junho 28, 2013

Hollow, um documentário interactivo

Foi lançado esta semana mais um documentário interactivo online, Hollow (2013) de Elaine McMillion. Este é um trabalho que interessa ver por duas razões, o seu conteúdo e a forma. Na parte do conteúdo porque dá conta de uma realidade nos EUA, que conhecemos bem em Portugal, a desertificação de cidades no interior. Na forma, interessa analisar o modo como o projeto foi desenvolvido em termos de linguagem de interactividade.




McDowell County, é um condado de Wets Virginia que perdeu ao longo dos últimos 50 anos, 4/5 da sua população, passando de 100 mil para pouco mais de 20 mil habitantes. Isto criou uma sensação de cidade fantasma, abandonada no tempo. Foi por causa disto que Elain McMillion resolveu criar este documentário. Com uma formação em Jornalismo, e um mestrado em Artes Visuais, resolveu avançar para algo que pudesse ter um maior impacto junto da comunidade, capaz de fazer mover as pessoas em redor da causa. Nesse sentido optou por um documentário em formato online, interactivo, e social. Ou seja, a sua ideia não era apenas dar a conhecer o problema, mas contribuir para gerar acção em redor do problema. Para o fazer recorreu ao Kickstarter onde conseguiu 30 mil dólares, e lança agora o documentário interactivo online para que todos possam ver, mas acima de tudo, todos se possam juntar à causa.
Our hope is that through storytelling and the creation of multidimensional images, the community members will begin to see their environments and neighbors in a new way and begin to work together to preserve the history and make positive contributions to their communities. Elaine McMillion
Posso dizer que fiquei impressionado com a componente técnica do trabalho desenvolvido. A mescla entre vídeo, imagem, música e texto, com plena interatividade, e altamente fluída, é de uma excelência enorme. Tudo feito em HTML5, o que dá bem conta do novo mundo pós-Flash. Nomeadamente a primeira parte da timeline populacional é muito boa, com uma interacção toda feita através do simples scroll, que apesar de nos permitir apenas controlar o tempo e ritmo do documentário, acaba por nos atribuir grande responsabilidade na gestão da informação e de toda experiência.

Já em termos de criação de sentido, tenho algumas dúvidas sobre o potencial deste modelo. Ou seja, adorei o que foi feito em termos técnicos, e do seu poder em termos emocionais e perceptivos, mas tenho receio que o banho de informação e de media que levamos durante a interacção com o artefacto possa impedir um acesso mais profundo ao que se quer dizer. De certo modo sinto que nossa cognição fica demasiado sobrecarregada com todo aquele banho de informação em distintos canais. Acredito que somos levados a criar imagens gerais abstractas de tudo o que vamos absorvendo, e retemos apenas sensações e impressões de tudo o que nos foi dito.

Por outro lado, este banho de media, poderá ter um efeito distinto do documentário meramente fílmico, no sentido em que pela sua imensidão de ideias e acessos distintos, pode levar as pessoas a desejarem contribuir para a sua ampliação. Isso é o melhor de toda a estratégia por detrás desta obra. Os criadores abriram as portas para que as pessoas pudessem enviar para o projeto trabalhos seus - imagens, vídeos, depoimentos - contribuindo assim para uma ampliação dos significados do projeto, mas acima de tudo contribuindo para as ligar mais intimamente ao mesmo, criando um verdadeiro espírito comunitário à volta deste.

Ficam os links para experienciar o documentário, e para obter mais informação sobre todo o projecto.

junho 26, 2013

ShotsOfAwe #04 e #05

Mais um episódio belíssimo, de #Shots of Awe, dedicado à Rendição Extática. Neste quinto episódio, Jason diz-nos que temos uma vontade de nos entregarmos completamente a algo mais significante. Ao amor, à ciência, à arte, ao outro… Concordo plenamente, vendo este vídeo podemos sentir essa vontade… de Ecstatic Surrender.


Existe claro o risco, e o medo que nos apoquenta nestes momentos. Apaixonar-nos por algo comporta essas experiências menos positivas, mas sem isso podemos muito bem correr o risco de passar pela vida, sem nos darmos conta dela.

ShotsOfAwe #05 - Rendição Extática (2013) de Jason Silva

Na semana passada não tive tempo de fazer aqui referência ao episódio #4, por isso deixo-o agora, para que possam desfrutar, depois de se renderem a esta série, que está cada vez melhor. O episódio da semana passada, "We Are Already Cyborgs", foi dedicado à discussão filosófica do conceito de Cyborg, ou à forma como temos vindo a desenvolver melhoramentos ao nosso corpo biológico, questionando-nos para onde vamos, e se é que não somos já todos ciborgues. Jason fala do super-homem de Nietzsche, fala das extensões do homem de McLuhan. No final retive esta frase, "Our second skin, is our technology, is our turtle shell", com a qual concordo, e que vem de encontro a muito daquilo para que trabalho todos os dias na minha investigação.

ShotsOfAwe #04 - We are already Cyborgs (2013) de Jason Silva

junho 24, 2013

Do humanismo ao mercantilismo. Arte, desporto e universidades.

"Mona Lisa Curse" (2008) é um documentário que trata um assunto bastante sensível em termos financeiros, e por isso mesmo foi jogado para debaixo do tapete. O assunto aqui tratado assola-me há já alguns anos, tendo encontrado aqui uma voz que diz frontalmente muito daquilo que eu penso sobre muita da arte contemporânea, e sobre os mercados da arte. O mais preocupante, é que aquilo que aqui é discutido em termos de mercados, não se veio a aplicar apenas à arte, mas antes se propagou a quase todo o tipo de atividade com valor humano intrínseco.


"Mona Lisa Curse" foi criado por Robert Hughes, crítico de arte durante mais de 30 anos da revista Time, e considerado pela The New Yorker o mais famoso crítico de arte de sempre. Neste filme Hughes dá conta do modo como a arte se transformou num negócio, num investimento de mercado, durante a segunda metade do século XX. Hughes marca o início desta cruzada com a vinda da Mona Lisa para Nova Iorque, em 1963, onde foi exibida no MET durante um mês, tendo tido honras de celebridade de cinema. As pessoas vieram aos milhares para a ver, e nada mais seria igual no mundo da arte. Os museus abriram-se à população, e a arte tornou-se num objecto de cobiça.
"The Kennedys managed to turn the Mona Lisa into a kind of 15th-century television set — instead of 1.5 million people looking at one image flashed on 1.5 million screens, you had them all looking at it on one screen, which was the picture itself, and that was the only difference. They didn’t come to look at the Mona Lisa, they came in order to have seen it. And there is a crucial distinction, since one is reality and experience, and the other one is simply phantom.” Robert Hughes
Em termos financeiros, Hughes diz que o mercado da arte é o maior mercado desregulado do mundo, apenas ultrapassado pelo mercado da droga. Ao longo dos últimos 30 anos, fomos assistindo à evolução, altamente especulativa, do valor da arte. Desde o quadro de Warhol, "Men in Her Life", que não passa de uma reprodução de várias fotografias de Elizabeth Taylor, vendido em 2010, por Jose Mugrabi, por 63 milhões de dólares até à insanidade da compra de "The Card Players" de Cézanne pela Família Real do Qatar, por 250 milhões de dólares em 2011. As razões destes valores, nada têm que ver com as obras em si, nem com os seus autores, a única coisa relevante aqui é a garantia do investimento. Ou seja, são valores que o mercado acredita serem possíveis recuperar no futuro, mas estamos no puro reino da especulação, a criar um bolha que mais tarde, ou mais cedo, acabará por rebentar.

