do valor criado pelo indivíduo, do valor de autoria, de expressão de uma visão pessoal do mundo. Sei bem que é feito para seguir o espírito da OUYA, mas é ridículo.
For much of human history, creating a new work of art has been a closed process… That's all changing. A new generation of independent gamemakers all around the world are embracing openness. From impromptu hackathons, to Kickstarted projects, to open beta testing and early build sales, game design is growing more transparent and accessible every day.
Mais ainda, quando eles depois não seguem o espírito da abertura na tomadas de decisão da avaliação dos jogos a concurso. Apenas um dos três parâmetros é dado à comunidade aberta para se manifestar, os restante ficam reservados à decisão do pequeno grupo que constitui o júri. O que eu não discordo, pois acredito que é esse o modo correcto de fazer. Não podem é tentar vender uma filosofia criativa para os outros, e depois aplicar outra para si próprios.
janeiro 12, 2013
Acções para a Felicidade
Trago um tópico que é normalmente mal visto pelas camadas intelectuais, porque durante séculos foi encarado como um tópico não sério, relegado pela academia por se enquadrar no âmbito do mero receituário de auto-ajuda. Nesse sentido é preciso perceber que o aqui exponho, é fruto de uma corrente recente das ciências sociais, que começou há pouco mais de uma década, sob a designação de Psicologia Positiva.
Os criadores desta corrente são Martin Seligman autor do conceito "desamparo aprendido" em 1967, de que já aqui falei, e Mihaly Csikszentmihalyi criador de conceito de Flow em 1990, conceito que uso bastante para explicar a experiência da interatividade. A ideia da Psicologia Positiva passa por procurar compreender como funcionam os processos mentais óptimos, ou seja procurar perceber o que contribui para a pessoa se sentir feliz. Porque segundo Seligman e Csikszentmihalyi (2000),
Dito tudo isto, o que trago são ideias emanadas de um movimento chamado Action for Happiness liderado por Richard Layard, que não é, nem psicólogo como Selligman e Csikszentmihalyi, nem Biólogo como Frans De Waal, mas é antes Economista da London School of Economic! Richard Layard, juntamente com Paul Krugman, foram recentemente responsáveis pelo A Manifesto for Economic Sense (2012). Actions for Happiness é no entanto um movimento enquadrado na corrente da Psicologia Positiva, procurando com base em estudos empíricos, lançar pistas (veja-se aqui as 10 Ideias Chave para Viver Mais Feliz) que ajudem as pessoas a optimizarem a suas vidas, a tornarem-se mais felizes.
As razões que fazem mover este movimento, são várias, mas essencialmente estão ligadas a vários estudos que mostram,
Evidências Empíricas sobre a Felicidade (fonte)
1 - Mitos materiais
"Economic stability has a large effect on the happiness of society, while long-term economic growth has little. Unemployment reduces happiness by as much as bereavement."
"Most people think that if they become successful, then they'll be happy. But recent discoveries in psychology and neuroscience show that this formula is backward: happiness fuels success, not the other way around. When we're positive, our brains are more motivated, engaged, creative, energetic, resilient, and productive."
"Being paid can detract from the pleasure of giving. For example, if people interested in giving blood are divided into two groups, one of which is paid if they give blood and the other is not, more of those who are not paid decide to give blood."
2 - A Natureza
"Empathy is a part of our nature. If a friend suffers an electric shock, it hurts in exactly the same point of the brain as if you yourself suffer an electric shock."
"In an experiment, individuals with a positive outlook were less likely to get flu when exposed to the virus."
"Our happiness influences the people we know and the people they know. Research shows that the happiness of a close contact increases the chance of being happy by 15%. The happiness of a 2nd-degree contact (e.g. friend's spouse) increases it by 10% and the happiness of a 3rd-degree contact (e.g. friend of a friend of a friend) by 6%."
"Positive emotions - like joy, interest, pride and gratitude - don't just feel good in the moment - they also affect our long term well-being. Research shows that experiencing positive emotions in a 3-to-1 ratio to negative ones leads to a tipping point beyond which we naturally become more resilient to adversity and better able to achieve things. The evidence linking an upbeat outlook to increased longevity is actually stronger than the evidence linking obesity to reduced longevity."
3 - Evolução recente
"The proportion of U.S.students who think that it is essential or very important to develop a meaningful philosophy of life has fallen from 65% in the 1960s to 45% today."
"Surveys of mental health in many countries show no improvement and in some cases worsening. In Britain the proportion of adolescents with emotional or behavioural problems is twice as high as in the 1970s."
4 - O que fazer
"The most important external factors affecting individual happiness are human relationships. In every society, family or other close relationships are the most important, followed by relationships at work and the community."
"Trust is a major determinant of happiness in a society. Levels of trust vary widely between countries. The percentage of people who say "Most people can be trusted" is only 30 per cent of people in the U.K. and U.S., compared to 60 per cent some 40 years ago. But in Scandinavia the level is still over 60 per cent, and these are the happiest countries too."
"Doing good is one of the best ways to feel good. People who care more about others are happier than those who care less about others. When people do good, their brain becomes active in the same reward centre as where they experience other rewards."
Os criadores desta corrente são Martin Seligman autor do conceito "desamparo aprendido" em 1967, de que já aqui falei, e Mihaly Csikszentmihalyi criador de conceito de Flow em 1990, conceito que uso bastante para explicar a experiência da interatividade. A ideia da Psicologia Positiva passa por procurar compreender como funcionam os processos mentais óptimos, ou seja procurar perceber o que contribui para a pessoa se sentir feliz. Porque segundo Seligman e Csikszentmihalyi (2000),
"A science of positive subjective experience, positive individual traits, and positive institutions promises to improve quality of life and prevent the pathologies that arise when life is barren and meaningless. The exclusive focus on pathology that has dominated so much of our discipline results in a model of the human being lacking the positive features that make life worth living.Devo dizer ainda que trago este artigo agora porque vem ainda no seguimento do meu texto anterior sobre as abordagens do FMI para Portugal (veja-se a primeira evidência dos Mitos Materiais no fundo deste artigo). Não sendo também a primeira vez que exponho estas ideias, já antes o tinha feito no caso da análise do livro da Arte da Empatia de Frans De Waal que explica como funciona o nosso sistema biológico. Aliás De Waal pretendia em parte com este livro dar uma resposta aos problemas dos comportamentos que conduziram à crise económica de 2007.
