fevereiro 18, 2013

inovar a partir da conversão entre dimensões

Hoje estive a jogar dois jogos com um design inovador, não que sejam totalmente originais, mas antes porque convertem e aplicam mecânicas de jogo entre dimensões. Ou seja, Binary Boy (2013) é uma espécie de versão 2d de Proun (2011), já Pulse Shift (2013) é uma espécie de versão 3d de Run (2008).



Adorei Binary Boy de Jared Johnson pela sua simplicidade, adaptando um conceito 3d de difícil desenvolvimento para um mundo 2d simples do tipo sidescroller. Mesmo no campo da arte, é muito mais simples que o perfeccionismo visual de Proun, mas é isso mesmo que lhe garante autenticidade acrescida, ainda para mais com o efeito 8bits tanto no grafismo, como nas cores e sons. Em termos do design é brilhante, porque revitaliza por completo um design de jogo completamente ultrapassado, envolvendo-nos totalmente na novidade, e na vontade de ultrapassar nível atrás de nível. Binary Boy foi criado no GameMaker para HTML5.  É uma experiência deliciosa que podem experimentar gratuitamente online.


Binary Boy (2013) de Jared Johnson 

Por outro lado Pulse Shift fez exactamente o contrário de Binary Boy, pegou num jogo em 2d que apresentava uma simulação simples 3d, e transformou a essência do seu design num jogo completamente 3d. Pulse é um jogo de plataformas em movimento jogado na primeira-pessoa o que dificulta ainda mais a jogabilidade, mas que rapidamente nos faz imergir e envolver com os obstáculos, e os puzzles de cada nova plataforma. O jogo está apenas disponível para Windows, mas podem experimentar a demo grátis, no Desura.

Pulse Shift (2013) de 3 Core Studio

Espelhos na selva

Xavier Hubert-Brierre e Michel Guiss Djomou decidiram espalhar espelhos enormes de 180 cm X 120 cm no meio da savana africana perto de Noyné, no Gabão. Nenhum deles é investigador, resolveram apenas realizar a experiência por pura curiosidade, pelas leituras que fizeram sobre o fenómeno da consciência e a relação desta com o espelho. Deixo aqui apenas dois vídeos dos chimpanzés, de um primeiro contacto e depois de um segundo contacto. No canal YouTube podem encontrar vídeos similares com Elefantes e Leopardos. Vale a pena perderem uns minutos e ver pelo menos estes dois que aqui coloco, são absolutamente fascinantes.


Os vídeos foram captados por câmaras escondidas no final de 2012, e os animais que vemos nas imagens vivem em liberdade no seu estado mais selvagem, essa acaba por ser a parte mais interessante. Porque muitos dos estudos que se têm feito são feitos em cativeiro. No primeiro encontro com o espelho, este grupo de chimpanzés selvagens tem reações de medo e agressão para com o objeto desconhecido na floresta. Inevitável relembrar a cena dos macacos com o monólito no início do fabuloso 2001: A Space Odyssey (1968) de Stanley Kubrick. Já no segundo encontro podemos ver uma evolução das reações. Alguns sujeitos atingiram novas etapas da sua aprendizagem do novo. Já se nota que compreendem o sincronismo, e mais, quando veem um congénere no espelho, conseguem voltar-se para trás para verificar se ele está lá mesmo. Impressionante.

