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maio 21, 2013

Vender é Humano?

Que desilusão o último livro de Daniel Pink, To Sell Is Human: The Surprising Truth About Moving Others (2013). Depois de ter lido dois livros anteriores e dos quais posso dizer que gostei, este acabou por me levar a questionar tudo o que tinha lido antes. Essencialmente porque neste livro acabei por encontrar o padrão de escrita de Daniel Pink, e posso dizer que não gostei. Apresenta o velho problema de quem escreve para as massas, e precisa de lançar novos livros periodicamente sem ter propriamente nada de novo para dizer. Uma prática que obriga a que se recorra a terrenos que não se domina, na maior parte das vezes apenas para voltar a repetir o mesmo que já se disse antes, agora num abordagem refrescada.


A base deste tipo de escrita é sempre a mesma, a partir de uma qualquer ideia escrita para um texto numa qualquer revista, surgida de um relampejo da intuição, procura-se estender a ideia para preencher um livro. Arranjam-se umas fontes de suporte de vários factos, mesmo que tenham pouco ou nada que ver com a ideia central, desde que garantam uma certa credibilidade ao que se quer dizer. Sente-se literalmente que os livros se prolongam, nos massacram com exemplos, metáforas, estudos, tudo em função de garantir que aquela ideia de base passa como verdade inabalável.

E assim olhando agora em retrospectiva, vejo que a escrita de Pink assenta no extremar de ideias, em levá-las ao limite testando-as de todos os pontos de vista possíveis. Em A Whole New Mind: Why Right-Brainers Will Rule the Future (2005) pega na ideia das mudanças na sociedade, a importância da inovação, e eleva a arte e o design a patamares interessantes de um ponto de vista especulativo, mas pouco credíveis quando analisado realisticamente. O mesmo vai acontecer em Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us (2009), quando procura edificar toda a lógica societal sobre os princípios da motivação humana, o que é deveras interessante, embora saibamos que conhecer como funciona a nossa psicologia não produz automaticamente mudanças de comportamento, menos ainda em sociedades inteiras. Neste último livro Pink faz o mesmo, mas vai mais longe e claramente num domínio que domina mal, ou que eu domino melhor que os anteriores, e acaba por meter a pata na poça fundo demais.

Em To Sell Is Human Pink desenvolve uma argumentação sustentada por uma simples ideia, a de que tudo aquilo que fazemos na vida, seja em que profissão for, assenta nos princípios de vendas. Como diz o título, vender é humano, logo ser-se humano, é ser-se vendedor. O maior problema desta lógica, é que Pink usurpa uma enorme quantidade de conceitos que definem aquilo que somos e aquilo fazemos, e cola-lhes um novos rótulo, o das vendas. Assim para Pink um professor e um médico, não são mais do que simples vendedores. A sua ideia assenta no princípio, presente no título, de que vender é essencialmente fazer mover os outros. Ou seja, convencê-los a fazer algo, a mudar algo, a transformar-se. Ora isto é simplesmente rídiculo.

Se existe algo que possa de algum modo englobar todas estas características, esse conceito é o da Comunicação, e não o das Vendas. O acto de comunicar é um acto cíclico de diálogo, que pretende isso mesmo, fazer mover os outros. Não tem nada que ver com vender, com preencher necessidades, com fazer o outro sentir-se melhor. Comunicar tem objectivos altamente difusos, não passíveis de quantificação, nem sequer de se fechar sob um desígnio ou foco, que é aquilo que Pink procura aqui fazer. Delimitar toda a atividade humana à simples ideia de vender, ou seja, realizar uma acção em retorno de algo. Isto ofende-me enquanto professor e investigador, e não consigo deixar de pensar o quão ridículo é imaginar Sócrates, Platão ou Aristóteles como "vendedores".