Dito tudo isto, o que trago são ideias emanadas de um movimento chamado Action for Happiness liderado por Richard Layard, que não é, nem psicólogo como Selligman e Csikszentmihalyi, nem Biólogo como Frans De Waal, mas é antes Economista da London School of Economic! Richard Layard, juntamente com Paul Krugman, foram recentemente responsáveis pelo A Manifesto for Economic Sense (2012). Actions for Happiness é no entanto um movimento enquadrado na corrente da Psicologia Positiva, procurando com base em estudos empíricos, lançar pistas (veja-se aqui as 10 Ideias Chave para Viver Mais Feliz) que ajudem as pessoas a optimizarem a suas vidas, a tornarem-se mais felizes.
10 Ideias Chave para Viver Mais Feliz (Action for Happiness)
As razões que fazem mover este movimento, são várias, mas essencialmente estão ligadas a vários estudos que mostram,
"The research shows that we need a change of priorities, both at the societal level and as individuals. Happiness and fulfilment come less from material wealth and more from relationships; less from focussing on ourselves and more from helping others; less from external factors outside our control and more from the way in which we choose to react to what happens to us."Se tiverem tempo, ouçam esta palestra de Richard Layard Sobre a Felicidade. Se não puderem, passem para lista abaixo de evidências que organizei em quatro grandes categorias a partir dos vários estudos realizados por este movimento e que demonstram porque as 10 Ideias Chave desenhadas por Layard são relevantes e fazem sentido.
On Happiness, Richard Layard, Conway Hall on Sunday 23 January 2011
Evidências Empíricas sobre a Felicidade (fonte)
1 - Mitos materiais
"Economic stability has a large effect on the happiness of society, while long-term economic growth has little. Unemployment reduces happiness by as much as bereavement."
"Most people think that if they become successful, then they'll be happy. But recent discoveries in psychology and neuroscience show that this formula is backward: happiness fuels success, not the other way around. When we're positive, our brains are more motivated, engaged, creative, energetic, resilient, and productive."
"Being paid can detract from the pleasure of giving. For example, if people interested in giving blood are divided into two groups, one of which is paid if they give blood and the other is not, more of those who are not paid decide to give blood."
2 - A Natureza
"Empathy is a part of our nature. If a friend suffers an electric shock, it hurts in exactly the same point of the brain as if you yourself suffer an electric shock."
"In an experiment, individuals with a positive outlook were less likely to get flu when exposed to the virus."
"Our happiness influences the people we know and the people they know. Research shows that the happiness of a close contact increases the chance of being happy by 15%. The happiness of a 2nd-degree contact (e.g. friend's spouse) increases it by 10% and the happiness of a 3rd-degree contact (e.g. friend of a friend of a friend) by 6%."
"Positive emotions - like joy, interest, pride and gratitude - don't just feel good in the moment - they also affect our long term well-being. Research shows that experiencing positive emotions in a 3-to-1 ratio to negative ones leads to a tipping point beyond which we naturally become more resilient to adversity and better able to achieve things. The evidence linking an upbeat outlook to increased longevity is actually stronger than the evidence linking obesity to reduced longevity."
3 - Evolução recente
"The proportion of U.S.students who think that it is essential or very important to develop a meaningful philosophy of life has fallen from 65% in the 1960s to 45% today."
"Surveys of mental health in many countries show no improvement and in some cases worsening. In Britain the proportion of adolescents with emotional or behavioural problems is twice as high as in the 1970s."
4 - O que fazer
"The most important external factors affecting individual happiness are human relationships. In every society, family or other close relationships are the most important, followed by relationships at work and the community."
"Trust is a major determinant of happiness in a society. Levels of trust vary widely between countries. The percentage of people who say "Most people can be trusted" is only 30 per cent of people in the U.K. and U.S., compared to 60 per cent some 40 years ago. But in Scandinavia the level is still over 60 per cent, and these are the happiest countries too."
"Doing good is one of the best ways to feel good. People who care more about others are happier than those who care less about others. When people do good, their brain becomes active in the same reward centre as where they experience other rewards."
janeiro 11, 2013
mais vendidos, menos criativos
Os 10 jogos mais vendidos nos EUA são todos sequelas, não existe um pingo de risco, inovação ou criatividade nesta tabela. Depois de ainda no ano passado o Short of the Week ter feito uma análise sobre a evolução do fenómeno das sequelas no cinema, podemos ver que o fenómeno extravasou o campo do cinema, e infestou completamente o domínio dos videojogos. Este é um fenómeno que à luz das novas correntes de transmedia merece um estudo em profundidade, com categorias de análise que se foquem sobre o social, o psicológico e o criativo.
Os 10 jogos mais vendidos nos EUA em 2012
E depois ainda me perguntam porque a minha lista de Melhores Videojogos de 2012 só tem jogos independentes, bem acho que aqui está a resposta sobre aquilo que a indústria nos tem dado. De tanto quererem ouvir os fãs, de quererem criar uma relação com os consumidores, criaram um ciclo vicioso de produção, sem qualidade, e que só poderá conduzir ao declínio da própria indústria.
[via The Guardian]
Os 10 jogos mais vendidos nos EUA em 2012
- Call of Duty: Black Ops II (360, PS3, PC, Wii U)
- Madden NFL 13 (360, PS3, Wii, PSV, Wii U)
- Halo 4 (360)
- Assassin's Creed III (360, PS3, PC, Wii U)
- Just Dance 4 (Wii, 360, Wii U, PS3)
- NBA 2K13 (360, PS3, Wii, PSP, Wii U, PC)
- Borderlands 2 (360, PS3, PC)
- Call of Duty: Modern Warfare 3 (360, PS3, Wii, PC)
- Lego Batman 2: DC Super Heroes (Wii, 360, NDS, PS3, 3DS, PSV, PC
- FIFA Soccer 13 (360, PS3, Wii, PSV, 3DS, Wii U, PSP)
E depois ainda me perguntam porque a minha lista de Melhores Videojogos de 2012 só tem jogos independentes, bem acho que aqui está a resposta sobre aquilo que a indústria nos tem dado. De tanto quererem ouvir os fãs, de quererem criar uma relação com os consumidores, criaram um ciclo vicioso de produção, sem qualidade, e que só poderá conduzir ao declínio da própria indústria.