The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living (1991) de Damien Hirst. Avaliado em 12 milhões de dólares. Uma obra tão única, que em 2006 devido a deterioração do animal,  a obra teve de ser refeita, com um novo tubarão!!!

O problema agrava-se quando falamos de arte contemporânea, e de artistas como Jeff Koons, Damien Hirst, ou no caso português de Joana Vasconcelos. Como diz Hughes, os preços das suas obras são totalmente manipulados pela promoção e publicidade, e nada têm que ver com a qualidade das mesmas.
“The market is manipulated by collectors who decide to bid up the work of an artist [they’ve already invested in]. So when artist X comes up on the auction block, the collectors all bid it up, so that they can then multiply the value of their existing holdings in artist X by the value of the inflated sale.” [Telegraph]
Enquanto via este documentário, não conseguia parar de pensar, no que pensariam os colecionadores depois de verem aquilo que Robert Hughes diz de forma tão frontal. Mas a reposta à minha questão não tardou, descobri que este documentário passou uma única vez em Inglaterra, no Channel 4, a 5 de Dezembro 2009, às 18h. Não foi vendido para mais nenhum canal de televisão. Ou seja, não só não passou mais vez nenhuma na televisão britânica, como não passou em nenhuma televisão de qualquer outro país do mundo. Mais, não existe à venda em nenhum formato, nunca foi editado por qualquer instituição ou empresa. A única cópia que circula online, é a gravação dessa única vez que passou na televisão, e é difícil de encontrar online, porque está constantemente a ser retirada dos sites por infração de direitos, ao contrário da maior parte dos documentários sobre arte da BBC. Isto é obviamente fruto do poder de influência dos senhores que são ridicularizados no filme. O documentário não é apenas uma afronta à sua intelectualidade, é antes de mais um verdadeiro perigo para a valorização da sua "mercadoria".

Um discurso como o proferido por Robert Hughes, um dos críticos de arte mais importantes do século XX, pode deitar abaixo muito do valor especulativo que muitos artistas têm granjeado. Como diz Hughes, o trabalho de Andy Warhol era vazio, a sua importância foi fabricada, tal qual uma campanha de promoção nos media. Algo que Dali também seguiu quando foi para os EUA. Estamos a falar da valorização da imagem, do estatuto de excentricidade que confere distinção e celebridade, para assim conseguir inflacionar a sua importância, e no final o seu valor. No final do documentário Hughes conversa com o colecionador, Alberto Mugrabi, filho de um dos detentores da maior colecção de artefactos de Andy Warhol, e pergunta-lhe o que ele pensa de Warhol. Aqui fica o diálogo,
Mugrabi: "I think Warhol is probably one of the most visionary artists of our time." 
Hughes: "I thought he was one of the stupidest people I have ever met in my life." 
Mugrabi: "Why is that?"
Hughes: "Because he had nothing to say." 
Posso até admitir que Hughes reage com demasiada violência, talvez com algum ressabiamento. Ou até que simplesmente não foi capaz de evoluir com os tempos, se manteve preso aos seus parâmetros do passado. Nomeadamente no caso dos museus, não posso de todo defender instituições fechadas. Acredito que estas devem estar abertas à população, e tudo devem fazer para conseguir atrair as pessoas até si, para que possam todas usufruir de obras que pertencem à humanidade. Agora Hughes tem razão quando ataca o caminho trilhado no sentido da massificação dos museus, no modo como se tornaram em máquinas de fazer dinheiro. Um museu deveria servir de guardião de obras únicas, não deveria dedicar-se a celebrizar as obras, a transformar a arte numa mercadoria de promoção do nome do museu.

O maior problema, é que não foi apenas a Arte que se transformou nisto, tudo no ocidente se transformou nisto. Desde a FIFA e o Comité dos Jogos Olímpicos no mundo do desporto, às grandes Universidades americanas, que agora exportam os seus modelos para todas as europeias, tanto na Educação como na Ciência. Há 20 anos seria impensável uma universidade fazer um spot publicitário, hoje tornou-se banal. Em Portugal podemos até ouvir, na rádio, universidades a anunciar duas licenciaturas pelo preço de uma. Ou seja, não interessa o que se aprende, interessa apenas o canudo, o valor da mercadoria que se compra.

O mercantilismo simplesmente canibalizou o humanismo. Em nome de uma alegada auto-sustentabilidade financeira, vale tudo. Os sistemas de produção de conhecimento e cultura - Educação, Ciência, Arte, Deporto, etc - precisam de se autojustificar constantemente, porque a sociedade simplesmente deixou de os considerar valores intrínsecos da humanidade. Tudo depende agora de alguém com dinheiro, que lhe ache graça, e decida investir. E assim, a arte, a ciência, a cultura, o desporto, passam a ter o valor que os mercados lhe atribuem, nada mais do que isso.


Caso o vídeo acima deixe de estar disponível, use este link para fazer download (400 mb).

junho 21, 2013

porque evoluímos tanto nos últimos 13,000 anos

"Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies" é um livro de Jared Diamond de 1997, entretanto vertido para um documentário de três horas da National Geographic em 2005. A ideia central passa por explicar porque é que as sociedades da Europa e Ásia (Eurasia) se sobrepuseram às restantes sociedades do globo em termos económicos, baseado simplesmente na Geografia, ou seja na posição geográfica ocupada no globo. Jared Diamond é professor na UCLA e este seu livro foi premiado em vários eventos desde então, incluindo o Pulitzer.


Aquilo que posso dizer é que depois de lerem Guns, Germs, and Steel nunca mais verão o mundo da mesma forma. Estamos perante uma análise evolucionária do homem em função da geografia, e aquilo que Diamond faz é simplesmente brilhante. Ele conseguiu com esta obra trazer a Geografia para o centro da discussão científica no que toca às questões essenciais sobre a espécie humana. Ler este livro é redescobrir o mundo.

A questão central começa por ser enunciada por um político da Nova Guiné, "Por que é que vocês, brancos, desenvolveram tanta tecnologia e a trouxeram para a Nova Guiné, mas nós, os negros tínhamos tão pouca tecnologia própria?" A que se segue a constatação de que várias sociedades mesmo depois de colonizadas e libertadas, continuaram a ter dificuldade em progredir no seu próprio bem-estar.

Eurasia

A resposta a isto está neste livro, que nos diz que esse avanço civilizacional não tem nada que ver com diferenças genéticas, nem sequer culturais, mas antes com a influência da geografia sobre a evolução dos povos em cada espaço do planeta. Diamond defende que as diferenças originaram a partir das condições ambientais distintas que favoreceram a progressão, estagnação e a regressão das sociedades. O ponto central desta evolução e diferenciação está exactamente no processo de agricultura.