Aliás, o que me preocupa é que será isto mesmo que muitas das pessoas que têm funções de relevo em instituições internacionais acreditam. Para muitas destas instituições - FMIs, OCDEs, etc - na verdade, um professor não passa de um vendedor, alguém que é pago para obter um determinado índice de notas numa turma, ou o médico que é pago para realizar o menor gasto possível num hospital. São empregados a soldo, não passam de mediadores responsáveis por manter as transacções ativas.

Posso apenas dizer que este será provavelmente o último livro que leio de Pink.

junho 19, 2012

Ditadura da Austeridade, Thatcher, Merkel e Friedman

Vi o filme, The Iron Lady (2011), no mês passado mas volto a ele. Dei-lhe apenas 2 estrelas, pela ausência de alcance. Um filme biográfico sobre uma personagem desta natureza, transmite muito pouco sobre a pessoa em revisão. A tranquilidade e calma com que fizeram fluir toda a narrativa, dá a impressão de uma neutralidade, mas talvez não tanto assim, se analisado mais em detalhe.

"Poucas pessoas são neutras nos sentimentos para com Thatcher, excepto os criadores deste filme" Ebert, 2012

Não existem obras neutras, nem discursos neutros, porque simplesmente "é impossível não comunicar". O que aqui temos é uma tentativa de lavagem da figura política. Ainda assim, e é sobre isso que me interessa este texto, o momento da guerra das Malvinas/Falklands, é o melhor do filme. Pelo menos aqui, o filme não se limita a fluir, ainda que tente. Não fosse o surgimento desta "guerra" e Thacher, não teria sobrevivido sequer até ao final do primeiro mandato. Guerra entre aspas (temos de chamar guerra, porque no meio da aberração política fizeram-se mais de mil mortos), porque é difícil chamar guerra a um conflito sobre meia dúzia de metros de terra que não interessavam a ninguém.


Ou melhor, interessaram a quem lançou a suposta guerra. Tanto a Argentina como a Inglaterra viviam momentos difíceis, por isso nada melhor do que ter uma guerra a decorrer, que fosse capaz de levantar os mais puros instintos da espécie humana, da luta pelo território. Por atacado o nacionalismo / populismo e com isso toda a força emocional de um povo, contra tudo e contra todos, "contra os canhões marchar".  Com isto Thatcher conseguiu, não apenas permanecer como primeira-ministra do Reino Unido, ao longo de 11 anos, como conseguiu impor as mais duras reformas de sempre, nunca antes vistas num país democrático, impondo a tríade milagrosa: "desregulamentação financeira", "flexibilização do trabalho", e "privatização do estado".

Guerra das Malvinas/Falklands, foram mortos mais de 700 argentinos e 200 ingleses.

O que Thatcher fez em 11 anos não foi novo, tinha sido já tentado em outros países, nomeadamente da América do Sul, mas via ditadura. Mas até nesse sentido, o filme, não é tão neutro como isso. No final do filme, sente-se que Thatcher, de democrata, tinha muito pouco, só o tom da sua voz, era suficiente para impor a política pretendida junto da oposição. Uma clara ditadora da austeridade. Olhando para o filme, não consigo deixar de estabelecer paralelos entre Thatcher e Merkel, no que toca à Ditadura da Austeridade. E isso está à vista de todos.

Sátira do cartaz do filme com Merkel no papel de Thatcher

Mas tudo isto, que parece um mero folhetim telenovelesco, é bastante mais incisivo. Esta ideia de um mundo Económico, de seres humanos regulados pela força das trocas financeiras, de um mundo auto-regulado através da oferta e procura dos mercadosnão são ideias de Thatcher, nem de Merkel. Por muito que lhes queiramos colar o rótulo de rainhas no comando, no final não passaram e ainda passam de fantoches nas mãos de teóricos da economia. O paradoxo de tudo isto, é que esses teóricos nunca governaram, nunca souberam o que é lidar com seres humanos, com comunidades, com valores morais e humanos. Sabem apenas ler estatísticas e conjecturar soluções teóricas, fruto de especulações de modelos matemáticos.

