agosto 20, 2012

RIP: Tony Scott (1944-2012)

Tony Scott morreu hoje com 68 anos, e ao que tudo indica foi suicídio, saltou da ponte Vincent Thomas em LA. Estou chocado, e só isto me fez interromper a pausa neste blog.


Vi todos os seus filmes, apesar de nunca me ter assumido um seu fã, mais porque adorava o trabalho do seu irmão, e por comparação, nunca consegui colocar o Tony Scott ao nível de Ridley Soctt. Apesar de operarem temáticas bastante distintas no início, uma simples comparação por exemplo entre Someone to Watch Over Me (1987) de Ridley e Revenge (1990) de Tony, dois filmes que se podem comparar no género, dá para ver de imediato o que eu sentia falta em Tony. Ridley sempre foi fabuloso em termos expressivos visuais, a sua formação de base em Pintura permitia-lhe brincar com a luz de uma forma inigualável, os brilhos, a saturação da cor, a sombra sobre o que não interessava e a forte iluminação sobre o que era importante. Tony por outro lado assumia um carácter muito mais naturalista na luz, menos expressivo, fazendo-se valer da acção criada no ecrã, em vez da estética visual.

Top Gun (1986)

Em termos metafóricos podemos dizer que era menos intelectual que Ridley, mas completamente hiperactivo. Um dos elementos centrais de Tony Scott tem sido e com forte acentuação nos seus últimos filmes a corrida contra o tempo. Com isso criava um verdadeiro frenesim visual e sonoro, experiências cinematográficas inesquecíveis. Em certa medida podemos ver o Tony Scott como um mentor de Michael Bay.

Enemy of the State (1998)

Por outro lado era um realizador adorado pelo público e também por uma grande parte da crítica, aliás só isso explica que tenha conseguido realizar 16 filmes de grande orçamento, com grandes estrelas de hollywood. É uma produção impressionante criada ao longo de quase 30 anos, dá um filme de grande produção a cada 2 anos.
  • Unstoppable (2010)
  • The Taking of Pelham 1 2 3 (2009)
  • Deja Vu (2006)
  • Domino (2005)
  • Man on Fire (2004)
  • Spy Game (2001)
  • Enemy of the State (1998)
  • The Fan (1996)
  • Crimson Tide (1995)
  • True Romance (1993)
  • The Last Boy Scout (1991)
  • Days of Thunder (1990)
  • Revenge (1990)
  • Beverly Hills Cop II (1987)
  • Top Gun (1986)
  • The Hunger (1983)

True Romance (1993)

Praticamente todos os seus filmes foram sucessos de bilheteira. Por outro lado alguns dos seus filmes transformaram-se em filmes de culto: The Hunger com David Bowie e Catherine Deneuve e True Romance com guião de Quentin Tarantino. Eu apesar de não ser um fã acérrimo, gostei de quase todos os seus filmes, talvez o menos conseguido tenha sido Revenge. De todos gostei do Top Gun quando saiu, podemos quase comparar Top Gun a uma canção pop dos anos 1980, sendo hoje um filme indissociável dessa década. Contudo os seus melhores trabalhos além das duas obras de culto, são para mim Enemy of the State e claro Man on Fire. Gostei bastante também de The Fan com De Niro, de Deja Vu com Denzel Washington e The Taking of Pelham 123 com Travolta, embora estes dois últimos estejam já demasiado carregados de uma estética visual que difere da sua marca, fruto da atual excessiva "maquilhagem" em pós-produção de Hollywood.

Man on Fire (2004)

Tony Scott foi responsável por dar lugar a uma geração inteira de actores negros de Hollywood, começando com Eddie Murphy em Beverly Hills Cop II, passando por Damon Wayans em The Last Boy Scout, Will Smith em Enemy of the State e trabalhando umas impressionantes 5 vezes com Denzel Washington em Crimson Tide, Man on Fire, Deja VuThe Taking of Pelham 1 2 3, Unstoppable.

