agosto 27, 2020

Vamos morrer sem os poder ler

A artista escocesa, Katie Paterson, criou, em 2014, o projeto Future Library com o apoio da cidade de Oslo, Noruega. Um projeto criado enquanto obra de arte pública e que consiste numa ideia revolucionária e altamente instigadora que vai decorrer ao longo dos próximos 100 anos, entre 2014 e 2114. A obra pretende colecionar trabalhos originais, nunca publicados, de escritores internacionais, um por ano, e preservá-los fechados até 2114. Para o efeito foi plantada uma floresta com mil árvores que serão usadas daqui a 100 anos para imprimir todos os 100 livros, e todos os anos é escolhido um autor de renome para escrever um novo livro para a biblioteca.

Os autores são selecionados pela artista, a quem é dado um ano para criar o texto, que pode ter o tamanho que quiserem, e entregá-la à biblioteca. Assim em 2014 Margaret Atwood iniciou o processo, tendo entregue o seu livro em 2015. A antologia completa começou já a ser vendida, para já num lote reduzido de mil certificados, no valor de cerca de 1000 euros. 

2014 – Margaret Atwood, Scribbler Moon

2015 – David Mitchell, From Me Flows What You Call Time

2016 – Sjón, As My Brow Brushes On The Tunics...

2017 – Elif Shafak, The Last Taboo

2018 – Han Kang, Dear Son, My Beloved

2019 – Karl Ove Knausgård, ainda não entregue devido ao COVID_19

2020 - Ocean Vuong, selecionado este ano

Deixo uma breve perspectiva sobre a ideia para o projeto que nos pode fazer refletir sobre tantas e tantas ideias: sobre os livros; as árvores que vão ser usadas; nós que não estaremos cá e que nunca os poderemos ler; e aqueles que lerão aquilo que nunca ninguém pôde antes ler...

“It is less egotistical than regular publishing too. So much of publishing is about seeing your name in the world, but this is the opposite, putting the future ghost of you forward. You and I will have to die in order for us to get these texts. That is a heady thing to write towards, so I will sit with it a while.”

“If you look at any literary epoch, who gets carried forward in time is a mystery, still. Melville sold about 1,000 copies of Moby-Dick and now he is the totem of American fiction. This is an antidote, to say regardless what happens in market trends, we have a record of what humans have found valuable, the voices we were interested in, for better or worse." Ocean Vuong, entrevista ao Guardian, 19.8.2020 

Deixo um vídeo, de 2014, no qual a artista explica mais promenorizadamente o que pretende com a sua obra: 

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