Primeiro Encontro

Segundo Encontro

O que está em causa neste encontro com o espelho foi definido em 1970 por Gordon Gallup como um fenómeno capaz de destacar a auto-consciência, atribuído ao facto do reconhecimento da imagem de si. O indivíduo que é capaz de se reconhecer num espelho será capaz de atribuir estados mentais aos outros, portanto capaz de expressar empatia, ou seja colocar-se  no lugar do outro, sentindo o que o outro sente. O livro do primatologista Frans de Waal, The Age of Empathy que já aqui analisei, fala extensivamente dos efeitos do teste do espelho, na tentativa de demonstrar a maior proximidade que existe entre nós e os animais ao nível da consciência. Tendo em conta que o simples reconhecimento de sincronismo era pouco elaborado, o método foi aprimorado mais recentemente, e por isso adicionou-se um novo elemento ao teste, que passa por marcar os animais numa parte do corpo visível ao espelho. E depois verificar se o animal quando se vê ao espelho se dá conta que a mancha está no seu próprio corpo. Quando assim é, o animal tem uma total consciência do seu corpo, da sua existência. Apenas um reduzido número de espécies consegue passar no teste da marca no espelho. Os primatas têm uma enorme facilidade, e surpreendentemente os elefantes também conseguem, quando por exemplo os cães não ligam nenhuma aos espelhos.

Entretanto encontrei um outro vídeo que demonstra o teste da marca no espelho feito com golfinhos e que é absolutamente impressionante. Acabado de ver o vídeo, torna-se impossível não ficar a pensar na inteligência destes animais, em tudo o que separa, e o que não separa, a sua espécie da nossa.

Dolphins see themselves in mirror

fevereiro 17, 2013

Eurogamer, artigo 50

Este fim-de-semana saiu o 50º artigo na Eurogamer. Uma colaboração que dura desde Abril 2011, todos os 15 dias, ininterruptamente mesmo em pausas mais prolongadas de Verão, ou mais ligeiras de Páscoa e Natal. Tem sido excelente porque me tem permitido verbalizar ideias sobre a arte dos videojogos, que me ajudam a evoluir o pensamento, primeiro sozinho no confronto com o texto, e depois com os comentários que vou lendo e recebendo aos textos.


O artigo desta semana, Criadores já não são apenas designers, são autores, reflecte sobre ideias que me têm acompanhado sobre a discussão do que é, ou deve ser, um jogo AAA, e o que é, ou deve ser um jogo indie. Daí que aqui tenha reflectido sobre as atitudes dos criadores/autores/artistas/designers cada um na sua zona de trincheira, nomeadamente o seu desprezo de parte a parte.

fevereiro 16, 2013

Moonbot no Kickstarter

A Moonbot está a desenvolver Golem, um novo jogo sobre histórias populares da República Checa, e para financiar o projecto está a recorrer ao Kickstarter. A Moonbot trouxe-nos o brilhante The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore (2011) que ganhou Oscar de Melhor Curta Animada em 2012, e depois disso o fantástico Numberlys (2012) um jogo para iPad com interessantes abordagens à narrativa interactiva. Mas se falo aqui do novo projecto não é por ele ser extraordinário, o que até acredito que venha a ser, é antes por causa do vídeo que a Moonbot criou para lançar a campanha no Kickstarter.



O vídeo começa cheio de energia e muito optimismo, apresentando não apenas os seus louros, mas marcando muito bem o que os diferencia dos demais. Para quem anda a pensar em campanhas no Kickstarter aqui fica um excelente exemplo de como deve ser feito. É difícil ver este vídeo e não acreditar que vamos ter jogo, e que este vai ter grande qualidade.

Video Campanha de The Golem 

Oscars 2013: Best Animated Short Film

Depois de ter visto os cinco filmes em concurso, e de já aqui ter analisado três deles - Paperman, Adam and Dog, Heads over Heels - quero deixar apenas breves comentários sobre os outros dois filmes - The Simpsons: The Longest Daycare e Fresh Guacamole. Aproveito também para deixar uma apreciação geral e uma indicação do potencial vencedor.

Os 5 Nomeados ao Oscar de Melhor Curta Animada

Fiquei surpreendido com a nomeação da curta, The Simpsons: The Longest Daycare (2012) de David Silverman, mas depois de a ver admito que não é apenas mais um episódio da série, é uma curta bastante interessante e que recai sobre um dos personagens menos trabalhados da série, Maggie Simpson, a bebé. A curta aborda a entrada de Maggie para o infantário a partir dos olhos da bebé, e é simplesmente hilariante. A arte por sua vez é muito mais detalhada do que aquilo que estamos acostumados a ver nos episódios.