Tony Scott marcou e marcará a história de Hollywood por muitos anos.

agosto 05, 2012

preenchendo o vazio

Fog and Thunder (2012) é mais um jogo, flash free-to-play, de aventura gráfica em que deambulamos por entre espaços em busca de objectos, elementos e pontos de saída, o chamado dungeon crawler. À partida nada de especial, nada de novo, contudo é um jogo muito interessante pelas mecânicas criadas e que nos permitem percorrer os espaços, assim como pela sua estética.

“You are on a quest to find something to fill the dark void inside”*

Começando pela estética que é brilhante, os espaços são desenhados com base em matrizes de simples quadrados com variantes de cores bem seleccionadas na complementaridade e adjacência. Mas o toque que faz todo o ambiente brilhar é o facto destes simples quadrados conterem todos um ligeiro movimento que acaba por construir uma ideia de espaço feito com post-its. Os espaços do labirinto parecem assim pairar sobre um universo imaginário. Em certa medida e seguindo o objectivo do jogo delineado pelo autor [*] o espaço flutuante sugere a fragilidade dos nossos seres, dos nossos sonhos, e o jogo é apenas uma forma de preencher os vazios dessas nossas fragilidades.


No campo das mecânicas é uma delícia ver um pequeno personagem tão delicado, não armado, obrigado a fazer uso da combinação de acções para conseguir atingir os seus objectivos. Para podermos passar através das várias bombas que nos observam e nos perseguem e das caveiras que nos atingem com raios, temos apenas três objectos sobre os quais podemos agir: o sonar, a luz e o chão. No caso do sonar limita-se a afastar temporariamente as bombas, o apagar da luz permite-nos navegar em modo stealth com a dificuldade de não conseguirmos ver tudo o que procuramos, e finalmente o chão permite-nos criar um quadrado seguro onde nos podemos refugiar. Para poder evoluir no jogo será preciso dominar e usar as três possibilidades de forma conjunta.


Julgo que o jogo está bem conseguido em termos de graus de dificuldade, embora sugerisse a criação de diferentes perfis de dificuldade, para poder cativar mais facilmente as pessoas a entrar no jogo. Podem jogar no site do criador ou no Kongregate.


[Via Jay is Games e Edge Online]

agosto 04, 2012

Filmes de Julho 2012

Grande mês de cinema que foi o mês de Julho, há muito que não tinha tantas boas surpresas assim seguidas, assim como há muito que não dava uma nota máxima. Aliás fui ver e a última vez foi em Janeiro com Incendies. The Return é uma obra belíssima de Zvyagintsev que trabalha dimensões menos acessíveis do comportamento humano, de uma forma visualmente brilhante. Aliás vi também Elena do mesmo realizador, já depois da consagração, e gostei muito também, com uma fotografia tecnicamente superior, e a trabalhar as mesmas dimensões, embora aqui a história faça o filme perder em relação à sua primeira obra, porque arrisca-se pelos territórios do crime, enquanto em Return isso tinha ficado de fora do filme. Oslo, 31. august foi outro filme que me deixou profundamente emocionado, apesar de saber que a história não é original e que já tinha até sido explorada por Louis Malle, o filme não me largou durante uns bons dias, tal como Ratcatcher a primeira obra de Ramsay. Miss Bala foi também um trabalho fresco a surgir do México com uma excelencia cinematográfica muito grande, mas nunca deixando de lado as emocionalidades que trespassam todos aqueles personagens, e que jogam com os nossos sentires minuto a minuto. E já agora, Arrietty, não é realizado por Miyazaki, mas sente-se o seu estúdio na magia da história, no brilho da cor, e na beleza da animação, um filme para sonhar. Submarine trabalha todo um outro campo, uma mistura bem conseguida entre o independente americano e o cinema inglês geram todo um universo particular, carregado de sentimentos adolescentes imbricados no meio de algum humor negro.