Antes de criarmos as civilizações vivíamos dispersos pelo globo, como pequenos grupos nómadas, em busca de locais que nos oferecessem a melhor comida. Com o surgimento da agricultura descobrimos que era possível ficar no mesmo sítio, produzindo a nossa própria comida, não sendo necessário mais viver à custa da aleatoriedade da natureza. Ou seja, a partir do momento em que nos tornámos sedentários, e iniciámos a atividade da agricultura, o engenho humano ganhou maior liberdade para evoluir, para através da experiência acumulada fazer mais e melhor. A população cresceu, o trabalho especializado apareceu, e com este surgiram as hierarquias, as organizações, e os países.

Até aqui nada de novo, todos demos isto na escola. A inovação de Diamond passa por analisar o fenómeno da criação das sociedades nas diferentes partes do globo, através das condições ambientais que permitiram a evolução dos processos da agricultura. E aqui Diamond diz-nos que a Eurasia era um local privilegiado, em termos de clima e consequentemente do tipos de plantas possíveis, e ainda da existência de animais domesticáveis.

Ao todo a Eurasia domesticou 13 espécies de grandes animais (Cavalo, Vaca, Cabra, Ovelha, Porco, Galinha, Cão, etc.). A América do Sul domesticou uma (Lama), e o resto do mundo nenhuma. Nunca conseguimos domesticar animais próximos como a Zebra, o Javali ou o Elefante, menos ainda Rinocerontes, Bufalos, Leões, Tigres, Águias, etc. Assim a nossa superioridade hoje enquanto espécie neste planeta, advém do facto de termos conseguido subjugar outras espécies às nossas necessidades. Nesse sentido a Eurasia foi a zona do planeta em que se geraram as melhores condições para essa dominação. Daí à dominação de outros povos, foi um passo.

As espécies animais domesticadas pelo homem

Diamond vai ainda ao ponto de analisar as condições climatéricas de outras partes do globo para explicar porque razão mesmo depois de colonizadas, nunca conseguiram evoluir por si próprias. Fala nomeadamente das condições muito pouco favoráveis dos trópicos no que toca à agricultura e a facilidade de propagação de doenças que tornam o ambiente muito hostil aos processos de sedentarização.

O trabalho de Diamond é extenso, levanta muitas questões, lança muitas mais hipóteses, assim como levantou um conjunto de críticos às suas teorias. Do meu lado restaram-me poucas dúvidas sobre as teorias de Diamond porque ele é exímio na sua comunicação e detalhe. Existe um cuidado muito grande na forma como nos vai apresentando as suas ideias e conclusões, muito suportadas por evidências claras e objectivas. E se neste livro Diamond se detém para explicar porque as sociedades prosperam, no seu livro seguinte, Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed (2005) que ando agora a ler, detém-se sobre as razões que levaram ao desaparecimento de várias civilizações no nosso planeta.

Para quem não tiver muito tempo, ou quiser um atalho para as ideias de Diamond, aconselho vivamente o visionamento do belíssimo documentário, Guns, Germs & Steel (2005) criado pela National Geographic que conta com o próprio Jared Diamond. Para tal uma simples pesquisa no YouTube retornará várias opções para ver os três filmes de 50 minutos cada.

junho 20, 2013

laboratório de investigação: engageLab

Trago o belíssimo vídeo criado pelo João Martinho sobre o nosso laboratório, engageLab na Universidade do Minho. É com grande alegria que o partilho aqui, acima de tudo por poder verificar através destas imagens, captadas ao longo de dias, a forma descontraída e bem disposta como as pessoas circulam pelo laboratório. Este laboratório só existe graças a todas estas pessoas, que lhe dão vida todos os dias, mesmo quando as condições se tornam mais difíceis. Obrigado a todas, e a todos.


O laboratório está situado fisicamente no Centro de Computação Gráfica, num espaço afecto ao Centro Algoritmi, mas enquanto entidade, é também parte do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.  Deixo a definição oficial do laboratório e a seguir o vídeo.
engageLab is a laboratory at the intersection of arts and technology established by researchers of two research centres at University of Minho, the Centre for Communication and Society Studies and the Centre Algoritmi. engageLab aims to be a space of convergence of different fields and audiences, conducive of the intersection of different languages, integrating researchers from a variety of fields that contribute to imagine, research, design and implement the next generation of human-computer interaction systems combining the functional with the aesthetics of the experience, applied to a wide set of human activities and ideally inspiring new ones.

engageLab (2013) de João Martinho

junho 19, 2013

experimentação numérica e criativa

Em tempos de Processing 2.0 vale a pena ver o documentário Hello World! Processing (2013) criado pelo Ultra-Lab, um grupo dedicado ao open hardware. O documentário é interessante pelos projectos que mostra, pela quantidade de entrevistas realizadas, e acima de tudo pelo modo como introduz o universo do Processing em todo o seu esplendor experimental, processual e criativo.


O Processing é uma linguagem aberta criada para guiar as pessoas menos orientadas à matemática no processo de aprendizagem da programação. É uma linguagem pensada para iniciar o estudo da algoritmia, porque permite muito rapidamente obter feedback do que se vai fazendo. Tem a vantagem de ser desenhada sobre o Java e por isso ser multiplataforma. Por outro lado a versão 2.0 integra desde já os modos Javascript e Android, que permitem criar projectos directamente para HTML5 e Android.

O Processing é a linguagem de programação que utilizamos há mais de cinco anos no Mestrado em Tecnologia e Arte Digital. Há dois anos quando iniciámos o Mestrado em Media Interactivos, ainda demos uma oportunidade ao ActionScript 3.0, mas a partir deste ano passaremos a utilizar aqui também o Processing.


junho 18, 2013

Italo Calvino: "I see art as communication"

Sai na próxima semana um volume das cartas de Italo Calvino, Italo Calvino: Letters, 1941-1985 (2013) editado pela Princeton University Press. Entretanto a Maria Popova do Brain Pickings fez já uma análise do livro para o seu blog, no qual relata a descoberta de mais uma pérola sobre a definição da arte. Uma definição simples e clara, de que arte é comunicação.

Italo Calvino, Maio 1942
"I’ve read your poem. I too, if you remember, wrote a Hermetic poem in my early youth. I know that gives enormous satisfaction to the person who writes it. But whether the person who reads it shares this enthusiasm is another matter. It’s too subjective, Hermeticism, do you see? And I see art as communication. The poet turns in on himself, tries to pin down what he has seen and felt, then pulls it out so that others can understand it. But I can’t understand these things: these discourses about the ego and the non-ego I leave to you. Yes, I understand, there’s the struggle to express the inexpressible, typical of modern art, and these are all fine things, but I …" Italo Calvino, Maio 1942
Esta asserção de Calvino é de grande relevância pelo simples facto de dar razão à minha assunção do valor da arte. A arte é sempre um meio, um canal de expressão, e uma obra de arte é sempre um acto de comunicação com outrém. A criação artística não é hermética, é exteriorização do virtual transformada em algo real, que conecta o nosso ser com o dos nossos semelhantes.

Para quem não conhece, recomendo a sua obra maior, "Se Numa Noite de Inverno Um Viajante" da Editorial Teorema.

junho 17, 2013

A importância das Artes e Humanidades

Trago um filme feito pelo Art and Humanities Research Council que serve de introdução à estratégia do concelho para 2013-2018, sob a designação, The Human World: The Arts and Humanities in our Time. Enquanto filme está muito bom, talvez demasiado grande para a web, mas o conteúdo é de grande pertinência não apenas para UK, mas para toda a Europa, incluindo Portugal.