[via The Guardian]
janeiro 10, 2013
autoria, criatividade e dedicação
Malaria (2013) é um trabalho de excepcional qualidade artística, no sentido em que inova no campo da linguagem cinematográfica e o faz com uma enorme competência técnica, contribuindo para toda uma coerência do artefacto que o eleva acima do mero experimentalismo.
Edson Oda diz-nos que se baseou no género cinematográfico Western, na criação de Malaria fazendo uso além do western de origami, time lapse, ilustração, e banda desenhada. Mas o filme não é apenas um multiplicidade de técnicas e efeitos, é muito mais do que isso, porque toda direcção de arte é extremamente coesa, contando com um guião que demonstra um enorme talento na escrita para audiovisual. Existe aqui uma muito clara noção de tempo e ritmo, e a música é fundamental para conduzir e enfatizar e emocionalidade de cena para cena, é soberbo. Percam cinco minutos e vejam, porque vale todos os segundos.
Edson Oda já tinha utilizado esta técnica, ou conjunto de técnicas, antes para fazer um pequeno filme, Writer (2012). Esse primeiro filme foi feito para submeter a um concurso patrocinado por Quentin Tarantino a propósito do seu último filme Django Unchained (2012). Oda submeteu e venceu, foi o escolhido por Tarantino, com quem pôde depois conversar em Los Angeles na Comic Con. Vejam o filme aqui abaixo.
Sobre Edson Oda ele é licenciado em Comunicação pela Universidade de São Paulo, e está a fazer o mestrado em Cinema na USC, Los Angeles. Mas não se pense que a técnica aqui desenvolvida caiu de um acto de inspiração. Antes de tudo isto, Oda já tinha trabalhado em publicidade no Brasil trabalhando em equipas que ganharam vários Cannes Lion, entre outros prémios individuais. Aliás antes de ganhar o concurso do Tarantino, já tinha ganho o prémio Melhor Filme de Estudante no Big Apple Film Festival 2010 e sido selecionado para o San Francisco Indie Film Festival 2010, com o filme, Laugh and Die. (2010). Podem ver aqui abaixo também.
Tinha ficado surpreendido com Malaria estreado agora em 2013, depois vi Writer estreado a meio de 2012 e percebi que tínhamos aqui alguém claramente talentoso no campo do storytelling. Mas depois de ver Laugh and Die de 2010 percebi que não era mero talento, mas pura dedicação, e paixão pelo que faz. Oda demonstra uma enorme evolução nas suas competências para usar o meio audiovisual. Laugh and Die está bem escrito, tem um bom actor, mas a parte visual está ainda um bocadinho tremida. Depois Writer melhora imensa no campo visual, mas continua a sofrer no campo sonoro, e depois vem com Malaria, e apresenta um filme poderoso em todas as frentes. Writer era uma espécie de diamante em bruto, mas Malaria traz-nos esse diamante completamente cortado e polido, capaz de brilhar em toda as suas faces.
Tarantino dizia ao jovens talentos aspirantes a realizador que "precisavam de encontrar a própria voz", de encontrar a sua identidade autoral. Julgo que aqui podemos já ver um bocadinho disso, reparem como todos os três filmes trabalham uma perspectiva de fantasia da morte. Para mim mais do que tudo, o que o seu trabalho demonstra é que continua a haver muito espaço para inovar e ser criativo no mundo do cinema.
Edson Oda diz-nos que se baseou no género cinematográfico Western, na criação de Malaria fazendo uso além do western de origami, time lapse, ilustração, e banda desenhada. Mas o filme não é apenas um multiplicidade de técnicas e efeitos, é muito mais do que isso, porque toda direcção de arte é extremamente coesa, contando com um guião que demonstra um enorme talento na escrita para audiovisual. Existe aqui uma muito clara noção de tempo e ritmo, e a música é fundamental para conduzir e enfatizar e emocionalidade de cena para cena, é soberbo. Percam cinco minutos e vejam, porque vale todos os segundos.
Malaria (2013), Edson Oda
Edson Oda já tinha utilizado esta técnica, ou conjunto de técnicas, antes para fazer um pequeno filme, Writer (2012). Esse primeiro filme foi feito para submeter a um concurso patrocinado por Quentin Tarantino a propósito do seu último filme Django Unchained (2012). Oda submeteu e venceu, foi o escolhido por Tarantino, com quem pôde depois conversar em Los Angeles na Comic Con. Vejam o filme aqui abaixo.
Writer (2012), Edson Oda
Sobre Edson Oda ele é licenciado em Comunicação pela Universidade de São Paulo, e está a fazer o mestrado em Cinema na USC, Los Angeles. Mas não se pense que a técnica aqui desenvolvida caiu de um acto de inspiração. Antes de tudo isto, Oda já tinha trabalhado em publicidade no Brasil trabalhando em equipas que ganharam vários Cannes Lion, entre outros prémios individuais. Aliás antes de ganhar o concurso do Tarantino, já tinha ganho o prémio Melhor Filme de Estudante no Big Apple Film Festival 2010 e sido selecionado para o San Francisco Indie Film Festival 2010, com o filme, Laugh and Die. (2010). Podem ver aqui abaixo também.
Laugh and Die, (2010), Edson Oda
Tinha ficado surpreendido com Malaria estreado agora em 2013, depois vi Writer estreado a meio de 2012 e percebi que tínhamos aqui alguém claramente talentoso no campo do storytelling. Mas depois de ver Laugh and Die de 2010 percebi que não era mero talento, mas pura dedicação, e paixão pelo que faz. Oda demonstra uma enorme evolução nas suas competências para usar o meio audiovisual. Laugh and Die está bem escrito, tem um bom actor, mas a parte visual está ainda um bocadinho tremida. Depois Writer melhora imensa no campo visual, mas continua a sofrer no campo sonoro, e depois vem com Malaria, e apresenta um filme poderoso em todas as frentes. Writer era uma espécie de diamante em bruto, mas Malaria traz-nos esse diamante completamente cortado e polido, capaz de brilhar em toda as suas faces.