The Simpsons: The Longest Daycare (2012) de David Silverman

A última curta do lote é Fresh Guacamole (2012) o último trabalho de PES (Adam Pesapane) que conseguiu cerca de 3.5 milhões de visualizações em quatro dias, contando neste momento com quase 7.5 milhões no YouTube. Para quem não conhece o trabalho de PES os seus filmes são normalmente pequenas animações de um a dois minutos em stop-motion de surpreendentes deslocações da realidade. Aconselho vivamente que vejam para além da nomeação, que coloco aqui abaixo, Roof Sex (2002), Game Over (2006) ou Western Spaghetti (2008). Fresh Guacamole é uma espécie de segundo episódio de Western Spaghetti. Podemos dizer que PES encontrou no stop-motion de comida inventiva um nicho a explorar. Aliás julgo que a Academia com esta nomeação não quis apenas reconhecer este filme, mas o trabalho que PES tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos.

Fresh Guacamole (2012) de PES

Por fim, olhando para as cinco nomeações é inevitável pensar que a curta dos Simpsons poderia ter dado facilmente lugar a outra nomeação, tendo em conta os restantes filmes. Aliás eu não teria a menor dúvida em substituir The Simpsons: The Longest Daycare por The Eagleman Stag (2011), um filme que já aqui analisei e que aconselho se ainda não viram. Mas consigo perceber a Academia que seguiu um padrão muito claro nas suas escolhas, nenhum dos cinco filmes nomeados tem diálogo, narração ou texto. Aqui The Eagleman Stag perde porque tem um narrador presente durante quase toda a animação. Julgo que a ideia da Academia será estimular a produção de técnicas de animação que sejam capazes de comunicar apenas visualmente, sem qualquer necessidade de verbalização. Parece-me um pouco forte, e até talvez obsessivo, embora reconheça na arte das ideias visuais a essência da animação, a animação é feita de arte visual e sonora. O diálogo não deve ser visto como um elemento estranho, embora também não deva servir de muleta para contar o que o animador é incapaz de contar em imagem.

Quanto ao vencedor não existe qualquer dúvida sobre quem irá ganhar, Paperman tem todos os trunfos. Não tem diálogo, inova na tecnologia, apresenta uma narrativa típica de Hollywood. É um filme que facilmente agrada a criadores, académicos e chega com muita força às massas. Gostava de ver Adam and Dog ganhar pela arte visual, apesar da história me decepcionar pela falta de rigor científico. Por outro lado a sua animação dificilmente consegue competir com a excelência do filme da Disney, falta-lhe produção o que é normal tendo em conta o modo como foi produzido. Aliás este é o mesmo problema de que sofre Head Over Heels tem uma narrativa soberba, mas a animação, apesar de muito boa, está longe do nível de Paperman. Num certo sentido a animação em Adam and Dog e Head Over Heels é até mais autêntica, mais pura, são os primeiros esboços dos seus criadores, enquanto Paperman denota as várias camadas de trabalho de produção subsequentes a cada esboço. Quanto a Fresh Guacamole parece-me que a nomeação é já em si o prémio que a Academia tinha em mente.

Vale a pena rever Paperman no YouTube em HD, nomeadamente ver as camadas de desenho à mão sobrepostas ao volume do 3d. Muito interessante por exemplo confrontar o puro 2d feito à mão de Adam and Dog com o 2d de Paperman e ver como as diferenças sobressaem ainda mais. Temos aqui não apenas uma tecnologia nova, mas uma nova técnica de animação.

Paperman (2012) de John Kahrs

fevereiro 15, 2013

"Alma", documentário interactivo

Alma: A Tale of Violence (2012) é um documentário interactivo feito para a Web e Tablet (iPad / Android). Alma fala sobre a violência na Guatemala, atualmente um dos países com a maior taxa de assassinatos no mundo (dados UN). O trabalho foi desenvolvido tendo por base um relato vídeo feito na primeira pessoa por Alma, uma rapariga de 26 anos, que passou cinco anos num dos gangs mais violentos da capital. É um relato forte e não indicado para pessoas mais sensíveis.