“The arts and humanities profoundly affect the ways we see and experience our human world (..)
When you think about what Britain is really good at - higher education, research - those are right at the top of the tree. But the other thing we're so great at is the creative industries, and the creative economies and the cultural life of this country, which has intangible positive rippling effects across the world in terms of the way other countries see us, in the way they trust us. We are in austere times, no one can escape that, but those who think it's all a question of just investing in manufacturing, or just investing in engineering or the hard sciences, really need to wake up to the realities of our current way of life." Professor Rick Rylance 
The Human World: The Arts and Humanities in our Time (2013-218)

Existem duas citações referenciadas no filme que valem sempre a pena recordar quando falamos da importância das artes e da cultura. Um delas diz-nos que uma vez foi sugerido a Winston Churchill cortar no financiamento às artes, para financiar a guerra que a Inglaterra travava contra a Alemanha, ao que ele terá respondido,

“Then what would we be fighting for?”

A segunda citação é bastante mais recente, e é de um amante do cruzamento entre a tecnologia e a arte, Steve Jobs, que disse alguns meses antes de morrer,

“It is in Apple’s DNA that technology alone is not enough, it’s technology married with liberal arts, married with the humanities, that yields us the results that make our heart sing.”

junho 14, 2013

movimentos do Design

A Universidade Aberta inglesa criou um conjunto de seis filmes de animação, Design in a Nutshell, para explicar seis movimentos chave da história do Design: Gothic Revival, Arts and Crafts, Bauhaus, Modernism, American Industrial Design, Postmodernism. Cada filme tem cerca 1m30, ou seja em menos de dez minutos é possível ver todos e ganhar novas noções da história do design.


Desses seis escolho apenas três para colocar aqui, aqueles com que mais me identifico, e que servem para categorizar aquilo que procuro fazer através deste blog. Assim sendo os três movimentos mais relevantes aqui, são: 2/6 Arts and Crafts, 3/6 Bauhaus, e 6/6 Postmodernism. Deixo os links para que possam ver os restantes três filmes: 1/6 Gothic Revival, 4/6 Modernism, 5/6 American Industrial Design (os números indicam a ordem aconselhada, mas podem ser vistos em qualquer ordem).

O movimento Arts & Crafts é de grande relevância, porque aparece juntamente com a Revolução Industrial, como reacção humana aos produtos criados pela máquina. O que estava em causa era a criatividade, a singularidade, a personalização. Os artefactos criados pelas máquinas eram todos iguais, feitos em série. Nesse sentido surge o movimento que conceptualiza a importância dos objectos feitos pelos artesãos, feitos à mão, os verdadeiros e autênticos. O movimento é ainda mais importante, porque é dele que vai surgir toda a concepção que hoje temos de Arte, de algo imbuído de um espírito autoral e único. A sua marca mantém-se ainda hoje, e é tanto mais evidente com as novas movimentações decorrentes do aparecimento da Web2.0.

A Bauhaus é sobejamente conhecida e sempre invocada quando se fala de design. Foi a primeira grande escola de design, e continua ser hoje recordada como a escola do design. A sua marca mantém-se, e continua a estar muito presente no meio de nós, nomeadamente no campo da tecnologia, de tudo o que tem saído da Apple.

O pós-modernismo é um movimento que ainda se encontra em ebulição, ainda anda à procura de se definir. Sabemos que o questionamento e a subversão é chave, o fascínio pela multiplicadade, desmultiplicação, pelo não-linear, pelo fim da unicidade formal e semântica. Eu diria que é de todos o mais intelectualizado, e aquele que corresponde mais ao momento que se vive, de procura de sentidos, de procura de direcções, no meio de tanta turbulência e indefinição em que a sociedade foi jogada pela velocidade do tempo.

junho 13, 2013

Grandes Livros: "1984"

Em tempos de Google, Facebook e o PRISM, é tempo de revisitar 1984, o livro que agora voltou aos tops de vendas dos EUA. Por isso resolvi trazer aqui o documentário, Great Books: "George Orwell's 1984", do Discovery Channel, que vi há algum tempo, e nos fala de Orwell e a escrita de 1984. O documentário fala-nos da ideias que terão inspirado Orwell a escrever 1984, a segunda guerra mundial, seguido pela fase dos medos da guerra nuclear. Acredito que em última análise, Orwell como jornalista terá percebido o poder e alcance das máquinas de propaganda totalitarista de Hitler e Estaline, e terá sido a partir daí que começou a desenhar a ideia do Big Brother na sua mente.



1984 de George Orwell é uma das obras de ficção científico-políticas mais relevantes do século XX, dado o momento em que surge, o tempo da guerra fria, e as previsões que faz, muito fáceis de ligar com os tempos que se viviam. O livro foi escrito em 1948, e projectado para 1984, ano em que toda a sociedade seria controlada através de sistemas de televisão, em que todos teriam a responsabilidade de se vigiar uns aos outros, em que tudo seria alegadamente "transparente". A obra entra pelos subterrâneos desta possibilidade ficcional e apresenta os seus piores problemas. Desmonta o momento em que as pessoas deixam de ser humanos para passarem a ser meras estatísticas, sem livre-arbítrio.

Em todos estes anos, tudo temos feito para caminhar nesta direcção, muito pouco se fez para o evitar, acreditando num "bem maior" que aqui é claramente exposto e desmascarado. Fica o documentário que podem ver no YouTube com legendas em português. Claro que depois de ver o documentário, aconselha-se vivamente a ler o livro, se ainda não o tiverem feito, a sua riqueza é insubstituível.

Great Books George Orwell's 1984 , (2000), Discovery Channel

O documentário tem 45 minutos, e está dividido em três partes. Aqui ficam os links para: Parte 2 e Parte 3

ShotsOfAwe #03: "Mortalidade"

Novo filme da série Shots of Awe de Jason Silva fala-nos da ideia de mortalidade. Ao contrário dos filmes anteriores, e imbuído da própria ideia subjacente ao conceito em discussão, Jason faz um episódio muito mais calmo, sereno e tranquilo. Existe aqui uma mudança de discurso, depois dos vertiginosos Awe e Singularity, agora uma análise que leva o espectador através de uma ideia que nos é muito próxima, e que nos custa discutir muitas vezes, mas que não deixa de estar presente, todas as horas, todos os minutos.


Tenho algum desencontro com este episódio em concreto, porque Jason defende aqui a possibilidade conceptual do fim da morte, algo que eu não aceito. O meu primeiro texto neste blog há 10 anos foi exactamente sobre isto. Chegados a um ponto em que deixamos de precisar da biologia e podemos viver para sempre, a questão imediata que se me suscita, é viver para quê? Mas percebo a forma optimista e vigorosa como ele defende esta ideia, no sentido de existir um desejo humano em todos nós, de deixar uma marca cá, de demonstrar que tivemos uma palavra a dizer neste mundo, que servimos de alguma coisa, que fomos importantes para a vida.

junho 11, 2013

Criar o próprio emprego, sim ou não?

O que tínhamos, e ainda temos. O que construímos, e estamos em vias de poder vir a construir. Os perigos de antes, e os perigos atuais. Não existem soluções fáceis para a sociedade, a educação e a criatividade vão ajudar, mas só por si não chegam. O empreendedorismo não é o nosso problema, o nosso problema é não conseguirmos trabalhar juntos, em grupo, em comunidade, em colectivo, e em empresa.



Portugal, nos últimos 39 anos
"atitude empreendedora é coisa que não falta por cá" [1] 

Cafés e restaurantes assim como tudo aquilo que rodeia a construção civil nacional, desde empresas de canalização, electricidade, carpintaria, vidrarias, gesso cartonado, etc. etc. Tudo isto é feito por milhares de micro-empresas de 1 a 3 pessoas. Porque as pessoas são empreendedoras, não têm medo de ir à luta? Ou será porque não conseguem trabalhar juntas?

Assisto a isto em Portugal desde que me lembro. As empresas que se vão criando, seja em que área for, acabam por não vingar, porque em vez de se crescer na união, de procurar a inovação com várias cabeças, em pouco tempo temos os melhores dessa empresa a sair para criar a própria empresa. Ou porque são explorados, ou porque não são respeitados, ou porque simplesmente também muitas vezes pensam que sabem mais que todos os outros.
"Consultando as estatísticas, constata-se que temos já uma brutalidade de gente a trabalhar por conta própria ou em empresas familiares – nada menos que 42% de activos empregados em empresas com 9 ou menos trabalhadores. Por comparação, apenas 19% dos trabalhadores alemães e 11% dos americanos laboram em empresas dessa dimensão (..) ao contrário do que se diz, os níveis mais elevados de iniciativa empresarial são registados nos países mais atrasados. O auto-emprego abrange 67% dos activos no Gana e 75% no Bangladesh, mas apenas 7% na Noruega, 8% nos EUA e 9% na França. Mesmo excluindo os camponeses, a probabilidade de alguém ser empresário é duas vezes maior nos países atrasados do que nos desenvolvidos." [1] 
No final, o que temos são montanhas de pequenas empresas, que se desenrascam, mas não produzem qualquer mais-valia. Por serem pequenas também não têm força negocial, seja com clientes, seja com bancos. E ao fim de alguns anos acabam por desaparecer. Na verdade, este não é o padrão de Portugal, não somos especiais. Este é simplesmente o padrão de um país pouco desenvolvido, consequência dos baixíssimos níveis de educação que possui.
"A esmagadora maioria das pessoas dos países ricos emprega-se em organizações que agrupam centenas ou milhares de trabalhadores e jamais sonha criar a sua própria empresa. Isso é excelente, porque pouquíssimos dispõem de vocação ou competência para fazê-lo. Em contrapartida, nos países pobres muitos são forçados a criar o seu próprio negócio para fugirem ao desemprego." [1]
Ainda recentemente via de relance uma reportagem sobre os pequenos barcos de pesca portugueses. Como é possível em 2013 ainda estarmos assim, não evoluímos nada. Quando me vêm dizer que Portugal destruiu a Pesca e a Agricultura por ordens da CEE, só podem estar a brincar. Portugal não destruiu nada, simplesmente o que tínhamos na agricultura e na pesca não era rentável, eram culturas de mera subsistência, dava para as próprias pessoas sobreviverem, mas não dava para comprarem carros, computadores, etc., ou seja crescerem. Os agricultores portugueses trabalhavam em sistemas minifundiários, o que não só dificultava a entrada das máquinas, como impossibilitava criar escala para criar margens para as poderem comprar. Ainda hoje, se quisermos seguir o mantra "comprar nacional", por exemplo no caso da fruta, temos de pagar  quase mais 50% do que quando esta vem de Espanha. Margens é algo que praticamente não existe na nossa agricultura e pescas.

E o problema afunda-se num ciclo vicioso que mantém este tipo de estruturas empresariais, como muito bem destaca o The Atlantic,
"Part of that something else is Portugal's small business culture. As Matt Yglesias of Slate points out, most of southern Europe, Portugal included, suffers from too much corruption and regulation. Businesses choose to stay small, because it makes sense to just deal with people you personally trust when you can't reliably appeal to the authorities sans-kickback. Businesses can stay small, because the laws make it hard to get big and achieve economies-of-scale. It's a mom-and-pop nightmare of low productivity." [2]
Ou seja temos um problema clássico de Justiça, mas temos um problema mais clássico ainda de falta de formação. Quanto mais educado um povo, mais fácil é perceber que o caminho não se faz através da corrupção mas da inovação. É verdade que em vez da CEE ter despejado dinheiro para auto-estradas teria ganho mais em despejar para formação das pessoas. Mas nem isso é verdade, porque nos últimos 20 anos não faltou dinheiro para formação em Portugal. Cresceu que nem cogumelos, com muita gente a ganhar muito dinheiro com tanta formação que no fim de contas veio a ter efeitos muito reduzidos. Aliás em nada diferentes das Novas Oportunidades. O problema aqui é de fundo, estudos feitos nos EUA sobre a certificação de competências feitas mais tarde, depois de desistir da escola, mostram que o impacto na vida das pessoas é extremamente reduzido, praticamente nulo [3].

É no fundo um misto entre aquilo que o The Atlantic aponta, a falta de justiça, e a falta de níveis mais elevados de educação, que impedem que o país progrida, porque também quem o governa e organiza apresenta esta falta de valores e formação. Isso fica bem explícito no exemplo dado por Augusto Mateus a propósito do estudo 25 Anos de Portugal Europeu [9], quando ele compara o investimento realizado em Portugal e na Coreia do Sul, na mesma área. O que é dito aqui a propósito da indústria têxtil poderia ser dito a propósito de quase todo o investimento, desde as linhas loucas para TGVs, às três auto-estradas Lisboa-Porto. Ou ainda aos estádios do Euro, fomos o único país a ter 10 estádios para um Europeu, o que não deixa dúvida sobre o facto de ainda sermos incapazes de nos governar.
“Houve, há uns anos, uma tentativa de revitalizar a indústria têxtil e, juntamente com a Coreia, Portugal pôs de pé um projecto com esse objectivo. No caso da Coreia, decidiu-se focar os apoios numa única região têxtil e apoiaram-se 17 projectos, em Portugal, foram apoiados 2518 projectos.” [9]
Ou seja, o grande problema de Portugal, para mim, continua a ser o mesmo de sempre, por mais voltas que se dê, e mais explicações que tentemos, falta sempre o basilar e que é aquilo que nos distingue verdadeiramente dos países mais desenvolvidos que o nosso, a educação. Uma educação sólida que começa no pré-escola e deve seguir sem desistência possível até ao 12º pelo menos, com especializações técnicas e profissionais para uma parte desses estudantes. Só esse trabalho continuado, pautado por regras, controlo e gestão emocional, gera capacidade para a auto-gestão, e planificação de médio prazo. Sem isso, nunca teremos uma cultura, uma visão do trabalho que opere sobre a mais-valia, e ficaremos sempre pela mera sobrevivência.

Para quem tiver dúvidas, recomendo a análise da Educação (100% população com 12º ano) e da sua correlação com o surgimento global da indústria tecnológica (Samsung, LG, Hyundai, Kia, etc.) na Coreia do Sul nos últimos 30 anos [5].


As indústrias criativas são a solução?