xxxxx The Return 2003 Andrey Zvyagintsev Russia [Análise]

xxxx Oslo, 31. august 2011 Joachim Trier Noruega

xxxx Miss Bala 2011 Gerardo Naranjo Mexico

xxxx Elena 2011 Andrey Zvyagintsev Russia

xxxx The Secret World of Arrietty 2010 Hiromasa Yonebayashi Japão

xxxx Submarine 2010 Richard Ayoade UK

xxxx Ratcatcher 1999 Lynne Ramsay UK

xxx Anonymous 2011 Roland Emmerich EUA
xxx Perfect Sense 2011 David Mackenzie UK
xxx Crank 2006 Mark Neveldine EUA
xxx Simpatico 1999 Matthew Warchus EUA
xxx The Longest Day 1962 Darryl F. Zanuck EUA

xx Transfer 2010 Damir Lukacevic Alemanha

x Dark Tide 2011 John Stockwell EUA

[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

agosto 03, 2012

Os 10 Melhores Filmes de Sempre

Ao fim de 50 anos Citizen Kane perdeu o primeiro lugar no The Top 50 Greatest Films of All Time, organizado década após década desde 1952 pela revista Sight & Sound do BFI. E o que é impressionante é que tal aconteceu em ambas as listas, a dos Críticos e a dos Realizadores. Nos críticos perdeu para Vertigo de Hitchcock, nos realizadores para Tokyo Story de Ozu.


Contudo acredito que o mais surpreende não é ter perdido o primeiro lugar, o mais surpreendente é ter-se mantido tanto tempo, década após década, isso é que impressiona, e julgo que também terá sido por isso que os votantes terão ganho vontade mudar. Não faz sentido, o cinema é uma arte tão rica, que é impossível de limitar a uma só obra. Aliás se perderem um pouco de tempo a olhar para as listas desde 1952 vão perceber porque é tão assombroso a permanência de Kane, porque todos os outros filmes mudam bastante, ao passo que Kane permanecia ali totalmente intocável ao poder do tempo.


Estive a ver ambos os Top 10 de cada lista em 2012, e como sempre, acabo por sentir uma maior inclinação para a lista dos realizadores. Desta forma resolvi criar a minha lista dos 10 Melhores filmes de sempre a partir das duas, adicionando alguns filmes. É ridículo que na lista dos críticos o filme mais recente seja 2001 de 1968, e mesmo na dos realizadores não vá além de 1979 com Apocalipse Now. Os críticos deste ano conseguiram juntar no seu top 10, três filmes mudos, é obra, mas denota também falta de à vontade para arriscar em obras menos consagradas.


É verdade que todos os filmes, sem qualquer excepção, destas duas listas devem ser de referência obrigatória, para qualquer pessoa que preze a arte. Se virem todos estes filmes antes de morrerem já se poderão sentir felizes em termos de conhecer o melhor que esta arte deu ao mundo. De qualquer forma deixo aqui o meu Top 10 de sempre, em 2012.


1. Tokyo Story (Ozu, 1953)

2. Metropolis (Lang, 1927)

3. 2001: A Space Odyssey (Kubrick, 1968)

4. Apocalypse Now (Coppola, 1979)

5. In the Mood for Love (Kar-Wai, 2000)

6. Breathless (Godard, 1960)

7. Citizen Kane (Welles, 1941)

8. 8 ½ (Fellini, 1963)

9. Persona (Bergman, 1966)

10. Rashomon (Akira, 1950)

agosto 01, 2012

atmosferas interiores

Exit (2011) é o filme de graduação de Léo Laparra e Victor de Kiss, alunos do LISAA (L'institut supérieur des arts appliqués). A história é muito simples, fala-nos de alguém à procura de uma saída, provavelmente a saída de um estado menos lúcido, e o filme mostra a sua luta para o conseguir.


O que me leva a colocar aqui esta curta são dois factores apenas, a simplificação visual do conceito e a beleza visual do trabalho. Mesmo que tecnicamente a modelação e alguns dos efeitos de composição apresentem níveis de menor qualidade, considero que a conceptualização artística realizada para o filme supera totalmente todos esses problemas.




julho 30, 2012

aceitar ser-se mãe

Falling Moon (2011) trabalha um tema complexo no formato de curta de animação de forma muito talentosa. A curta foi criada por Wei-Xiu Wang como projecto de fim de curso no Departamento de Multimedia e Animação da Universidade Nacional das Artes de Taiwan.