O documentário é apresentado num fluxo de imagens, feito de dois vídeos que correm em paralelo, podendo o espectador escolher ao longo dos 40 minutos qual dos dois fluxos quer seguir, simplesmente arrastando com os dedos para cima ou para baixo. Um dos fluxos apresenta Alma relatando directamente para a câmara, no outro temos fotografias, ilustrações, e vídeos. No fundo, em vez de termos um documentário em que se vai entrecortando o relato com informação mais visual, escolheu-se ter ambos sempre presentes, deixando nas mãos do espectador escolher como prefere acompanhar a narrativa. Do meu lado, passei grande parte dos 40 minutos para cima e para baixo. O relato de Alma é muito genuíno e muito forte, de modo que não queria perder a sua expressão, ela é o garante da intensa emocionalidade de cada fotografia e ilustração.

A acompanhar o documento interactivo existe depois toda uma camada adicional de informação que podemos visitar antes ou depois do filme interactivo. Muito trabalho adicional de recolha de informação no terreno em vídeo, fotografia, audio e voz, mas também muita informação trabalhada. O mais interessante dessa camada adicional aparece sob a designação de Módulos de Informação, que não são mais do que textos e fotografias que podemos ir apreciando ao nosso ritmo, mas que são verdadeiramente informativos. São quatro os módulos de informação presentes na aplicação: Violence, Prevention, Guatemala e Maras. De todos aconselho vivamente o Violence, que nos explica como a Guatemala se transformou num dos países mais violentos do mundo.

Todo este trabalho foi criado pelo fotógrafo Miquel Dewever-Plana e pela jornalista Isabelle Fougère. Na ilustração tiveram Hugues Micol, na montagem Lydia Decobert, e na música Greg Corsaro. O trabalho foi produzido pelo canal Arte. Tudo está disponível de forma gratuita tanto na web como no iPad ou Android.



fevereiro 14, 2013

OffBook: "The Art of Illustration"

Acaba de sair um dos mais apetitosos episódios da série OffBook, The Art of Illustration (2013). Enquanto via os curtos 7 minutos tirei mais de 50 screenshots para usar neste pequeno texto, quando normalmente me fico pelos 10, raramente indo além dos 20. Este indicador diz bem do que podem esperar encontrar dentro deste pequeno documental.



Além da enorme quantidade de trabalho que poderão ver, temos ainda entrevistas com a talentosa Yuko Shimisu, com Sean Murphy o criador de Punk Rock Jesus (2012), com Molly Crabapple e ainda Steven Guarnaccia o director do curso de Ilustração da Parsons New School. Gostei de dois reparos sobre o trabalho do ilustrador deixados por Yuko Shimisu,
"A minha maior preocupação como ilustradora surge quando tenho uma ideia para uma ilustração, se essa ideia puder resultar melhor como fotografia então não é uma boa ideia...
O objectivo é que a ilustração leve o leitor a parar na página, e queira ler o artigo..."
Yuko Shimisu




"Illustrators articulate what a photograph cannot. Using an array of techniques and styles, illustrators evoke stories and meaning in a variety of mediums, from editorial illustration in magazines and newspapers, to comics books, to activist media. And as their tasks over the years have become less informational and more expressive, their individual voice as artists becomes all the more critical and beautiful, revealing an exciting and awe-inspiring age of illustration."
OffBook

fevereiro 13, 2013

"The Master", porque não é o filme do ano

The Master (2012) é um filme inesquecível pelas duas interpretações principais - Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman - que são de nos tirar o fôlego. E só não digo três porque o papel de Amy Adams é muito menor por comparação, ainda assim sinto que os momentos em que aparece iguala, se não mesmo supera, os seus congéneres masculinos. Aliás estão os três nomeados, e são as únicas nomeações do filme.


