dezembro 21, 2009
Free, o custo zero do digital
O livro está escrito de forma muito escorreita, e o modo como Anderson realiza a leitura dá-lhe ainda maior fluidez. Anderson junta nas menos de 300 páginas vários exemplos que demonstra o poder da gratuitidade e explica como esses modelos estão já hoje em vigor nos mercados físicos. Dando exemplos como a guerra entre o Jornal de Notícias e o Público no que toca a oferta de objectos que valem mais do que os próprios jornais, funcionando como seguros de leitura e logo de retorno publicitário. Exemplifica ainda com a Ryanair e os seus voos a custo zero, pagos por outros meios, como hotéis, autocarros, aeroportos que pagam comissões.
Sobre a indústria digital o que nos diz é que esta funciona sobre parâmetros muito distintos dos mundos físicos e que a importação directa de modelos de negócio de um mundo para o outro não podem funcionar segundo as mesmas ideias. Por exemplo no caso do seu livro disponibilizado gratuitamente, Anderson refere que espera ser pago por via dos convites para falar sobre o próprio livro e as suas ideias. O livro gratuito funciona assim como ferramenta de promoção do seu saber. Quanto à música a lógica oferecida é idêntica, os músicos devem centrar-se no que sempre souberam fazer, tocar música, e ganhar dinheiro com isso, não esperar pelas receitas de algo que deve servir de modo promocional. Por outro lado encontrar novas formas de ganhar com a publicidade, ou ganhar com o facto de se ter um mercado global. O mercado global abre hipóteses para que poucos paguem o que muitos consomem através do chamado modelo Freemium.
Aliás sobre este assunto argui recentemente um tese de mestrado de Daniel Quintã no qual ele opera a problemática a partir da análise do aparecimento dos modelos de registo fonográficos. Foram esses registos que criaram a indústria de marketing à volta da música e é essa a indústria que está a sofrer. A música continua de boa saúde e recomenda-se. Cada vez mais concertos, cada vez mais músicos, cada vez mais pessoas interessadas em música. Mas se no início do passado século só se tinha acesso à mesma por via de um transístor de rádio, agora temos um acesso via internet em modo interactivo, podendo escolher o autor, o álbum, a faixa, e número de vezes que queremos ouvir. Faz parte de um processo evolutivo natural do registo sonoro. Aliás como sempre, todo e qualquer media que trouxe evolução foi visto pelo aparelho acomodado como algo representativo do fim, algo apocalíptico para os criadores, para os consumidores, para toda a sociedade.
Claro que este não é um posicionamento fácil, apesar da grande comunidade online estar de acordo ainda recentemente o Parlamento Europeu aprovou mais algumas medidas escandalosas de protecção dos interesses instalados, permitindo que o acesso à internet possa ser cortado sem ordem judicial por reincidência de downloads chamados "ilegais" (nota: Portugal não ratificou essa lei e por isso não se aplica no nosso território). Aliás o livro de Anderson não fica sem críticas directas de Malcolm Gladwell que na New Yorker não deixa de atacar o livro e todo o seu conceito. Lembro que ainda recentemente quando Chris Anderson foi entrevistado por Carlos Vaz Marques, houve várias reacções na comunidade portuguesa fonográfica, desfazendo Anderson e todo o seu quociente de inteligência.
Para um primeiro contacto com as ideias do livro leia-se o artigo de Anderson sobre o tema na Wired.
PS: a edição aqui analisada foi o unabridged audiobook de 2009.
LittleBigPlanet
Para quem ainda anda há procura de uma prenda de última hora, algo que não está a ser publicitado em força porque já saiu no ano anterior, LittleBigPlanet (2008). Um jogo para a PS3 que representa um novo patamar no campo da interactividade. Muito do que temos estudado neste campo é aqui representado com grande coerência, funcionalidade, apelo estético e interesse lúdico. Sem dúvida um dos artefactos mais importantes no campo dos videojogos, desta geração de consolas e de referência para o campo do design de interacção.
Em termos de jogabilidade aproxima-se de ideias exploradas em Locoroco (2006), nomeadamente no campo da fluidez do movimento, criando uma espécie de movimento em ambiente líquido com um dinamismo controlado e suave. A vertente plataforma é a mais explorada, mas toda ênfase colocada à volta do personagem, do mundo, do ambiente (cenários, luz e música) faz com que nos esqueçamos de que estamos a jogar plataformas.
Apesar de ser recomendado a maiores de 7 anos, faz o regalo de mais pequenos, embora deva ser acompanhado pelos pais para evitar a frustração derivada da dificuldade em concretizar determinados níveis.
A nota de LittleBigPlanet no Metacritic evidencia a majestosa aceitabilidade com 95 pontos.
"if you own a PS3 and you don't buy LittleBigPlanet, you are robbing yourself of one of the most unique gaming experiences ever designed." GamePro
"the real beauty of LBP is even less tangible: creative empowerment at its finest and an unparalleled motivator to want to create." 1UP
PS: a versão aqui analisada é da PS3, saiu este ano para a PSP.