Diagrama matemático "Philips Curve" baseado nas teorias de Milton Friedman, que diziam que "quanto mais baixo for o desemprego, mais alta será a inflação". Uma teoria  que é apenas isso, uma teoria, mas quando aplicada como verdade absoluta, pode ter efeitos perversos.

E sobre tudo isto impressiona ainda que estes modelos matemáticos de economia social, tenham sido todos emanados de um mesmo centro nevrálgico, os anos 50-60 na Universidade de Chicago, nas figuras de Friedrich Hayek e Milton Friedman. Friedman que depois de morrer em 2006, depois do colapso dos mercados não-regulados em 2007, parece estar mais vivo que nunca na Europa. Para que se perceba o alcance da ideologia económica de Chicago, deixo uma afirmação de Friedman,
"Só uma crise - verdadeira ou percepcionada - produz mudanças reais. Quando a crise ocorre, as acções que se tomam dependem das ideias à sua volta. Isto, eu acredito, é a nossa função primordial: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis, até que o politicamente impossível, se torne no politicamente inevitável." Milton Friedman, Capitalism and Freedom, 1962, p.IX
É isto, produzir uma crise de tal forma violenta (veja-se a pressão sobre os PIGS, veja-se o estado da Grécia, ou veja-se o estado atual de Portugal), em que aquilo que era impossível até aqui politicamente, se torna politicamente inevitável.

"Nós temos um sonho. Nós ainda estamos vivos. Nós só queremos paz. Mas ... temos que lutar."

Voltarei a este assunto novamente, não podemos calar, como alguns apregoam por este país fora.

setembro 23, 2008

a ilusao do capital

Post off-topic

As máscaras do capitalismo que vão tombando e a ilusão que se esfuma. Angela Merkl, disse há cerca de seis meses, depois da escalada vergonhosamente especulativa do petróleo, que o sistema capitalista tinha demonstrado que não estava funcionar, e que era insustentável a ausência de regulação. Na altura o eco de uma afirmação destas foi diminuto e completamente abafado pelos arautos do neo-liberalismo.

O Ex-presidente executivo da Goldman Sachs disse ontem à ABC, a propósito do salvamento do sistema bolsista americano (Fannie Mae, Freddie Mac, AIG, Goldman Sachs, Morgan Stanley) que "como filosofia, nunca pensei que a intervenção (do Governo) fosse uma boa escolha. Tudo o que posso dizer é que ela é agora necessária" in Público 22.09.2008

Venham de lá então esses grandes Hospitais Privados Portugueses e acabe-se com o "ineficiente e despiciente" SNS; invista-se nos PPR da banca e abandone-se o "sistema falido" da Segurança Social; venham de lá essas escolas privadas com boas posiçoes no ranking e abandone-se a rede escolar pública onde a "violência e os telemóveis reinam". Vamos deixar o privado fazer porque faz melhor. No final se algo correr mal o Estado lá estará com o dinheiro de "todos" os contribuintes para responder quando algo correr mal.


Poster/Diagrama de 1911

outubro 12, 2007

a inconveniência faz a diferença

F
oi anunciado o Prémio Nobel da Paz de 2007 em ex-aequo para o Intergovernmental Panel on Climate Change e Al Gore. Um prémio partilhado pela luta contra as alterações climáticas e que fez a diferença ao longo dos últimos tempos. Apesar de me considerar uma pessoa minimamente informada, até ver o filme de Al Gore tive sempre algumas dúvidas sobre as alterações climáticas. Vi vários documentários que falavam sobre o horror e vários que falavam sobre a insanidade dessas previsões, alguns desses documentários produzidos com entrevistas a renomeados cientistas da meteorologia, glaciares, correntes marítimas ou atmosfera. E desse modo a minha percepção era de que como muita outra coisa na natureza, as temperaturas eram um fenómeno cíclico. O documentário de Al Gore fez soar as campainhas, os dados coligidos e apresentados de forma tão clara e evidente deixaram pouca margem para as investidas dos grandes interesses económicos contra a necessidade de refrear a produção de CO2 ou seja contra a ostentação produzida por um modelo económico assente no poder do mais forte. Desse modo creio que o prémio foi muito bem entregue e agora só espero que ele sirva pelo simbolismo na luta contra este problema e que o apoio financeiro permita a Al Gore continuar a luta que ainda está longe de chegar ao fim. Aconselho vivamente a visualização do filme "An Inconvenient Truth".

setembro 08, 2007

jogando o futuro energético

Nos últimos anos a área de casual games tem recebido vários exemplos interessantes de cruzamento entre o Entretenimento e a Informação. Will You Join Us foi produzido pela Chevron e o The Economist Group, e pretende alertar para o consumo energético nas cidades. Utilizando a mesma metáfora de simulação utilizada por Simcity, coloca o jogador no lugar de um "ministro" da energia de uma cidade que tem de tomar decisões com vista a atingir determinados coeficientes energéticos no tempo.

A jogabilidade é replicada dos modelos do Simcity clássico. A implementação não é muito complexa, socorre-se da interacção por menus e é completamente desenvolvida na plataforma Flash.

É impressionante olhar para o contador de barris consumidos, um consumo do qual não nos damos conta mas que é persistente. Mostrar a evolução numérica do consumo de 1460 barris por segundo dá-lhe um carácter verdadeiramente chocante. Por detrás daqueles números quase podemos sentir o crude a ser sacado do interior do nosso planeta e a extingui-lo por dentro e como consequência do seu consumo (CO2) por fora também.

setembro 04, 2007

flexibilidade ou multi-talentos

A flexigurança segue em toda a linha o pensamento neo-liberal disposto a tudo para produzir o trabalhador perfeito. O trabalhador capaz de executar tarefas em qualquer área, um super-herói da maleabilidade. A indústria dos videojogos sendo reconhecida como um dos ambientes mais hostis no que toca à saúde dos seus trabalhadores pela exigência cognitiva intensiva e uma disponibilidade por períodos longos e contínuos está agora também na linha da frente da flexibilidade. Veja-se o artigo de Spanner na The Escapist.

When we look at a job posting for a game designer, it reads like a checklist for a superhero. The specialized requirements (programming, direction, art, management, music, magic powers and yes, writing) are so disparate it's utterly irrational to expect professional competency in all these areas from one person. Even if he's only actually required to perform one or two of those duties, a jack of all trades, as they say, is still a master of none.
O talento não está à venda numa qualquer prateleira de supermercado. Pode ser cultivado, mas acima de tudo é um bem que nasce connosco. É necessário que as indústrias olhem para as qualidades e talentos que os seus recursos humanos possuem e lhes dêem espaço e tempo para que estes progridam e sejam melhores que os seus pares. Não é a pedir-lhes que sejam flexíveis e façam todo o tipo de diferentes tarefas que as indústrias vão conseguir inovar seja no que for.

agosto 19, 2007

pela estabilidade do abstracto

O artigo de Boaventura Sousa Santos publicado na Visão de 02.08.2007 evidencia através de uma simples frase o processo do que está por detrás da importação do modelo de Flexisegurança, da Dinamarca, apresentado como a grande solução para todos os problemas.
Vivemos um tempo em que a estabilidade da economia só é possível à custa da instabilidade dos trabalhadores, em que a sustentabilidade das políticas sociais exige a vulnerabilidade crescente dos cidadãos em caso de acidente, doença ou desemprego. Esta discrepância entre as necessidades do “sistema” e a vida das pessoas nunca foi tão disfarçada por conceitos que ora desprezam o que os cidadãos sempre prezaram ou ora prezam o que a grande maioria dos cidadãos não tem condições de prezar.
Tão simples e directo. Nem sempre tenho estado de acordo com algum discurso mais radical de Boaventura Sousa Santos mas aqui não poderia estar mais de acordo com a síntese do seu pensamento sobre o assunto. Realmente para aqui caminhamos, para o reino da obediência à abstracção numérica em desfavor da rede social e da condição humana. Neste artigo BSS desmonta ainda a ideia lírica de uma sociedade construída na base da "autonomia individual" . Se à primeira vista poderíamos pensar que esta é uma capacidade própria para quadros superiores, BSS vai mais longe, vai ao âmago da questão, defendendo que nem todos funcionamos da mesma forma e nem todos procuram a realização pessoal a todo o custo, muito menos no campo do trabalho.