Muitos acreditam que a salvação da Europa, e claro de Portugal passa pelas indústrias criativas. É verdade que são importantes, mas não esquecer que mesmo nos países mais desenvolvidos elas não vão além de 3% a 5% do PIB. É muito, mas está longe de ser a solução para todos os nossos problemas, muito longe. Além disso, com estas indústrias assentes na tecnologia e no know-how do indivíduo a solo, novos problemas surgem no horizonte [4]. No caso português, desde logo as baixíssimas qualificações [5].

Os países mais desenvolvidos já ultrapassaram o estado de industrialização, e agora procuram outras formas, nomeadamente criativas para fazer face aos constrangimentos económicos proporcionados pelas economias emergentes - China e India. Estamos a assistir no mundo desenvolvido a uma destruição das grandes empresas, através do chamado outsourcing. A revolução das tecnologias criativas está a abrir um fosso entre a indústria que tínhamos antes e que permitia a existência de empregos de criativos (veja-se os casos dos Fotógrafos do Chicago Sun-Times, ou dos artistas 3d Indústria dos VFX, ou mesmo aqui em Portugal do Daniel Rodrigues).

Hoje qualquer um pode fazer um filme de grandes efeitos visuais, completo e sozinho no quarto em que a renda é paga pelos pais (veja-se o filme Rosa (2011)). Isto começou por distorcer o mercado das pequenas empresas, mas está agora a chegar às maiores [6]. O que estamos a assistir é a uma radicalização da liberalização do fazer o que se quer, quando se quer, e como se quer. A total elevação do individualismo, em detrimento do sentido colectivo.

Por outro lado, todos estes talentos que se vão afirmando na net, não querem verdadeiramente estar isolados. Estes criativos produzem todos estes trabalhos fantásticos em busca do sonho de um dia poder vir a pertencer a uma grande empresa, a uma grande indústria, de forma a que todo o mundo possa vir a reconhecer o trabalho da equipa. Mas a sociedade, não os entende dessa forma, a sociedade empurra-os mais e mais para esse nicho individualista, na esperança de que se desenrasquem sozinhos sem precisarem de ninguém,
"Governments play up the idea that a digital future creates jobs rather than eats them up. Culturally, there is now a fantasy world of start-ups and blogs and YouTube TV where a very few people manage to make money but most work simply for "experience"." [7]
O dinheiro não desapareceu, simplesmente mudou de mãos. O dinheiro que ia para quem empregava criativos vai agora para a Google, Facebook, etc. Em troca, as pessoas recebem tecnologia para se agilizarem, ferramentas de contacto 24/24, aplicações de Office, de Fotografia, serviços de Hosting, e tudo o mais "aparentemente gratuito". É a publicidade que antes pagava muitos dos empregos criativos, que agora paga a disponibilidade de todas estas tecnologias.
"So Kodak has 140,000 really good middle-class employees, and Instagram has 13 employees, period... There’s not a middle-class hump. It’s an all-or-nothing society.
The whole idea of a job is entirely social construct… The idea of a job is that you can participate in a formal economy even if you’re not a baron… the benefits are really huge, which is you get a middle-class distribution of wealth and clout so the mass of people can outspend the top, and if you don’t have that you can’t really have democracy (..)
So what changed, is that at the turn of the 21st century it was really Sergey Brin at Google who just had the thought of, well, if we give away all the information services, but we make money from advertising, we can make information free and still have capitalism. But the problem with that is it reneges on the social contract where people still participate in the formal economy. And it’s a kind of capitalism that’s totally self-defeating because it’s so narrow. It’s a winner-take-all capitalism that’s not sustaining." [8]
O problema disto está a jusante, quando chegarmos ao ponto de não termos mais sequer pequenas empresas, mas apenas freelancers. Uma pessoa sozinha dificilmente consegue gerar margens para inovar continuamente. Não tem tempo para continuar a aprender. A curto-prazo será ultrapassado por um qualquer miúdo que sai da universidade com novos saberes que o tornam obsoleto. Ou seja, finda a sua utilidade, é jogado no caixote dos irrelevantes da sociedade. Não haverá sociedade, nem estado (subs. desemprego, subs. doença,...) que lhe valha. Dir-lhe-ão que se devia ter mantido atualizado, o que é puro cinismo. As empresas que o contrataram em outsourcing, continuarão business as usual, sugando os novos recrutas que vão chegando, que ainda vivem em casa dos pais, e podem fazer trabalho abaixo do seu custo real.

A ideia de uma sociedade, em que todos fazem o que querem de forma totalmente individual, é uma sociedade sem futuro. Simplesmente porque como indivíduos isolados, não formamos mais uma sociedade, não passamos de um conjunto de nós sem relação, vivendo na incerteza constante do dia seguinte.


Referências

[1] Histórias da carochinha para graúdos, Pinto de Castro, Jornal de Negócios [LINK]
[2] The Mystery of Why Portugal Is So Doomed, in The Atlantic, Junho 2013 [LINK]
[3] How Children Succeed: Grit, Curiosity, and the Hidden Power of Character, Tantor Media, 2012
[4] Creatives after the crash (2013), Betsy Donald et al, Cambridge Journal of Regions, Economy and Society 2013, 6, 3–21 [LINK]
[5] A Educação em Portugal e na Europa, Vitual Illusion, Novembro 2011 [LINK]
[6] Hollywood in decline? US film and television producers beyond the era of fiscal crisis (2013), Susan Christopherson, in Cambridge Journal of Regions, Economy and Society 2013, 6, 141–157 [LINK]
[7] In the digital economy, we'll soon all be working for free – and I refuse, Junho 2013, The Guardian [LINK]
[8] Jaron Lanier: The Internet destroyed the middle class, in Salon, May 2013 [LINK]
[9] 25 Anos de Portugal Europeu, Augusto Mateus, Maio 2013 [LINK] + notícia Público

junho 10, 2013

Projecto TheLisbonStudio

TheLisbonStudio é um projecto cooperativo criativo na zona de Lisboa, e que consiste num espaço físico que permite a criativos juntarem-se para trabalhar em conjunto, seja nos seus próprios projectos, seja em projectos colectivos. De momento a equipa reúne artistas de BD, animação, ilustração, realização e guionismo, com nomes como Joana Afonso, Ricardo Cabral, Jorge Coelho, Ricardo Venâncio, Pedro PotierPedro Brito, Sara Barbas, Ana Branco, Ana Freitas, Ana O., Marta Antão, Nuno Duarte, Nuno Duarte (Mocifão), Pepe Del Rey.


O que mais me entusiasma nesta ideia é o factor cooperativo, e a razão para isso está relacionada com o facto de os criativos ao trabalharem isoladamente terem menos conhecimento do mercado, assim como serem menos conhecidos pelo mercado, daí terem menos capacidade negocial. Acredito que a oportunidade de desenvolverem projectos como grupo pode vir a ser muito benéfica para todos os envolvidos. Podemos fazer aquilo de que gostamos, sem isso ter que obrigatoriamente passar por trabalhar isoladamente. São iniciativas como esta que podem ajudar a mudar o rumo da individualização, trazida pelas tecnologias de comunicação, em direcção ao colectivo, e ao reconhecimento dos trabalhadores da área*.