Brittany Murphy (1977-2009)
Morrer com 32 anos de paragem cardíaca é algo que nos deixa a questionar. Brittany não era propriamente uma actriz tipo, apesar de ter aspecto de bonequinha imprimia nos seus papéis sempre um certo traço de desafio, de inquietude. Momentos destes podem ser vistos em Girl Interrupted (1999), Don't Say a Word (2001), Riding in Cars with Boys (2001), 8 Mile (2002), Just Married (2003), Sin City (2005), entre outros.
dezembro 16, 2009
Pedro Costa na Criterion
A editora é importante não só por publicar filmes que dificilmente se poderão encontrar em qualquer outro catalogo internacional mas também porque tem feito um enorme trabalho na busca pelas melhores cópias existentes para poder realizar transfers de qualidade, assim como tem realizado imenso trabalho de restauro de algumas dessas obras. Os DVDs editados pela Criterion são autênticos objectos de colecção e alguns entretanto esgotados (por falta de copyright entre outras razões) podem ser encontrados na ebay a preços proibitivos.
One of the most important artists on the international film scene today, Portuguese director Pedro Costa has been steadily building an impressive body of work since the late eighties. And these are the three films that put him on the map: spare, painterly portraits of battered, largely immigrant lives in the slums of Fontainhas, a neighborhood on the outskirts of Lisbon. Hypnotic, controlled works, Ossos, In Vanda’s Room, and Colossal Youth confirm Costa as a provocative new cinematic poet, one who locates beauty in the most unlikely of places.
dezembro 13, 2009
da ICIDS para a Quantic Dream
What kind of camera are you using? It's not clear to me based on what I've seen.
It's cinematic cameras, because at any point in the game you always have two cameras tracking you. We didn't want to have a camera in the back or first-person; we wanted to give a very cinematic feel to the game, and so we're using this system that works pretty nicely, actually. It looks far better, if you ask me.
How large is the camera team?
We have four people working on the cameras, which is quite a big team.
It is!
Every moment in the game, someone thought of the two camera angles. I think to a certain degree it's giving perspective; it characterizes the playable characters even more.
Do these people come from the game industry, or did you also consult film?
No, most of them come from the movie industry. They have movie experience; this is really what you want.
dezembro 11, 2009
Interactive Storytelling, vol. 5915, Springer
Second Joint International Conference on Interactive Digital Storytelling, ICIDS 2009, Guimarães, Portugal, December 9-11, 2009, Proceedings
Series: Lecture Notes in Computer Science
Subseries: Information Systems and Applications, incl. Internet/Web, and HCI , Vol. 5915
Iurgel, Ido A.; Zagalo, Nelson; Petta, Paolo (Eds.)
2009, XV, 360 p., Softcover
ISBN: 978-3-642-10642-2
dezembro 09, 2009
ICIDS 2009 data
89 submissions, acceptance rate of 39%
108 co-authors
58 Europe
31 North America
10 Far East
4 from Near East
4 from South America
120 participants from 23 countries
dezembro 08, 2009
"God Delusion", obrigatório
A ilusão que Dawkins nos diz pretender desmascarar é aquela presente na cultura dos fundamentalismos e extremismos religiosos de algumas culturas islâmicas assim como de uma massa cristã do interior dos EUA. Mas claramente que não está apenas a falar para essas duas comunidades, está a fazê-lo para todos os que vivem a vida em função de um desígnio traçado por algo invisível que só a chamada “fé” aparentemente pode abranger. Ao tratar o assunto com esta profundidade Dawkins abre muitas portas que até aqui permaneciam fechadas.
O que Dawkins faz é proceder à análise segundo o método cientifico sobre a existência de Deus, sobre a credibilidade dos Dogmas e Fé instituídos pela Igreja de "Deus". Como Dawkins nos diz, porque é que Deus ou a religião deveriam ser um reduto não escrutinável pela ciência. Porque é que as únicas pessoas a poderem “falar” são os menos preparados metodológica e cientificamente para o fazer.
Acima de tudo o mais importante da mensagem deste livro está no desmontar de uma ideologia de intolerância, perpetrada pela religião, uma constante ao longo de toda a história da humanidade. “Quem não pensa como eu, não é digno de co-existir comigo”. São mais que muitos os factos desta intolerância a começar pelas atrocidades relatadas no Velho Testamento e a terminar no 11 de Setembro, passando pela ferida aberta da Irlanda do Norte para não falar em Inquisições, ou ainda por dilemas mais privados como a Homossexualidade ou o Aborto. A religião tal como no documentário feito sobre o tema pelo Channel 4 pode ser verdadeiramente vista como “A Raiz de Todo o Mal / The Root of All Evil”. Um título dado pelo canal sem o consentimento de Dawkins mas que reflecte bem tudo o que se pode descrever sobre o impacto do fundamentalismo religioso que a fé impõe.
Este livro funciona de certo modo como uma visão sobre a história da humanidade em função da sua necessidade de "crer". Ou seja, uma sociedade que acredita que sem crença não haverá razão para sustentar a vida. Uma verdadeira falácia, o número de suicídios nos grupos religiosos e ateus é semelhante o que demonstra que esta não é uma variável causal.
Finalmente Dawkins pretende apenas apresentar uma visão do mundo baseado nas condições que a natureza nos impõe e demonstrar que estas condições não devem ser menosprezadas e que não precisamos de imaginar “algo para além de” o simples facto de existirmos tem uma motivação enredada na natureza do planeta em que estamos inseridos, somos parte de todo um processo evolutivo darwiniano.
PS1: de notar que Dawkins faz questão de retirar da equação religiosa o Budismo, considerando-o antes uma forma de viver e não uma religião, com o que concordo.