Julgo que as nomeações poderiam ter ido mais longe, nomeadamente pela magnífica cinematografia suportada pela imponência dos 70 mm que servem uma imagem carregada de detalhe, textura e profundidade. Assim como a realização e a direção de actores que são absolutamente perfeitas, podendo não surpreender, mas ainda assim raramente se quedarem pelo conservadorismo.

No campo do guião, o filme pode até ser sobre Ron Hubbard, o criador da Cientologia, mas isso é na verdade pouco relevante para o filme. O que é aqui relevante é a história entre duas personagens opostas, em que uma tenta ser guia espiritual e converter a outra, sem que se perceba se o consegue alguma vez. No fundo é como Paul Thomas Anderson disse numa entrevista - "saímos como entramos". E isto é no fundo aquilo que caracteriza a filmografia de Anderson porque os seus filmes são obras desenhadas para criar experiências emocionais, ligando-nos mais perceptivamente do que cognitivamente. Por exemplo adorei e considero um dos seus melhores filmes, Punch-Drunk Love (2002), assim como Magnolia (1999), que não são diferentes deste no sentido em que saímos como entramos em termos de resolução narrativa. A gratificação dos filmes de Anderson não está nas ideias, mas nos estados de alma, nos momentos vicários, nos passeios por mundos ligeiramente deslocados da realidade, o suficiente para nos questionarem sobre a mesma. Realidades distintas, algo simbólicas, que nos tocam e abraçam.

Julgo que não me consegui ligar a The Master, algo parecido já me tinha acontecido com There Will Be Blood (2007) embora num grau muito menor. Talvez a ideia das seitas e religiosidades me afastem, ainda para mais quando Anderson provoca a todo custo o confronto, mas sem causa e menos ainda efeito. The Master é uma experiência muito interessante apesar de deixar um amargo de boca a quem procura respostas, podendo ainda assim extasiar quem apenas se deixar levar pelo fluxo da experiência.






Nota: 3/5

fevereiro 12, 2013

O Lado Negro da Moral

The Baby Lab (2012) é uma reportagem do programa 60 Minutes sobre a moral em bebés, realizada com os professores Karen Wynn e Paul Bloom da Universidade de Yale. Karen Wynn é directora do Infant Lab onde se estudam mecanismos mentais para compreender o mundo a partir dos olhos das crianças. Por outro lado Paul Bloom é autor do reconhecido livro How Pleasure Works: The New Science of Why We Like What We Like que já aqui analisei.


A essência dos seus estudos e trabalhos demonstraram que bebés com apenas 3 meses conseguem ter já um sentido moral. Esta descoberta leva-nos à simples constatação de que a moralidade e a justiça são algo que nasce connosco, ao contrário da ideia de que seria necessário educar as pessoas neste sentido. Ou seja a nossa biologia, fruto de milhões de anos de evolucionismo, sabe distinguir o certo do errado.
Karen Wynn: "Study after study after study, the results are always consistently babies feeling positively towards helpful individuals in the world. And disapproving, disliking, maybe condemning individuals who are antisocial towards others."
Paul Bloom: "What we're finding in the baby lab, is that there's more to it than that -- that there's a universal moral core that all humans share. The seeds of our understanding of justice, our understanding of right and wrong, are part of our biological nature."
Se assim é, então qual é o problema base do Mal na humanidade? É algo simples, que de tão simples se torna violentamente chocante. Algo que tem estado na origem de todas as guerras existentes na história da humanidade. A diferença. Nos estudos os bebés demonstram muito claramente que gostam de ver aqueles que são diferentes de si serem castigados. Simplesmente por não serem iguais a eles, no caso da reportagem através da simples arbitrariedade de não gostarem dos mesmos cereais. Se podemos ser assim apenas por causa de uma taça de cereais, imaginem quando o que está em causa é tão visível como a cor da pele, ou quando se torna visível a preferência sexual ou a crença religiosa, etc. etc. etc.


