Isaac Newton é talvez a mais importante figura da história contemporânea pelo modo como conseguiu extrair da natureza um conjunto de regras abstratas que permitiram a Revolução Científica, base do Iluminismo, que por sua vez impactariam fortemente a Revolução Industrial e todo o posterior progresso tecnológico. Gleick dedica-lhe este livro, no qual faz uma boa introdução, mas podia ter ido mais fundo e mais longe.
A sua descoberta da força da gravidade, commumente associada à queda da maçã, permitiu-lhe compreender as leis do movimento que gerem desde a bola no campo de futebol à Lua que circula em redor da Terra. Deste modo, e tendo em conta que grande parte daquilo que a revolução industrial nos deu se resume à automação do movimento humano, apesar de esta ter nascido da experimentação mecânica, na realidade só viria a ganhar o seu grande ímpeto com a possibilidade de racionalização, ou seja, a quantificação de energia em modos abstratos, ou matemáticos.
Mas Newton foi além, toda a sua vida foi dedicada à ciência, uma ciência que transformaria o legado de Aristóteles, passando do empirismo, experiência e observação, à abstração e racionalização do não diretamente observável. Se Galileu tinha usado a tecnologia para indiretamente observar (telescópio), e Descartes iniciado a racionalização daquilo que os nossos sentidos nos ofereciam, é Newton quem junta tudo e por via da matemática cria toda uma forma de sistematizar o real. A ciência moderna é no fundo a capacidade de simular o mundo através de parâmetros que servem para prever e antecipar e desse modo providenciar as bases para colocarmos um A380 no ar, um Rover em Marte ou "simplesmente" ligar todos os smartphones do nosso planeta.
“No one understands the mental faculty we call mathematical intuition; much less, genius. People’s brains do not differ much, from one to the next, but numerical facility seems rarer, more special, than other talents. It has a threshold quality. In no other intellectual realm does the genius find so much common ground with the idiot savant. A mind turning inward from the world can see numbers as lustrous creatures; can find order in them, and magic; can know numbers as if personally.
(...) Newton’s patience was limitless. Truth, he said much later, was 'the offspring of silence and meditation.' And he said: 'I keep the subject constantly before me and wait ’till the first dawnings open slowly, by little and little, into a full and clear light.'
(...) Newton’s Waste Book filled day by day with new research in this most abstract of realms. He computed obsessively.”
in “Isaac Newton” (2004) de James Gleick
"Aqui está enterrado Isaac Newton, Cavaleiro, que por uma força mental quase divina e por princípios matemáticos peculiares, explorou o curso e as figuras dos planetas, os caminhos dos cometas, as marés do mar, as diferenças entre os raios de luz e, o que nenhum outro estudioso imaginou anteriormente, as propriedades das cores assim produzidas. Diligente, sagaz e fiel, em suas exposições de natureza, antiguidade e sagradas Escrituras, ele justificou por sua filosofia a majestade poderosa e boa de Deus e expressou a simplicidade do Evangelho em suas maneiras. Os mortais se alegram com a existência de tal e tão grande ornamento da raça humana! Ele nasceu em 25 de dezembro de 1642 e morreu em 20 de março de 1726/7."
Inscrição no túmulo de Isaac Newton, Abadia de Westminster, Londres
Se Gleick faz um trabalho interessante de síntese dos pontos altos da vida de Newton, na verdade pareceu-me curto. 250 páginas é muito pouco para tanto legado. Mais, Newton não foi só cientista, foi também um ser humano e bastante peculiar, contudo sobre isso Gleick pouco ou nada diz. Fala-nos das rivalidades e excentricidades, mas pouco ou nada consegue dizer que justifique a pessoa que escreveu milhares e milhares de páginas sem qualquer vontade de as publicar, ou a pessoa que esperou 30 anos para publicar algumas destas ideias que iriam mudar o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário