junho 28, 2013

Hollow, um documentário interactivo

Foi lançado esta semana mais um documentário interactivo online, Hollow (2013) de Elaine McMillion. Este é um trabalho que interessa ver por duas razões, o seu conteúdo e a forma. Na parte do conteúdo porque dá conta de uma realidade nos EUA, que conhecemos bem em Portugal, a desertificação de cidades no interior. Na forma, interessa analisar o modo como o projeto foi desenvolvido em termos de linguagem de interactividade.




McDowell County, é um condado de Wets Virginia que perdeu ao longo dos últimos 50 anos, 4/5 da sua população, passando de 100 mil para pouco mais de 20 mil habitantes. Isto criou uma sensação de cidade fantasma, abandonada no tempo. Foi por causa disto que Elain McMillion resolveu criar este documentário. Com uma formação em Jornalismo, e um mestrado em Artes Visuais, resolveu avançar para algo que pudesse ter um maior impacto junto da comunidade, capaz de fazer mover as pessoas em redor da causa. Nesse sentido optou por um documentário em formato online, interactivo, e social. Ou seja, a sua ideia não era apenas dar a conhecer o problema, mas contribuir para gerar acção em redor do problema. Para o fazer recorreu ao Kickstarter onde conseguiu 30 mil dólares, e lança agora o documentário interactivo online para que todos possam ver, mas acima de tudo, todos se possam juntar à causa.
Our hope is that through storytelling and the creation of multidimensional images, the community members will begin to see their environments and neighbors in a new way and begin to work together to preserve the history and make positive contributions to their communities. Elaine McMillion
Posso dizer que fiquei impressionado com a componente técnica do trabalho desenvolvido. A mescla entre vídeo, imagem, música e texto, com plena interatividade, e altamente fluída, é de uma excelência enorme. Tudo feito em HTML5, o que dá bem conta do novo mundo pós-Flash. Nomeadamente a primeira parte da timeline populacional é muito boa, com uma interacção toda feita através do simples scroll, que apesar de nos permitir apenas controlar o tempo e ritmo do documentário, acaba por nos atribuir grande responsabilidade na gestão da informação e de toda experiência.

Já em termos de criação de sentido, tenho algumas dúvidas sobre o potencial deste modelo. Ou seja, adorei o que foi feito em termos técnicos, e do seu poder em termos emocionais e perceptivos, mas tenho receio que o banho de informação e de media que levamos durante a interacção com o artefacto possa impedir um acesso mais profundo ao que se quer dizer. De certo modo sinto que nossa cognição fica demasiado sobrecarregada com todo aquele banho de informação em distintos canais. Acredito que somos levados a criar imagens gerais abstractas de tudo o que vamos absorvendo, e retemos apenas sensações e impressões de tudo o que nos foi dito.

Por outro lado, este banho de media, poderá ter um efeito distinto do documentário meramente fílmico, no sentido em que pela sua imensidão de ideias e acessos distintos, pode levar as pessoas a desejarem contribuir para a sua ampliação. Isso é o melhor de toda a estratégia por detrás desta obra. Os criadores abriram as portas para que as pessoas pudessem enviar para o projeto trabalhos seus - imagens, vídeos, depoimentos - contribuindo assim para uma ampliação dos significados do projeto, mas acima de tudo contribuindo para as ligar mais intimamente ao mesmo, criando um verdadeiro espírito comunitário à volta deste.

Ficam os links para experienciar o documentário, e para obter mais informação sobre todo o projecto.

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