Vou recebendo mails com questões de formação, quais os melhores cursos para jogos? 3d? animação? em Portugal? Quais desses cursos garantem qualidade? Quais garantem o retorno do investimento realizado? São tudo questões muito pertinentes, e que só podem ser respondidas se as pessoas que trabalham na área se conhecerem e comunicarem. Se em vez de viverem na redoma do seu lar, ligados por Wi-Fi, contactarem com os pares, dialogarem, discutirem e definirem estratégias conjuntas.

Para se dar a conhecer o colectivo lançou uma revista em formato digital em linha, totalmente gratuita (ver aqui abaixo). O trabalho que podemos encontrar no interior das páginas é de enorme qualidade, e grande diversidade. Folheando as páginas podemos perceber não só as singularidades estéticas que trespassam cada um dos artistas, mas podemos também sentir o imenso talento que existe neste nosso país. Vejam, leiam e partilhem. Uma revista destas merecia ser editada em bom papel e ser distribuída pelas lojas da especialidade nacionais e internacionais.



* Sobre este assunto falei entretanto no texto, Criar o próprio emprego, sim ou não?.

junho 09, 2013

Filmes de Maio 2013

Depois de em Abril ter visto tão pouco cinema, em Maio vi ainda menos, demasiado trabalho, cansaço, livros e comics. Do mês destaco o regresso ao fim de cinco anos de Wong Kar-Way com um objecto, com uma direcção de arte e cinematografia, absolutamente sumptuoso. O filme em si não tem o poder emocional a que nos habituou, o storytelling está muito fragmentado, tentando chegar a todo o lado, mas a estética carrega todo o filme. Depois Poetry que já tinha visto de relance em tempos, acabei por finalmente ver completo, é uma obra capaz de tocar as nossas sensibilidades sobre o sentir da vida, as decisões difíceis, e as razões porque as tomamos. Finalmente 12 Angry Man volto a vê-lo passados mais de 20 anos, agora com um olhar completamente diferente. É um trabalho admirável de Sidney Lumet mas que acusa o tempo passar, as convenções do classicismo americano precisam de um espectador que se coloque constantemente no tempo do filme, ficando a emocionalidade à porta.

xxxx The Grandmaster 2013 Wong Kar-wai Hong-Kong

xxxx Poetry 2010 Chang-dong Lee South Korea

xxxx 12 Angry Men 1957 Sidney Lumet USA


xxx Mama 2013 Andrés Muschietti Spain

xxx Upstream Color 2013 Shane Carruth USA

xxx Sightseers 2012 Ben Wheatley UK

xxx The Devils Double 2011 Lee Tamahori Belgium/Netherlands

xxx Patagonia 2010 Marc Evans Argentina


Nota: Para ver os meses anteriores basta seguir a etiqueta FilmeMês. Podem ver a listagem de todas as notas numa folha online. As notas dadas seguem os critérios: x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima.

junho 08, 2013

ShotsOfAwe #02: "Singularidade"

O novo "philosophical shot of espresso" de Jason Silva já chegou. Depois do primeiro episódio dedicao ao Awe (espanto), desta vez fala-nos da Singularidade. Mais uma vez Jason é fantástico, em apenas dois minutos consegue um verdadeiro efeito de arrebatamento do espectador. Um conceito de difícil definição e que levanta vários problemas morais, é explicado em dois minutos de imagens, sons e oralidade.



Para este tópico Jason convoca trabalhos como The Denial of Death (1973) de Ernest Becker, TechGnosis (1998) de Erik Davies, e The Singularity is Near (2005) de Ray Kurzweil. Jason vai para além do medo que a questão nos coloca, de nos podermos vir a encontrar face a um outro ser criado por nós, e coloca a ênfase na descoberta, na ausência de limites do ser humano, na vontade de escapar à nossa própria morte.
"desire to transcend our own limits... desire to escape the death sentence… the singularity has a mean that reflects this sort of acceleration of the human design process, to the point of achieving an infinite velocity… we're the frontal lobes of the universe, we're the eyes and hears of the universe… our desire to transcend any of previous limits… I don't think there's anything unnatural about that… the idea of singularity is awesome"

Singularity (2013) de Jason Silva

junho 07, 2013

a vida através dos livros (e do cinema)

Lisa Bu é membro da equipa que produz as conferências TED, nesse sentido foi convidada para as conferências anuais internas de colaboradores da TED. A sua conferência foi tão interessante que a convidaram a apresentar a sua palestra no palco principal da TED, tornando-se assim na primeira colaboradora a fazê-lo.


Lisa Bu nasceu na China, veio para os EUA já depois de se licenciar, fazer um MBA em Sistemas de Informação, seguido de um doutoramento em Jornalismo na Universidade de Wisconsin-Madison. Ficou na universidade a trabalhar na rádio, como directora de conteúdos digitais, até que foi trabalhar para a TED.

A mais importante mensagem desta talk é o facto de que mesmo depois de destruírem os nossos sonhos ainda podemos emergir. Que para o fazer, muitas vezes não podemos apenas basear-nos nas pessoas que nos rodeiam, precisamos de ir além disso. No caso de Bu, foram os livros. Foi através dos livros que Bu descobriu o seu novo sentir, e criou os seus novos sonhos. Depois de todos terem desistido dela, ela acreditou no poder dos livros, para crescer, para emergir.

How books can open your mind (2013) Lisa Bu na TED

Sobre isto tenho apenas a dizer que não é nenhuma possibilidade remota, é algo a que dou muita importância em termos de educação e formação de um ser humano. Não apenas a literatura mas também o cinema. Passei toda a minha adolescência longe dos meus pais, num colégio interno, só os via nas férias. Durante todos esses anos, grande parte da minha formação foi feita à base de fins de semana de cinema. As sessões começavam a seguir ao almoço e prolongavam-se até depois do jantar. Desse modo via entre 4 e 5 filmes no sábado, mais 4 ou 5 no domingo. Depois passava o resto da semana envolvido nas aulas e trabalhos de casa, na interacção com os colegas que estavam ali como eu longe dos pais, mas à espera que chegasse de novo o fim-de-semana. Isto forma e educa, mas também deixa marcas, ainda hoje se passo muitos dias sem ver cinema começo a sentir uma espécie de melancolia invadir-me.

junho 06, 2013

o culto dos amadores

The Cult of the Amateur - Como a Inter­net está a matar a nossa cul­tura e a assaltar a econo­mia (2008) de Andrew Keen fala de um assunto que me tem vindo a interessar cada vez mais, e do qual já aqui falei no texto Comunicação e as falácias da Sociedade de Informação (Copyright, MOOC, Democracia Directa, Open Access, Rankings). Nesse sentido, apesar do foco das ideias de Keen ser correcto, o livro que nos apresenta é uma desilusão.


Keen até começa muito bem, defendendo várias ideias com que me identifico plenamente, como os problemas da ausência de verificação de fontes e credibilidade da informação online versus informação de qualidade dos jornais. Ou como a autoridade da Wikipedia que é capaz de colocar ao mesmo nível especialistas reconhecidos por pares, com miúdos que leram uns livros, ou nem isso. Ou ainda sobre as questões do copyright e do acesso grátis online que estão a destruir muitas possibilidades de carreiras criativas. Mas para fazer esta defesa embarca num extremismo ideológico sobre o que pode e não pode ser, apontando o dedo a tudo o que é novo, elogiando o status quo, pregando a imobilização e a não transformação.