Tarantino dizia ao jovens talentos aspirantes a realizador que "precisavam de encontrar a própria voz", de encontrar a sua identidade autoral. Julgo que aqui podemos já ver um bocadinho disso, reparem como todos os três filmes trabalham uma perspectiva de fantasia da morte. Para mim mais do que tudo, o que o seu trabalho demonstra é que continua a haver muito espaço para inovar e ser criativo no mundo do cinema.
janeiro 09, 2013
Educação: O Estado Somos Todos Nós
Já consegui ler o estudo do FMI - Rethinking The State—Selected Expenditure Reform Options, January 2013. É um artigo preconceituoso fundamentado numa visão do mundo como um Mercado, contra a natureza de um Estado Social. Neste caso específico contra uma nação que desenhou uma constituição em nome de todos, e não apenas em nome dos mais fortes, dos mais dotados, dos mais espertos. Todos os assuntos neste relatório - Saúde, Educação, Seg. Social - são discutidos partindo de um único pressuposto: o Privado faz melhor do que o Estado, porque as leis do Mercado (oferta/procura) são mais eficientes que as leis da Sociedade.
Aparte isto, identifico problemas ao longo de todo o relatório que passam pela tentativa de ler o país pelas estatísticas, sem tentar compreender de que são feitas essas estatísticas. Nomeadamente quando fala de Educação, que é o que conheço melhor, e compara com os outros países Europeus, esquecendo todo o historial do país em análise, tudo o que foi conquistado, nos últimos 20 anos, e nos últimos 10 anos.
Não se pode olhar para uma estatística e usar comparativamente sem interpretar o que ela quer dizer. E para se poder interpretar corretamente é preciso conhecer a realidade daquilo que está contido naqueles números. No caso específico da Educação temos décadas de atraso face aos outros países. Não somos um país sequer de nível médio, estamos no fim da cauda em termos educativos da população. Tivemos de caminhar muito para chegar aos resultados que tivemos no PISA 2009. Não são algo para desprezar como faz este relatório.
A verdade de que não conhecem a realidade de que falam, vem à superfície quando dizem que a FP nacional possui uma larga camada de trabalhadores com baixas qualificações. Pois é, caro FMI, a nossa FP é pouco formada, porque o país como um todo é pouco formado. Andamos a lutar por fazer evoluir isto, mas começámos muito mais tarde que todos os outros. Não é algo que se veja numa única medição de PISA ou nos rankings das escolas nacionais. Deveriam saber que na FP 47.9% têm Licenciatura, enquanto no privado, só 10.6% têm licenciatura. Sendo que o número de pessoas com o 12º ano estão equiparados, nos 20%. Se consideram que 67.7% é um valor baixo de pessoas com formação acima do secundário, então o que devemos dizer do sistema privado que nem metade disto tem, ficando-se pelos 30.5% (isto são dados do Banco de Portugal, ainda que relativos a 2006).
Mas este problema é verdadeiro, precisamos de fazer subir aquele 67.7% para 90% na FP e no privado. Mas isso não é algo que vai acontecer investindo o mesmo que investe um país que já possui toda a sua população formada. Ou fazendo "mais com menos" como nos dizem encarecidamente os senhores do FMI. Porque vejamos como é que o FMI pretende solucionar o problema da Educação em Portugal. Apresentam duas ideias centrais:
1 - Reduzir os recursos humanos do Ensino Público Português em 50%.
2 - Aumentar as Escolas Comparticipadas (Charters) pelo Estado.
Porquê? Segundo o FMI porque:
1 - Os professores no topo recebem de mais.
2 - Os professores no topo trabalham de menos.
3 - As escolas comparticipadas têm melhor pontuação nos Rankings.
4 - As escolas comparticipadas são mais baratas.
Segundo o FMI isto faria com que:
1 - Os professores que saem das escolas públicas vão para as escolas privadas comparticipadas, ajudar a melhorar os resultados.
2 - Os professores que ficam, com medo de sair trabalham mais e melhor.
E eu respondo,
1 - Os rankings não são importantes. Mas analisados, a diferença nos rankings é rídicula, em 50 escolas, as Públicas só conseguiram 2 escolas no Top, as Comparticipadas conseguiram 4 é mais 100% verdade, mas no total as restantes 46 são privadas. Ou seja, na realidade em termos de TOP 50, as escolas Comparticipadas, só ficaram 4% à frente das Públicas!
2 - Mas nos rankings ainda, podemos ver que abaixo do TOP 50 existem centenas de Escolas Públicas à frente de Escolas Comparticipadas e até de Escolas Privadas. Não são apenas 2 escolas a mais, são centenas, e o que fazer, confiamos tudo no Top 50?
3 - Confiamos mesmo? Então o que dizer das 26 Comparticipadas que pertencem ao grupo que foi recentemente denunciado pela TVI. 26 num total de 81 Escolas Comparticipadas, dá 32% destas Escolas, em que se exploram violentamente os professores psicologicamente e economicamente, explicando a razão pela qual ficam mais baratas estas que as escolas públicas.
4 - Nestas 26 escolas, tudo é trabalhado em função dos Rankings, eliminando alunos maus se assim tem de ser. Algo que não pode acontecer numa Escola Pública que serve a todos, e não apenas a alguns.
5 - Nestas 26 escolas o professores, não são uma figura de autoridade, mas um mero empregado, ao serviço do patrão. Cumpre ou vai para a rua, incluindo as notas que dá, porque aqui o aluno é um cliente. E o cliente tem ou não sempre razão?
6 - Finalmente sobre os salários. Estes não são altos nem são baixos. Dependem do tamanho das instituições. Um estudo do Banco de Portugal diz que os salários são altos no público no campo da Educação, Segurança e Medicina. Mas que são mais baixos noutros campos em que existem grandes empresas em Portugal fora do Estado, por exemplo Gestão, Telecomunicações e Informática. Ou seja se por acaso Portugal viesse a ter mais escolas privadas do que públicas, o tamanho dos salários seriam invertidos, tal como acontece nas escolas americanas.
Mas o FMI sabe que assim é, então porque continua a propor esta receita? Simples, porque acredita, que um sistema regulado pelo mercado, funciona melhor do que um sistema regulado pela sociedade. Apesar do desastre de 2007, continuam a vender a mesma ideia. Tudo deve ser regulado pela lei da oferta e da procura, as pessoas devem ser afastadas das decisões. Quando dizem para mandar embora 50% dos recursos da Escola Pública Nacional, e financiar mais Escolas Comparticipadas, o que estão a dizer? Estão a dizer que querem transformar o Ensino Público, em Ensino Privado. Vendem-nos esta ideia dizendo que o Ensino será melhor, porque mais competitivo. Porque haverá professores pagos por serem bons, segundo as leis do mercado, e professores mal pagos por serem maus. E nós acreditamos?
Não. O ensino não é um produto. O ensino é algo que um país necessita como condição básica para poder progredir. Não em riqueza, mas como nação, povo, e cultura. A Educação não deve servir para criar seres altamente competitivos que tudo farão em função dos seus interesses. Mas o contrário, deve criar cidadãos que tudo farão para garantir o melhor para a sociedade como um todo. E nisto estou no polo oposto do que estes senhores do FMI acreditam ser uma Sociedade Alegre, Justa, e Rica. Aliás, estes senhores deviam olhar para as palavras sábias de uma das pessoas mais ricas do mundo, Warren Buffett, alguém que também previu o desastre de 2007. Se quiserem perceber um pouco melhor o que quer dizer esta frase de Buffet aconselho o seguinte texto.
Nota final: Pouco é dito sobre o Ensino Superior, mas do que foi dito, só me deu para rir. Dizem que o nosso output científico é muito mau, e usam como sustentação um estudo de 2009 que usa dados de 2005!!!! Pois eu deixo-vos um mapa da revista Nature com o output dos 39 países que mais ciência produziram em 2012, e vejam lá onde está Portugal. E se não chegar podem ainda ver o Ranking of National Higher Education Systems 2012.
Outros textos sobre a nossa Educação Pública
. Vídeo, Alemanha e Educação, sobre os benefícios das escolas alemãs.
. Mitos da Educação em Portugal, sobre os mitos dos custos da nossa educação.
. A Educação em Portugal e na Europa, comparação com as médias europeias.
. Ideias de Crato para a Educação, 3 ideias em desacordo, e 3 ideias em acordo.
Actualização a 12.01.2012
Foram encontrados erros que o Público entretanto publicou. Alguns podem ter acontecido por lapso, mas outros acontecem por evidente omissão. São erros que retiram qualquer credibilidade que este relatório pudesse ter. Um dos quais é sobre as Propinas do Ensino Superior, como bem diz aqui o Reitor da UL, António Nóvoa, como pode o FMI falar das propinas portuguesas como valores baixos, sem apresentar um único quadro da média das propinas Europeias. Se o fizesse veríamos Portugal aparecer como um dos mais caros da Europa, triste mas real. Aqui fica a imagem do texto, cliquem para ampliar e ler.
Aparte isto, identifico problemas ao longo de todo o relatório que passam pela tentativa de ler o país pelas estatísticas, sem tentar compreender de que são feitas essas estatísticas. Nomeadamente quando fala de Educação, que é o que conheço melhor, e compara com os outros países Europeus, esquecendo todo o historial do país em análise, tudo o que foi conquistado, nos últimos 20 anos, e nos últimos 10 anos.
Não se pode olhar para uma estatística e usar comparativamente sem interpretar o que ela quer dizer. E para se poder interpretar corretamente é preciso conhecer a realidade daquilo que está contido naqueles números. No caso específico da Educação temos décadas de atraso face aos outros países. Não somos um país sequer de nível médio, estamos no fim da cauda em termos educativos da população. Tivemos de caminhar muito para chegar aos resultados que tivemos no PISA 2009. Não são algo para desprezar como faz este relatório.
A verdade de que não conhecem a realidade de que falam, vem à superfície quando dizem que a FP nacional possui uma larga camada de trabalhadores com baixas qualificações. Pois é, caro FMI, a nossa FP é pouco formada, porque o país como um todo é pouco formado. Andamos a lutar por fazer evoluir isto, mas começámos muito mais tarde que todos os outros. Não é algo que se veja numa única medição de PISA ou nos rankings das escolas nacionais. Deveriam saber que na FP 47.9% têm Licenciatura, enquanto no privado, só 10.6% têm licenciatura. Sendo que o número de pessoas com o 12º ano estão equiparados, nos 20%. Se consideram que 67.7% é um valor baixo de pessoas com formação acima do secundário, então o que devemos dizer do sistema privado que nem metade disto tem, ficando-se pelos 30.5% (isto são dados do Banco de Portugal, ainda que relativos a 2006).
Mas este problema é verdadeiro, precisamos de fazer subir aquele 67.7% para 90% na FP e no privado. Mas isso não é algo que vai acontecer investindo o mesmo que investe um país que já possui toda a sua população formada. Ou fazendo "mais com menos" como nos dizem encarecidamente os senhores do FMI. Porque vejamos como é que o FMI pretende solucionar o problema da Educação em Portugal. Apresentam duas ideias centrais:
1 - Reduzir os recursos humanos do Ensino Público Português em 50%.
2 - Aumentar as Escolas Comparticipadas (Charters) pelo Estado.
Porquê? Segundo o FMI porque:
1 - Os professores no topo recebem de mais.
2 - Os professores no topo trabalham de menos.
3 - As escolas comparticipadas têm melhor pontuação nos Rankings.
4 - As escolas comparticipadas são mais baratas.
Segundo o FMI isto faria com que:
1 - Os professores que saem das escolas públicas vão para as escolas privadas comparticipadas, ajudar a melhorar os resultados.
2 - Os professores que ficam, com medo de sair trabalham mais e melhor.
