"Syllabus" de Lynda Barry

Lynda Barry recebeu a MacArthur Fellowship em 2019, com 63 anos, com a seguinte menção: "Inspiradora do envolvimento criativo através de trabalhos gráficos originais e de uma prática pedagógica centrada no papel da criação de imagem na comunicação". Acabei de ler o seu livro "Syllabus: Notes from an Accidental Professor" de 2014 e fiquei completamente convencido do enorme valor desta professora da Universidade de Wisconsin-Madison da área de Criatividade Interdisciplinar. A sua forma de estar e trabalhar com os seus alunos é uma inspiração para quem quer que acredite no poder da arte e criatividade humanas.

Em "Syllabus" Barry dá conta da estrutura da UC que leciona, "The Unthinkable Mind", em que procura explorar a interdisciplinaridade por via da biologia, arte e psicologia. Os exercícios apresentados são absolutamente magníficos e inspiradores, ainda que altamente trabalhosos, mas claramente compensadores. O seu método assenta em dois pontos chave:

1. Nenhuma prática artística é uma perda de tempo   

2. Qualquer trabalho que valha a pena leva tempo — por vezes muito tempo. 

As suas aulas têm sido apelidadas de "campos de treino", porque exigem um rol de atividades criativas constantes, dedicadas ao desenho, escrita e imaginação. Barry tem como requisito obrigatório o uso de cadernos de notas (ver imagem abaixo), nos quais os alunos têm de fazer exercícios diários e semanais, que são depois entregues para revisão pela professora, prevendo que os alunos preencham vários cadernos ao longo do semestre.

Barry acredita que só é possível criar praticando. Praticando muito, praticando sempre, o mais possível, para poder chegar à imaginação interior, à fusão de ideias e aplicação externa das mesmas. O processo criativo só acontece quando fazemos, quando pomos para fora, e quando o fazemos com esforço e dedicação.  

Fica desde já o aviso, a leitura é contagiosa, pois o entusiasmo de Barry transborda na forma de doodles e notas, como podem ver no vídeo do livro ou no seu Tumblr.