abril 10, 2020

Who's Afraid of Virginia Woolf?

Sendo uma peça de teatro (1962), foi como filme que o conheci há muitos muitos anos, mas mais do que isso, foi por meio deste filme (1966) que compreendi a importância da performance dramática e da direção de atores, e o quanto ambas eram fundamentais para que a arte cinematográfica fosse capaz de nos hipnotizar e transportar para outra realidade ao longo de duas horas. Obviamente o cinema importou do teatro o drama, e este pode por si apenas dar vida completa a um texto, mais ainda quando se tem ao seu serviço performances divinas como as de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Mas não podemos esquecer que o cinema tem um realizador que põe em cena, que dirige os atores juntamente com as câmaras, e por via da composição, enquadramento e direção Mike Nichols acabaria tornando o texto de Edward Albee numa obra imemorial.
Mas a leitura do texto não é uma experiência perdida. Tenho referido a dificuldade de ler teatro, pela falta imensa que faz a dramatização, mas ler esta peça transportou-me até às tragédias gregas. Não sei se por me trazer continuamente à mente o filme, mas a verdade é que o vi há quase 30 anos, por isso tenho apenas impressões dele na memória. Contudo a leitura da peça consegue colocar-nos frente aos personagens, imaginá-los em movimento e sentir a sua verve, muito pela força do diálogo escrito por Albee. Podemos dizer que o texto colocado na boca dos personagens é duro, ríspido, direto, rápido e dito sempre no momento certo. Apesar de comédia, o seu tom negro transporta-o para a tragédia, com os quatro personagens a mais parecerem estar numa arena digladiando-se com palavras, vendo quem fere mais, mais rápido, quem chega ao final de pé.
O texto toca na essência de dois casais de académicos, pondo a nu não só as ilusões da vida em casal, mas também das ilusões da dignidade das profissões e dos seus legados. O twist final, um passe de mestre de Albee que tornaria a peça imemorável, é ele mesmo a cabal assunção de toda a ilusão, tornando a peça numa obra central do século XX.

Nota em estrelas no GoodReads.

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