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Em dia de semi-pausa, vi dois filmes com sentido estético totalmente oposto, visual e narrativamente falando,
The American (2010) e
Scott Pilgrim vs. the World (2010).
The American é um filme lento, que nos imprime um tempo pausado e nos faz entrar adentro do personagem excepcionalmente bem desenhado por George Clooney. Sentimos o filme como uma brisa realista, voando sobre nós que nem uma borboleta por entre um riacho e flores de Outono. É uma obra de mestria total do tempo e ritmo narrativo, visualmente forte e sedutora. Somos deleitados pela lentidão narrativa que nos transporta e nos leva a compreender quem é aquele personagem e precisamente do que precisa ou o que procura, sem nunca o dizer, sem sequer o tentar, apenas nos levando a sentir.
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Por outro lado
Scott Pilgrim vs. the World é todo um oposto, ritmo acelerado, realidades não consistentes, de pura fantasia com acções sem consequência, e ainda assim o que tem então um filme destes para nos arrebatar? É um filme que pertence a toda uma nova geração de cineastas americanos independentes, que utilizam o melhor da arte do espectáculo de Hollywood subvertendo-a para comunicar ideias simples e despretensiosas. É um filme feito à imagem de Wes Anderson (
Rushmore,1998;
The Royal Tenenbaums, 2001), Jason Reitman (
Thank You for Smoking, 2005;
Juno, 2007) e muito, mas mesmo muito de Kevin Smith (
Mallrats, 1995;
Chasing Amy,1997;
Dogma, 1999).
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Scott Pilgrim um herói de BD é totalmente transportado para o cinema, literalmente e visualmente falando. Mas toda esta forma de falar cinematograficamente está cheia de intertextualidades provenientes de
sitcoms (Seinfeld), videojogos (Pac-man, Street-Fighter, Zelda), e
comics (Marvel e Manga). No final do filme, no momento em que a Espada já não assume o lado do Amor mas do Auto-respeito, fez-se luz, "this is it, this is Gamefication". Era a linguagem do cinema a assumir a totalmente e de forma explicita e sem pudor a gramática dos videojogos.
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Claramente que este não é um filme para todos, precisam de trazer na bagagem a cultura dos videojogos, dos
comics e das
sitcoms e algum humor. Mas
The American também não é para todos exige contenção, paciência e gosto pela arte.
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O que retenho dos dois filmes? Uma experiência enriquecedora, capaz de me tocar e despertar ideias e motivações. O que os une? A competência expressiva.
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