Na voragem da argumentação e sustentação das suas ideias Keen chega a ponto de atacar toda a ideia da própria internet. Se é evidente que a internet nos trouxe muitos novos problemas, não podemos deixar de relembrar tudo o que de bom conseguimos com esta tecnologia de comunicação em quase todos os níveis da sociedade. Temos de encontrar formas de lidar e responder aos problemas, mas isso não pode de forma nenhuma passar por erradicar o meio, ou as novas formas de interacção social que este despoleta. Temos de continuar a estudar os seus efeitos, procurar compreender o seu alcance, criar regras e leis quando for caso disso, mas não podemos ajoelhar-nos e mal-dizer o que nos trouxe a internet. É um discurso gasto, e que surge sempre que surge um novo meio.

Andrew Keen é reconhecido internacionalmente como um dos maiores atacantes da Web 2.0 e ainda no ano que passou lançou novo livro, Digital Vertigo: How Today's Online Social Revolution Is Dividing, Diminishing, and Disorienting Us (2012). Apesar de eu entender e suportar algumas das suas posições, Keen vai precisar de aprender a argumentar melhor as suas ideias e ir além do mero texto de jornal, se quiser atenção académica para o seu discurso. Keen terá de aprender que a vida não é imutável, que vamos mudar, que mudaremos sempre, e a tecnologia é apenas uma parte da equação dessa transformação. No final, é o próprio Keen quem se revela um amador da reflexão mais profunda e fundamentada.


Edição Portuguesa
Andrew Keen, O culto do amadorismo, Guerra e Paz, 2008, Trad. Susana Serrão. A primeira edição inglesa saiu em 2007.

junho 05, 2013

a cor do storytelling

If It's Purple, Someone's Gonna Die: The Power of Color in Visual Storytelling é um livro de Patti Bellantoni, ex-professora de Artes Visuais na UCLA e na School of Visual Arts, NY. É um livro de carácter técnico que nos traz resultados de mais de 25 anos de estudos sobre a cor e os seus efeitos nomeadamente na arte cinematográfica. É uma obra obrigatória para qualquer pessoa que trabalhe com artes visuais.


If It's Purple, Someone's Gonna Die é um livro de organização simples, que se divide em apenas 6 grandes capítulos, cada um dedicado a uma cor - Vermelho, Amarelo, Azul, Laranja, Verde e Púrpura. O livro é muito interessante e bem fundamentado. Bellantoni não se limita a simbolismos, mas conecta a cultura com a biologia. Nesse sentido, muito do que é aqui dito está em total sintonia com os estudos que tenho realizado ao longo dos últimos anos no campo da neurociência da emoção. Cada cor tem uma leitura simbólica, mas que é dada em função da sua acção sobre a nossa percepção, sobre o modo como nos estimula, na maior parte das vezes de forma inconsciente e automática. Existe aqui a assunção de que a ligação entre a cor e a emoção é natural, e isso fica bem patente nesta passagem do livro,
"How do you develop this facility with color?... First and most importantly, you select your left-brain and click “Quit.” You have to relinquish control of your thinking self and give it over to what you are seeing. This is not easy in a culture that prides itself on hard-nosed reason and in which our softer perceptual skills are often dismissed. Most of us love to analyze films and love to talk about what we analyze. Indeed, we are often so busy analyzing the plot points that we are unaware of how we are being affected by what we see. We’ve evolved into a generation of talkers with lazy vision. We “watch” but we don’t see. And we miss out on an experience that enriches our emotional core."
O livro está carregado de exemplos de cenas e sequências de filmes que vão ilustrando cada uma das ideias da autora, pena que o livro seja parco em imagens para relatar visualmente tudo o que se vai discutindo. Sobre as análise realizadas ao longo do livro podem ver pequenos resumos que realizei numa comunicação "Compositing and Graphics" (slide 29 a 35). Apesar de tudo isto, resta sempre a questão - será que os artistas planeiam mesmo o uso das cores? Aqui fica a resposta,
"At my seminars in Visual Storytelling, the first question often asked is, “Is all this really planned?” The answer is not a simple yes or no. Color may play a role in weeks of planning in preproduction. Sometimes, however, plans are supplanted by gut decisions forwhich a color simply “feels right” on the spot...Color-flows that track the emotional arcs of a story are appearing on walls of studio art departments [sobre isto deem uma vista de olhos no texto Animação da cor no 9/11]. More and more, colors are being digitally altered in order to emotionally emphasize a scene. So, yes, it is often planned, not just on the set but also in both preproduction and postproduction."
Hero (2002) de Yimou Zhang

Primeira edição, 2005. Edição analisada, 2012. 288 páginas. Editora Focal Press.

junho 04, 2013

Powers of Ten, uma visão cósmica

Powers of Ten (1977) é uma das mais respeitadas curtas no mundo do design gráfico. A razão para tal não se prende apenas com o facto de ter sido criada pelos designers Charles e Ray Eames para a IBM, mas antes por ser um artefacto exímio na visualização de informação complexa em movimento. Powers of Ten traduz informação altamente complexa através de uma simples regra de visualização, as potências de 10.


O filme começa com um casal deitado num relvado de Chigado, filmado a partir de cima num enquadramento que oferece a visão sobre 1 metro de espaço. A partir desse ponto na Terra, começa um afastamento da câmara para cima, ampliando a visão que temos do espaço, em potências de 10 a cada 10 segundos (101=10m; 102=100m; 103=1000m; 104=10000m). Visualmente percepcionamos o espaço real que estamos a ver a partir de um quadrado que se vai sobrepondo sobre as imagens em afastamento e que nos permite, através da afixação lateral das potências de 10 e dos metros, ganhar uma compreensão completa do que estamos a ver. Chegados ao limite da ampliação de 1024 a câmara retrocede em alta velocidade, até atingir de novo o casal, e depois faz o caminho inverso no sentido do infinitamente pequeno.


O título completo do filme reflecte exactamente isto, Powers of Ten: A Film Dealing with the Relative Size of Things in the Universe and the Effect of Adding Another Zero. A ideia base foi baseada no livro Cosmic View: The Universe in 40 Jumps (1957). O livro está esgotado há muitos anos, mas tem sido preservado online por vários académicos, podem ver a versão preservada por Mitchell Charity.


Em menos de 10 minutos o espectador ganha uma consciência singular do mundo e do seu posicionamento neste. O filme é reconhecido pelo modo como graficamente nos ajuda a compreender o espaço, mas a sua importância está longe de se fechar no reino do design, o que estamos aqui a falar é de humanidade. Por isso este devia ser um filme obrigatório nas nossas escolas. Ganhar noção do espaço que ocupamos neste universo é fundamental para compreendermos o alcance do universo, e do que somos "nós" perante este.



Tecnicamente o filme não foi fácil de criar, estamos em 1977, e a primeira versão do mesmo surgiu em 1968. Nos dias de hoje, este filme seria executado muito facilmente com as tecnologias de imagens geradas por computador, algo que não existia em 1977. Uma versão apenas pictórica do filme pode ser vista no sítio que a IBM mantém sobre o filme, e com imagens em HD. A versão do filme aqui abaixo, que está no YouTube, é autorizada pela IBM e pelos Eames Office.

Powers of Ten (1977) de Charles e Ray Eames