Desenvolver sistemas de massas que se regem por extremos é meio caminho andado para a ruptura da coesão social. Aqui o extremo é bem evidente, se no comunismo o extremo era por baixo, baseado na nivelação dos mesmos objectivos para todos. Aqui nivela-se pelo extremo superior no qual o objectivo é o céu, e só quem adoptar um posicionamento maníaco-obsessivo em relação aos objectivos poderá obter reconhecimento do movimento em questão.

julho 25, 2007

Sony na E3 2007

Apesar de sabermos que a política de cortes nos preços dos produtos da Sony é bastante cautelosa e morosa, tendo em conta que as suas projecções de longevidade de mercado das consolas têm prazos a 10 anos, a Sony abriu o seu discurso na E3 com a notícia de que vai cortar 100 dólares no preço da PS3 no mercado americano, passando o seu novo preço para $499. Vamos esperar para ver se o mesmo sucede na Europa, apesar de Dave Karraker da SCEA dizer que "this news does not affect any other PS3 territory". Julgo ser muito difícil sustentar uma diferença que vai muito além dos $100 uma vez que o preço europeu situado nos 599 €, realizado o cambio vai para valores em dólares completamente ridículos, cerca de $800.

Como também já era esperado após o corte de $30 na PSP (os cortes quando em fases iniciais, estão quase sempre relacionados com o aparecimento de novas versões) a Sony anunciou o re-design da PSP que para nossa desilusão mantém a aposta no leitor de HMD quando esperávamos um mudança para sistemas de memória flash. As vantagens do novo sistema [1] são então:

PSP re-desenhada, 19% mais fina

a) 19% mais fina
b) 1/3 mais leve
c) Saida vídeo, que vai permitir ver fotos, filmes ou jogar numa televisão. Testes realizados falam de capacidades de play de ficheiros vídeo 640X480 sem problemas.
b) A bateria com duração para 5 horas e haverá a possibilidade de carregar a bateria através da ligação USB
c) A memória interna é agora de 64 Mb o que vai permitir o aumento de velocidade nos loadings a partir dos UMDs.

No meio de tudo isto, de destacar que o preço prevê-se que se mantenha nos 169€. A PSP já não era apenas uma consola de jogos, mas agora tornou-se num autêntico media entertainment player que pode interessar a um público que vai muito para além dos entusiastas de videojogos. A possibilidade de aceder a web via wi-fi, visualização de filmes e fotos, música, projecção de media, GPS, TV (novo dispositivo disponivel no Japão). Julgo que fica apenas a faltar a parte de telefone para que a competição com a Apple se agudize. Falta-me também confirmar como se comportará esta PSP na projecção de slides Powerpoint, o que daria imenso jeito para as conferências.

[1] Gamespot

julho 20, 2007

Emoção, Ética e Gastronomia

Software de reconhecimento facial

A questão levantada durante a defesa do meu doutoramento sobre os prováveis problemas éticos que se poderiam vir a levantar com o avanço tecnológico, já também levantados por Sherry Turkle, parecem afinal estar já aí. Segundo a Wired, a Unilever contratou Theo Gevers da Universidade de Amesterdão, responsável pelo grupo de investigação que estudou o sorriso da Mona Lisa, e o seu software de reconhecimento facial para analisar as expressões faciais de alegria enquanto um grupo europeu de 300 sujeitos femininos degustava vários tipos de comida. Como seria de esperar o Chocolate e os Gelados foram as comidas a obter as faces mais alegres :o) mas ao mesmo tempo mostrou caras muito pouco sorridentes no consumo das chamadas comidas saudáveis.