E eu respondo,
1 - Os rankings não são importantes. Mas analisados, a diferença nos rankings é rídicula, em 50 escolas, as Públicas só conseguiram 2 escolas no Top, as Comparticipadas conseguiram 4 é mais 100% verdade, mas no total as restantes 46 são privadas. Ou seja, na realidade em termos de TOP 50, as escolas Comparticipadas, só ficaram 4% à frente das Públicas!
2 - Mas nos rankings ainda, podemos ver que abaixo do TOP 50 existem centenas de Escolas Públicas à frente de Escolas Comparticipadas e até de Escolas Privadas. Não são apenas 2 escolas a mais, são centenas, e o que fazer, confiamos tudo no Top 50?
3 - Confiamos mesmo? Então o que dizer das 26 Comparticipadas que pertencem ao grupo que foi recentemente denunciado pela TVI. 26 num total de 81 Escolas Comparticipadas, dá 32% destas Escolas, em que se exploram violentamente os professores psicologicamente e economicamente, explicando a razão pela qual ficam mais baratas estas que as escolas públicas.
4 - Nestas 26 escolas, tudo é trabalhado em função dos Rankings, eliminando alunos maus se assim tem de ser. Algo que não pode acontecer numa Escola Pública que serve a todos, e não apenas a alguns.
5 - Nestas 26 escolas o professores, não são uma figura de autoridade, mas um mero empregado, ao serviço do patrão. Cumpre ou vai para a rua, incluindo as notas que dá, porque aqui o aluno é um cliente. E o cliente tem ou não sempre razão?
6 - Finalmente sobre os salários. Estes não são altos nem são baixos. Dependem do tamanho das instituições. Um estudo do Banco de Portugal diz que os salários são altos no público no campo da Educação, Segurança e Medicina. Mas que são mais baixos noutros campos em que existem grandes empresas em Portugal fora do Estado, por exemplo Gestão, Telecomunicações e Informática. Ou seja se por acaso Portugal viesse a ter mais escolas privadas do que públicas, o tamanho dos salários seriam invertidos, tal como acontece nas escolas americanas.
Mas o FMI sabe que assim é, então porque continua a propor esta receita? Simples, porque acredita, que um sistema regulado pelo mercado, funciona melhor do que um sistema regulado pela sociedade. Apesar do desastre de 2007, continuam a vender a mesma ideia. Tudo deve ser regulado pela lei da oferta e da procura, as pessoas devem ser afastadas das decisões. Quando dizem para mandar embora 50% dos recursos da Escola Pública Nacional, e financiar mais Escolas Comparticipadas, o que estão a dizer? Estão a dizer que querem transformar o Ensino Público, em Ensino Privado. Vendem-nos esta ideia dizendo que o Ensino será melhor, porque mais competitivo. Porque haverá professores pagos por serem bons, segundo as leis do mercado, e professores mal pagos por serem maus. E nós acreditamos?
Não. O ensino não é um produto. O ensino é algo que um país necessita como condição básica para poder progredir. Não em riqueza, mas como nação, povo, e cultura. A Educação não deve servir para criar seres altamente competitivos que tudo farão em função dos seus interesses. Mas o contrário, deve criar cidadãos que tudo farão para garantir o melhor para a sociedade como um todo. E nisto estou no polo oposto do que estes senhores do FMI acreditam ser uma Sociedade Alegre, Justa, e Rica. Aliás, estes senhores deviam olhar para as palavras sábias de uma das pessoas mais ricas do mundo, Warren Buffett, alguém que também previu o desastre de 2007. Se quiserem perceber um pouco melhor o que quer dizer esta frase de Buffet aconselho o seguinte texto.
"Make private schools illegal and assign every child to a public school by random lottery",
Warren Buffet
Warren Buffet
Nota final: Pouco é dito sobre o Ensino Superior, mas do que foi dito, só me deu para rir. Dizem que o nosso output científico é muito mau, e usam como sustentação um estudo de 2009 que usa dados de 2005!!!! Pois eu deixo-vos um mapa da revista Nature com o output dos 39 países que mais ciência produziram em 2012, e vejam lá onde está Portugal. E se não chegar podem ainda ver o Ranking of National Higher Education Systems 2012.
Outros textos sobre a nossa Educação Pública
. Vídeo, Alemanha e Educação, sobre os benefícios das escolas alemãs.
. Mitos da Educação em Portugal, sobre os mitos dos custos da nossa educação.
. A Educação em Portugal e na Europa, comparação com as médias europeias.
. Ideias de Crato para a Educação, 3 ideias em desacordo, e 3 ideias em acordo.
Actualização a 12.01.2012
Foram encontrados erros que o Público entretanto publicou. Alguns podem ter acontecido por lapso, mas outros acontecem por evidente omissão. São erros que retiram qualquer credibilidade que este relatório pudesse ter. Um dos quais é sobre as Propinas do Ensino Superior, como bem diz aqui o Reitor da UL, António Nóvoa, como pode o FMI falar das propinas portuguesas como valores baixos, sem apresentar um único quadro da média das propinas Europeias. Se o fizesse veríamos Portugal aparecer como um dos mais caros da Europa, triste mas real. Aqui fica a imagem do texto, cliquem para ampliar e ler.
janeiro 07, 2013
Animação: "The Sinking of the Lusitania" (1918)
The Sinking of the Lusitania (1918) é uma animação de carácter propagandístico de Winsor McCay. McCay pertence à história da animação pelo trabalho pioneiro que realizou com Gertie the Dinosaur (1914) (ver filme) e pela tira de banda desenhada Little Nemo in Slumberland (ver a primeira tira de 1905) que desenhou entre 1905 e 1927 para alguns jornais de Nova Iorque.
The Sinking of the Lusitania (1918) é um filme de animação curto, que faz uso de cerca de 25 mil desenhos integralmente criados por McCay, entrecortados com títulos que vão dando informações sobre o que sucedeu em 1915. Nesse ano Lusitania era um dos maiores navios até então construídos e preparava-se para viajar dos EUA para Inglaterra. A zona marítima em redor de Inglaterra tinha sido declarada zona de guerra pela Alemanha, que patrulhava a zona com os seus submarinos U-boats artilhados com torpedos. A Embaixada alemã nos EUA fez questão de publicar panfletos nos jornais, e os passageiros do Lusitania receberam panfletos quanto aos riscos que corriam antes de embarcarem em Nova Iorque a 1 de Maio 1915. A 7 de Maio 1915 e sem qualquer aviso prévio o Lusitania foi abatido com torpedos, tendo afundado em menos de 20 minutos. Este acontecimento brutal acabaria por atirar os EUA para a primeira Grande Guerra Mundial.