Parece ser verdade que o sentido de justiça nasce connosco, mas é um sentido que sai desvirtuado pelos efeitos de milhões de anos de sobrevivência. Ou seja ter um sentido de justiça para com quem se comporta bem socialmente ajuda a construir uma base comunitária de pessoas que me podem ser úteis futuramente. Mas ao mesmo tempo estar em estado de alerta perante todos aqueles que agem de modo diferente de nós, é importante para manter o nosso grupo forte. Primeiro nós, o nosso grupo, um grupo que se forma com pessoas iguais a nós, os outros são secundários.


Ou seja não precisamos de ser educados para aprender o sentido de justiça, mas precisamos de ser educados para compreender que a diferença não é algo mau, antes pelo contrário esta pode ser imensamente benéfica. O problema de tudo isto é que o efeito biológico tem predominância sobre o efeito cultural. E podemos até conseguir superar os instintos por via da tomada consciente de acções no nosso dia-a-dia, mas nada disto inscrito nos nosso instintos se vai verdadeiramente embora com a cultura ou a educação, como nos diz Bloom,
Paul Bloom: "I think to some extent, a bias to favor the self, where the self could be people who look like me, people who act like me, people who have the same taste as me, is a very strong human bias. It's what one would expect from a creature like us who evolved from natural selection, but it has terrible consequences. The kids who choose this and not this, the kids in the baby studies who favor the one who is similar to them, the same taste and everything - none of this goes away. I think as adults we can always see these and kind of nod. And the truth is, when we're under pressure, when life is difficult, we regress to our younger selves and all of this elaborate stuff we have on top disappears." 
A reportagem pode ser vista na íntegra no sítio da CBS.


Atualização 14.02.2013
No Facebook questionava-se a inovação deste estudo. Aqui fica a resposta.

A inovação deste estudo está na definição de uma metodologia que permitiu pela primeira vez obter respostas por parte de bebés com 5 meses, e até mesmo num dos estudos, até um mínimo de 3 meses. Esta é a primeira parte da importância, porque é extremamente complexo obter dados cientificamente demonstráveis com estas idades, já que ainda não falam, não desenham, nem escrevem. Aliás no caso dos testes com 3 meses nem sequer têm suficente movimento motor para se dirigir à escolha que fazem, obrigando o estudo a realizar-se com base no olhar dos bebés apenas. Conseguir dados com estas idades é assim, só por sim, um enorme avanço no conhecimento.

Depois a segunda parte da inovação é que estes bebés ainda estão muito pouco pouco aculturados. Estão muito próximos de tábuas rasas, no que toca a conhecimento apreendido. Assim, questionar um bebé destes é quase como questionar directamente a própria natureza, sem intermediário. Estamos aqui a falar de taxas superiores a 80% o que nos dá um panorama muito credível do molde humano à nascença. No fundo, o sentido como a Natureza encara o Bem, o Mal, e a Diferença.

fevereiro 11, 2013

folhas e corpos

Fiquei encantado com a beleza das ilustrações da espanhola Beatriz Martin Vidal. Podem ver o seu trabalho na sua página pessoal, no seu blog ou no DeviantArt. Adoro nomeadamente a sua obsessão com as folhas de flores e o modo como as representa entrosadas com os corpos humanos, e como trabalha o contraste de cores das flores com o dos corpos.

Capa do livro Little Red (2012) Beatriz Martin Vidal

Sequência do livro Little Red (2012) de Beatriz Martin Vidal


Ilustração de Beatriz Martin Vidal para o livro Birgit (2011) de Gudrun Mebs

Ilustração de Beatriz Martin Vidal para o livro Birgit (2011) de Gudrun Mebs


Ilustração de Beatriz Martin Vidal para o livro El Pacto del Bosque (2010) de Gustavo Martín Garzo

Ilustração de Beatriz Martin Vidal para o livro El Pacto del Bosque (2010) de Gustavo Martín Garzo