O problema aqui é que já não estamos no reino da investigação mas sim do puro marketing. Uma empresa de fundos privados utiliza o melhor da investigação para decifrar as necessidades e os comportamentos hard-wired na nossa biologia e assim poder explorar mensagens com um nível de aceitabilidade assustadoramente universal e intenso ainda que em parte estes comportamentos se alterem culturalmente com as experiências.

junho 22, 2007

$49 billions by 2011

As previsões da PricewaterhouseCoopers para os próximos 4 anos, são admiráveis para a indústria dos videojogos. Estima-se que a indústria passe dos actuais 30 mil milhões em 2006, para os 50 mil milhões em 2011. O mercado do online e wireless vai continuar a subir ao passo que o mercado PC vai continuar a descer, contrariando algumas previsões que falavam nas enormes possibilidades que o PC teria com os mercados do online.

O relatório aponta ainda para uma ultrapassagem da indústria dos videojogos face à industria musical nos USA. O que vem reforçar não só a crescente influência deste novo media, mas também demonstra o declínio em que se encontra o mercado da música actualmente.

No mercado publicitário deste media, espera-se uma inversão completa do que até agora ssistimos, com uma estimativa de apenas $80 milhões em 2006 para $950 milhões em 2011!!!!

maio 28, 2007

the net in 2015

Uma versão aumentada e refinada de EPIC 2014, acaba de ser lançada, como EPIC 2015. Filme feito por Robin Sloan para o Museum of Media History. Um pequeno filme feito num tom épico/new age que conta numa primeira parte: a história da internet, nomeadamente da sua evolução económica e social apontando as alterações mais significativas no campo dos media até ao momento; ao qual se segue uma segunda parte especulativa sobre a evolução Microsoft / Google / Amazon / New York Times, rumo à Evolving Personalized Information Content (EPIC).


EPIC 2015

maio 19, 2007

Kutaragi, o media center, o blu-ray

O "pai da Playstation", Ken Kutaragi, reforma-se da sua posição de CEO da Sony Computer Entertainment Inc., e ficará a servir como "Honorary Chairman" da SCEI.

Mais uma vez as notícias pouco fundamentadas aparecem na imprensa portuguesa (Visão, etc.), dando a saida de Kutaragi da Sony como um efeito da fraca performance da Playstation 3. A verdade é que Kutaragi chegou a CEO da Sony Computer Entertainment sem vontade para tal. Kutaragi foi um criativo e o engenheiro visionário que revolucionou o mercado das consolas. Criador da marca Playstation, responsável pela superação de todos os recordes da indústria dos videojogos inclusive o encostar à box de vários players como a Sega e até em parte a Nintendo no final dos anos 90. Durante anos na guerra de consolas, pareciam existir apenas dois nomes, Sega e Nintendo, até que Kutaragi desenvolveu a marca Playstation. Um engenheiro, um criativo uma pessoa com grandes dotes para a criação de produto mas poucos dotes para as tarefas típicas de um cargo de responsabilidade executiva, nomeadamente toda a sua linha de gestão politica. Kutaragi disse a Newsweek em Novembro passado que o seu sonho era reformar-se aos 50 anos, acabou por o fazer 6 anos mais tarde.

Quanto às histórias que dão a PS3 como um falhanço ou a Wii como a consola vencedora, aconselha-se vivamente uma melhor análise dos números, nomeadamente na comparação dos valores das vendas tendo em conta por exemplo o facto que a PS3 custar 2.4 x Wii. Além de que a Wii foi desenhada para estar na mercado 2 a 3 anos a contrário da PS3 que está concebida para uma duração de 7 a 10 anos. Os factores são muitos, e não se pode apenas falar de valores brutos de venda. Esperemos também mais algum tempo para ver a verdadeira adesão ao conceito da Wii, que na verdade é extremamente apelativo numa primeira abordagem mas que rapidamente se desvanece, podendo manter alguma chama com jogos pontuais ligados aos desportos. Experimente-se jogar um jogo de acção/aventura com narrativa e controlar um personagem em terceira-pessoa que circula por um gigantesco mundo virtual, e facilmente se perceberá o quanto aquela interface é pouco adequada (aliás acreditamos que parte do insucesso de Zelda na Wii esteja relacionado com este facto apesar de Miyamoto não o referir abertamente, procurando outras desculpas, que em nosso entender são bem menos válidas). Quanto aos gráficos é natural que neste momento ainda mantenham alguma actualidade, mas em breve serão completamente relegados para um nível inaceitável pelas pessoas já habituadas a outros níveis de visualização e isso levará a Nintendo a um obrigatório upgrade da consola.