A propaganda Britânica iria utilizar extensivamente o evento para incendiar a população contra a Alemanha. Desde rumores sobre existirem escolas na Alemanha que comemoravam o dia do afundamento do Lusitania, até medalhas que foram imprimidas, dizendo-se serem cópias de medalhas comemorativas alemãs sobre o abate do Lusitania, várias foram as acções tomadas para mover a população, para a incentivar a entrar no espírito da guerra.
Pelo lado da propaganda americana surgiria este filme de Winsor McCay. Sendo um filme de 1915, não é um filme brilhante, tanto na animação como na linguagem fílmica. Estávamos ainda na infância do cinema, e o cinema de animação que se fazia não passava de pequenos experimentos. Ainda assim o filme McCay fazendo uso de uma linguagem documental muito comum na época, juntamente com a música que terá sido tocada em sala aquando da projeção, serve completamente os objetivos. A animação serviu não apenas como expiação mas também como forma de dar compreender algo que era apenas uma ideia abstracta e distante para muitos.
É forçoso sentir-se tocado pelo que vemos. Tendo visto o filme agora pela primeira vez, foi inevitável para mim correlacionar o ataque ao Lusitania, com o ataque às Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001. Porque o que vemos aqui não é um acidente como aquele que aconteceu com o Titanic. O que vemos aqui são milhares de pessoas inocentes a saltar de um barco, tal como as pessoas que saltaram das Torres Gémeas, não por um qualquer acidente, mas porque outras pessoas treinadas para os matar a isso os obrigaram. É um trabalho claramente de propaganda, que não só procura tornar visual uma ideia do que terá acontecido no mar, mas mais do que isso procura estimular nas pessoas o medo, e por outro lado o ódio para com quem perpetrou tão abominável feito. Neste sentido é um filme poderoso.
O filme está disponível no Internet Archive como cópia de domínio público, a que acedi através do Luís Frias. Mas aproveito para deixar aqui uma versão do YouTube, entretanto tratada pela National Geographic e com um pouco mais de qualidade.
Pintura que retrata o ataque ao Lusitania (Autor desconhecido, Fonte)
The Sinking of the Lusitania (1918) é um filme de animação curto, que faz uso de cerca de 25 mil desenhos integralmente criados por McCay, entrecortados com títulos que vão dando informações sobre o que sucedeu em 1915. Nesse ano Lusitania era um dos maiores navios até então construídos e preparava-se para viajar dos EUA para Inglaterra. A zona marítima em redor de Inglaterra tinha sido declarada zona de guerra pela Alemanha, que patrulhava a zona com os seus submarinos U-boats artilhados com torpedos. A Embaixada alemã nos EUA fez questão de publicar panfletos nos jornais, e os passageiros do Lusitania receberam panfletos quanto aos riscos que corriam antes de embarcarem em Nova Iorque a 1 de Maio 1915. A 7 de Maio 1915 e sem qualquer aviso prévio o Lusitania foi abatido com torpedos, tendo afundado em menos de 20 minutos. Este acontecimento brutal acabaria por atirar os EUA para a primeira Grande Guerra Mundial.
A propaganda Britânica iria utilizar extensivamente o evento para incendiar a população contra a Alemanha. Desde rumores sobre existirem escolas na Alemanha que comemoravam o dia do afundamento do Lusitania, até medalhas que foram imprimidas, dizendo-se serem cópias de medalhas comemorativas alemãs sobre o abate do Lusitania, várias foram as acções tomadas para mover a população, para a incentivar a entrar no espírito da guerra.
Pelo lado da propaganda americana surgiria este filme de Winsor McCay. Sendo um filme de 1915, não é um filme brilhante, tanto na animação como na linguagem fílmica. Estávamos ainda na infância do cinema, e o cinema de animação que se fazia não passava de pequenos experimentos. Ainda assim o filme McCay fazendo uso de uma linguagem documental muito comum na época, juntamente com a música que terá sido tocada em sala aquando da projeção, serve completamente os objetivos. A animação serviu não apenas como expiação mas também como forma de dar compreender algo que era apenas uma ideia abstracta e distante para muitos.
É forçoso sentir-se tocado pelo que vemos. Tendo visto o filme agora pela primeira vez, foi inevitável para mim correlacionar o ataque ao Lusitania, com o ataque às Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001. Porque o que vemos aqui não é um acidente como aquele que aconteceu com o Titanic. O que vemos aqui são milhares de pessoas inocentes a saltar de um barco, tal como as pessoas que saltaram das Torres Gémeas, não por um qualquer acidente, mas porque outras pessoas treinadas para os matar a isso os obrigaram. É um trabalho claramente de propaganda, que não só procura tornar visual uma ideia do que terá acontecido no mar, mas mais do que isso procura estimular nas pessoas o medo, e por outro lado o ódio para com quem perpetrou tão abominável feito. Neste sentido é um filme poderoso.
O filme está disponível no Internet Archive como cópia de domínio público, a que acedi através do Luís Frias. Mas aproveito para deixar aqui uma versão do YouTube, entretanto tratada pela National Geographic e com um pouco mais de qualidade.
janeiro 05, 2013
os nossos medos são as nossas histórias
A prova de que mais do que um powerpoint ou um vídeo, o que se tem para dizer e a forma como se diz é o mais importante, fica demonstrado em duas novas talks que a TED publicou esta semana. A primeira de Don Levy sobre os VFX no cinema, e a segunda de Karen Thompson Walker sobre a emoção do medo a partir da narrativa de Moby Dick.
Começando por Don Levy, o tema tinha tudo para fazer desta comunicação um momento TED inesquecível. Falar de uma das indústrias mais mágicas do nosso tempo, das tecnologias de efeitos especiais capazes de criar novos mundos, ilusões que parecem realidade e nos transportam para outra dimensões. Para o fazer Don Levy fala muito pouco e abre o resto do tempo para um filme cheio de imagens, cheio de filmes premiados com Oscars. Assim do que falou disse pouco, no filme em que apresenta várias comparações entre filmes do passado e mais atuais fica-se por isso mesmo, um conjunto de comparações. O resultado está à vista, como se poderá ver nos comentário deixados no site da TED e no YouTube, a desilusão com a talk é mais do que muita.