A partir da possibilidade de uma mãe abandonar o filho recém-nascido Fallin Moon desenvolve todo um discurso poético em volta do poder da Lua e dos efeitos da depressão pós-parto. O tratamento é feito sob uma base onírica, para a qual contribui toda a estética seguida, desde a tonalidade dos ambientes, à música, e principalmente à fluidez discursiva da composição visual, assim como a qualidade da animação dos personagens.


O filme apresenta pequenos problemas que poderiam ainda ser corrigidos, mas é um filme de fim de curso e nesse sentido apresenta já uma enorme maturidade. Um filme que muito provavelmente será dedicado a todas as jovens mães.

julho 29, 2012

OffBook: "The Worlds of Viral Video"

O fenómeno dos vídeos virais é analisado no novo episódio da série da PBS, Off Book. Procura-se perceber ao longos dos poucos minutos, aquilo que muitos têm procurado perceber nomeadamente no campo do marketing, mas sem grande sucesso até à data.


O fenómeno fica aqui definido como um fenómeno criado e apenas sustentável por um medium como a internet. Fica também clara a enorme dependência do YouTube, sem o qual nada disto seria possível. Para além disso, fica também claro que apesar de já ter sido experimentado em campanhas de sucesso, não é fácil de fazer.

Paródias de Hitler

A dificuldade em reproduzir o fenómeno está na própria categorização do mesmo que pode ir de registos de comédia, ao espectáculo, gozo do outro, momentos de ternura, performances e até discussão de ideias com profundidade. Tudo é possível e tudo é passível de se tornar viral. Não existe um padrão, nem um tópico, não existe uma regra, nem uma formula. A única coisa que sabemos é que são vídeos com o poder de atracção enorme, que exercem sobre as pessoas uma urgência de comungar com o próximo dos sentimentos experimentados.

A última aula de Randy Pausch

Acredito que o viral está muito associado a duas ideias clássicas do espirito comunitário, a espontaneidade e a autenticidade. São elas a cola da amizade que garante a solidez de uma comunidade.   Quem não se lembra do Hélio, fenómeno português com 3 milhões de visualizações no YouTube.

a intolerância em stop-motion

Zero (2010) é uma curta em stop-motion criada por Cristopher Kezelos (Austrália) fazendo uso de bonecos de novelo de lã, a fazer lembrar 9 (2009) de Shane Acker. Mas Zero, diferentemente de 9 usa a numeração para efeitos de crítica social, em que a escala de números serve para estabelecer os patamares da sociedade.


Zero é o número mais baixo da hierarquia, àquele a quem tudo é vedado, mesmo o enamoramento e a constituição de família. A sua vida muda quando encontra um outro zero, do sexo oposto, e é aí que tudo se complica, mas também tudo se transforma. Com este cenário o filme toca em feridas sociais como o Racismo, a Intolerância, o Preconceito tudo regulado por um ambiente político de puro Totalitarismo.


O filme é apresentado do ponto de vista de Zero e nesse sentido a sua visão do mundo contrasta com o modelo da sociedade em que vive, permitindo que o filme nos arraste ao longo da sua vida num tom particularmente inocente. Esta construção desenvolve uma ligação entre nós e Zero, e é aí que o filme brilha, tocando-nos, incitando-nos a velar pelo seu futuro. O filme não trata nada de novo, mas este é um assunto que por mais vezes que seja tratado nunca será demais. Todos nós já sentimos ao longo da nossa vida em alguma situação, o poder da intolerância, da discriminação. A resposta do filme a estes problemas é uma questão, que aparece em subtítulo, How can nothing be something? e é com a resposta a esta questão que o filma termina, e de forma brilhante.


São 12 minutos, mas valem esse tempo. O filme obteve cerca de duas dezenas de nomeações e prémios em vários festivais de renome. Depois de verem o filme divirtam-se com o making of.