fevereiro 09, 2013

"Adam and Dog" (2012), uma estética contemplativa

Adam and Dog (2012) de Minkyu Lee está nomeado para o Oscar de Melhor Curta de Animação 2013, e à semelhança de Paperman da Disney foi também agora disponibilizado online. A arte do filme apresenta elevadíssima qualidade assim como o storytelling, já o mesmo não posso dizer dos fundamentos da história que sofrem de uma simplificação ingénua, provavelmente motivada por crença religiosa.


O filme teve um investimento financeiro de apenas 25 mil dólares, mas totalmente pagos pelo próprio Minkyu Lee (27 anos). A estes será preciso adicionar também os dois anos de tempo e trabalho investidos pelo próprio, em regime de part-ime, já que nesse tempo trabalhava durante o dia na Disney como character designer em filmes como, Winnie the Pooh (2011) e Wreck-It Ralph (2012). E ainda o trabalho voluntário dos seus ex-colegas da CalArts, aonde fez a licenciatura em Character Animation. Ainda assim que não restem ilusões, este filme, uma obra independente, só está na lista de nomeados aos Oscars porque o criador teve acesso a canais privilegiados para o promover junto da academia.



Indo ao filme, o que me impressionou foi o tratamento estético dado ao filme, que toma o seu tempo para contar a história que tem para contar. O ritmo é pausado mas acompanhado por uma muito fluída animação de personagens, nomeadamente o cão que demonstra um realismo na linguagem não-verbal, absolutamente impressionante. O espaço é trabalhado de modo magistral, com planos gerais distanciados para poder não só enquadrar a acção, mas enquadrar também o ambiente e assim gerar o tom da atmosfera. Algumas das composições visuais dão vontade de ficar ali parados a olhar e desfrutar de tão bem organizadas, coerentes e ao mesmo tempo tão cheios de força dramática. Para fechar a luz, a luz contribuiu para toda a noção de espaço que temos, e garante a cada composição uma força única que sintetiza a orientação daquilo que a história nos quer dar. Aliás ao contrário de muito do cinema atual, Minkyu Lee passa toda a primeira parte do filme sem música, sustentando toda a sua composição emocional exactamente na iluminação de cada cena. A luz substitui aqui, e sem qualquer défice, o poder que normalmente deixamos nas mãos da música, porque esta é muito mais fácil de dirigir.


Esta orientação estética vem de encontro às influências referidas por Lee em entrevista - Andrey Tarkovskiy, Orson Welles, Terrence Malick - “in terms of narrative approach. Their films are much less about plot, more about the moment, the dimension of character. I felt that Eden should be portrayed that way, and that a traditional animation approach would take away from the sophistication of that.” Para além de tudo isto, esta curta é um novo hino ao mundo da animação 2d, tradicional e desenhada à mão.

Adam and Dog (2012) de Minkyu Lee

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