Relativamente ao conceito da PS3, que está completamente centrado no media center e menos no game only, por oposição à Wii, podemos dizer que se olharmos à nossa volta, esse conceito é uma necessidade. Não queremos as nossas salas invadidas de caixas plásticas e telecomandos. Queremos a convergência das caixas, assim como queremos a convergência dos media em si mesmos. A experiência fílmica, não se deve dissociar da experiência interactiva nem da experiência sonora e para isso nada melhor que uma black box capaz de dar respostas. O blu-ray foi um risco, mas temos poucas duvidas que contrariamente à guerra Beta x VHS, aqui a Sony levará a melhor, e isto não por o Blu-ray ser melhor tecnologicamente, o que até nem é (ao contrário do Beta que era bastante superior ao VHS) mas porque desta vez a Sony é dona de um dos maiores estúdios de cinema de Hollywood (Columbia Pictures). Assim sendo, facilmente se percebe como a Sony inundará o mercado com os seus filmes em formato Blu-ray.

Julgamos contudo que talvez o problema maior do Blu-ray seja o mesmo do HD-DVD, e que passa antes pela saturação do mercado digital a preços altamente competitivos. Num curto espaço de anos, aliás nunca antes visto na história das tecnologias, o DVD tornou-se no senhor do audiovisual. Ora se passados pouquissimos anos (o DVD surge em 1997 e massifica-se entre 2002-2004) de as pessoas aderirem a esta nova tecnologia lhe dizemos que já está obsoleta, as pessoas vão pensar o quê? Que a nova tecnologia, é muito boa e que é muito superior à anterior? Não. Provavelmente vão pensar que foram enganados, quando lhes disseram que o suporte DVD por ser óptico-digital iria superar a durabilidade das antigas VHS em muitos muitos anos.

Por um lado os entusiastas do formato, vão pensar que investiram milhares de euros em colecções de filmes num curtíssimo espaço de tempo, de tal modo que muitos nem tempo tiveram para ver alguns dos filmes comprados nesse formato, uma vez que se destinavam às suas colecções particulares e esperavam por um noite de folga para serem revistos em todo o esplendor da qualidade DVD. No entanto agora, esse desejo, evaporou-se, pois a revisão vai ter um sabor amargo, sabendo que a cópia que vê no seu ecrã de 42' é já de baixa qualidade face ao que existe no mercado.

Por outro lado, as pessoas não entusiastas, mas que acabaram por aderir tardiamente ao novo formato, porque o próprio mercado abandonou as VHS (e ainda bem), vê-se agora confrontado com um novo suporte digital, que lhes dizem ter muito mais qualidade, mas que eles na sua grande maioria não conseguem sequer percepcionar. Ou porque não tem televisões que o suportem, ou porque simplesmente a sua percepção audiovisual carece de literacia que normalmente só os especialistas ou os entusiastas normalmente possuem.

Apesar de tudo isto, a imprensa continuará a despejar sound bites sobre as tecnologias, nomeadamente a badalada alta-definição, tal como o faz com os números extraídos à pressa das tabelas de vendas das consolas, ou ainda pior quando dedicam notícias de primeira página de jornais de referência (ex: Diário de Noticias) a "factos" retirados de blogs não sujeitos à menor confirmação de fontes.