A segunda comunicação é de Karen Thompson Walker uma escritora que como a maior parte das pessoas das humanidades, ainda não usa powerpoint, nem vídeo, simplesmente se apresenta num púlpito e lê o que tem para dizer. Um pouco nervosa aqui e ali, mas o que tem para dizer é de tal forma cativante, que se sente a audiência cada vez mais silenciosa e concentrada no que ela diz. Resultado, é ver os comentários cheios de informação adicional, de pedidos até para que ela escreva um livro sobre o que acabou de apresentar.
Obviamente que Karen percebe de storytelling, e sabe como levar o público, mas ela está ali sozinha sem qualquer suporte, nada em que aliviar o seu nervosismo. Quase a nu, só se tem a ela própria e ao que percebe do que fala. No caso de Don Levy que veio artilhado com um vídeo com cheiro a Hollywood, faltou-lhe paixão, mas faltou-lhe realmente mostrar que sabia do que falava, que aquilo que tinha para dizer era verdadeiramente relevante.
Esquecendo o formal, Karen envolve-nos porque nos fala de algo importante, que todos conhecemos desde que nascemos, o medo. Retirei o seguinte excerto muito bom da sua talk e que resume o que ela foi ali dizer,
Ficamos a ouvir Karen, e a dar-nos conta do quão importante e verdadeiro é o que esta acaba de nos dizer. Sabemos que a força das suas palavras se deve ao facto de as ter entrelaçado de forma magnífica numa história de marinheiros perdidos em alto mar, mas também sabemos que aprendemos algo de novo por a termos ouvido. E é isto que faz uma boa comunicação, ao ponto de me ter deixado com imensa vontade de ler o seu livro, The Age of Miracles (2012).
What fear can teach us de Karen Thompson Walker
Whaleboat and Crew Tossed into the Sea (1929), de Rockwell Kent para "Moby Dick"
Começando por Don Levy, o tema tinha tudo para fazer desta comunicação um momento TED inesquecível. Falar de uma das indústrias mais mágicas do nosso tempo, das tecnologias de efeitos especiais capazes de criar novos mundos, ilusões que parecem realidade e nos transportam para outra dimensões. Para o fazer Don Levy fala muito pouco e abre o resto do tempo para um filme cheio de imagens, cheio de filmes premiados com Oscars. Assim do que falou disse pouco, no filme em que apresenta várias comparações entre filmes do passado e mais atuais fica-se por isso mesmo, um conjunto de comparações. O resultado está à vista, como se poderá ver nos comentário deixados no site da TED e no YouTube, a desilusão com a talk é mais do que muita.
A cinematic journey through visual effects, de Don Levy
A segunda comunicação é de Karen Thompson Walker uma escritora que como a maior parte das pessoas das humanidades, ainda não usa powerpoint, nem vídeo, simplesmente se apresenta num púlpito e lê o que tem para dizer. Um pouco nervosa aqui e ali, mas o que tem para dizer é de tal forma cativante, que se sente a audiência cada vez mais silenciosa e concentrada no que ela diz. Resultado, é ver os comentários cheios de informação adicional, de pedidos até para que ela escreva um livro sobre o que acabou de apresentar.
Obviamente que Karen percebe de storytelling, e sabe como levar o público, mas ela está ali sozinha sem qualquer suporte, nada em que aliviar o seu nervosismo. Quase a nu, só se tem a ela própria e ao que percebe do que fala. No caso de Don Levy que veio artilhado com um vídeo com cheiro a Hollywood, faltou-lhe paixão, mas faltou-lhe realmente mostrar que sabia do que falava, que aquilo que tinha para dizer era verdadeiramente relevante.
Esquecendo o formal, Karen envolve-nos porque nos fala de algo importante, que todos conhecemos desde que nascemos, o medo. Retirei o seguinte excerto muito bom da sua talk e que resume o que ela foi ali dizer,
What if instead of calling them fears, we called them stories? Because that's really what fear is, if you think about it. It's a kind of unintentional storytelling that we are all born knowing how to do. And fears and storytelling have the same components. They have the same architecture. Like all stories, fears have characters. In our fears, the characters are us. Fears also have plots. They have beginnings and middles and ends. You board the plane. The plane takes off. The engine fails. Our fears also tend to contain imagery that can be every bit as vivid as what you might find in the pages of a novel. Picture a cannibal, human teeth sinking into human skin, human flesh roasting over a fire. Fears also have suspense. If I've done my job as a storyteller today, you should be wondering what happened to the men of the whaleship Essex. Our fears provoke in us a very similar form of suspense. Just like all great stories, our fears focus our attention on a question that is as important in life as it is in literature: What will happen next? In other words, our fears make us think about the future. And humans, by the way, are the only creatures capable of thinking about the future in this way, of projecting ourselves forward in time, and this mental time travel is just one more thing that fears have in common with storytelling.Depois desta descrição sobre o que é o medo, Karen tenta ir ainda mais longe, procura estabelecer uma lógica de pensamento à volta do medo, apontando uma forma lógica de lidar com este. Karen fala-nos da análise artística e científica, e diz-nos que por vezes a análise científica dos nossos medos, procurando compreender de que são feitos, entrando no detalhe do que se constituem e do que quererão realmente dizer-nos, pode ajudar-nos a tomar decisões mais racionais.
Ficamos a ouvir Karen, e a dar-nos conta do quão importante e verdadeiro é o que esta acaba de nos dizer. Sabemos que a força das suas palavras se deve ao facto de as ter entrelaçado de forma magnífica numa história de marinheiros perdidos em alto mar, mas também sabemos que aprendemos algo de novo por a termos ouvido. E é isto que faz uma boa comunicação, ao ponto de me ter deixado com imensa vontade de ler o seu livro, The Age of Miracles (2012).
What fear can teach us de Karen Thompson Walker
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